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Bolo de Reis celebra o fim das festas de final de ano

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

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Confeiteiro da Beira Mar, Flávio Freitas conta os segredos do bolo que faz há 20 anos que, por tradição, é consumido no dia 6 de janeiro
BOLO DE REIS BEIRA MAR CORTE
O bolo que comemora o Dia de Reis. Foto: reprodução rede social

Pela liturgia da igreja Católica, as festas de final de ano, iniciadas com a comemoração do Natal, terminam em 6 de janeiro. Esta data é conhecida como Dia de Reis e, tradicionalmente, é celebrada pelas famílias com um Bolo de Reis.

Ele tem formato redondo, que remete a uma auréola, com um grande “buraco” no centro. Diferente da rabanada, que ocupa lugar cativo no coração e na mesa do brasileiro, independente de datas festivas, o Bolo de Reis é mais difícil de ser encontrado em padarias e confeitarias, fora de época. A receita mais trabalhosa e o conjunto de significados que permeia o doce talvez ajude a explicar o motivo.

Tradicional de Portugal, o Bolo de Reis remete à lenda sobre os presentes que os Reis Magos ofereceram a Jesus. A sua cor representa o ouro; as frutas secas simbolizam a mirra; e o aroma o incenso.

Leia mais: Em busca da rabanada perfeita

O Bolo de Reis possui uma massa branca e fofa enriquecida com ovos e, muitas vezes, licores ou vinhos, misturados com passas, frutos secos e frutas cristalizadas. Para essa massa ficar no ponto certo, há toda uma técnica que parece simples, porém, exige atenção para que não desande – e precise ser totalmente descartada.

Quem revela os segredos desse doce para o A Seguir: Niterói é o confeiteiro da Beira Mar, Flávio Freitas, que faz o Bolo de Reis há 20 anos – quase a metade do seu tempo de vida, uma vez que ele possui 42 anos.

– Tem que ser feito com atenção. Bater demais queima a massa. Esquecer o fermento é outro erro comum. Mas errar na massa, não tem nem como salvar. É ficar atento a cada etapa. Sempre – resume.

O tradicional bolo de reis. Foto: Livia Figueiredo

Nos últimos dias, Flávio já fez 37 Bolos de Rei no tamanho pequeno e outros 18 grandes para dar conta dos pedidos na Beira Mar, padaria e confeitaria localizada na Rua Paulo Gustavo, em Icaraí.

Para esta quinta-feira (5), véspera do Dia de Reis, a previsão é fazer mais 15 grandes e 37 pequenos. O que sai mais é a versão no tamanho pequeno.

Na época do Natal, o confeiteiro fez 86 bolos, que foram vendidos em apenas um dia. Resultado: teve que fazer nova fornada, no dia seguinte.

O que não pode faltar no Bolo de Reis?

O Bolo de Reis da Beira Mar segue a receita tradicional portuguesa e leva fruta cristalizada, passas, rum e não pode faltar a abóbora glaceada, que é importada de Portugal.

Modo de preparo 

É feita uma massa com água, farinha e fermento na masseira até formar o ponto de véu – aquele momento em que a massa fica bem elástica e pode ser puxada sem romper. É possível até mesmo ver a mão por trás dela.

Após esta etapa, bate a massa na batedeira, acrescentando, aos poucos, as frutas cristalizadas. Depois é colocado na mesa e é separado cada gramatura de massa, em 6oo g. A próxima etapa é bolear e deixa fermentar por 30 minutos. Na sequência, “pinta” com os ovos e coloca as frutas. Depois, vai direto para o forno a 160 graus, por 20 minutos.

Bolo de Reis x Bolo Rainha

O modo de preparo do Bolo Rainha é muito similar ao de Reis. A massa é a mesma e a diferença está nas frutas cristalizadas. Enquanto o Bolo de Reis é feito com fruta cristalizada e passas pretas, o de Rainha leva fruta seca, passas brancas, nozes e amêndoa.

O Bolo Rainha entrou para o cardápio da Beira Mar recentemente. Veio com a proposta  de ampliar a oferta dos produtos e servir de opção para as pessoas que não gostam de frutas cristalizadas.

Nas prateleiras, Bolo Rainha e de Reis chamam a atenção da clientela. Foto: Livia Figueiredo

Barbara Costa, 30 anos, faz parte de uma empresa contratada pela Beira Mar para consultoria de nutrição. Ela conta que o Bolo Rainha acabou de entrar para o cardápio, mais precisamente, no final do ano passado.

– Volta e meia a diretoria faz pesquisa e sempre fica mapeando essas novidades para essas datas comemorativas. Nós fizemos degustação do Bolo Rainha e foi um sucesso. Acho que o diferencial é a amêndoa laminada em cima – conta a consultora, que afirma que o Bolo de Reis tem tido tanta procura que, no mês de outubro, as pessoas já perguntam quando começará a produção.

