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Uma semana depois: quem provocou o desabastecimento de água de 2 milhões de pessoas?

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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A concessionária Águas de Niterói segue informando que “alguns locais pontuais ainda podem estar com algum reflexo no abastecimento”
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Uma semana após a paralisação da operação do Sistema Imunana-Laranjal, o governo do Estado não chegou ao responsável pelo despejo de substância tóxica no manancial. O desastre ambiental acarretou a interrupção do abastecimento de água para Niterói e outros municípios fluminenses, afetando um total de 2 milhões de pessoas.

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Há três dias, o assunto nem é mais tema de notas oficiais da Cedae. Depois de 24h sem manifestações, o governo do estado informou, nesta quarta-feira (10) que o Ministério Público do Rio de Janeiro passou a acompanhar as ações e investigações do caso, por meio do Grupo de Apoio Técnico Especializado (GATE).

Até o momento, a informação oficial dava conta de que oito representantes de 16 empresas que funcionam na região e que podem ter utilizado tolueno em suas atividades foram ouvidos pelos investigadores, que também cumpriram mandados de busca nas sedes dessas firmas.

Na quarta-feira da semana passada (3), a Cedae teve de parar a captação de água na Estação de Imunana-Laranjal ao identificar no manancial altas concentrações de tolueno, solvente altamente danoso à saúde se ingerido ou inalado. O sistema voltou a captar e tratar água às 22h42 de sexta-feira (5).

Em Niterói, a água começou a chegar às 5h de sábado (6), quando o fornecimento foi retomado de forma gradativa. Desde a última segunda-feira (5), até esta quarta (10), a concessionária Águas de Niterói repete o mesmo lacônico comunicado: “o abastecimento está sendo retomado de forma gradativa. Alguns locais pontuais, principalmente em pontas de rede, ainda podem estar com algum reflexo no abastecimento”.

Pelas reclamações de moradores, nas redes sociais, foi possível identificar alguns desses “locais pontuais”: Fonseca, morro do Preventório (Charitas), Ponta D’Areia, trechos de Santa Rosa, Engenho do Mato e Pendotiba.

O que se sabe?

Na quinta-feira passada (4), pouco mais de 24h da paralisação da operação do sistema, o governo do Estado informou que técnicos da Cedae e do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) haviam localizaram o ponto exato do vazamento de tolueno . Foi dito, à época, que o problema estava num oleoduto no Rio Guapiaçu, em Guapimirim, na Baixada Fluminense.

Houve especulações que o oleoduto seria da Petrobras, que negou de forma enfática, afirmando não fazer uso do tolueno a partir de suas atividades no estado do Rio de Janeiro. Em nota oficial, a empresa observou também que não foram detectadas nas águas que abastecem o Sistema Imunana-Laranjal contribuições de petróleo, nem de produtos tipicamente processados em refinarias e transportados em dutos, tais como gasolina, diesel e gás. E ainda observou:

“O produto químico tolueno é utilizado em processos industriais na fabricação de tintas, solventes em geral e na indústria do couro, ramo presente historicamente na região afetada, devido à atividade econômica de criação de bovinos, em Guapimirim e Itaboraí. A agricultura e a pecuária são as principais atividades econômicas na região afetada. O tolueno também é usado na fabricação de pesticidas e defensivos agrícolas.”

O tolueno ou metil benzeno é uma substância que ficou popularmente conhecido no Brasil como cola de sapateiro. Trata-se de um líquido incolor com um odor característico. Ocorre na forma natural no petróleo e na árvore tolú. Também é produzido durante a manufatura da gasolina e de outros combustíveis a partir do petróleo cru e na manufatura do coque a partir do carvão.

É a matéria-prima a partir da qual se obtêm derivados do benzeno, usado para a produção, dentre outras coisas, de corantes, perfumes, TNT (Tecido não Tecido) e detergentes. Também é adicionado aos combustíveis (como antidetonante) e como solvente para pinturas, revestimentos, borrachas, resinas, diluente em lacas nitrocelulósicas e em adesivos. É a matéria-prima na fabricação do fenol, benzeno, cresol e uma série de outras substâncias.

O tolueno também é usado na adulteração da gasolina.

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Qualidade da água

A Cedae, que opera o sistema Sistema Imunana-Laranjal, informou que, no domingo (7), a taxa de tolueno na água tratada que abastece Niterói havia chegado a zero.

A paralisação do sistema com interrupção do abastecimento de água se deu quando os níveis de tolueno chegaram a 59 microgramas por litro. A retomada da captação, na sexta-feira (5), aconteceu, segundo a Cedae, quando a substância tóxica foi reduzida “para o nível aceitável – até 30 microgramas por litro”.

Esse nível foi estabelecido pela Portaria de Potabilidade 888, de 4 de maio de 2021, assinada pelo então ministro da Saúde, Marcelo Antônio Cartaxo Queiroga Lopes,. Ele foi ministro de 23 de março de 21 a 31 de dezembro de 2022, e ficou conhecido, durante a pandemia do Coronavírus, pelo estímulo aos “tratamentos” não comprovados para a doença, como o uso da cloroquina.

O Sistema Imunana-Laranjal, abastece, além de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, parte de Maricá (Inoã e Itaipuaçu) e a Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro, em um total de dois milhões de pessoas.

 

 

 

 

 

 

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