22 de dezembro

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“Não dá para imaginar a vida sem a Ponte”, diz o Diretor da Ecoponte

Por Luiz Claudio Latgé
| aseguirniteroi@gmail.com

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Júlio Amorim diz que Ponte ainda pode receber mais carros, e prevê melhora nos acessos e a cobrança eletrônica do pedágio
Julio Amorim, diretor da Ecoponte
Júlio Amorim trabalhou em todas as funções da Operação da Ponte e viu o movimento passar de 50 mil para 150 mil carros por dia. Foto: Divulgação

O Diretor Superintendente da Ecoponte e da EcoRioMinas , Júlio Amorim, sabe  que não dá para ter uma rotina, diante da responsabilidade de cuidar todos os dias da operação da Ponte Rio-Niterói, uma via de 13,290 km por onde passam 150 mil veículos por dia. A menor ocorrência pode parar a Região Metropolitana, provocar enormes engarrafamentos e mexer com a vida  e o humor de milhares de pessoas.  E não são poucas as ocorrências. Na média, 80 por dia, da chuva aos carros enguiçados. Sem contar as situações extremas: manifestações, sequestro, ventanias, um navio desgovernado… Já viveu todas estas experiências, a vida toda trabalhando na Ponte, onde entrou como estagiário. Passou por todas as funções de Operações: cobrador, auxiliar de pista, controlador de tráfego, supervisor… Melhor que ninguém, sabe que a Ponte é um monumento vivo.

O A Seguir Niterói conversou com Júlio Amorim sobre os 50 anos da Ponte, para recuperar um pouco da história da obra mais grandiosa do estado, que corta a paisagem da Baía de Guanabara e evita uma viagem que se perdeu no tempo pela balsa de carros ou através dos 100 km de estrada por Magé. Apesar da recorrência dos engarrafamentos, Amorim surpreende: a ponte  tem capacidade ociosa para receber um volume ainda maior de trânsito, com as melhorias feitas ao longo do tempo e outras por fazer. Na mira, a eliminação de gargalos nos acessos, no Rio e em Niterói, a maior causa dos engarrafamentos. E a cobrança eletrônica do pedágio.

A conversa com Amorim é como um passeio pela história da Ponte, sem entrar na confusão do trânsito. Ele explica as transformações sofridas ao longo dos anos, como a criação da quarta faixa de rolamento, a Niterói-Manilha e a saída para a Linha Vermelha. E fala sobre as mudanças de comportamento da população. Os horários de congestionamento mudaram depois da pandemia. E os riscos na travessia hoje não são mais a alta velocidade e a bebida, como no passado, mas a direção perigosa das motocicletas, especialmente dos serviços de entrega e o uso de celulares. Na entrevista, o diretor fala do futuro da Ponte, antes dos carros voadores… E com toda a sua experiência em tantas funções, resume seu papel na Ecoponte com simplicidade: “Meu trabalho sempre foi fazer a Ponte funcionar.”

Veja a cobertura completa dos 50 anos da ponte em: https://aseguirniteroi.com.br/especial-50-anos-ponte-rio-niteroi/

A SEGUIR NITERÓI: Vamos lá, você acorda de manhã, e você tem uma ponte que é um equipamento urbano que está lá e tem que funcionar bem. Você acorda preocupado todas as manhãs com tamanha  responsabilidade? Porque pode estar chovendo, pode ter uma saída de feriado, uma manifestação…  É uma gestão que sempre guarda uma  surpresa? 

