Fotógrafo e designer de Niterói lançam animação infantil

Uma animação que bebe na fonte de artistas que se dedicaram ao universo infantil. Assim é “Catavento”, projeto iniciado pelo fotógrafo Gustavo Stephan que, como ele diz, ganhou gás a partir do seu encontro com o motion designer, Renan de Moraes.

Diferente do que prega uma canção do seu disco voltado para o universo infantil, o fotógrafo niteroiense não recorre a artifícios para se manter na linha. Mais interessante e agregador é se colocar à disposição para as pequenas surpresas que a vida pode oferecer a partir de oportunidades e de encontros.

“Catavento” é fruto de um trabalho desenvolvido ao longo dos anos pelo fotojornalista, mas foi no encontro que ele ganhou forma e textura. Para essa nova empreitada, ele agora recorre ao lúdico e à poesia das artes visuais que sempre o acompanhou ao longo de sua trajetória profissional. O resultado é uma animação que bebe na fonte de figuras carimbadas do universo infantil como a cantora e escritora de Niterói, Bia Bedran, o grupo Palavra Cantada, de São Paulo, e o musical infantil Saltimbancos, de Chico Buarque. Também tem fortes referências a Minas Gerais, terra natal de Gustavo.

No seu canal de Youtube recém criado, o “Catavento Histórias”, quem conta o primeiro capítulo dessa narrativa, ou como complementa, o coautor do projeto, o motion designer, Renan de Moraes, é a galinha do ovo azul. O vídeo é como um piloto do projeto. A ideia é que cada faixa ganhe sua própria animação.

O disco “Catavento” possui no total 12 faixas e todas elas são interpretadas por Gustavo. As letras e arranjos também são dele, com exceção de duas faixas que foram musicadas com base na poesia de Ana Murray. O disco conta com a participação do baixista de Niterói, Ézio Filho, que também assina a produção do disco, que foi diretor artístico da cantora Zélia Duncan, e do célebre saxofonista Marcelo Martins, que trabalha há anos com Djavan.

– Eu já era fotógrafo e fui fazer um trabalho no colégio Miraflores. Lá eu propus às crianças um exercício. Resolvi projetar as fotos nos slides e  contar as experiências que tinha em viagens, enquanto tocava algumas músicas. As crianças eram convidadas a desenhar em um papel pardo o que elas absorviam daquilo e eu fotografava elas todas lambuzadas de tinta. O projeto deu tão certo que fui convidado a ser professor de músico da escola. Isso foi lá nos anos 90, mas agora, com a animação, elas ganham uma nova camada. É um trabalho que tem uma preocupação artística. Os arranjos são diferenciados, são músicos gabaritados – conta Gustavo.

“Catavento”, que dá o nome ao disco, é uma dessas músicas que reverencia o passado. A faixa é uma homenagem a duas escolas que contribuíram para a trajetória profissional do fotojornalista, de 55 anos, formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e especialista em Fotografia e Arte pela Cândido Mendes.

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O começo de uma parceria

Gustavo conheceu Renan por intermédio de uma amiga em comum: Andrea Kossatz. Foi também no ambiente escolar, nas festinhas de aniversário dos filhos de Gustavo e Renan, que o primeiro encontro se concretizou. Renan já sabia que Gustavo era músico, mas não sabia do projeto de animação baseado no seu disco infantil. Conhecido por dirigir clipes, com os da banda Frejat e pela abertura de novelas, como a “Pantanal” e “Todas as Flores”, que ainda será lançada na Globoplay, Renan foi como empurrão que faltava, como descreve Gustavo em conversa com o A Seguir: “Foi como o gás que faltava para eu levar esse projeto adiante”, sublinhou.

Foi assim que Renan foi desenvolvendo os personagens já pensando nos outros clipes e em elementos que seriam apresentados nos vídeos futuros. O projeto foi pautado em muita liberdade criativa de composição de cores e texturas.

O processo criativo de Renan é praticamente todo feito direto no tablet, mas o planejamento das cenas é traçado no papel. Depois, os desenhos passam pela etapa do Adobe Animate, programa de criação multimídia para animações. Nesta fase, a música é inserida para dar a dimensão da quantidade de cenas que irão compor o vídeo e de quais serão as ações dos personagens. Finalizada a edição, é feita a modelação em 3D dos personagens e dos objetos de cena – uma verdadeira dança dos polígonos, como descrevem os artistas. Só depois são usados os deformadores para animar. Ao contrário de um filme live action, na animação, a edição é feita numa etapa anterior à gravação.

– O universo é meio de fazenda, tem uns elementos, como os morrinhos, que identificam bem isso. A linguagem é bem de stop motion, como uma massinha. A ideia é esse vídeo servir de piloto e mais para frente a gente planeja criar uma série de alguns episódios e lançar numa programação de algum canal depois. Eu penso que essa animação pode se desdobrar e virar um bonequinho, um brinquedo. É legal porque as músicas não são apelativas, têm toda uma poética – conta o Motion Designer, de 41 anos, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Gustavo endossa:

– O conceito é algo muito próximo de um “Clube da Esquina” infantil. Tem um pouco de rock, um pouco de Beatles, com um toque de músicas regionais. Tem alguns símbolos que revelam isso, como a arara azul. Eu tinha um livro de fotografias só de pássaros e eu mostrava todos para o meu filho Caetano. Quando era mais novo, íamos no zoológico e ele ficava fascinado pela arara. Acho que pela forma que ela “cantava”. A música “Arara” nasce disso e acabou, para mim, simbolizando a casa mineira, uma casa aberta, feita para receber as pessoas. A animação também tem essa proposta – conclui.