COMPARTILHE
Junho de 2022: um atropelamento deixou um homem morto na rodovia Amaral Peixoto, na altura de Santa Bárbara, sentido Alcântara. Agosto de 2022: um homem, não identificado, morreu atropelado no Terminal Rodoviário Presidente João Goulart, no centro de Niterói. Em uma cidade que, teoricamente, tem bons indicadores sociais e econômicos, o trânsito – e a quantidade de atropelamentos registrados – torna-se o grande problema da população.
Leia mais: Acidentes de trânsito em Niterói aumentam 314% em 2022, aponta Nittrans
Conforme relatório da Niterói Transporte e Trânsito (NitTrans), 281 pessoas foram atropeladas entre os meses de janeiro e agosto de 2022, o que dá uma média superior a uma vítima por dia. Em 2019, último ano antes da pandemia, foram registrados 123 atropelamentos em 12 meses, isto é, uma vítima a cada três dias. Na média, nos últimos nove anos, foram cerca de 150 casos por ano. Até então, o recorde havia sido registrado em 2014, com 218 ocorrências.
Mais veículos e pessoas nas ruas após a desaceleração da pandemia, abusos de quem ignora a faixa ou a passarela e distração provocada especialmente pelo uso do celular na hora de atravessar explicam esse aumento. Também são mais vulneráveis os idosos. É o que aponta Flávio Emir Adura, médico do tráfego e diretor científico da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet)
– A mortalidade por atropelamento é maior a partir dos 60 anos. A diminuição do nível de atenção os leva a desrespeitar sinais de trânsito e a uma percepção limitada do risco, das distâncias e proximidades de um veículo. O tráfego não é perfeitamente planejado e adequado para pessoas de idade avançada – disse, ao portal do Trânsito, ao concluir:
– Para atravessar uma rua, uma pessoa idosa carece de agilidade e rapidez para se desviar dos veículos. Se é portador de dores crônicas, sua marcha é lenta e se cansa ao caminhar, escolhendo, por vezes, caminhos mais curtos e fora das faixas de segurança para cruzar as ruas – completou.
Leia mais: Acidentes de trânsito e atropelamentos aumentam em Niterói, depois da pandemia
Outros fatores, como veículos trafegando acima do limite de velocidade, e a falta de calçadas em boas condições também aumentam o risco de atropelamento.
Outro fator que pode justificar esta alta diz respeito a possíveis subnotificações de casos nos anos anteriores a 2022. A NitTrans informou que, desde janeiro deste ano, passou a incluir os dados de acidentes, como os atropelamentos, registrados pelo Corpo de Bombeiros e pelo efetivo operacional da própria Nittrans, que atua nas ruas nas estatísticas de acidentes de trânsito.
Até então, o levantamento era feito de forma exclusiva por meio de dados do Boletim de Registro de Acidentes de Trânsito (BRATs), fornecidos pela Polícia Militar.
Com base nessa informação, a Nittrans conclui que não houve aumento no número de ocorrências e acidente de trânsito na cidade, mas sim um aumento no número de registros. O órgão sugere ainda que “esse aumento é motivado porque, em 2021, muitas pessoas ainda estavam retornando à rotina presencial decorrentes das medidas de proteção e prevenção à Covid-19”.
Nasceu, em 2014, o movimento Maio Amarelo no Brasil. A campanha fomenta uma ação coordenada entre o Poder Público, iniciativa privada e sociedade civil para discutir o tema de segurança viária com o objetivo de reduzir os acidentes e mortes no trânsito.
Curiosamente, maio foi o mês que mais teve atropelamentos em Niterói, neste ano: 63, mais de dois por dia. Desses, 39 foram com vítimas – incluindo uma morte no centro – , ainda assim mais de um por dia. Outros meses que chamaram atenção devido ao alto índice de atropelamento foram agosto (36) e junho (35).
As estatísticas da NitTrans cobrem o período de 2013 a 2021. E mostram que o número de acidentes chegou a 4.971 em 2013 e teve uma grande queda no ano seguinte, caindo para 1.978 registros – muito em função de mudanças no sistema de notificação. A redução aconteceu sobretudo nos casos sem vítimas, mantendo-se a média de registros nos casos de lesões leves e graves.
Desde 2015, no entanto, o quadro se mantém estável, com 1.087 acidentes; 1.188, em 2016; 1.124, em 2017; 1.103 em 2018; 1.054, em 2019; e 873, em 2020, já em função da redução das atividades devido à pandemia. Em 2021, mais um ano afetado pela Covid-19, foram 585 ocorrências, o menor índice em nove anos.
Somente nos oito primeiros meses de 2022, entretanto, já têm mais acidentes do que nos outros anos, com exceção de 2013 e 2014. Em relação a 2021, por exemplo, aumentou 314%. De acordo com os dados do Nittrans, foram registrados 1.838 acidentes entre janeiro e agosto deste ano, isto é, cerca de sete por dia, ou um a cada 3 horas e 20 minutos.
Desde 2015, o número de mortes em acidentes na cidade oscila entre 15 e 26 por ano. Outras vítimas tiveram ferimentos considerados graves: entre 138 e 160 casos documentados no mesmo período. Os bairros de maior incidência de acidentes são Icaraí e a orla da baía de Guanabara, Fonseca e Região Oceânica, áreas de maior movimentação de veículos da cidade.
O número de veículos em Niterói explica o frequente congestionamento e também a alta de atropelamentos. Segundo a NitTrans, são 211.210 carros. Mas há também 30.313 caminhonetes, 7.203 furgões, e 3.589 caminhões. E mais 47.681 motocicletas.
São dois carros particulares para cada cinco moradores – um para cada 2,4 pessoas. Porém, a proporção de veículos nas ruas, juntando todos os tipos é ainda pior. Com tanto movimento nas ruas – e o vai e vem permanente na Ponte Rio-Niterói -, o trânsito aparece também nas estatísticas de acidentes da NitTrans.
O relatório de agosto, o último disponível no site da empresa, registrou 200 ocorrências, entre choques, colisões, abalroamentos, atropelamentos e outras. Em 146 casos houve vítimas. Neste quadro, o número de atropelamentos chama a atenção: foram 36.
A NitTrans afirma também que, ao longo dos anos de 2021 e 2022, já tomou medidas com o objetivo de diminuir esse número. Entre essas ações, estão: redução de velocidade em vias como Alameda São Boaventura e Quintino Bocaiuva, além da implantação de motobox em vias de fluxo excessivo de motos, Alameda São Boaventura e Visconde do Rio Branco.
Outras medidas dizem respeito ao reforço na orientação ao uso das faixas seletivas apenas para os coletivos, a adequação da sinalização semafórica da cidade, dentre outras ações passivas, como a ampliação do número de câmeras de monitoramento da cidade.
COMPARTILHE