JÚLIO AMORIM : Eu falo que a a rotina é não ter rotina sabe? Então tem muito disso, né? Lógico que você tem algumas situações, como você menciona. Tem feriados, como o de Carnaval, que geram movimento  que nós conseguimos prever com antecedência. É quase automático, a gente se prepara para isto, sabe o que tem que fazer, né? A questão é quando foge da rotina. Às vezes eu estou aqui conversando com você, aí acontece uma ocorrência inusitada. Vou pegar um caso recente, aqui, sei lá, quinze dias atrás: cai uma piscina na Ponte. Caiu de um caminhão. E a gente tem que recolher, o mais rápido possível, para não atrapalhar o trânsito. Outra vez, já faz quase um ano, tombou uma lancha na pista. Teve o cidadão que resolveu andar de patins,  e a gente tem que pegar, né? Aí tem o sequestro do ônibus… Você está no seu dia, normalmente, de repente muda tudo.

Essas são ocorrências mais raras. Mas várias vezes nós fomos acordados na madrugada, porque um caminhão tombou, porque uma obra atrasou. Então eu falo que a Ponte é viva. E ela tem um dinamismo que quebra a rotina. Eu já sei que não vou trabalhar de 8h às 18h. Por várias vezes, ja deixei a família em casa, já larguei a família no restaurante, porque tive que vir para cá. Então, a rotina, por aqui, é não ter rotina, né?

– Para o operador da ponte, qual é o o pior pesadelo, o que atemoriza mais na operação, mexendo com a vida de tanta gente?

– É difícil destacar uma situação.  Mas fechar a ponte é o maior transtorno, seja por qualquer circunstância, seja por um
choque de embarcação, seja por um ação policial ou seja por uma chuva forte que às vezes a gente precisa conter o trânsito causa do vento ou alagamento. Ou mesmo por uma manifestação, como já teve a do Greenpeace, que obrigou a fechar a ponte. Para nós, é sempre um um momento de muita atenção, porque nós sabemos da importância que ela tem para a
mobilidade urbana.

A gente quer fluidez. A gente quer que as pessoas atravessem a Ponte sem sentir. A gente brinca  que o melhor serviço é quando o motorista passa pela Ponte de um lado a outro sem se preocupar com nada. Esse é o nosso objetivo. E quando a gente precisa interferir nisso, esse é o nosso principal pesadelo.

Então, em qualquer circunstância, às vezes no horário de pico, uma só faixa que você imagine fechada já é um problema. Mas para fechar a Ponte tem que ter um bom motivo. É um momento de muita atenção porque a Ponte é uma rodovia, uma BR. Mas , também, é uma grande avenida. Ela tem uma característica de tráfego urbano. As pessoas indo trabalhar, voltando, vai, almoçar, vai no médico, volta. Nós reconhecemos a importância dela. Por isso, temos muito cuidado com os fechamentos.

– Do jeito que a Ponte está hoje, com quatro pistas, pedágio e 150 mil carros por dia, num dia normal, se existe este dia, ela pode operar sem engarrafamento? Ou vai ter sempre algum tipo de retenção em função do volume de trânsito  em momentos de pico?

– Vamos lá, só pra lembrar um pouquinho do projeto e da história da Ponte. Ela foi concebida pra ter um fluxo de 50 mil veículos, sendo 25 mil por sentido. Foi inaugurada em 1974, mas foi concebida muito antes, os primeiros planos vêm do Império. O projeto executado foi feito lá atrás, 55 anos  antes da obra. Eram 50 mil veículos. Hoje passam em média 150 mil. Ou seja, três vezes mais. E ainda assim a resposta que eu vou te dar é que hoje a Ponte ainda tem capacidade ociosa, a Ponte tem condições de receber mais tráfego, garantindo a fluidez pra isso.

É claro que foram realizadas muitas melhorias.  Ela foi inaugurada com três faixas de rolamento. Nós hoje temos quatro faixas. Não é que tenhamos alargado a Ponte. Nós redimensionamos as faixas, de maneira que comportassem quatro faixas de rolamento. Além disso, fizemos obras de reforço. Então, ela tem hoje saúde estrutural de 50 anos atrás.  Ela está rígida como no seu primeiro dia. E com as obras que estamos fazendo hoje vai ser assim por muito tempo. Para você ter uma ideia, nós temos hoje uma obra, uma intervenção no interior do vão central, na ordem de R$ 50 milhões, que são obras de reforço estrutural. Com essas obras, ela vai ter uma saúde estrutural maior do que quando foi inaugurada.

