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Viva São João!, padroeiro de Niterói

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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As festas, as histórias e os pedidos dos moradores de Niterói a São João. E a procissão do dia 24.
igreja são joão fachada
Catedral São João Batista, no Centro da cidade, o ponto de encontro das celebrações. Fotos: Sônia Apolinário

Se dependesse da vontade da cúpula da Igreja Católica, São Lourenço seria o padroeiro de Niterói. A igreja em sua intenção já tinha até sido construída, no Ponto Cem Réis, no Fonseca. Porém, a forte devoção do niteroiense a São João Batista não permitiu isso. “Foi por aclamação do povo que São João se tornou o padroeiro de Niterói”, afirma o padre Wallace Dahan dos Santos, há 15 anos à frente da Catedral São João Batista. Segundo ele, é a arquidiocese que escolhe o padroeiro de uma cidade e o Papa ratifica a escolha.

Assim, 24 de junho se tornou feriado em Niterói para que seus moradores celebrassem o nascimento do seu querido santo padroeiro. E o QG das festividades é a sua igreja, no Centro da Cidade, na praça Dom Pedro II, s/n, entre as ruas São João e São Pedro.

Na Catedral, as festividades começam nesta quinta-feira (23) e terminam no sábado (25). Na sexta-feira, a grande atração não religiosa é o tradicional Angu à Baiana, há 32 anos preparado pelo seu João e sua esposa Carminha. Este ano, serão servidos 1.500 pratos, a R$ 20,00, cada.

Padre Wallace Dahan dos Santos, há 15 anos à frente da Catedral São João Batista

O padre Wallace não perde a iguaria por nada. Será seu almoço, entre as celebrações de missa que serão realizadas no dia 24 das 8h às 15h30. A missa solene será às 17h, a ser celebrada pelo arcebispo Dom José Francisco. Em seguida, sai a procissão de São João Batista  que seguirá pelas ruas Barão do Amazonas, Coronel Gomes Machado, Evaristo da Veiga, Avenida Ernani do Amaral Peixoto, Visconde de Sepetiba e São João, retornando à Catedral.

– Depois de dois anos, é muito bom poder voltar a fazer a festa, que atrai muitos devotos. É um momento que une devoção religiosa com os festejos típicos do período junino – comenta padre Wallace.

Desde a semana passada, a praça da catedral está decorada com bandeirinhas. Para a festa, o estacionamento rotativo que funciona no local é fechado. No lugar dos carros, ficam barraquinhas com vendas de caldos, doces, salgados e churrasquinho, além de parque infantil e espaço para as apresentações musicais e a dança de quadrilha.

Programação

Dia 23

18h30 -Novena

20h30 – Apresentação de forró com o grupo Labaredas do Forró

Dia 24

20h – Show de sertanejo universitário e forró com Claudio Vieira e banda

Dia 25

17h – Missa

18h30 – Apresentação de dança da quadrilha do Grupo Jovem da Catedral

às 20h – Forró com o grupo Bonde Bem Docinho.

 

O Angu

120 quilos de fubá, 25 pés de mocotó, 700 quilos de miúdos de boi são os principais ingredientes do Angu de São João. Na quarta-feira (22), seu João e dona Carminha já estavam nos preparativos da refeição.  A comida, mesmo, começa a ser feita às 6h do dia 24 quando, na cozinha da paróquia, o casal vai comandar um grupo de 30 pessoas que chega para ajudar. Às 12h em ponto, os primeiros pratos começam a ser servidos.

Seu João e dona Carminha preparam o angu há 32 anos

Casados há 50 anos, João da Costa Maia, de 75 anos, e Carmem Lúcia, de 71, começaram a fazer o angu de São João quando passaram a frequentar o encontro de casais da igreja; decidiram ajudar a fazer o angu e não pararam mais. Eles contam que, no início, era feita apenas uma pequena panelinha, bem diferente de hoje, quando o casal prepara a comida em dez panelões.

– Fazer angu não tem segredo. É só fazer com amor e muito tempero com pimenta – brinca dona Carminha – O mais difícil é não deixar queimar e também não pode ter sal demais.

O trabalho começa com a preparação do molho “com muito tempero”, às 6h. Às 9h, a panela do angu vai para o fogo. Assim que a água ferve, entra o fubá e quando ele chega, é preciso mexer por uma hora seguida “para não ter caroço nesse angu”.

