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Mercado Municipal de Niterói completa um ano com várias lojas fechadas

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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A Seguir visitou o Mercado em uma tarde de sexta-feira e encontrou um local praticamente vazio; lojistas evitam dar declarações
mercado 1 ano
O Mercado Municipal completou um ano de funcionamento em 27 de julho. Fotos: Sônia Apolinário

Não foi como se esperava, no lançamento do Mercado Municipal de Niterói, depois de 40 anos de abandono. O Mercadão  completa um ano de funcionamento com lojas fechadas, processos judiciais e pouco público, sem conquistar o morador da cidade, que esperar encontrar ali um pouco dos sabores da cidade.

A inauguração, no dia 27 de julho do ano passado, gerou expectativas de que o local seria um sucesso. O niteroiense lotou o espaço. Segundo alguns lojistas, pelos três meses seguidos, tudo indicava que o mercado iria “decolar”, mas a realidade foi se mostrando diferente.

Com 180 lojas, cerca de 30 fecharam nos últimos meses e 14 lojistas entraram na Justiça contra o Mercado. Com processos em quatro diferentes Varas Cíveis de Niterói, pedem indenização por danos morais; rescisão do contrato e devolução do dinheiro e indenização do prejuízo.

Os problemas, no entanto, não aparecem na visão dos administradores. De acordo com nota divulgada para marcar o aniversário, ao longo de um ano, 1,5 milhão de pessoas passaram pelos corredores mercado, “transformando o local em um polo não apenas para a gastronomia local, mas também para o turismo e desenvolvimento econômico”.  Um número equivalente a 4 mil pessoas por dia, uma multidão difícil de se encontrar no local. O estacionamento, por vezes, está vazio, e os próprios gestores encontram espaço para organizar eventos ali.

Ainda segundo a nota oficial, neste primeiro ano de funcionamento, a movimentação econômica do Mercado foi superior a R$ 100 milhões – o que significa cerca de R$ 8 milhões por mês.

– O Mercado Municipal revitalizou a economia local, gerou empregos e trouxe mais opções de produtos e serviços para a comunidade. Cada corredor, cada loja e cada sorriso de satisfação dos clientes refletem o sucesso e a importância desse empreendimento. Niterói merecia um espaço como este, que valoriza a produção local e fortalece os laços comunitários. Neste primeiro ano, celebramos não apenas o sucesso comercial, mas também a união e o espírito empreendedor que fazem do Mercado Municipal de Niterói um verdadeiro orgulho para todos nós – disse, na nota, o empresário Marcelo Viana, que é um dos réus nos processos movidos pelos lojistas.

Pelos corredores

O A Seguir constatou visitou o locaL na tarde de sexta-feira (2). Com o Mercado praticamente vazio, funcionários passaram a maior parte do tempo, literalmente, de braços cruzados. Na maior parte das lojas, os donos não foram encontrados. Segundo os funcionários, eles preferem ficar a postos no fim de semana, quando o público costuma ser maior.

Difícil também é achar  lojistas dispostos a dar entrevista. Dentre os que aceitaram conversar com A Seguir estava Fernando, dono da Dr Cogumelo. Ele disse que estava “muito satisfeito” com sua loja no Mercado Municipal de Niterói:

– Correspondeu a minhas expectativas. Cada dia que passa, o movimento  aumenta. Nossa loja é um empório, trabalhamos  com produtos exclusivos que  não se encontra  em outros mercados – afirmou.

Já Monica Damsco pensa diferente. De licença por conta de um acidente, a dona do Café Damasco respondeu algumas perguntas por Whatsapp:

– Estou totalmente desapontada com a administração. Estou saindo do Mercado Municipal. Vou ficar até o dia 31 de agosto. O Mercado abriu com várias cafeterias. Achei isso péssimo – comentou.

Alguns lojistas falaram sob condição de anonimato. Em comum, fizeram críticas à gestão. As queixas mais recentes, focaram eventos realizados na área do estacionamento do Mercado, como a festa junina. O motivo da bronca: participação de “empresas de fora” sendo que as “de dentro” não eram isentas de cobranças para participar do evento.

Já uma bronca antiga, segundo esses lojistas que pediram para não serem identificados, diz respeito aos valores de condomínio e aluguel. Segundo eles, antes da inauguração, foi feita a promessa de condomínio popular, com valores entre R$ 500 e R$ 1 mil, mas foi cobrado entre R$ 3 mil e R$ 4 mil. Em fevereiro passado, quem pagava cerca de R$ 2 mil de aluguel, iria passar a pagar R$ 4 mil, a partir deste mês de agosto.