Do ponto de vista de fluidez, o nosso grande problema hoje está muito mais ligado aos acessos, principalmente no Rio de Janeiro. No início da manhã, não é a Ponte. A ponte poderia receber um tráfego muito maior. O problema é na chegada ao Rio. As emissoras de TV mostram as retenções, é sempre na saída. Então, na verdade, hoje o nosso grande desafio passa pela melhoria das saídas da ponte. Seja em Niterói, no período da tarde e, principalmente, no Rio, no período da manhã.

A Ponte tem capacidade de absorver um trânsito ainda maior, desde que os municípios adequem lá os seus sistemas viários para receber todo esse tráfego. É o caso do elevado do Gasômetro, por exemplo, a principal porta de entrada no Rio. A Ponte tem  quatro faixas mas o O Gasômetro estreita e ainda recebe outros fluxos,  da Linha vermelha,  da Avenida Brasil. Todo esse volume chegando no mesmo ponto no mesmo tempo provoca alguns reflexos que a gente pode constatar diariamente na Ponte.

– Estamos acostumados, ao longo dos anos, a ver um engarrafamento de Niterói para o Rio. Mas,  hoje, chama atenção um engarrafamento constante em direção a Niterói. Está havendo alguma uma mudança de fluxo, um aumento de trânsito nessa direção, qual seria a explicação?

– Na pós-pandemia, a gente vê uma mudança de comportamento do tráfego.  As pessoas hoje tem a possibilidade de uma agenda mais híbrida,  trabalhando um pouco de casa, com horários mais flexíveis. Então tem uma mudança no comportamento, sim. Mas também tem outras situações que estão ocorrendo nessa questão. Um exemplo que eu te
trago são usos indevidos às vezes das faixas expressas, da onda livre, no caso. Às vezes, para fugir da fila,  o pessoal entra erroneamente naquele corredor e aí uma operação que era pra demorar três segundos acaba demorando um minuto. Atrapalha. A gente tem mais de mil e quinhentas tentativas de uso indevido da faixa por dia, então você vai  acumulando esses segundos que vai se perdendo… Então tem uma questão comportamental do tráfego também. Isso é uma somatória de situações que a gente vem identificando para tentar atacar. Problema por problema, que a gente vem identificando no período pós pandemia, né? Essa mudança de comportamento que está acarretando sim, nessas situações que a gente vem enxergando no dia a
dia.

– Hoje tem inclusive um engarrafamento da Ponte do Rio para Niterói nos sábados, mesmo sem qualquer feriado…

– Na verdade, o movimento da Ponte vai mudando, é lógico. O maior fluxo da Ponte era no final da tarde de sexta-feira que é o retorno.  O segundo maior fluxo era no sábado de manhã, porque aí tem as pessoas que vão à praia ou visitar familiares. As pessoas têm casa da Região dos Lagos e se querem  viajar de noite, acabam vindo no sábado, porque faz um home office na segunda. Então, na verdade, o que aconteceu foi isso,  essa mudança de comportamento,  no pós-pandemia. Outra mudança: historicamente, sexta-feira à tarde sempre foi nosso pico da semana. Do Rio para Niterói. Hoje já é a quinta-feira.  Então já tem alguns fluxos que estão começando a mudar. Mas o sábado ainda traz um comportamento de tráfico mais carregado.

Nos anos 80,  testemunhei na Ponte uma ventania muito forte, a ponte tremia e os carros ficaram desgovernados. Na época a gestão  era pública, do DNER- Departamento Nacional de estradas de Rodagem, que negou que isto tivesse acontecido. Mas depois a Ponte voltou atrás  e explicou que a estrutura é feita para ter essa mobilidade… Aí voltamos para os seus pesadelos. Qual é o protocolo para fechamento?