Na divisão das tarefas, uma única pessoa e somente ela fica responsável por dourar o alho; já experimentar o sal é tarefa de todo o grupo. Na hora de mexer o angu com a enorme pá de madeira, são os homens que vão para a função.

Por que angu se tornou comida tradicional da festa de São João, seu João não sabe explicar:

– Essa tradição é antiga, começou com os imigrantes que chegaram na cidade. Acho que fazer angu com miúdos foi escolhido por ser uma comida com ingredientes baratos. Com o tempo, o prato foi sendo aperfeiçoado.

Enquanto trabalha, dona Carminha entoa cantigas de louvor a São João. Ela conta com satisfação que dentre o batalhão que chega para ajudar o casal a preparar a comida estão seus dois filhos, três netos e o genro. Alguns amigos pernoitam na casa do casal, no Centro, perto da igreja, para não perderam a hora do início da preparação.

Além do angu, o casal vai “abastecer”  festa com caldo verde, sopa de ervilha e mocotó. Mas é o angu o grande xodó:

– O melhor angu de Niterói é o da festa de São João – afirma dona Carminha.

História

A última grande reforma na Catedral foi feita entre 2008 e 2013

Data de 1660 a primeira capela erguida em Niterói em homenagem a São João Batista. Ficava em Icaraí “no morro próximo ao Campo da Fazenda do Mosteiro de São Bento” como descrito em “Memórias Históricas de Monsenhor José de Souza Azevedo Pizarro e Araújo”. Traduzindo para tempos atuais, o local seria em algum lugar entre as ruas Paulo Gustavo e Gavião Peixoto.

Após a ruína da capela original, a imagem do santo foi transferida, em 1744, para a Ermida de Nossa Senhora das Necessidades e, posteriormente, para a igreja de Nossa Senhora da Conceição.

Com a criação da Vila Real da Praia Grande, em 1819, projetou-se construir uma nova igreja da Matriz cuja pedra fundamental foi colocada em 1842. A igreja, em estilo neoclássico, ficou pronta em 1854. Em 1893, o templo foi bombardeado durante a Revolta da Armada e passou por reformas estruturais significativas. Por Decreto de 25 de fevereiro de 1908, a igreja de São João Batista de Niterói foi elevada à dignidade de Catedral.​

A capela do século 17 mostra como, de fato, a devoção ao santo é antiga na cidade. Padre Wallace acredita que a predileção pode ter sido influência dos portugueses que vieram para o Brasil.

Já sobre a escolha de São João, e não São Lourenço, como padroeiro de Niterói existem várias versões. Divaldo Aguiar Lopes, em seu livro “A Catedral de Niterói” conta que, em um artigo de jornal de 1906, o senhor Manuel Benício fez a seguinte especulação:

“A nobreza de então e parte do clero povoava Icaraí, com a sua escravatura; parte do clero e do povo composto de índios e mestiços ocupava São Lourenço. O direito de primasia (sic) desaparece perante as exigências da comodidade dos grandes”. O artigo conclui afirmando que “o capricho dos moradores de Icaraí” deve ter influenciado na escolha do santo padroeiro em função da localização de sua igreja.

Foi sob orientação do padre Wallace que foi feita a última grande reforma na Catedral, entre 2008 e 2013.

– A igreja estava descaracterizada. Com a reforma, descobrimos coisas originais que não imaginávamos. Conseguimos recuperar a pintura original das paredes e encontramos dois arcos no altar que estavam fechados – conta ele.

 

O santo

 

João Batista (2 a.C. -27) foi um pregador itinerante cujo aparecimento se deu na Judéia (sul de Israel), seu provável lugar de nascimento, na época de Herodes. João teve muitos seguidores. Ele usava o batismo como símbolo de purificação da alma. Seu discurso principal era a respeito da vinda do Messias. É atribuído a João Batista o batismo de Jesus.

João foi preso a mando de Herodes no ano 26 d.C.  Ele foi levado para uma fortaleza onde foi mantido por dez meses até ao dia de sua morte. O motivo desse aprisionamento apontava para a liderança de uma revolução. A filha de Herodes, Salomé, pediu a cabeça de João Batista ao pai e a recebeu em uma bandeja de prata.

O dia de São João é celebrado pela religião católica com uma festa popular no dia 24 de junho. Seu martírio também é lembrado no dia 29 de agosto.

