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Show dos sinos é atração diária na Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Niterói

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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O sacristão Railson Barboza toca os sinos às 12h e às 18h. São dois minutos ritmados antes do badalar das horas. Igreja está completando 351 anos
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Os badalos dos três sinos de bronze são ligados por uma única corda. Fotos: Sônia Apolinário

Todos os dias, religiosamente, os sinos da Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Niterói, no Centro da cidade, tocam às 12h e às 18h. Em ponto. Nesta quarta-feira (17), a tarefa que o sacristão Railson Barboza tomou para si, terá um significado mais especial: o segundo horário do dia vai anunciar a celebração de uma missa solene, em comemoração aos 351 anos de fundação da igreja.

Serão dois minutos de uma batida ritmada, que envolvem os três sinos que ficam no alto da construção. Depois, virão as 18 badaladas, quase que solenes, que ecoam do sino principal – às 12h, são 12 badaladas.

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Na verdade, apenas em um único dia da semana, os sinos permanecem em silêncio. É na segunda-feira, quando a igreja não abre. Nos outros dias, quem mora ou trabalha pelos arredores pode esquecer um pouco do relógio e se guiar pelas badaladas.

Aos 29 anos, o niteroiense Railson começou seu trabalho como sacristão da Nossa Senhora da Conceição, no início do ano. Ele, porém, frequenta a igreja desde 1995, quando era coroinha. Atualmente, sua função se limitaria a abrir e fechar o lugar e cuidar de questões administrativas, não fosse uma memória que guardava dos tempos de coroinha: o som dos sinos, que eram tocados pelo antigo sacristão Severino, que morreu em 2011.

“Ele não deixava ninguém subir até os sinos. Eu tinha uma lembrança da forma como ele tocava, sempre antes da missa. Uma tradição que, após sua morte, foi se perdendo. Quando assumi como sacristão, puxei da memória e fiquei tentando reproduzir os sons. Fiquei experimentando, até que saiu, consegui tocar o sino da mesma forma que ele. Esse som, para mim, representa a igreja de Nossa Senhora da Conceição de Niterói”, conta Railson, que é formado em Filosofia com mestrado em Política Social.

Um tempinho depois da sua chegada ao lugar, os transeuntes da movimentada rua da Conceição ou os trabalhadores da região devem ter estranhado bastante quando o sino passou a ser tocado, várias vezes por dia. Cada hora de uma forma diferente. Foram duas semanas experimentando sons.

Um dos três sinos que, juntos, são tocados por dois minutos em uma batida ritmada.

Quando subiu até os sinos, pela primeira vez, foi que Railson descobriu que seus badalos eram amarrados a uma única corda. Cada um deles, emite um som diferente – o maior e mais pesado tem o som mais grave; há um intermediário e o menor, mais “espevitado”. São todos de bronze e Railson não tem ideia de quanto pesam. Nem de quando datam. O que é possível ver é o brasão da família imperial marcado em cada um deles. Uma placa, na entrada da igreja, informa que o local recebeu, em 22 de dezembro de 1815, a visita de D. João, então Príncipe Regente do Brasil.

“Tem que ter força para manter o ritmo das badaladas. E cansa”, comenta Railson.

 

Agora, ele se deu um novo desafio: produzir uma espécie de playlist para os sinos, ou seja, criar sons diferentes para anunciar situações diversas.

“Tocar os sinos é uma tradição. É uma forma da igreja dizer ‘eu estou aqui’. Me sinto honrado por recuperar essa tradição na igreja de Nossa Senhora da Conceição de Niterói” – afirma.

História

A história da igreja se confunde com a de Niterói. A construção começou a ser erguida  em 1663, pelo devoto Affonso Corrêa de Pina, com esmolas da população. A área (ou sítio, como se dizia à época), foi oferecida pelos herdeiros de Martim Afonso de Souza – o nome do navegador português adotado pelo chefe da tribo temiminós Araribóia, após se converter ao catolicismo.

Em 17 de agosto de 1671, na pequena ermida de São Domingos, foi lavrada a escritura da igreja de Nossa Senhora da Conceição de Niterói. A partir desta data, formou-se a Irmandade de Nossa Senhora da Conceição, que administra o seu patrimônio, até os dias de hoje.

Em 1770, a pequena ermida foi derrubada e construída uma nova igreja que, entre 1839 e 1854, foi sede e matriz da cidade – chegou a guardar, em seu altar, a imagem de São João Batista, padroeiro de Niterói. Em 1850, por provisão do Bispo do Rio de Janeiro. D. Manoel do Monte Rodrigues de Araújo (Conde de Irajá), a Irmandade foi elevada com o título de Confraria de Nossa Senhora da Conceição da Imperial Cidade de Nictheroy, com direito a uso de hábito.

Com a elevação do Bispado de Niterói à Arcebispado, a Irmandade foi elevada com o título de Arquiconfraria de Nossa Senhora da Conceição de Niterói, em 24 de janeiro de 1964, por decreto assinado por D. Antonio de Almeida Morais Junior.

Desde 2008, o local abriga um museu de arte sacra composto por cerca de 100 peças. Depois de dois anos fechado, voltou a abrir as postas para o público neste mês de agosto.

 

 

 

 

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