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Um aperitivo, uma gelada e a conta, com Sônia Apolinário

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

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Jornalista e beer sommelière, Sônia Apolinário fala da cerveja artesanal, do circuito cervejeiro de Niterói e sugere harmonizações
Sônia Apolinário
A jornalista Sônia Apolinário veste ‘Lupulinário’ em um dos seu cantos favoritos de Niterói. Foto: Silvão

Muito se fala sobre a capacidade que a cerveja tem de unir as mais diferentes tribos. Se tivesse uma única palavra para defini-la, seus devotos talvez escolhessem: “democrática”. Cabe na mesa de um bar, depois do futebol, no churrasco, na praia ou numa degustação de marcas especiais nos muitos endereços dedicados à bebida.  Não surpreende que o volume de vendas no Brasil tenha crescido no último ano, mesmo com a pandemia inibindo a frequência dos bares. A cerveja encontrou o delivery e, hoje, é possível comprar até chopp em casa. De acordo com o relatório Consumer Insights, feito pela Kantar, o terceiro trimestre de 2021 registrou o maior número de consumidores da bebida desde o terceiro trimestre de 2019, com alta de 127%. O estudo também apontou que o público feminino teve grande participação nesse resultado.

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São tantas opções e tanta paixão em torno da cerveja, que o A Seguir Niterói convidou uma especialista, a jornalista e beer sommèliere Sônia Apolinário,  para falar sobre o circuito da cerveja em Niterói, a diversidade de opções, a forma de consumir a bebida, a temperaturta certa e revelar  quem são os novos produtores no mercado. Niterói hoje é uma das cidades que se afirmam na produção de cerveja artesanal no país. E tem pelo menos uma marca reconhecida fora da cidade, a Noi. Uma cervejaria artesanal é a que produz em pequenas quantidades, em escala bem menor se comparada a grandes cervejarias, e é independente, ou seja, não pertence a um grande grupo. A variedade de sabores, cores e aromas é um capítulo à parte.

Foi o prazer de descobrir os mais diversos estilos de cerveja e a complexidade da bebida que levaram a jornalista a investir na sua formação no Science of Beer em beer sommelière. Ela diz que seu interesse pela cerveja artesanal começou a se acentuar em uma época que o segmento começava a “aparecer”, no Brasil. “Antes, era necessário desembolsar uma grana considerável para o consumo, já que as cervejas costumavam ser todas importadas. Agora, a produção nacional – e de Niterói -começa a ser levada a sério.”

 

A jornalista Sônia Apolinário, criadora da coluna cervejeira “Lupulinário”. Foto: Silvão

Sônia Apolinário tem passagens por veículos de grande circulação, como O Globo, Folha de S.Paulo e Estado de São Paulo, sempre na editoria de Cultura. Resolveu criar seu próprio projeto para falar sobre os bastidores, processo de produção e tudo mais que envolve uma gama de possibilidades, que muito cativam o público cervejeiro. Qual acompanhamento harmoniza melhor com uma Pilsen? Ou uma IPA? A coluna Lupulinário é publicada também no A Seguir: Niterói – uma fusão interessante que combina o seu sobrenome com o lúpulo, a planta responsável pelas substâncias que conferem amargor e aroma à cerveja.  A conversa vale uma cerveja.

São várias as confrarias cervejeiras espalhadas pelo Brasil. Algumas formadas somente por especialistas em cerveja, mas, a maioria, reúne quem quiser chegar. Basta se interessar por cerveja artesanal e gostar de beber, é claro. Sônia faz parte de algumas delas, incluindo a Confraria dos Cervejeiros de Niterói (CCN) e a Confraria Lupulize, primeira confraria formada e voltada para o público feminino de Niterói.

– Nesse meio cervejeiro, tenho aprendido muito, conhecido muitas pessoas completamente apaixonadas pela arte de produzir uma cerveja. É negócio? Para muitos sim, mas para todos, é muita dedicação e amor envolvidos. Como jornalista, entusiasta do meio e dando os primeiros passos na produção de cerveja, eu senti necessidade de contar as coisas legais que rolam nesse ambiente – resume Sônia.

