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Ônibus: um problema que vai passar de ano, em Niterói

Por Gabriel Mansur
| aseguirniteroi@gmail.com

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Passageiros relatam espera de mais de uma hora nos pontos. Diante de redução de frota, coletivos sofrem com superlotação
Passageiros reclamam de superlotação em ônibus de Niterói. Foto: leitor
Passageiros reclamam de superlotação em ônibus de Niterói. Foto: leitor

Todo dia ela faz tudo sempre igual, acorda às seis horas da manhã, toma um café reforçado e sai para trabalhar. Bom seria se existisse uma máquina de teletransporte, mas, como não tem, ela vai de ônibus mesmo, em meio ao trânsito caótico de Niterói e rezando para não se atrasar para o expediente.

Leia mais: Niterói tem engarrafamentos em qualquer lugar e sem hora marcada no fim de ano

Esse é o cotidiano de Luiza Quintans. Moradora do Vale Feliz, no Engenho do Mato, Luiza perde quase quatro horas por dia dentro do OC3. Ela gasta 1h40 de casa para o trabalho, no Centro, e mais uma hora e meia no trajeto de volta. O OC3 faz 60 paradas ao longo do caminho.

A bem da verdade, Luiza e os outros moradores da região não tem muitas opções de linhas a sua disposição. Além do OC3, que teoricamente passa a cada 15 minutos (ou mais), outro que trafega pela via é o 38A, que normalmente roda com mais frequência, mas faz 82 paradas.

A escolha pela linha Oceânica também é justificada pelo trajeto mais curto: ambos dão a volta na Avenida Central, mas o OC3 vai pelo túnel e segue para o centro.

– Eu pego o Oc3 todo dia, para ir e voltar do trabalho. Do Engenho Mato para o centro eu demoro cerca de uma hora e quarenta. Do Engenho do Mato para a Central, ele vai vazio. Chega na Avenida Central e enche. Pego o OC3 em Icaraí já cheio – reclamou.

Linhas Oceânicas geram reclamação

Não é apenas o ônibus OC3 que tem sido alvo de críticas dos usuários, mas também o OC1 e OC2. A corretora imobiliária Tathiane Palma mora no Cafubá e pode pegar qualquer um dos três para ir ao trabalho, em Icaraí. Ela conta que, independentemente da escolha, sempre acaba ficando em pé.

Tathiane reclamou do racionamento do número de viagens, o que tem feito o passageiro ficar mais tempo no ponto esperando pelos coletivos. Em julho, o consórcio Transoceânico cortou 15% da grade de horários de todas as suas linhas.

Moradores reclamam de demora para pegar ônibus em Niterói. Foto: leitor

Outra crítica foi em relação ao preço das passagens. No dia 30 de julho, a prefeitura de Niterói aumentou em 10% o bilhete do ônibus do município. O valor passou de R$ 4,05 para R$ 4,45.

– Quando terminou a obra do Cafubá e começou os serviços do Oceânico, o serviço era muito bom, 100%. Os ônibus passavam a cada cinco minutos, sempre vazios. Depois da pandemia, quando tudo voltou ao normal, eles diminuíram a frota e aumentaram a passagem. Nos horários de pico, quando as pessoas saem para o trabalho e para a escola, os ônibus têm vindo muito lotados.

52 e 42: melhor esperar sentado

Desde o início do ano, moradores do Barreto reclamam da longa espera pelo ônibus da linha 42, que liga o bairro da Zona Norte ao Centro da cidade, em 56 paradas. O aplicativo “Moovit” aponta um intervalo de partida a cada 30 minutos, mas, de acordo com relatos, o coletivo pode levar até uma hora para aparecer nos pontos. E nos fins de semana a situação fica ainda pior.

As constantes reclamações fizeram o presidente da Associação de Moradores do Barreto (Amab), Paulo Garcia, enviar ofícios a órgãos municipais buscando uma solução para o problema. A Amab também espera conseguir aprovar uma audiência pública junto à Câmara dos Vereadores.

Linha 42 gerou “Reclame Aqui” na Internet. Foto: leitor

– Ao longo deste ano tentamos resolver essa questão por vários meios e não aconteceu nenhuma melhoria. Nosso bairro tem mais de 25 mil moradores e nada justifica esse tratamento, esse desrespeito do governo municipal. São pessoas que precisam trabalhar, estudar, se locomover com segurança – ressaltou Garcia.

O mesmo acontece com a linha 52, que liga os bairros de Baldeador e Itaipu e faz 64 paradas. Conforme o “Moovit”, um ônibus sai da garagem a cada 20 minutos. O músico Victor Santana, porém, afirma já ter esperado mais de uma hora algumas vezes neste ano.