– Como você falou,  em 1980,  não existia concessão ainda. Nessa época, a Ponte era operada pelo próprio governo federal. Você vai lembrar, tinha aqueles selinhos no parabrisa. Eu lembro que meu pai tinha que colocar aquele selinho no carro que o pedágio era cobrado através de um selo.  E quando mudava o mês, você tinha que mudar o selo. Então eu lembro dessa história toda. Aí em 95, entra a concessão anterior (a CCR). Vale  lembrar que a ponte foi a primeira concessão,  era uma inovação, a primeira construção do Brasil de rodovia com operação privada. Falando das ondulações, de fato, do ponto de vista  estrutural na época, essa oscilação, essa ressonância era prevista em projeto e absolutamente normal.  Hoje não tem mais aquela ondulação toda. Mas mesmo naquela época não havia risco. Foi desenvolvido um sistema de Amortecedores Dinâmicos Sincronizados para diminuir este efeito. Esse movimento que antes que você via e se procurar ainda acha no YouTube, numa imagem de 99, era de uma oscilação que dava até 1,30 metro. Hoje, essa ondulação é evitada por um  equipamento que fica
no interior do vão central, que são conjuntos de molas, que algumas pessoas tratam como os amortecedores da ponte.  Então,   aquele movimento é amortecido pelas estruturas do interior. Hoje ela tem oscilação de dois centímetros pra cima dois para baixo, quando está uma condição de muito vento e você só vai sentir uma leve vibração, como acontece em qualquer ponte.

Os protocolos de fechamento com o vento ainda existem, não por causa da oscilação da ponte, mas pela segurança dos usuários que estão passando, principalmente dos motociclistas.  Dependendo do vento, a gente faz a operação comboio na ponte, mas principalmente para proteger aquele motociclista que passa por você  na Ponte. Tá um vento de 70 km por hora, o cara ultrapassa um caminhão, faz uma barreira do vento. Quando ele passa o caminhão, ele toma aquela rajada. O problema da moto é a velocidade com o impacto do vento lateral.  A operação de fechamento hoje se dá principalmente em função do alagamento dos acessos. É muito mais por uma questão externa da ponte. Agora, é lógico, que podem acontecer – e nós já tivemos isso – situações de vento acima de 100 km por hora. Então, nesse caso, inclusive, alguns veículos podem  tombar, pode começar a voar  carga. Aí temos que fechar até que esse vento volte para, no máximo , 30 km por hora. Eu consigo saber
a velocidade, a direção, duração do vento em tempo real. Imagina ter um caminhão de mudança e um veículo a 100 km por hora. Pode virar, cair tudo na pista, então eu faço uma operação de fechamento preservando condições mínimas de tráfego.

Existem essas  situações  previsíveis como  aumento de trânsito, vento, chuva e  tem  protocolo para todas. Mas vocês imaginavam que um navio desgovernado podia bater na Ponte?

– Sim! E não foi o primeiro.  Esse acabou chamando a atenção porque teve um vídeo que foi gravado e entrou nas redes sociais. Mas nós já tivemos outros casos, que, assim como esse, não acarretou, nenhum dano. Para nós, isso também é previsível – e temos os protocolos que nós chamamos de Protocolo Nível 1. O que que é o Nível 1?  É um veículo que colidiu na ponte, na faixa de rolamento. Aqui tem um protocolo: quem atende? Quantos cones eu coloco? Até ocorrências mais complexas, como  choque de embarcação. Para você ter uma ideia, eu tenho o protocolo para queda de aeronave. O Aeroporto  Santos Dumont está ali, muito próximo da Ponte. Eu tenho protocolos de atentado, terrorista. Cabe lembrar que nós tivemos aqui Copa, Olimpíadas, visitas de chefes de estado, Jornada Mundial da Juventude… Então nós temos protocolos para as mais diversas situações. No caso da colisão do navio, foram tomadas providências. Primeiro é garantir a integridade física de quem tá em cima da ponte. Então tem que fechar, fazer o plano de evacuação. Depois, fazemos  as análises  das estruturas, checar se houve danos. Não posso liberar o tráfego antes de checar tudo.  Então, respondendo à sua pergunta, temos protocolo, e tudo funcionou, porque a ponte não teve nenhum ferido e a estrutura suportou o contato. Hoje já foi tudo recuperado, aquela ocorrência já é mais
uma para nossas  estatísticas.

