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A experiência de um cientista dá errado. Um adolescente viaja pelo tempo em um carro modificado e acaba transportado para o passado. Tal sinopse retrata o filme “De Volta para o Futuro”, mas o roteiro original permite adaptações.
Pois o A SEGUIR: NITERÓI possui sua própria máquina do tempo. E convida os leitores para um passeio, mês a mês, através de 2022. A cidade teve um ano movimentado, com crise na saúde, educação e transporte público. O trânsito também não deu trégua, mas, pelo menos neste caso, não atrapalha nossa jornada.
Coloque o cinto, porque a excursão será turbulenta.
Nossa primeira parada nos leva para os hospitais do município. Se o momento atual indica uma tendência de queda da Covid-19 na cidade, o cenário era mais alarmante no primeiro mês do ano. Diante do avanço da variante Ômicron, foram confirmados 30.176 casos da doença nos primeiros 31 dias de 2022, segundo informações do Secreário Rodrigo Oliveira, até hoje um recorde no município. A título de exemplo, foram 27.408 ocorrências confirmadas durante todo ano de 2021.
O aumento de casos, consequentemente, provocou uma alta de internações. Na rede privada, por exemplo, a média diária de solicitações de leitos chegou a 177, incluindo enfermaria e UTI. Na rede pública, eram 51 pacientes em leitos e 16 em UTIs. Hospitais que tinham liberado as áreas reservadas para doentes de Covid voltaram a reservar vagas para as vítimas da doença.
Também em janeiro, no dia 17, foi iniciada a vacinação para crianças entre cinco e 11 anos. A imunização foi iniciada pelo grupo com comorbidade e deficiência permanente antes de contemplar o restante do público-alvo. Atualmente, de acordo com a Prefeitura, 63,3% de crianças de três a 11 anos estão vacinadas com a primeira dose; e 45,5% foram imunizados com a segunda dose.
Sem conseguir matricular seus filhos em creches da rede municipal, e sem ter com quem deixá-los para ir ao trabalho ganhar o pão de cada dia, pais e mães recorreram, à Defensoria Pública de Niterói. O objetivo é que fosse reconhecido o direito de suas crianças à uma vaga no segmento infantil, ou mesmo transferência, com determinação judicial, para que a rede privada acolhesse essas crianças.
Entre janeiro e fevereiro, conforme apurado de forma exclusiva pelo A Seguir, a defensoria municipal recebeu mais de 150 queixas sobre a falta de oportunidades. O impasse, aliás, vai passar de ano. Diante desse quadro, a Prefeitura lançou, como solução temporária, o programa Escola Parceira que, por sinal, teve sua renovação para 2023 aprovada na Câmara Municipal nesta quarta-feira (29).
O projeto consiste no oferecimento, provido pelo governo municipal, de bolsas de estudos em instituições privadas de Niterói. As bolsas serão destinadas à educação infantil (creche e pré-escola) para estudantes não contemplados na segunda etapa do processo de pré-matrícula de 2023 da rede municipal de educação.
As “águas de março” fecharam o verão, como descrevia Elis Regina, mas, em Niterói, também representaram uma fatura alta para os moradores, tanto nos postos de combustíveis quanto na conta de energia. Embora a redução do ICMS, sancionado pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL), tenha significado uma redução no preço da gasolina no município, no terceiro mês do ano, a gasolina aditivada chegou a quase R$ 10. Esse foi o valor mais alto encontrado em todo o estado do Rio.
Também em março, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) aprovou um reajuste, de 17%, nas contas de luz de clientes da Enel Rio – que atende Niterói e outros municípios do estado, com mais de três milhões de consumidores.
Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), que visava analisar a qualidade da areia das praias de Icaraí, Itaipu, Piratininga e São Francisco, revelou a existência de microplásticos e superbactérias em todos os locais estudados. O relatório notificou a presença de microorganismos resistentes a uma série de antibióticos – e difíceis de tratar.
O estudo ainda ligou o alerta para o risco da poluição do mar e a necessidade do controle do uso de medicamentos, medida para evitar o surgimento das superbactérias. A presença destes organismos, gerados por conta de lixos largados por moradores, representa até hoje um perigo para a saúde dos banhistas.