Na Beira Mar, assim como em outros lugares, no dia 7 de janeiro, o Bolo de Reis é retirado das prateleiras. Mas Flávio garante que não irá deixar ninguém na mão: “Faço por encomendas depois da data também, não há problema”, comenta, rindo.

Foto: Livia Figueiredo

Diálogo que remete às origens

De acordo com a nutróloga, o Bolo de Reis ajuda a entrelaçar a relação  da confeitaria Beira Mar, fundada por um português, com o país de origem da receita.

– É legal porque tem todo esse cuidado de trazer os doces característicos de lá não só nessa época, como em outras do ano. As pessoas já chegam na confeitaria procurando pelo bolo, já é sabido a época que começa a vender. As pessoas já associam. Fica no imaginário delas – pontua.

A história

Apesar dos antigos registos históricos, os primeiros grandes vestígios do Bolo de Reis, adornado com frutas cristalizadas, surgiram em França, no século XVI, durante o reinado de D. Luís XIV. Com a chegada da revolução francesa, em 1789, o Bolo-Rei, como também é conhecido, foi proibido devido à sua designação (algo que também viria a acontecer em Portugal). Os pasteleiros decidiram mudar-lhe o nome para Gâteau dês Sans-culottes, de modo a poderem continuar a produzir o doce.

Só na segunda metade do século XVIII é que o Bolo-Rei foi importado para Portugal, inspirada na receita produzida no sul de Loire. Reza a história que a primeira casa que vendeu a iguaria foi a Confeitaria Nacional, em Lisboa, pelas mãos do famoso confeiteiro Gregório. Mais tarde, várias pastelarias adotaram a receita e passaram a comercializá-la.

Curiosidades

Antigamente, no interior do bolo, podia ser visto também uma fava seca e um pequeno brinde, normalmente feito de metal. Quem encontrasse uma fava na fatia que comesse, teria o dever de pagar o próximo Bolo-Rei. Já quem encontrasse o brinde, seria brindado com “boa sorte” para o ano. Havia ainda quem colocasse nos bolos pequenas adivinhas, cuja recompensa seria meia libra de ouro, ou mesmo as próprias moedas de ouro, como forma de presentear a quem se oferecia o bolo.

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Receita

INGREDIENTES

  • 1 ⅔ de xícara (chá) de farinha de trigo
  • 200 g de manteiga em temperatura ambiente
  • 1 ½ xícara (chá) de açúcar mascavo
  • 4 ovos
  • 1 xícara (chá) de amêndoas
  • 1 xícara (chá) de frutas cristalizadas picadas
  • 1 xícara (chá) de uvas-passas pretas
  • ¼ de xícara (chá) de conhaque
  • ½ colher (sopa) de fermento em pó
  • 1 colher (chá) de canela em pó
  • manteiga e farinha de trigo para untar e polvilhar a fôrma

MODO DE PREPARO

  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC (temperatura média). Unte com manteiga uma fôrma com furo no meio de 22 cm de diâmetro. Polvilhe com farinha e chacoalhe bem para espalhar. Bata sobre a pia para retirar o excesso de farinha e reserve;
  2. Numa tábua, pique fino as amêndoas. Coloque as uvas-passas numa tigela e regue com o conhaque. Deixe de molho enquanto prepara os outros ingredientes;
  3. Sobre uma tigela, passe a farinha de trigo por uma peneira. Junte o fermento, a canela e as amêndoas picadas. Misture bem;
  4. Na tigela da batedeira, coloque a manteiga e bata com a pá por cerca de 2 minutos, até ficar cremosa. Acrescente o açúcar e bata em velocidade média por cerca de 10 minutos, até formar um creme fofo. Numa tigela, quebre um ovo de cada vez e junte ao creme, batendo bem entre cada adição para incorporar;
  5. Acrescente a mistura de secos em etapas e bata a cada adição apenas para misturar. Desligue e desencaixe a tigela da batedeira.
  6. Sobre uma tigela, passe as uvas-passas por uma peneira e reserve o conhaque. Junte as uvas-passas à massa do bolo, adicione as frutas cristalizadas e misture delicadamente com uma espátula;
  7. Transfira a massa para a fôrma untada e bata delicadamente sobre a bancada para nivelar. Leve ao forno e deixe assar por cerca de 35 minutos. Para saber se o bolo está assado, espete um palito na massa: se sair limpo é sinal que o bolo está pronto; caso contrário deixe assar por mais alguns minutos;
  8. Assim que estiver assado, retire o bolo do forno e deixe esfriar por pelo menos 15 minutos. Desenforme e pincele toda a superfície do bolo com o conhaque reservado – o bolo morno absorve o conhaque e fica úmido e perfumado. Espere o bolo esfriar para decorar com o glacê e as frutas.

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