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Estudo da UFRJ sobre as barcas aponta para necessidade de mais linhas e estações

Por Gabriel Mansur
| aseguirniteroi@gmail.com

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Pré-modelagem entregue à Secretaria de Transportes prevê novas estações no Fundão, Sepetiba e Duque de Caxias. São Gonçalo ficou de fora
CCR administra seis linhas de barcas no Rio. Foto: Divulgação/CCR
Até o momento, há impasse em relação à continuidade do serviço. Foto: Divulgação CCR

Responsável pela elaboração de uma nova modelagem das barcas, a Universidade Federal do Rio de Janeiro entregou uma prévia do estudo para a Secretaria de Estado de Transporte (Setrans).

De acordo com Anderson Reis, representante da Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da UFRJ) que participou de audiência pública na Assembléia Legislativa do Rio (Alerj), na sexta-feira passada (16), o plano aponta a necessidade de mais linhas para atender a população, com novas estações na Baía de Sepetiba, na Ilha do Fundão e no Aeroporto do Galeão, na capital, e no município de Duque de Caxias, na baixada fluminense.

Leia mais: Crise das barcas: secretário falta à audiência e UFRJ pede mais tempo para entregar modelagem

Na ocasião, o pesquisador não comentou a respeito da tão falada implementação de uma linha em São Gonçalo, ideia que é debatida desde que a CCR comprou o direito da concessão das atividades, em 2012. No leste metropolitano do Rio e cercado pela Baía de Guanabara, São Gonçalo é o segundo município mais populoso do estado, com cerca de um milhão de habitantes.

Ainda conforme Reis, o estudo leva em consideração a constitucionalização da linha social em Charitas, proposta pelo deputado estadual Flávio Serafini (PSOL), presidente da Frente Parlamentar de Defesa ao Transporte Aquaviário do Rio. A Alerj aprovou o projeto, em segunda discussão, no ano de 2018, ainda durante o governo de Luiz Fernando Pezão (MDB), mas o texto ainda não foi sancionado.

– Além do sistema existente, estamos estudando a linha social de Charitas, que será considerada, Fundão, Galeão, Duque de Caxias e Sepetiba. Na Baía de Ilha Grande, por exemplo, atualmente são duas viagens, mas sabemos da necessidade da população de estar se deslocando de forma mais rápida. Temos preocupação em relação ao horário das barcas, gratuidade, mais linhas e tudo mais. É importante que haja mais encontros do estado e da UFRJ, com a sociedade civil. É bom que a sociedade civil sinta-se contemplada – observou Anderson.

Duque de Caxias

O transporte aquaviário na Baixada não é nenhuma novidade. Desde o século 18, funcionava em Magé o Porto da Estrela, lugar onde pessoas e produtos circulavam, inclusive encurtando o caminho para a serra fluminense.

Aproveitando a nova licitação do serviço, momento onde todas as regras contratuais são dispostas, Duque de Caxias, a maior cidade da baixada fluminense, resolveu apresentar seus estudos de viabilidade para que as embarcações cheguem até lá.

Na prática, isso poderia reduzir boa parte do trânsito da linha vermelha, uma das principais vias de ligação da cidade do Rio com o município vizinho. Além de impactar as cerca de 118 mil pessoas que todos os dias vão e vem nesse trajeto.

Caxias tem um PIB (Produto Interno Bruto) que é quase duas vezes superior ao de São Gonçalo. É o 3º maior do estado e o 22º maior do Brasil. Além disso, possui a REDUC, a refinaria responsável por 80% da produção de lubrificantes e pelo maior processamento de gás natural do Brasil. Com tudo isso, a cidade ganha força para ser contemplada com uma estação.

Da mesma forma que Niterói é um ponto de conexão para a população de São Gonçalo e Maricá, Caxias poderia se tornar também um hub para a população das outras cidades da baixada, como Belford Roxo, Guapimirim e Nova Iguaçu.

Falência do modelo de concessão

Era primeiro semestre de 2012 quando o grupo CCR, por meio da Companhia Brasileira de Participações e Concessões (CPC), adquiriu 80% das ações das Barcas S.A Transportes Marítimos, o equivalente a R$ 72 milhões à época. Desde 2015, entretanto, a detentora do serviço aquaviário – por onde são transportadas 38 mil pessoas por dia em seis linhas e oito estações – reclama de prejuízos anuais.

A empresa informa que o montante desse prejuízo é de R$ 1,2 bilhão, provocado pela redução no número de usuários, especialmente após a pandemia. Por conta desse déficit, a CCR  já divulgou, em mais de uma oportunidade, que não pretende dar continuidade aos serviços, após o fim do contrato com o governo estadual, em 11 de fevereiro de 2023.

Para buscar solucionar o impasse, o governo divulgou, no início de dezembro, que assumiria 40% da dívida, isto é, cerca de R$ 600 milhões. O acordo, no entanto, foi vetado pelo Ministério Público Federal do Rio de Janeiro (MPF-RJ).

 

Impasse sobre barcas coloca em risco a continuidade do serviço. Foto: leitor

Reestatização?

Na audiência, Anderson Reis não falou em reestatização, mas sinalizou para a necessidade do poder público estadual participar da administração do sistema de transporte aquaviário junto com a uma futura concessionária. O representante da UFRJ, porém, não detalhou de que forma se daria essa “parceria”.

– No estudo de modelagem, buscamos operações aquaviárias pelo mundo, como Canadá, Itália e China, e observamos que, em todos os lugares que têm um volume de passageiros similar ao que temos aqui, existe a parceria do estado junto com a concessionária – acrescentou.

Redução de viagens

Há quase três anos, a CCR conseguiu autorização da Justiça para reduzir os horários e viagens das barcas, fato que revoltou os moradores da Ilha de Paquetá e da Ilha do Governador. A grade foi aprovada e entrou em vigor em 25 de janeiro de 2020. Contabilizando somente o trajeto Praça XV-Paquetá, a redução representa uma diminuição de sete viagens ao longo do dia, na ida e volta à ilha. Nos finais de semana, a redução foi de 25 viagens para apenas 12.

Segundo representantes de Paquetá, a nova grade inviabiliza a vida no bairro, já que não existe outra opção pública de transporte ligando a ilha ao continente. As mudanças também afetam a maior fonte de recursos dos moradores, que sempre lucraram com o turismo.

– Quem não é de Paquetá, entende que nós dramatizamos, que não pode ser tão ruim, mas é. Recentemente, um amigo meu, nascido na ilha, teve que ir embora porque o filho não consegue estudar no continente, porque os horários das barcas não permitem. Estou falando do esvaziamento demográfico, que é um dos fatores mais tristes dos últimos anos. Fecharam 30 dos postos formais de trabalho de Paquetá. Como somos uma economia voltada para o turismo, a perda de renda percorre todas as atividades da ilha – criticou o presidente da Associação de Moradores de Paquetá, Guto Pires.

 

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