Pela primeira vez na história da cidade, o Caminho Niemeyer foi usado como Sambódromo para as escolas de samba de Niterói. As agremiações que fazem parte do Grupo A, o principal da cidade, desfilaram na avenida arquitetônica no dia 23 de abril. Até 2019, as escolas de samba se apresentavam na Rua da Conceição.
Para transformar o Caminho Niemeyer em Sambódromo, a Prefeitura construiu uma arquibancada para 5 mil pessoas. O local ganhou ares de arena, em formato em “U”. Também foram instalados banheiros químicos e uma praça de alimentação, além de um estúdio de onde, também pela primeira vez, foram feitas transmissões ao vivo.
O transporte público é um problema permanente – e que segue sem qualquer solução – em Niterói. Além das barcas, que estão com futuro incerto, a situação do ônibus incomoda. Em meio ao aumento no preço das passagens, de R$ 4,05 para R$ 4,45, em julho, o Sindicato das Empresas de Ônibus de Niterói informou que o setor estava “sem condições de manter a operação das linhas” e resolveu reduzir a frota e os horários das viagens.
Como resultado, o morador de Niterói espera – às vezes por mais de uma hora – para pegar ônibus que chegam quase sempre lotados. É comum, em qualquer região da cidade, encontrar filas nos pontos. No anúncio de reajuste da passagem, a Prefeitura informou que fiscalizaria a frequência dos coletivos, “com a possibilidade de rastreá-los por aplicativo de celular”, mas o ano vai virar em meio à desesperança por melhorias.
A crise do ônibus, aliás, é só um agravante a mais. A cidade, que funciona em função do movimento em direção ao Rio de Janeiro, já enfrenta o esvaziamento do serviço das barcas, que transportava 75 mil passageiros por dia, antes da pandemia, e agora atende cerca de 35 mil usuários, com tarifa de R$ 7,70. No catamarã de Charitas, que seria uma opção para a integração com o movimento da Região Oceânica, a passagem custa R$ 21.
A prefeitura de Niterói retirou da Câmara dos Vereadores o PL n° 416/21 que permitiria o aumento de gabarito na cidade. O Executivo tomou essa providência após uma série de medidas do Ministério Público do Rio de Janeiro, que chegou a convocar o prefeito Axel Grael a prestar esclarecimentos sobre o PL.
Cinco meses depois, outro Projeto de Lei sobre o assunto voltou a tramitar na Câmara Municipal e também já provocou reação do MPRJ. Em jogo, o futuro da cidade, literalmente. Outro assunto que “passou de ano” e seguirá sendo tema de discussões em 2023.
A revista ArtNews, de Nova York (EUA), divulgou uma lista com os melhores museus dos últimos cem anos. No “catálogo”, duas instituições brasileiras foram mencionadas: o Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói e o Museu de Arte de São Paulo (MASP). A revista considerou a arquitetura exterior dos museus, onde o próprio edifício funciona, como uma obra de arte.
Obra arquitetônica de ponta do Oscar Niemeyer, concluída em 1996, o MAC ficou em segundo lugar na lista, enquanto o MASP ficou em décimo. Sua estrutura possui forma de um disco voador e paira sobre um espelho d’água na beira de um penhasco na baía, onde há uma vista panorâmica do Rio de Janeiro.
Em 31 de agosto, os profissionais de educação da rede municipal de ensino de Niterói deflagraram uma greve geral. Dentre os motivos, eles contestaram o índice de reajuste de 8% dado pela Prefeitura, abaixo do Piso Salarial Nacional da educação, que foi de 28%.
De acordo com a liderança do movimento, o Governo se recusava a avançar no atendimento das principais reivindicações: a reposição das perdas salariais inflacionárias e o cumprimento do acordo sobre a mudança de nomenclatura de merendeiras para cozinheiras escolares.
No dia 9 de setembro, após 10 dias de paralisação, a Prefeitura divulgou que os 367 professores 24h de nível médio, das classes I e II, receberam o complemento relacionado ao piso salarial, em forma de abono, além do pagamento retroativo a janeiro de 2022. A greve só foi encerrada em 19 de setembro, embora nem todas as reivindicações tenham sido atendidas na época.
