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“É muito carro, praticamente um para cada adulto”, desabafa responsável pelo trânsito em Niterói

Por Redação
| aseguirniteroi@gmail.com

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Presidente da NitTrans, Gilson de Souza, diz que a pandemia mudou hábitos do morador e que tem mais carros circulando na cidade
Niterói teve sete acidentes por dia, em média, este ano. Foto: Prefeitura
Mudanças de comportamento alteraram “horário dos engarrafamentos”, em Niterói. Foto: leitor

O movimento nas ruas de Niterói volta a ser intenso, depois de dois anos de pandemia. E os velhos problemas aparecem, com engarrafamentos por toda a cidade. Na Região Oceânica, em direção à ponte Rio-Niterói, no Fonseca, também no acesso ao Rio, em Icaraí, no Centro. Mas agora com novas características, diante da mudança do comportamento da população, que em boa parte aderiu ao home office e hoje transita ainda mais na cidade. Outra novidade é o aumento expressivo do número de motocicletas em circulação na cidade, em função, especialmente, dos serviços de delivery. Já são 47.129 registradas pelo Detran no município. Mais um número considerável de motos irregulares. O resultado, aparece no aumento de acidentes. A análise é do Presidente da NitTrans, Gilson de Souza, em entrevista ao A Seguir Niterói.

O Presidente da NitTrans, Gilson de Souza. Foto: divulgação Prefeitura

O niteroiense Gilson Alves de Souza Júnior assumiu a presidência da NitTrans em 2020, na gestão do Prefeito Axel Grael, ainda em plena pandemia, com a missão de enfrentar com planejamento e tecnologia o desafio de fazer a cidade andar, diante dos engarrafamentos recorrentes. A habilitação para a tarefa vem da formação em Gestão Empresarial de Transportes de Passageiros pelo Programa de Engenharia de Transportes da COPPE/UFRJ e uma carreira de mais de 30 anos trabalhando em empresas privadas nas áreas de planejamento, operação e logística. Logo na posse, em apresentação feita aos funcionários, apontou o caminho para a realização do trabalho: tecnologia, informação e planejamento. “Os recursos tecnológicos são nossos aliados no trabalho por um trânsito não-violento. Quanto mais informações conseguirmos coletar, qualificar, tabular e mensurar, melhor planejaremos a operação do trânsito na nossa cidade. Os níveis de eficiência e eficácia das ações adotadas precisam ser mensurados constantemente”, destacava, então.

A Seguir Niterói: Niterói tem hoje 307 mil veículos registrados. Um número que em relação à população deve estar entre os mais altos do país?

GILSON DE SOUZA: Somos 500 mil habitantes, é um carro para cada adulto praticamente. Além disso, existe um trânsito intenso dos moradores de cidades vizinhas, como Maricá, São Gonçalo e Itaboraí, entre outras, que passam por Niterói em função da ponte. Com isso, sabemos que, por rua em vias principais, como a praia de Icaraí e a Visconde do Rio Branco, por exemplo, circulam 450 mil veículos por mês aproximadamente. Já na Alameda São Boaventura são 800 mil por mês. Números muito altos realmente.
O acesso à ponte representa historicamente um gargalo. Mas hoje Niterói apresenta congestionamentos recorrentes em diversos horários, não apenas referentes ao horário de pico na ponte. Quais são os fluxos de trânsito hoje mais importantes da cidade? Além da ponte, temos o movimento da Região Oceânica, nos fins de semana as praias… Atualmente, até a entrada na cidade nos sábados e domingos tem gerado congestionamentos. A que se deve isso? Aumentou o movimento de fora da cidade? 
– A mudança se deve muito em função dos hábitos adquiridos pós-pandemia. A Região Oceânica era uma opção de veraneio, muitas pessoas possuem residência fixa mais próximo ao Centro e seguiam para RO nos finais de semana e férias. Com as restrições de circulação, muitos optaram por usar a RO como moradia principal, aumentando consideravelmente o movimento nas vias da região. Outro ponto importante que devemos considerar nessa análise é o home office e a flexibilidade de horário, ou o “modelo híbrido” de trabalho. Os horários de pico atualmente se estendem até 10 h e as segunda e sextas que eram dias críticos, hoje já não são.
As estatísticas de acidentes de trânsito em Niterói têm um comportamento bem estável ao longo do tempo, com algumas mudanças expressivas em alguns momentos. Há, por exemplo, uma queda importante de 2013 a 2014. A que se deveu a mudança? Houve alteração da base de dados?
– Sim. Essa queda se deve ao fato do Boletim de registro de acidente de trânsito (Brat) ter passado a ser digital e não mais obrigatório. Com isso, muitos acidentes não entram mais na base de dados oficial da Polícia Militar. O que traz uma falsa impressão de redução. Contudo, a realidade é outra. Os dados que temos, fruto de informações levantadas junto aos atendimentos dos quartéis do Corpo de Bombeiros e também junto à nossa equipe de operação de trânsito, revela um aumento considerável de acidentes de trânsito.  A maior discrepância de dados se dá com acidentes envolvendo motocicletas, uma vez que  muitos desses veículos não têm seus documentos regularizados, então o condutor acaba não querendo correr o risco de ser autuado e de ter seu veículo apreendido. Esses, portanto, não entram nas estatísticas oficiais.
O fato destes dados não terem sido levados em conta nos últimos oito anos pode ter mascarado eventualmente problemas existentes na cidade? 
– A partir de 2022 alteramos a forma de levantar os dados considerando também informações próprias e do Corpo de Bombeiros. Assim, conseguimos um mapa mais coerente da realidade e, consequentemente, podemos promover ações de segurança viária mais assertivas.
O número de atropelamentos, por exemplo, parece muito alto, independentemente da mudança estatística. Por que isso acontece? Como mudar isto?
– Cerca de 30 por mês considerando dados de 2022. Infelizmente isso ocorre porque os motoristas não respeitam os sinais de trânsito. Por isso fazemos ações educativas exaustivas.
Uma mudança no comportamento do trânsito é notável. O aumento da frota de motocicletas, no últimos cinco anos. Muito acima da aumento da frota de carros no período. Decorre, provavelmente, da crise econômica e do custo dos combustíveis e também do aumento dos serviços de delivery. Qual o impacto desta mudança no trânsito da cidade e no risco de acidentes? Na Ponte Rio-Niterói estatísticas mostram que as motocicletas têm participado em mais de 25% dos acidentes e cerca de 75%  nos acidentes com mortes. Qual a situação em Niterói? Como enfrentar esta nova realidade?
– Enfrentamos essa situação com políticas de educação para o trânsito, fomos inclusive condecorados recentemente com a ação do Maio Amarelo Delivery, direcionada para aqueles que estão na linha de frente com entregas. Os entregadores, tanto de motos como de bicicleta, receberam materiais educativos para o trânsito e kit de prevenção de acidentes. Também criamos áreas de espera para as motocicletas nos cruzamentos semaforizados das principais vias da cidade. Enfim, são muitas iniciativas.

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