– As linhas 52 e 38A são as que demoram mais. Dá para dizer com segurança que pelo menos uma hora eu espero no ponto. E o 52 está sempre cheio, menos quando chove. Na hora do rush, fica impossível – completou.

“Como vamos sair”?

Passageiros contam que as linhas que operam na Zona Norte circulam com redução de horários desde o início do ano, quando começou a flexibilização das atividades presenciais em escolas e empresa. O fotógrafo Paulo Vitor de Jesus Viana, morador do Fonseca e usuário das linhas 28 e 29, criticou o transporte.

– Depois da pandemia, a frequência de circulação dos ônibus nunca mais foi a mesma. Reduzindo ainda mais, o que vamos fazer? Vai prejudicar muito quem precisa se locomover. Como as pessoas vão sair para fazer compras de mercado ou para até mesmo um passeio no fim de semana? –

Medo da violência

Em uma cidade marcada pelo aumento de furtos, roubos e a criminalidade, em geral, é sempre melhor prevenir do que remediar, como diz o ditado. A jornalista Lívia Figueiredo, por exemplo, faz o possível para evitar caminhar à noite – e sozinha – pelas ruas de Niterói.

O problema, entretanto, é que Lívia é “refém” do transporte público. Moradora de Icaraí e com cinco linhas à sua disposição, ela tem preferência pela linha 53, que passa pela Álvares de Azevedo, mais perto de sua casa.

Fila para pegar o ônibus na praia de Icaraí. Foto: leitor

Na teoria, era para sair um carro do Terminal Rodoviário Presidente João Goulart a cada cinco minutos. A comunicadora relata que demora mais, a ponto de formar uma fila de passageiros para entrar no ônibus.

– Estou tendo muita dificuldade de pegar um ônibus, o 53, para voltar para casa depois do trabalho. Os que passam mais são 30, 49 e 33, mas até o 33 tem demorado nos últimos tempos. O 53 é o que mais me aflige. Fica perto da minha casa, fico mais segura, porque às vezes tenho que voltar tarde e tal, mas ele não tem me atendido tanto – concluiu.

Cronologia

Desde março passado, a população enfrenta a rotina da longa espera por ônibus nos pontos. Na época, começara o retorno das atividades presenciais, após uma melhora no quadro da pandemia do Coronavírus, mas as empresas mantinham suas frotas reduzidas.

Em maio, com a promessa de reduzir o tempo de espera dos ônibus para os usuários, a Prefeitura de Niterói promoveu uma reorganização nas linhas municipais. A medida foi adotada justamente para fazer frente à redução da oferta de ônibus, em diversas linhas da cidade.

Em julho, o Sindicato das empresas de ônibus de Niterói afirmou que o setor estava “sem condições de manter a operação das linhas” e houve mais redução nos horários dos veículos nas ruas. Cinco dias depois dessa manifestação do Setrerj, a Prefeitura de Niterói aumentou as passagens de ônibus, mesmo com a redução da frota.

Em agosto, a prefeitura promoveu nova alteração nas linhas. Daquela vez, para socorrer a Ingá, que integra o consórcio Transnit.

O que diz a Prefeitura

Em setembro, a prefeitura informou ao A SEGUIR: NITERÓI que o estudo de viabilidade de reequilíbrio financeiro dos transportes coletivos estava previsto para começar em outubro, com prazo de seis meses para conclusão.

Em nota envida nesta quinta-feira (15), após novo questionamento da reportagem, a Secretaria Municipal de Urbanismo e Mobilidade (SMU) afirmou que o projeto ainda está “em fase final de aprovação orçamentária”.

O prazo inicial dado pela própria prefeitura para a realização do estudo foi julho de 2022.

Eis a nota:

“A Secretaria Municipal de Urbanismo e Mobilidade informa que tem adotado todas as medidas de enfrentamento do contexto de grave crise dos transportes que vem atingindo as cidades brasileiras decorrentes da alta no preço do petróleo, redução da demanda por conta da pandemia e falta de novos coletivos para adquirir junto aos fabricantes, que tem resultado na falência de empresas de transporte por todo o país.

Dentre os esforços para manter o funcionamento, a qualidade do serviço e evitar a retirada de ônibus de circulação, inclui-se o congelamento da tarifa por três anos, que evitou repassar os custos para os usuários.

Outra medida adotada pela SMU é a contratação do estudo de viabilidade de reequilíbrio financeiro dos transportes coletivos, em fase final de aprovação orçamentária. O estudo vai avaliar todos os desequilíbrios de contrato que surgiram nos últimos cinco anos, incluindo a pandemia.

É importante ressaltar que a prefeitura tem realizado todos os esforços possíveis para não repassar a consequência da escalada de preços dos combustíveis e insumos durante esse período para a tarifa do usuário, que será considerado no estudo de reequilíbrio financeiro. Todos os ônibus da frota possuem ar condicionado.”

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