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Os fatos marcantes nos 50 anos de história da Ponte Rio-Niterói

Por Alba Valéria Mendonça
| aseguirniteroi@gmail.com

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Temporais, manifestações, acidentes, cachorro na pista, engarrafamentos, navio à deriva a passagem de uma escola de samba… Aconteceu de tudo na Ponte
Os fatos marcantes nos 50 anos de história da Ponte Rio-Niterói
Faroeste na Ponte. O sequestro de um ônibus e a ação da Polícia para matar o bandido. pararam a Ponte em 2018. Foto: Arquivo

Muita gente não vai ligar o nome Presidente Costa e Silva à movimentada Ponte Rio-Niterói, que neste 4 de março completa 50 anos de existência. Mas tudo o que diz respeito a essa senhora de meia-idade, que faz parte da BR-101 – rodovia costeira que liga o Sul ao Nordeste do país – tem considerável impacto no dia a dia de duas grandes cidades: Niterói e Rio de Janeiro.

Praticamente tudo nela é grandioso. Da ousadia da construção aos engarrafamentos às vésperas dos feriados. Numa via projetada para receber 50 mil veículos/dia nos anos 1970 e que vê circular por seus 13,29km com suas duas pistas de quatro faixas, cada, praticamente o triplo de veículos, em 50 anos de operação ininterrupta, o que não falta é história para contar.

HISTÓRIAS DA NOBREZA

O conceito de uma via ligando Rio a Niterói, data do século XIX, depois que D. Pedro II ficou encantado com as obras do metrô de Londres. Em 1875, ele contratou o engenheiro Hamilton Lindsay-Bucknall para desenvolver o projeto de um túnel ferroviário submarino que ligasse o Flamengo ao Gragoatá. Depois, pensou-se numa ponte. Mas o projeto de ligação entre Rio e Niterói só foi retomado em 1968.

E como não lembrar que a placa que marca o início simbólico da obra em 9 de novembro de 1968, foi descerrada pela rainha Elizabeth II, do Reino Unido, na única visita da monarca ao Brasil em seus 70 anos de reinado. Mas a obra só começou realmente em janeiro de 1969.

POMPA E CIRCUNSTÂNCIA

Iniciado durante o período do regime militar, a Ponte leva o nome do presidente Costa e Silva, que autorizou o projeto. E foi atravessada pela primeira vez pelo presidente Emílio Garrastazu Médici, num Rolls-Royce. Só que não. Antes da inauguração, em janeiro, o então ministro dos Transportes Mário Andreazza, responsável pela obra, burlou o protocolo e fez a travessia a bordo do jipe nacional Candango.

Há cerca de 10 anos, tentaram mudar o nome da Ponte, por homenagear um presidente militar, que decretou o Ato Institucional nº 5 (AI-5). Mas alegaram que ela foi batizada com o nome daquele que autorizou e deu início ao projeto.

INSPIRAÇÃO MUSICAL

A Ponte, esse gigante de concreto e aço, já abalou corações. E serviu de inspiração para a composição “A Ponte Rio-Niterói”, do paulista Marcus Pitter, que em 1970, no ritmo do iê-iê-iê, não via a hora de a obra ser concluída para que pudesse ver seu amor com rapidez. Afinal, a travessia por balsas (com capacidade para apensas 54 veículos) ou o contorno da baía por Magé num trajeto de mais de 100km, pode levar mais de 2 horas.

 A Ponte também inspirou Gustavo Nobio que canta as dificuldades da vida no rap “Via Ponte Rio-Niterói”, gravado em 2019.

UM BEBÊ PARA CHAMAR DE SEU

A Ponte também já fez as vezes de maternidade. Foi em 20 de julho de 2022. Os pais Sandor e Mayara estavam a caminho da maternidade no Flamengo, no Rio, quando as contrações começaram a ficar mais fortes. Sentindo que não havia tempo para chegar até a unidade hospitalar, Sandor parou o carro logo após o pedágio e ali mesmo, Noah, que ficou conhecido como o “bebê da ponte”, chegou ao mundo.

O MUNDO CAIU

O país chorou a morte da cantora Maysa, morta num acidente na Ponte em 22 de janeiro de 1977. Segundo se apurou na época, ela seguia em seu carro, uma Brasília, do Rio para Maricá, onde vivia. Tinha acabado de sair da casa dos pais. Estaria em velocidade um pouco acima da média, quando bateu na mureta, rodopiou e bateu novamente na mureta divisória. Maysa, de 40 anos, chegou a ser socorrida, mas não resistiu. E o país se despediu da cantora, que ficou conhecida como a musa da dor de cotovelo, com sucessos como “Meu mundo caiu”.