 

Pedidos para o santo

 

Na praça da Catedral, A Seguir Niterói perguntou para transeuntes que pedidos gostariam de fazer para São João para melhorar a vida dos niteroienses. A maioria pediu providências para melhorar a vida dos moradores de rua da cidade.

As colegas de trabalho Eliane Malta e Michelle Silva Marinho foram duas que pediram pelos moradores de rua:

– Tenho muito carinho pela cidade, que melhorou em vários aspectos, mas quero pedir um olhar mais carinhoso para os moradores de rua. São muitos – diz Eliane no que Michelle completa – Tenho certeza que São João vai atender nosso pedido.

Funcionária do estacionamento, Thais da Silva segue no mesmo pedido:

– Aqui no entorno da praça tem muitos moradores de rua. É preciso melhorar isso e esse é o pedido que faço para São João. Também gostaria de pedir para dar uma força na limpeza dessa parte da cidade que está muito suja.

O estudante Herbert da Silva Castro, de 16 anos, fez dois pedidos para o santo: melhorar a vida dos moradores de rua e dar consciência para as pessoas para que não desperdicem alimentos “em uma época que tem tanta gente passando fome”.

Seu amigo Cauã Gomes, de 12 anos, pediu “mais humildade para as pessoas”:

– Todos os dias vemos pessoas muito agressivas, maltratando outras pessoas, nas ruas.

Motorista de caminhão, Evando Moreira, é morador de São Gonçalo e estava a trabalho, na praça. Seu pedido para o santo é ter menos violência nas cidades.

Apressada para pegar seu carro no estacionamento, Marizete se desculpou por não parar para atender a reportagem por ter um compromisso. Enquanto entrava no carro, ouviu a pergunta sobre o pedido a ser feito para o santo e não teve dúvidas:

– Eu pediria para ele, se não conseguir terminar, pelo menos diminuir os engarrafamentos em Niterói. Quem sabe eu consigo não chegar atrasada nos meus compromissos – disse para, em seguida, arrancar com o carro cuja placa era de São Gonçalo.

Dona Carminha conta que faz o mesmo pedido, todos os dias para São João:

– Que ele abra nossos caminhos e livre todos nós da violência.

Padre Wallace também pediu para o santo por menos violência, mais paz, segurança e mais saúde para os niteroienses:

– No entorno da Catedral tem muita miséria que vemos bem de perto todos os dias. Procuramos ajudar com obras sociais, mas é pouco. A pandemia aflorou ainda mais essa situação. Muitas famílias foram despejadas e foram para as ruas. Peço a São João por elas.

Simpatias populares

Para afastar más energias

Despeje um copo de água filtrada no chão de um cômodo de sua casa, dizendo: “Em nome de São João, eu peço que sejam revertidas e afastadas todas as más influências que foram dirigidas a mim e peço para que o meu corpo fique fechado para sempre. Amém”. Após a prece, enxugue o chão com um pano. O copo e o pano, depois de lavados, podem ser usados normalmente.

 

Banho para felicidade

 

No dia 24 de junho, faço um preparo utilizando 2 litros de água, cravo, alecrim e manjericão. Tome banho com a mistura do pescoço para baixo, pedindo proteção e alegria ao santo.

 

Outras festas de São João pela cidade

 

De 24 a 25 de junho – Arraiá do Praia Clube São Francisco

A partir das 18h, arraiá formado por barraquinhas de comida, música e dança típicas, além de brincadeiras e apresentação de dança de quadrilha. Tudo embalado pelo forró da Banda Forrozeira e Marco Vivan.

Convites para sócios – Gratuito.
Convidados de sócios e não sócios – valores na tesouraria do clube.

O Praia Clube São Francisco fica na Estrada Leopoldo Fróis, 700, em São Francisco.

 

De 24 a 26 de junho –  Arraiá do Shopping Itaipu Multicenter

Comida, bebida, música e dança típicas, a partir das 15h. Entrada Franca.

O Shopping fica na Estrada Francisco da Cruz Nunes, 6501, Itaipu

 

Dia 25 de junho – Festa Junina do colégio Salesianos Santa Rosa

Das 9h às 18h com apresentações de dança das turmas do colégio.

Barracas com comidas e doces típicos e de brincadeiras como argola, basquete no balde, bingo, canaleta, pescaria, roleta da sorte e tomba latas.

Ingressos: R$ 30,00 (venda antecipada); R$ 40,00 (na hora)

O colégio fica na rua Santa Rosa 207

 

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