– Foi o fechamento mais demorado?

JÚLIO AMORIM- Ah, mais demorado, não. O mais demorado, que eu me recordo, foi o sequestro do ônibus. Nós tivemos a ação do GreenPeace, que também interrompeu trânsito. Mas o sequestro do ônibus levou um pouco mais, principalmente no sentido Rio de Janeiro. O  sequestro foi no sentido do Rio, por volta de quatro da manhã, aí deve ter liberado ali por volta de onze horas, meio dia. Então, nesse momento ficou fechado todo o segmento. A Segurança alertou que poderia ter tiros. Então, a orientação foi dada: fecha porque a gente vai tentar chegar no sequestrador.  Foi um fechamento mais demorado.

– Algumas situações parecem não caber em nenhum manual. A Ponte uma vez já ficou sem luz porque roubaram os cabos de energia…

– Infelizmente, é muito mais comum do que a gente imagina. Nós temos casos quase que semanais de furto de cabos.  Nós
temos aqui equipes que trabalham vinte e quatro horas, com eletricista de alta tensão. Mas caso que você menciona foi um episódio bem atípico. Aconteceu no carnaval. No roubo, eles  cortaram a linha de alta tensão. E para piorar, aquilo provocou um curto em todo um sistema. Foram várias dificuldades.  E tivemos que contratar,  comprar cabo, no sábado de Carnaval. Mas nós conseguimos botar as coisas de um dia pro outro.

– A gente não falou de acidentes, ainda. Alguns  marcaram a história da Ponte, como a morte da cantora Maysa. Acho que hoje tem uma incidência menor de acidentes, não há acidentes tão violentos como no passado.  Mas a gente nota que há um novo tipo de risco, e não acontece só na Ponte, mas em todas as cidades, que é o aumento da circulação de motocicletas. Qual a situação, atualmente?

– Bom , acho que o diagnóstico que você fez mostra um pouco do trabalho da Ponte. A estatística hoje de mortes é perto de zero. Mas se você olhar ao longo do tempo as causas dos acidentes foram mudando. No passado, o nosso grande problema era a velocidade. E você podia atestar isso por apareciam indicativos desta situação, você encontrava as marcas de frenagem, né? Faziam até “rachas” na Ponte. Nós fizemos um estudo para enfrentar esta situação.  A Ponte não tinha radares fixos. A ação era feita por radar móvel da Polícia Rodoviária Federal, por amostragem. Foi feito um estudo de localização e os radares foram instalados. Nós conseguimos controlar o fator velocidade. Mas depois disso, surgiu um novo fator de risco. A questão da bebida. A combinação de álcool e direção. Nós temos os nossos médicos aqui na equipe médica e começamos a estudar o assunto. E  vimos que grande parte dos acidentes, principalmente nos finais de semana e
madrugadas, apresentava esta correlação com álcool.  Os médicos viam estes sinais de embriaguez, indícios de bebida no interior do carro. Então, foi feito um trabalho junto com a Polícia para alertar para isso. E com a Lei Seca melhorou muito. Mas hoje nós temos dois fatores principais de acidente. Primeiro, as
motocicletas, especialmente os motoqueiros, aquelas motos de menor porte que cortam o trânsito, muitas motos de entrega, de
de delivery. São poucos os acidentes com vítimas, graves. Mas estes tem de alguma forma uma correlação com motocicleta.