O problema só foi solucionado, de fato, em 22 de dezembro. Na data, o vereador professor Túlio, do PSOL, confirmou que o piso nacional do magistério foi garantido também para os educadores da rede municipal.
O mês de agosto também marcou o início de uma guerra que está longe de terminar. Na época, São Gonçalo, Magé e Guapimirim ganharam na Justiça o direito de receber mais royalties do petróleo; este dinheiro, segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), sairia dos cofres de Niterói, além de Maricá e Rio de Janeiro.
Prejudicado financeiramente, Niterói recorreu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e conseguiu reverter, em 12 de setembro, a decisão que favorecia os três municípios. A presidente da Corte, ministra Maria Thereza de Assis Moura, suspendeu os pagamentos em setembro e o caso foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF).
Em decisão publicada na segunda passada (26), a presidente da Suprema Corte, ministra Rosa Weber, negou um pedido apresentado, em liminar, dos três municípios, para voltarem a receber maiores parcelas na divisão.
Agora, São Gonçalo, Magé e Guapimirim, que venceram em primeira e segunda instâncias, podem recorrer ao plenário do STJ. O advogado Vinicius Gonçalves, que defende as três cidades, já afirmou que vai recorrer.
Ao longo do ano, rolou uma coletânea de shows, em Niterói. Da saudosa Gal Costa, passando por Zeca Pagodinho, ao cancioneiro nordestino de Chico César e Geraldo Azevedo. Um espetáculo, em especial, levou milhares de pessoas à praia de São Francisco. Estamos falando de Ney Matogrosso.
Em uma das apresentações mais aguardadas da temporada, no dia 11 de setembro, o artista arrancou suspiro da multidão. Até a chuva entendeu que era melhor não atrapalhar, apesar da noite fria. Quem se aventurou na areia da praia – e foi muita gente – não se arrependeu.
Niterói viveu intensamente a maior disputa eleitoral desde a redemocratização do país. Não apenas pela polarização da eleição nacional, mas também por ter um candidato ao governo do estado: o ex-prefeito Rodrigo Neves (PDT), depois de cumprir oito anos de mandato e eleger o seu sucessor, Axel Grael, amargou a terceira colocação, atrás do reeleito – no primeiro turno – Cláudio Castro e Marcelo Freixo (PSB).
Niterói também foi uma das 22 cidades do Estado a dar mais votos a Lula do que a Bolsonaro. Durante a campanha, Rodrigo Neves ainda estabeleceu pontes com o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), que apoiou o pedetista no primeiro turno. Num estado varrido pelo voto evangélico e pelas milícias, tornou-se importante a presença política além dos limites do município, em Maricá, São Gonçalo, Itaboraí e até Campos.
A Ponte Rio-Niterói foi fechada, em ambos os sentidos, após o navio graneleiro São Luiz, que estava ancorado na Baía de Guanabara há mais de seis anos, se soltar, ficar à deriva e se chocar contra ela. A colisão ocorreu às 18h25 do dia 14 de novembro.
Equipes da Marinha e Capitania dos Portos foram acionadas e três rebocadores atuaram, por volta das 19h, para resgatar a embarcação. A ponte só foi desbloqueada – parcialmente – três horas após o acidente. O tráfego só foi completamente normalizado às 10h37 do dia 15, ou seja, 17 horas depois da colisão.
E de repente, é Natal. No dia 1º, uma árvore de 50 metros de altura e com 8 mil microlâmpadas foi acesa na Praça do Rádio Amador, em São Francisco. A inauguração se tornou uma das atrações da cidade, recebendo milhares de pessoas.
Ao redor do monumento, crianças brincavam com balões. Pipoqueiros, “dogões” e algodões-doces davam um clima interiorano à uma cidade com mais de 500 mil habitantes.
A prefeitura distribuiu árvores e iluminação por vários pontos da cidade, como Piratininga, Fonseca e Barreto, por exemplo. Também promoveu programação cultural com shows e pequenos espetáculos. Um tradicional ponto da cidade, o Campo de São Bento, recebeu a casa de Papai Noel.
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