Em um momento da nossa conversa, Sônia me diz o seguinte ditado ao falar do interesse genuíno que acompanha a vida de um especialista em cerveja: “Quem tem boca vai a Roma e toma cerveja boa”. Pois parafraseando Sônia: Quem tem boca vai a Roma, toma cerveja boa e conhece fatos curiosos lendo o A Seguir Niterói.

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Na entrevista, que você confere na íntegra abaixo, Sônia fala sobre as diferenças entre a cerveja tradicional e artesanal, a história das confrarias, o circuito cervejeiro de Niterói e, claro, da sua coluna que já completa 4 anos e se expandiu até para podcast.

A Seguir: Niterói: Para os leigos, explique as principais diferenças, em linhas gerais, entre cerveja artesanal e cerveja tradicional. O que qualifica uma cerveja artesanal?

Sônia Apolinário: Quando a gente fala que a cerveja é artesanal  é porque a gente quer, basicamente, diferenciar e dizer que aquele produto não foi feito por um grande grupo cervejeiro, mas por uma pequena empresa, pode ser uma micro empresa, uma nano cervejaria ou de médio porte. Quer dizer que a cervejaria é independente no sentido de não pertencer a um conglomerado, a um grande grupo cervejeiro. Empresas desse porte produzem uma quantidade absurda e têm processos para acelerar a produção, usam alguns adjuntos para ampliar a produção, de forma que renda.

A Seguir: Niterói: Quais são os tipos principais da cerveja artesanal e quantas são? Quais características ela deve ter? Quais os benefícios, em termos de saúde, que ela traz, por ser mais natural?

Sônia Apolinário: Só de estilo de cerveja artesanal são mais de 150 e dentro de cada estilo é um mundo. Dentro da característica de cada estilo são várias cervejas diferentes, então fica difícil mensurar. É preciso lembrar que cerveja é uma bebida alcoólica. Tudo bem, tem cerveja sem álcool. Mas quando você faz sem produtos químicos, utilizando ingredientes como frutas, sem itens artificiais, você já está ingerindo uma bebida de melhor qualidade, mas não tem benefício de saúde. Tem que beber com moderação. Inclusive, o lema da cerveja artesanal é “beba menos, beba melhor”, porque você vai apreciar mais. Ao invés de ficar só na quantidade, você busca qualidade. Na verdade, são duas as premissas da cerveja artesanal: o estímulo ao beba local, porque quanto mais próximo da origem da cerveja mais fresco é o consumo do produto e “beba menos, beba melhor”.

A Seguir: Niterói: Quanto tempo, em média, é necessário para produzir uma cerveja artesanal e quais são os cuidados que devem ser levados em consideração no seu armazenamento?

Sônia Apolinário: O mínimo é de 25 a 30 dias, mas tem cerveja que pode levar mais de um ano para ficar pronta, porque são cervejas que são envelhecidas em barris de madeira. O cuidado tem que ser ao longo de todo o processo porque em qualquer momento pode ter contaminação, se houver descuido de higiene. Tem que ter muita atenção, porque qualquer erro, em alguma etapa, pode contaminar e nesse caso perder a cerveja toda. Os equipamentos devem ser todos esterilizados e limpos corretamente. O manuseio deve ser feito com muita higiene também.

Sônia Apolinário posa no Fina Cerva. Foto: Silvão

A Seguir: Niterói: Em que momento virou a chave para você em relação às cervejas especiais? Você se lembra em que contexto você experimentou pela primeira vez? 