Ainda segundo esses lojistas, o niteroiense não “comprou” o Mercado. Na verdade, na avaliação deles, o morador da zona sul de Niterói não se tornou frequentador do local. Nos últimos tempos, eram os moradores do entorno do Mercado que costumavam passear por lá, sem praticamente consumir.

 

No dia que A Seguir visitou o Mercado, encontrou Maria das Graças Santos e Laura Netto degustando um vinho. São mãe e filha, moradoras de São Francisco:

– É a primeira vez que venho. É uma estrutura que parece um shopping. É bonito, mas não é o que eu esperava. Pensei que fosse ser mais ou menos como o mercadão de São Paulo ou o Cadeg, no Rio. Tem muitas lojas fechadas, pouca variedade. Esse prédio merecia ser restaurado e quero que dê certo, mas, tá visto. Não sei se volto – disse Laura.

 

 

Juliana Marques também estava visitando o mercado pela primeira vez. Moradora do Fonseca, disse que estava gostando de tudo e que iria voltar.

– Vou voltar com minha família. Vamos voltar para almoçar e passear – afirmou.

Com ela estava José Carlos. Ele se disse fã do mercado. Morador da Engenhoca, já visitou o local quatro vezes. E vai voltar:

– É um ótimo espaço. Tudo novo, aconchegante. A gente se sente bem aqui dentro – disse ele.

Enquanto A Seguir conversava com eles, um assessor do mercado se aproximou. E pediu que a reportagem não abordasse mais clientes, no local. Segundo ele, estava repassando um pedido vindo de ordens superiores.

 

Alguns lojistas e ex-lojistas se uniram para abrir negócios em outros locais. Por exemplo, os donos das cervejarias Ocka Rocka, Una e Backbone e do bar A Casa da Vila abriram a Torneria, no Jardim Icaraí. A Ocka Rocka e a A Casa da Vila fecharam seus espaços no Biergarten do Mercado.

Uma loja de vinhos e um empório também fecharam suas lojas, em Niterói. Juntos, estão para inaugurar um novo espaço, em Ipanema, no Rio.

História

Com 9.700 metros quadrados, o Mercado passou por um retrofit. O edifício da Avenida Feliciano Sodré, 488, no Centro, abrigou, de 1930 a 1976, o Mercado Municipal da cidade. Em 1977, após seu  fechamento, o espaço passou a ser utilizado como Depósito Público Estadual. O local também serviu como base para o CEASA (Centrais de Abastecimento) e um centro de assistência social. O imóvel faz parte de um conjunto arquitetônico da região portuária de Niterói. Estava desativado há cerca de 30 anos.

A revitalização do espaço foi feita por intermédio de uma  parceria entre a Prefeitura de Niterói e o consórcio Novo Mercado Municipal, através do edital de concessão de Parceria Público Privada (PPP). A administração conjunta do empreendimento está prevista para ser feita pelos próximos 25 anos. Na época do lançamento do projeto, foi informado que o consórcio faria um investimento de R$ 69 milhões, ao longo de três anos, sendo R$ 30 milhões a serem gastos apenas na reforma do prédio. Em agosto de 2020, a diretora do Novo Mercado era Sofia Avny, sócia diretora do Nacional Shopping.

O lançamento do projeto foi feito em uma cerimônia virtual, transmitida pela Internet. O ano era 2020 e se vivia sob o “novo normal” imposto pela pandemia do Coronavírus. As obras mal tinham começado, mas havia grande expectativa em relação ao novo espaço de comercialização de produtos made in Estado do Rio de Janeiro e, claro, Niterói. As vendas, porém, não aconteceram conforme o esperado. Na época, o comentário entre os comerciantes da cidade foi que os altos preços pedidos pelas lojas jogou um balde de água fria no entusiasmo.

Descontos

Foi somente em junho de 2022 que as vendas foram reabertas. Anúncios informavam que as lojas estavam sendo oferecidas sem cobrança de luvas e com redução de até 50% do valor do aluguel. Em 2022, quem se apresentava como o diretor do Novo Mercado Municipal era Allan Carvalho dos Santos. Sofia Avny se tornara sócia minoritária do negócio que teve como nova sócia a empresária Claudia de Souza.

Receber 100 mil visitantes e movimentar cerca de R$ 7 milhões, por mês era a expectativa que os administradores diziam ter para o Mercado, na véspera da inauguração –  uma data que foi remarcada diversas vezes.

A Seguir solicitou entrevista para o administrador do Mercado, mas não obteve resposta.

 

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