O segundo problema, visível,  é  a questão do uso do celular. Esse é mais difícil detectar. Normalmente é reportado pelo próprio condutor, quando a gente faz a investigação do acidente. “Eu estava no celular”, o próprio condutor justifica. Tem situações em que a gente percebe que os motoqueiros dirigem  usando o celular. Esse é um outro fator que nos preocupa.
Precisamos combater, com a educação e conscientização.

–  Depois de 50 anos, o que vem pela frente? A gente viu, ao longo desse tempo, que a Ponte não nasceu do jeito que ela está hoje, sofreu obras, recebeu equipamentos, adotou novos procedimentos. A Ponte foi inaugurada antes da Niterói-Manilha, antes  da Linha Vermelha. Qual é a visão de futuro?

– Eu eu vou separar isso em duas partes. Aqueles projetos de mais de curto prazo, nos quais já estamos trabalhando hoje. E uma visão de mais longo prazo. No curto prazo, a gente trabalha hoje no free flow, o sistema de cobrança eletrônico, sem necessidade da parada para pagamento na cabine de pedágio. A gente está estudando hoje para saber como é que vai se comportar. Nós já temos em algumas rodovias, por exemplo, na Rio-Santos, mas em outro cenário, num ambiente mais controlado que não tem esse tráfego pesado como tem aqui. É de fato um estudo, não tem nenhum diagnóstico. Esse projeto começou em 2023 e vai até 2025. Além disso, temos planos para melhoria de capacidade dos acessos, tanto do lado de Niterói quanto do Rio.

Temos  estudos a médio prazo também. Por exemplo, aquela inspeção subaquática que é hoje feita com mergulhador,
para avaliar a condição estrutural  da ponte. A ideia é automatizar isso.  Hoje, para fazer a avaliação das estruturas, às vezes temos que descer equipes com equipamentos com rapel.  Será que este monitoramento da estrutura da parte externa não poderia ser feito com o uso de drones?

E tem coisas que pensamos a mais longo prazo, como, por exemplo, o que nós chamamos de mediana móvel, que é aquele “zíper” para a mudança de mão em horários de pico. A Ponte tem oito faixas quatro de um lado, quatro pro outro. De manhã eu poderia abrir cinco para o Rio e três pra Niterói. À tarde seria o inverso. Mas isso não adianta pensar antes de resolver a questão dos acessos. Não adianta abrir mais uma faixa se as quatro estão engarrafadas. Não melhora a fluidez, mas esse “zíper” é uma possibilidade. Há outras ações. Por exemplo, tornar a fiscalização eletrônica mais efetiva. Mais: geração de energia através de atrito rodoviário, ou seja, tornar a ponte uma grande usina de energia, também já tem tecnologia na Europa para fazer isso. O próprio contato dos veículos com o tabuleiro da ponte pode ser um grande gerador de energia sustentável.

O que vai de fato se materializar,  é o futuro que vai nos dizer. Hoje, cem por cento dos carros passam rodando na ponte. Vamos ver como vai ser daqui a 30 anos, se não vamos ter carros voando…

– Para encerrar…

– Eu falo que a Ponte é viva. Tem muitas histórias, gente que transitou para a escola, o trabalho, numa emergência, ou numa viagem, pessoas que se conheceram no trajeto, casaram,  pessoas que têm  uma relação afetiva com a Ponte. A nossa responsabilidade é garantir que a Ponte faça parte da vida das pessoas, com toda a importância que ela tem pra mobilidade, pra logística, para o turismo. Imagine você hoje ter que cruzar Magé, como era antes? A economia que reduziu cem quilômetros na viagem de um caminhão.  São bilhões de caminhões em cinquenta anos. A Ponte agregou muito para a economia e para a vida das pessoas. Não dá nem para imaginar como seria a vida sem a Ponte.

 

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