Sônia Apolinário: Eu sempre tive muita curiosidade em experimentar algumas bebidas. Antes desse boom da artesanal nacional, as melhores cervejas eram todas importadas, então eram muito caras. Lembro que tinha um bar que só vendia cerveja belga, na Barra da Tijuca (RJ), que eu fui uma vez e fiquei encantadíssima porque era tudo muito legal e diferente. Mas era tão caro que fui uma vez só e nunca mais voltei. Foi quase como um evento. Aí, muito tempo depois, quando começou a produção nacional e eu via os rótulos que eram feitos aqui, foi me despertando uma curiosidade. Com a oferta cada vez maior, era muita novidade junta ao mesmo tempo. Foi tudo na mesma época, o boom das cervejas artesanais nacionais, os bares especializados, tudo isso foi gerando curiosidade. Um dia, entrei num desses bares e perguntei por qual cerveja eu poderia começar. Como eu não conhecia nada, aceitei a dica e a recomendação foi a Witibier, que é uma cerveja belga de trigo. Ela é feita com casca de laranja e leva semente de coentro também. É uma recomendação clássica, porque é uma cerveja extremamente leve e refrescante. Costuma ser chamada de “cerveja de entrada”, porque permite que você vá se posicionando e conhecendo o universo, sem provocar um grande estranhamento em termos de sabor. Depois, eu pedia outras dicas e ia experimentando. É muito importante, quando se trata de novos consumidores, que o atendimento nesses bares sejam especializados. É preciso entender o que a pessoa quer, o que ela gosta, para dar um chute certo. Se empurra qualquer coisa para o consumidor, é possível que você o perca para sempre, porque se você parte para uma coisa muito diferente do que estava acostumado, muito radical, a probabilidade de afastar aquele novo consumidor é muito grande. E o paladar vai aprimorando, conforme você vai experimentando, você vai querendo outras coisas e testando…

A Seguir: Niterói: Você participa de algumas confrarias, sendo a primeira a “Bate-papo Cervejeiro”. Como funcionam essas associações? Você participa de quantas no momento? Os encontros são virtuais? Como são os eventos e debates? Com que periodicidade são realizados?

Sônia Apolinário: Acho que foi em um desses posts que são compartilhados no Instagram que me chamou atenção e eu fiz algum comentário. E aí me perguntaram se eu queria participar de um grupo do WhatsApp que estava se formando, que funciona como um espécie de confraria virtual. Eu falei que não conhecia nada e o Wesley, que criou o grupo, falou que isso era ótimo, que era para isso mesmo, para eu entrar e conhecer. Eu entrei e foi muito legal porque uma das vantagens desses grupos é que tem pessoas do Brasil todo e muitas coisas que são feitas em outros estados, principalmente há 5 ou 6 anos atrás, dificilmente chegavam ao Rio de Janeiro. São dadas dicas e são feitas avaliações de maneira informal. Conversamos sobre onde uma marca está vacilando ou em que ponto está fazendo algo legal. É uma grande troca de informação. Nessa mesma época, foi criada a primeira confraria de Niterói, a Confraria dos Cervejeiros de Niterói (CCN) e eu entrei. Aquela coisa de estar num bar, uma conversa puxa a outra e o básico é a troca de informação. A gente tinha um encontro mensal, às terças-feiras, em um bar, e quem fazia cerveja em casa levava e a gente experimentava. Logo em seguida, surgiu a Confraria Lupulize, que era uma confraria só de mulheres. Entrei também. Essas confrarias não delimitam que só pode entrar quem produz. Entra quem quer, quem tem interesse. Não precisa saber produzir. Com as confrarias, acompanhei brassagens (como se chama o processo de produção de cerveja) e aprendi muito, mas ainda falta aprender muito mais. Enfim, é só ter vontade e participar. Aí veio a pandemia e suspendemos os encontros. Estamos nos falando só pelo WhatsApp. Tem duas confrarias em Niterói, mas na práticas estamos nos comunicando de forma virtual porque não nos reunimos mais. A CCN já tem 5 anos e a Lupulize  tem quase o mesmo tempo. E ainda tem a Acerva Niterói, a associação de cervejeiros caseiros. Tem no Brasil todo.

A Seguir: Niterói: Imagino que o que não faltam são episódios curiosos entre produtores, lojistas e beer sommelieres… Você se recorda de alguma história curiosa que possa compartilhar?

