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Em tempos de endividamento, especialista da UFF dá dicas para organizar as finanças

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

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Eduardo Picanço foi enfático: “Não aprendemos a guardar dinheiro”
feijão
Itens da cesta básica, como o feijão, são vendidos a quase R$8. Foto de leitor

Durante a pandemia, Julia (nome fictício) teve redução salarial, o que resultou na dificuldade de pagar as contas. Atualmente paga apenas o que é estritamente necessário. O resto vai adiando, o que só faz aumentar o acúmulo de dívidas em efeito dominó. No momento, suas principais são: IPTU, fatura do cartão de crédito e empréstimo bancário. Nos próximos meses, planeja pagar luz e comprar comida. É o que dá para fazer com o mínimo de dignidade. A redução do salário veio no final de 2020. Depois, tudo degringolou. Solteira, a jornalista, que tem 60 anos, arca com tudo sozinha.

– Não tenho mais meus pais e não posso perturbar meus irmãos com meus perrengues, porque eles também têm os deles. Quando acho que vou regularizar, aparece um problema. Dessa vez sofri um golpe. Meu cartão foi roubado e minha conta corrente foi limpa. O banco se eximiu de responsabilidade e não me ressarciu. Dá para imaginar o desespero que estou vivendo, né? – conta.

E como. A situação do morador de Niterói não está para amadores. São 200.163 devedores, contra 191.600 um ano atrás. Ou seja, 38% dos niteroienses têm alguma conta vencida. Os dados são do Serasa, que produz o mapa da inadimplência. Na média, são 3,36 contas atrasadas por cada CPF. No valor de R$ 5.274,00, que fica 30% acima da média das dívidas dos brasileiros. No total, a dívida dos moradores da cidade passa de 1 bilhão de reais.

O A Seguir: Niterói conversou com o professor de finanças da UFF, especialista em gestão financeira, avaliação de investimentos e internacionalização de negócios, Eduardo Picanço. Ele dá dicas de quais medidas as pessoas devem adotar para evitar o acúmulo de dívidas:

– Nós temos, via de regra, uma única fonte de receita: nosso salário. Como não há como aumentar deliberadamente os recebimentos, o que nos resta é gastar melhor. Temos despesas essenciais e básicas, como conta de luz, telefone, água, alimentação, condomínio, parcela do carro e aluguel. Tente gastar até 50% do seu salário com esses itens. Em relação às  dívidas para quitar: cartões, financeiras e familiares, tente gastar até 15% do seu salário. Quanto ao lazer e às atividades extras: academia, passeios e viagens, tente gastar até 35% do seu salário – detalhou Picanço.

Para a maior organização das despesas e, consequentemente, melhor gestão financeira, o professor sugere a criação de uma planilha de despesas para acompanhamento diário dos gastos e das receitas. Ele indica a consulta regular de saldos bancários e o acompanhamento da planilha. Comprar supérfluos? Evite ao máximo. O ideal é racionalizar sempre que possível a compra e gastar somente com o que realmente precisa. Manter listas de compras (essenciais) e de desejos (não essenciais) pode ser um bom caminho.

Outro é comparar os preços antes de comprar os produtos. Para evitar o acúmulo de dívidas, vale abrir mão do cartão de crédito e débito. O melhor seria sacar o dinheiro e pagar as compras à vista. O cuidado com as redes sociais deve ser reforçado:

– Viva de acordo com a sua condição financeira: fuja das redes sociais, lá todo mundo é rico – ressaltou.

Quanto às primeiras contas que costumam ficar atrasadas, ele explica que existe um ramo de estudo chamado “finanças comportamentais” que tem gerado percepções diferentes sobre o processo de consumo (gasto). Normalmente as pessoas pagam as contas que vencem primeiro e deixam as que vencem no meio do mês em aberto.

– Por incrível que pareça, não fazemos cálculos de qual a conta tem a maior multa, ou os maiores juros. Outro fator importante são as contas cujos serviços essenciais são cortados, em caso de não pagamento, como, por exemplo: luz, água, gás, etc. Essas contas são prioridades – comentou.

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Não aprendemos a guardar dinheiro

O especialista foi enfático: nós não aprendemos a guardar dinheiro. Não há uma cartilha para isso, tampouco a cultura de estudos de finanças em escolas do Brasil. Na sua opinião, a Educação Financeira ainda é um tabu nas escolas, principalmente as públicas, onde muitos professores têm ideologias próprias e se recusam a falar de finanças aos alunos.

O crescimento do trabalho informal

Além do mais, a Educação Financeira é um fator preponderante. Muitos dos que se dizem desempregados, na verdade são empreendedores autônomos e têm alguma receita, ainda que variada. São motoristas de aplicativos, trabalham com entregas (produtos ou comida), fazem unha, cabelo, reformas, entre outras funções. Neste caso, é preciso “virar a chave” e entender que sua receita é variada e que pode ser maior ou menor em determinado mês.

– Quando temos um salário fixo, podemos trabalhar no limite do nosso orçamento, ou seja, planejar despesas dentro do que sabemos que vamos receber. Quem tem renda variada precisa saber fazer um fundo (uma poupança) de, pelo menos, 3 meses de contas a pagar. Assim, se em determinado mês a pessoa não receber tudo o que precisa para pagar as contas, retira deste fundo e não passa aperto. Depois, quando sobrar, repõe essa quantia ao fundo – conclui.

Desemprego e inflação

A piora dos números da inadimplência se deve à queda de renda do brasileiro. O A Seguir: Niterói mostrou que o índice de desemprego vem caindo nos últimos meses, e chegou a 9,5% no último relatório do IBGE. O melhor índice desde 2015. O problema é que o salário médio ficou mais baixo e a inflação compromete cada vez mais a renda das famílias. Nos últimos meses, a explosão de preços como os da carne, do leite, dos legumes, entre tantos outros, fizeram o brasileiro ter que escolher entre manter as contas em dia ou comprar comida.

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