MANIFESTAÇÃO

Nem só de histórias de trânsito vive a Ponte. Em fevereiro de 2015, cerca de 100 funcionários do Comperj, reivindicando melhores condições de trabalho, desceram de ônibus no vão central, na pista sentido Rio, e começaram uma passeata. A PRF ainda tentou negociar com os manifestantes. Mas como os ônibus já tinham seguido viagem, não houve outra alternativa a não ser fechar a pista sentido Rio e reduzir bastante o fluxo no sentido Niterói, por cerca de 2 horas até que os manifestantes chegassem ao Caju.

GREENPEACE

Em abril de 2009, ao fazer um protesto na Ponte contra o aquecimento global, o Greenpeace acabou angariando a antipatia de outros grupos ambientalistas. É que 10 ativistas, ao descerem de rapel o vão central, no sentido Rio, para estender uma faixa de 50 metros de extensão por 30 metros de altura, causaram um grande engarrafamento que repercutiu em Niterói e São Gonçalo, o que aumentou a emissão de gases poluentes dos veículos na atmosfera. O protesto durou das 7h às 10h, mas o tráfego só foi normalizado duas horas depois. Ao final da manifestação, os 20 ativistas que participaram do protesto foram detidos e levados para Polícia Federal em Niterói. E os quatro veículos usados por eles foram rebocados para um pátio da PF em São Gonçalo.

PROTESTO INCENDIÁRIO

Em novembro de 2017, novo protesto. Dois homens atearam fogo a um carro na altura da grande curva, na pista sentido Rio, em protesto contra a reforma trabalhista, e fugiram. O fogo foi rapidamente controlado pela brigada da Ponte. Mas por medida de segurança, a Ponte teve de ser fechada por 10 minutos.

À DERIVA

A trombada que o graneleiro São Luiz, ancorado na Baía desde 2016, deu na Ponte, assustou muita gente em 14 de novembro de 2022. A Ponte tremeu e teve pedaços da proteção de concreto quebrados, no sentido Niterói. Chovia e ventava forte, o que deixava o ambiente ainda mais sombrio. Depois de 3 horas de interdição total do tráfego para avaliação dos danos, somente duas faixas no sentido Niterói foram reabertas liberadas. A pista sentido Rio ficou interditada até o dia seguinte, depois de vistoriados os pilares 71, 72 e 73.

Mas não foi a primeira vez que a Ponte foi atingida por um navio. Em maio de 1978, o cargueiro Iracema bateu nos pilares 170 e 171.  Já o cargueiro Docemar, que estava fundeado na baía, se soltou e se chocou três vezes contra a Ponte, deixando parte dos ferros da estrutura à mostra, em fevereiro de 1996.

FIM DO CAMINHO

Histórias de morte também fazem parte realidade da Ponte. Só durante a sua construção, nos anos 1970, conta-se oficialmente 33 operários mortos. Mas especialistas dizem que esse número pode chegar a 400.

Depois de inaugurada, não foram poucas as vezes que motoristas e passageiros perderam a vida em atos suicidas ou acidentes. Em maio de 1994, dois acidentes simultâneos causaram a morte de uma pessoa, deixaram dezenas de feridos e 30 mil veículos retidos. A Ponte ficou fechada por cerca de duas horas e meia, causando transtornos imensos. No sentido Rio, um ônibus pirata bateu em outro ônibus. Ninguém se feriu. Mas ao reduzir a velocidade na pista sentido Niterói, para ver o acidente, um ônibus, um carro e um caminhão bateram. Passageiros do ônibus ficaram feridos e o motorista do caminhão morreu na hora, quando, com a colisão, a carga que transportava se soltou e invadiu a cabine.

CARNAVAL

Abram alas para a folia passar. Em fevereiro deste ano, a Ecoponte informou seus usuários sobre o fechamento em horários variados das alças de descida da Avenida Brasil e do Into/Rodoviária, para dar passagens a carros alegóricos de escolas de samba, que estavam saindo de barracões da Zona Portuária do Rio em direção ao Sambódromo.