Sônia Apolinário: O que mais tem é um trote clássico para quem chega e quer aprender. A pessoa pergunta: “você sabe em que momento se coloca o álcool na cerveja?”. A pessoa fica sem graça e fala: “poxa, não sei”. Mas obviamente não é inserido em momento algum, pois o álcool é produzido ao longo do processo. Essa brincadeira começou porque as pessoas tinham essa dúvida e faziam essa pergunta com frequência, então virou uma espécie de trote.

A Seguir: Niterói: Você possui formação na Science of Beer em beer sommelier. Em qual campo de atuação do curso você mais se identificou?

Sônia Apolinário: Eu fiz o curso com o objetivo de aprender mesmo e não trabalhar como beer sommelière ou algo assim. O beer sommelier precisa beber muito, conhecer os diferentes estilos e sabores, aprender a história da produção, identificar os erros. Isso você não aprende na teoria, que te dá um embasamento. Você aprende, mesmo, é na prática, bebendo, o que a gente chama de “hora copo”. Não é sempre que eu bebo pensando nesses aspectos, mas claro, tem vezes que eu sento com meu caderninho para fazer as anotações e de tempos em tempos, quando eu repito o rótulo, eu confiro para checar se tive a mesma percepção, porque não tem muito certo e errado. É uma percepção sensorial dos ingredientes. Por exemplo, se eu nunca comi abacaxi na vida, eu nunca vou conseguir identificar o aroma ou sabor da fruta na cerveja. É preciso repertório, gastronômico, inclusive, para fazer uma análise sensorial da cerveja. Eu fiz o curso com o intuito de ampliar meu universo, já que comecei a escrever sobre cerveja e, também, aprimorar a minha degustação da bebida, além de aprender mais sobre as diferentes escolas cervejeiras. Quando tenho a oportunidade de fazer uma degustação guiada com algum beer sommelier fera eu gosto de participar. É uma maneira gostosa de aprender sobre a história do rótulo e, sobretudo, acredito que beber com a orientação de uma pessoa que estudou mais te leva a perceber detalhes que talvez sozinha não tivesse. Uma coisa interessante é o estudo dos chamados off flavors, que são os erros e defeitos de uma cerveja. Na aula de off flavor, temos que beber e identificar sabores que foram propositalmente alterados, “cervejas batizadas”, para dar errado, para ter defeito. É um exercício sensorial incrível para identificar onde tem erro.

Torneiras (tap handles) do Armazém São Jorge

A Seguir: Niterói: Em termos de harmonização, em sua opinião, quais aperitivos harmonizam mais com uma Lager, Ale e IPA?

Sônia Apolinário: Lager e Ale são famílias de cerveja. A IPA faz parte da família Ale. A Pilsen, por exemplo, está na família Lager. É o estilo que as pessoas costumam mais gostar e consumir. É aquela bem levinha e refrescante. Funciona muito com aqueles aperitivos mais básicos, como amendoim, azeitona, pipoca. As IPAs, que têm um amargor mais acentuado, são ótimas para churrasco ou salgadinhos. Já as cervejas defumadas harmonizam bem com as feijoadas, por conta das carnes. Se um alimento for muito gorduroso, você “corta” essa gordura com uma cerveja com maior teor alcoólico (a chamada harmonização por contraste), mas atenção, quanto maior teor alcoólico tiver a cerveja, mais o alimento ficará ardido/apimentado. Cervejas muito lupuladas amenizam e até apagam a pimenta de um prato. A combinação da cerveja com queijo e sobremesas é também muito legal. Outra: cerveja com chocolate é simplesmente delicioso. Eu peço muita sugestão. Se eu chego a qualquer lugar, eu pergunto, peço informação. Isso dá um prazer imenso para quem trabalha em bares especializados. Poder explicar, sugerir, apontar alguns detalhes porque eles querem servir o melhor para cada pessoa. Isso é a melhor coisa que eles podem querer. Quem tem boca vai a Roma e toma cerveja boa.

