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“Está tudo caro”. O aperto de moradores de Niterói para preparar a ceia de Natal

Por Gabriel Mansur
| aseguirniteroi@gmail.com

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A Seguir visitou supermercados e constatou que, com compras feitas na ponta do lápis, famílias se esforçam para manter tradições natalinas
Moradores ocupam corredor do Guanabara. Foto: Gabriel Mansur
No Guanabara, a busca por opções mais baratas. Fotos: Gabriel Mansur

A empregada doméstica Marilene Ferreira, de 52 anos, faz as contas numa caderneta para conseguir comprar os alimentos necessários para a noite de Natal. O aposentado Francisco Merriat, de 72, abre mão do bacalhau, que segundo ele é tradição da família há mais de 40 anos, para se encaixar no orçamento limitado.

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Diante da inflação nos produtos alimentícios, somada à crise econômica provocada pela pandemia da Covid-19, ficou ainda mais difícil preparar uma ceia para a família na data festiva. Os preços de aves, como Chester, peru e Fiesta, por exemplo, ficaram 5% mais caros se comparado a dezembro do ano passado.

O A SEGUIR: NITERÓI visitou dois supermercados em Niterói, o Mundial e o Guanabara, nesta segunda-feira (19), e constatou que a insegurança alimentar ainda afeta a mesa dos moradores.

“Não tem para onde correr”

Moradora do bairro do Fonseca, na Zona Norte, Marilene é mãe de dois filhos, de seis e 13 anos. O pai das crianças, aliás, sumiu no mundo, como relata. Beneficiária do Auxílio Brasil, ela afirma que o dinheiro “mal dá para pagar as contas”. O montante que ganha por mês com a faxina tampouco resolve a situação financeira e sempre depende de variáveis, pois não há carteira assinada.

Apesar dos pesares, Mariele faz questão de preparar a ceia todo ano. Nesta segunda, ela foi até o supermercado Guanabara, no centro de Niterói, para comprar um Chester, escolhido por ser um tipo de ave com peito e coxas grandes, além de um panetone de chocolate como sobremesa. Por conta do preço da ave, R$ 112 (R$ 26,99 o quilo), ela precisou parcelar em quatro vezes.

Marilene e a filha fazem compra no Guanabara.

– Esses últimos anos, na verdade, foram complicados, mas durante 2022 eu acabei me endividando ainda mais. Está tudo mais caro, desde aluguel até a comida que eu coloco na mesa. O que eu ganho, infelizmente, não é o bastante, mas é Natal, eu tenho dois filhos, um ainda acredita em Papai Noel, como que eu não vou preparar a ceia? Não tem para onde correr – afirmou.

Seu desejo é retornar para o mercado formal de trabalho, mas a idade é considerada um obstáculo adicional para a conquista de uma vaga. Antes da pandemia, Marilene trabalhava como consultora de vendas, emprego em que conseguiu juntar uma boa quantia. Ela gostaria de regressar para uma função nessa área.

– Até tentaram arrumar um serviço para mim, mas, com 52 anos, preferem pessoas mais novas. Eu não vou desistir de procurar. Enquanto não acho, faço esses bicos como diarista, o que não me envergonha em nada. É o que tem por enquanto – completou.

Em busca da carne mais barata

Francisco, por sua vez, era professor da rede pública de ensino e está aposentado há mais de 10 anos. Ele mora com a esposa, mas a filha do casal, que está desempregada, também vai participar da ceia. Vão ela e seus dois filhos, de 12 e sete anos. Por causa das crianças, aliás, a casa foi decorada para o Natal com uma árvore, além de pisca-piscas e alguns detalhes espalhados pelos cômodos.

Francisco escolhe um chester para a noite de Natal.

Em relação à ceia, Francisco abriu mão de uma tradição de quatro décadas para economizar. Ele deixou de lado o bacalhau, ao preço de R$ 99 a bandeja, para comprar um pernil e um chester. Os dois, somados, saem por cerca de R$ 220 no Mundial. Um quilo de pernil sem osso custa R$ 28. Já o quilo do chestar sai por R$ 26,99.

– A nossa família sempre comeu bacalhau na ceia de Natal, mas esse ano tivemos que abdicar desse luxo. Minha filha perdeu o emprego durante a pandemia e ainda não encontrou nada fixo, então o único dinheiro que está entrando é da minha aposentadoria. Além dos gastos de casa, também estou ajudando financeiramente nas despesas dos meus netos – ilustrou.

Chester volta à ceia

Neste ano, o chester vai voltar para a mesa de Natal de Vivian Lima, de 42 anos, moradora do Morro do Estado, maior favela de Niterói. A situação da dona de casa melhorou em relação ao último ano, quando a celebração passou como “um dia normal”.

Mãe de quatro filhos, Vivian comprou um peru, além de uma ave Fiesta, no Mundial. Embora o supermercado não aceite cartões de créditos, os preços são semelhantes aos do Guanabara: o quilo do peru da Sadia, por exemplo, está R$ 27,99. Já o quilo da ave Fiesta sai um pouco mais em conta, por R$ 24,98.

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– A pandemia toda foi muito complicada, eu comprava só o que faltava. Ainda estamos passando aperto, mas tenho que dar graças a Deus por termos um teto e meus filhos comigo. O Nicolas (filho do meio, de 18 anos) pegou essa doença e nos deu um susto danado. Por isso, resolvi preparar a ceia novamente, como agradecimento. A última vez que celebramos o Natal, que decoramos a casa, foi em 2020 – ressaltou.

Desempregada desde o final de 2020, Vivian viu a sua renda se reduzir ao valor do Auxílio Brasil ao longo desses dois anos. Eventuais aumentos se devem a vendas informais, na sua própria casa, de açaí e picolé. No ano passado, durante o auge da pandemia, ela chegou a trocar a carne que acompanhava o prato de arroz com feijão por ovo e salsicha. Hoje, o alimento voltou, mas só duas vezes por mês.

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