ATLETISMO

No anos 1980, quando o tráfego aos domingos ainda era reduzido, foram realizadas as Corridas da Ponte, de 21km, com largada no Caminho Niemeyer, em Niterói e chegada no MAM, no Rio. As meia-maratonas ocupavam duas faixas para os corredores, uma para carros de serviço e uma para o tráfego normal. Os corredores tinham de apresentar índice para se inscrever, já que a Ponte só parcialmente interditada por até três horas e meia. A programação esportiva anual foi de 1981 a 1986. Retornou nos anos de 2011, 2012 e 2013. Mas com o aumento do volume de veículos em circulação, as provas de atletismo se tornaram inviáveis.

RINQUE DE PATINAÇÃO

Em fevereiro de 2014, um homem aproveitou o domingo de sol, desceu do carro em que estava na pista sentido Rio, e fez da Ponte seu rinque de patinação particular.

SEQUESTRO

Na manhã de 20 de agosto de 2018, a Ponte teve de ficar fechada por 3 horas e meia. Um passageiro decidiu sequestrar um ônibus cheio, na pista sentido Rio. O tráfego foi interrompido nos dois sentidos, policiais negociaram a libertação de alguns reféns. Mas o homem acabou morto pelo tiro de um sniper da Polícia, sem que se soubesse qual o motivo do sequestro. Entre cenas lamentáveis, o então governador do RJ Wilson Witzel desceu de helicóptero na Ponte, comemorando a morte do homem como se fosse gol do Brasil em Copa do Mundo. Neste dia, foram registrados 114km de engarrafamentos em Niterói e no Rio.

ANIMAIS NA PISTA

Não são raros os casos de lentidão e engarrafamento na Ponte causados por animais na pista. Em fevereiro de 2020, um cavalo se soltou de onde estava no Caju e subiu a Ponte. Em novembro de 2021, dois cães foram responsáveis pelos bloqueios no trânsito nas duas pistas, na altura da reta do cais. Um deles foi resgatado pelo equipe da Ecoponte rapidamente. O outro, driblou policiais e equipes de resgate e só foi capturado 1 hora depois, já esgotado, na Linha Vermelha. Os engarrafamentos chegaram a 4km de extensão.

LANÇADOS AO MAR

O abandono de animais em via pública é crime. Mas dois cães já foram abandonados na via próximo da praça do pedágio em maio de 2020. Os bichinhos foram resgatados por agentes da PRF. Mais sorte ainda teve o gatinho que jogado pela janela de um carro no mar. O bichano, assustado, sobreviveu a uma queda de 50 metros de altura e foi resgatado por um pescador.

Em setembro de 2015, na pista sentido Niterói, uma mulher foi arremessada ao mar, ao parar na frente de seu carro que havia enguiçado. Um ônibus bateu no carro e lançou a mulher sobre a mureta. Ela sobreviveu.

Já o homem que também parou com o carro enguiçado, no sentido Niterói, em janeiro de 2013, não teve a mesma sorte. Ele morreu depois de arremessado ao mar, quando um caminhão bateu em seu carro.

MILAGRE

Só um milagre para definir o que ocorreu com a jovem Marina Borges, em março de 2014. Ela sobreviveu depois bater seu carro na mureta divisória, do vão central na pista sentido Rio, capotar 8 vezes e cair com carro e tudo, de uma altura de 72 metros, na Baía de Guanabara. Sem perder a consciência, ela conseguiu se soltar do cinto de segurança antes que o carro afundasse completamente. Tentou nada até um dos pilares da Ponte, mas como estava muito cansada, ficou boiando por cerca de 30 minutos até ser socorrida por uma lancha. Marina só sofreu escoriação e teve rompimento do baço.

OS PRIMEIROS

O primeiro acidente grave registrado na Ponte foi de o uma caminhonete da PM, que circulando a mais de 80km/h teve o pneu furado e capotou. O policial que dirigia o veículo morreu na hora, no dia 29 de outubro de 1974.

Já em outubro de 1997, foi registrado o primeiro engavetamento na Ponte envolvendo quatro ônibus e um caminhão. Dezenas de pessoas ficaram feridas, mas ninguém morreu.

Em outubro de 2015, ocorreu o primeiro arrastão que se tem notícias na Ponte. Cinco criminosos desde pararam o trânsito, no sentido Rio, por 10 minutos e roubaram três carros.