A Seguir: Niterói: As histórias das cervejas carregam um quê de storytelling, que nada mais é do que uma técnica envolvente de contar histórias e esse recurso é muito presente na sua coluna. A que fontes você costuma recorrer para contar histórias e quais assuntos te interessam mais no campo da cerveja?

Sônia Apolinário: Sendo jornalista, quando comecei a me envolver mais no universo da cerveja, eu “tropeçava” em ideias que poderiam render matérias. Eu gosto de contar histórias, o que tem por trás das criações e me deparava com alguns personagens no mundo da cerveja, algum ingrediente curioso, que logo me levavam a uma matéria. Mas eu achava que ficava muito solto falar sobre isso no site, então resolvi criar a coluna para amarrar mais um pouco o assunto. Acho que a graça disso tudo é contar histórias. Cada rótulo tem uma motivação de um cervejeiro que criou aquilo inspirado em alguma coisa. E tem o que é notícia e aquilo que eu chamo de histórias. Às vezes eu vou falar de um rótulo e não que ele tenha alguma novidade, mas tem alguma história que me motivou a contar. É um universo bastante rico. Como eu passei a falar na coluna com um segmento, eu me permito falar numa linguagem um pouco mais técnica, para quem está um pouco mais por dentro do assunto. Já na minha coluna do A Seguir Niterói, eu parto do princípio que estou falando com um público mais amplo, que não sabe de tudo e não para um segmento específico. Como tudo no jornalismo, tem que correr atrás para ficar por dentro das novidades. As fontes são os cervejeiros que dão o toque, comentam, ficam vendo o que o pessoal está produzindo. São os grupos, os beer sommeliers. Às vezes, um detalhe pode me chamar atenção para algo que está passando despercebido e virar pauta ou matéria. De tempos em tempos, eu gosto de falar de alguns lançamentos, mas tem tantos que eu filtro com  critério jornalístico, com o que o rótulo tem de diferente.

A Seguir: Niterói: Você disse que o leque de assuntos na sua coluna do A Seguir é mais amplo. Por que você sentiu essa necessidade de tratar de outros temas para além da cerveja?

Sônia Apolinário: Eu sempre acabo falando mais de cerveja, mas tenho vontade de explorar mais temas, porque eu sempre gosto de associar um pouco a comportamento de uma maneira geral, porque cabe no site. A escolha do assunto é bem intuitiva, em função da época em que estamos e o que eu posso trazer de informação que possa acrescentar às pessoas, que sejam pertinentes. Levar o máximo de informação. É o que eu sempre pretendo fazer. E, claro, melhorar a percepção das pessoas em relação à cerveja artesanal. Tirar essa ideia de que é complicado, que tem ritual, que tem que entender para beber. A cerveja é bem descontraída de certa maneira.

Lupulinário com lúpulos. Foto: Silvão

A Seguir: Niterói: E por que Lupulinário? Fale um pouco da origem do nome da sua coluna.

Sônia Apolinário: É uma brincadeira que mistura meu nome com a palavra lúpulo. Vem de Apolinário, meu sobrenome. Um cervejeiro me deu essa ideia. Eu estava num evento, pensando em fazer essa coluna, se valeria a pena porque já tinha muita gente escrevendo sobre cerveja, mas não tinha nenhuma ideia de que nome eu ia colocar. Até que numa dessas conversas ele me falou que eu já tinha o nome: “Lupulinário”. Achei genial. E assim foi.

A Seguir: Niterói: Sua coluna já possui mais de 4 anos e você ainda tem um podcast. Já pensou em expandir para o audiovisual?