LIGAÇÃO PRIMORDIAL

Se para os moradores de Niterói a Ponte está associada a trabalho, para os cariocas, ela está mais voltada para o lazer. Segundo pesquisa recente da Ecoponte, o horário de rush, no sentido Rio, vai das 6h às 12h, de segunda a sexta, na ida para o trabalho. E na volta, no sentido Niterói, das 17h às 19h, quando a travessia pode passar dos 30 minutos.

Já para os cariocas que seguem em direção a Niterói, de segunda a sexta, o tempo de travessia costuma ser normal (13 minutos). Bem diferente dos períodos de feriados e férias, quando muita gente pega a Ponte para seguir para as praias oceânicas e cidades da Região dos Lagos. Haja engarrafamento.

RESTRIÇÃO PARA TRANSPORTE DE CARGA

Em 2016, por causa da realização dos Jogos Olímpicos no Rio, foi instituída uma restrição de horários para o transporte de carga, nos meses de agosto e setembro. Mas por medida de segurança, para reduzir o número de acidentes, desde dezembro de 2020, as restrições se tornaram permanentes. Nos dias úteis, caminhões de dois eixos ficam impedidos de circular pela Ponte, das 4h às 10h e para caminhões de três eixos, até o meio-dia, no sentido Rio.

No sentido Niterói, não há restrições para caminhões de dois eixos. Já para os transportes de três eixos, o impedimento de passar pela Ponte vai das 12h às 22h.

CARGA PERIGOSA NEM PENSAR

O transporte de cargas perigosas, como produtos químicos, biológicos ou radiológicos, que podem causar grandes transtornos em caso de vazamento na pista, estão proibidos de passar pela Ponte em qualquer horário desde 2006. Em abril de 1998, uma carreta carregada com produto tóxico tombou, derramando a carga na pista. A Ponte teve de ser fechada por 21 horas causando um dos maiores engarrafamentos da história, no Rio e em Niterói.

PROJETO FARAÔNICO

A Rio-Niterói, com seus 13,29km, da Ponta do Caju à Avenida do Contorno, quando inaugurada em 1974, era a terceira maior ponte do mundo em extensão, perdendo apenas para as pontes do Lago Portchartain (38km) e da Baía Chesapeake (25km). Ainda hoje é considerada a maior do Hemisfério Sul, com seu vão central com 300 metros de extensão e 72 metros de altura (estrutura construída na Inglaterra, trazida em módulos para o Brasil por via marítima).

 A obra, que custou US$ 674 milhões, foi realizada em seis anos por mais de 10 mil operários e 200 engenheiros. Na “obra de arte viária” foram usados: 1152 vigas, 43 mil cabos (que esticados dariam 3,5 voltas no planeta), 3250 aduelas de concreto, 1138 tubulões no mar, 103 conjuntos de blocos/pilares e 560 mil metros cúbicos de concreto. Segundo o portal de engenharia, se os sacos de cimento usados na obra fossem empilhados teria uma altura 1500 vezes maior que a do Pão de Açúcar. Seu peso é calculado em 1,3 milhão de toneladas.

PROJETO CRESCEU

Desde sua inauguração, a Ponte já passou por obras de reforma e extensão. Afinal, foi projetada para receber 50 mil veículos/dia, nos anos 1970, hoje passam por ela em média cerca de 150 mil veículos/dia, entre carros, moto, caminhões e ônibus.

Administrada por 20 anos pelo DNER, foi a primeira grande obra viária a ser concedida ao setor privado em 1995, o grupo CCR. Privatizada, em 2003 ganhou um sistema de amortecimento de Atenuadores Dinâmicos Sincronizados (ADS), com 32 caixas metálicas e 192 molas espirais, que reduziu as oscilações causadas por ventos fortes, que assustava os motoristas. Hoje, as oscilações são quase imperceptíveis.

A Ponte também ganhou uma quarta faixa nos dois sentidos no vão central. Para melhorar o fluxo do trânsito, em 2009, teve as faixas de rolamento repintadas, passando de três para quatro faixas em cada pista em toda a extensão. E conta com uma central de monitoramento com 45 câmeras durante 24 horas por dia.

Atualmente o conjunto de engenharia viária do qual a Ponte faz parte chega a 28,7km de extensão, incluindo o Mergulhão da Praça Renascença, a alça da Linha Vermelha e a Avenida Portuária, administrado desde 2015 pela Ecoponte.

Veja a cobertura completa em: https://aseguirniteroi.com.br/especial-50-anos-ponte-rio-niteroi/

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