Sônia Apolinário: Antes da Covid, eram muitos os eventos de cerveja. Quando eu criei o podcast “Happy Hour com a Lupulinário”, a ideia era ser um espaço para falar dos eventos. Usava o podcast para abordar esses eventos e fazer debates sobre algum tema ou alguma situação. O projeto inicial era um podcast dentro de uma rádio web. Eu coloquei como gancho os eventos, para separar melhor dos assuntos que abordava na minha coluna e para ter tema toda semana. Então comecei o projeto nessa rádio e depois mantive o podcast por minha conta, que se estendeu em parte da pandemia. Antes da pandemia, eu também criei o Talk Chopp, um bate-papo cervejeiro que fazia em um bar da Lapa (RJ). Era muito legal porque eu entrevistava o cervejeiro, tirava dúvidas do público na hora. Sinto bastante falta de fazer essas entrevistas ao vivo. Quando os eventos foram paralisados, eu continuei fazendo podcast falando das situações, dando algumas opiniões. Mas eu evito ser muito opinativa. Eu sou jornalista e gosto de dar informação. Quando eu quero falar de alguma cerveja, tudo bem eu dou minha opinião. Mas de uma forma geral eu dou informação. E acabou sendo um volume tão grande de trabalho que eu parei com o podcast. No meio da pandemia, eu levei o Talk Chopp para as lives. Eu fiz praticamente um ano inteiro de lives, uma vez por semana. Entrevistei alguns dos principais cervejeiros e cervejarias. Foi quando eu resolvi criar um canal para arquivar essas lives. Ainda não tinha o esquema de salvar direto no Instagram. Em relação aos projetos audiovisuais, tenho vários em mente e ideia é o que não falta, mas faltam braços, pernas e patrocínio, né? (risos)

A Seguir: Niterói: Há algum polo de cerveja artesanal em Niterói, além da Vila Cervejeira? Fale um pouco do circuito cervejeiro na cidade. Onde encontramos os melhores rótulos? Onde você mais gosta de beber?

Sônia Apolinário: Atualmente tem muita atração na área do Jardim Icaraí. Em termos de bares, tem o circuito da rua Nóbrega, formado pelo Fina Cerva (com 12 torneiras de chope), o Armazém São Jorge (20 torneiras) e a Dona Cevada (10 torneiras). Tem também o Biergarten Jardim Icaraí, um polo na rua Otávio Kelly, que reúne taprooms de fábricas de Niterói. Estão lá  Masterpiece, BrewLab, Joaquina, Malteca, Noi e Arariboia, a única cigana do local.  No centro da cidade tem a  Vila Cervejeira, que reúne 7 marcas e tem mais uma chegando. As marcas que estão lá são: Dead Dog, Bew Lab, Fractal, Invocada, Mosaico, Matisse e Arariboia. E a que está chegando na Vila é a W-Kattz que, agora, está sob as asas da Noi. A Vila é um espaço muito legal. Fica no espaço da Associação dos Proprietários de Bancas de Jornais de Niterói (Aproban). No início, os cervejeiros ocuparam alguns boxes para guardar equipamentos. Aos poucos, foram transformando seus espaços em taprooms. Muito do desenvolvimento cervejeiro em Niterói foi facilitado por uma legislação específica criada pelo município. Existe até o Selo Niterói Cervejeiro. São muitas exigências que uma marca tem que cumprir para garantir o selo, que é renovado de tempos em tempos. São vários itens que devem ser cumpridos, como estimular o turismo, questões de meio ambiente… A Vila Cervejeira é uma área muito simples. Não tem uma produção e os jornaleiros continuam a ocupar, então é uma espécie de coabitação. Na Vila tem muito espaço, por conta da área comum a todos os taprooms  , o que permitiu que realizassem eventos e foram vários muito legais. Os eventos estão paralisados por conta da pandemia, mas o bares continuam funcionando. Lá é um lugar muito descontraído, nível zero de qualquer tipo de frescura.

Vila Cervejeira, no Centro de Niterói. Foto: Reprodução/Redes Sociais

O Circuito da Nóbrega, como é perto da minha casa, eu acabo frequentando mais. Eu vejo o que está plugado nas torneiras e decido onde ir. O que me leva para um lugar ou outro é o que está sendo oferecido naquela semana. Quanto ao meu gosto, apesar de as IPAs serem as queridinhas, o que me tira de casa, mesmo, é uma cerveja belga ou até da escola alemã. Uma IPA só me tira de casa se for uma Black, mas, tecnicamente, não é mais IPA (India Pale Ale), mas IBA (India Black Ale).

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