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Conheça o homem que cuida da Ponte Rio-Niterói desde a fase das obras

Por Fernanda Nunes
| aseguirniteroi@gmail.com

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O engenheiro Carlos Henrique Siqueira nasceu no dia da inauguração da Ponte e trabalha nela há 52 anos
50 anos Ponte Rio-Niterói-5
Siqueira é consultor da Ecoponte e acompanhou atodas as transformações da Ponte, Foto: Marcel Lopes
O engenheiro Carlos Henrique Siqueira tinha 24 anos e cabelos longos quando começou a trabalhar na construção da Ponte Rio-Niterói, no departamento de Orçamento e acompanhou de perto os gastos da obra – US$ 400 milhões, financiados pelos ingleses. Em seguida, passou para a área  de Engenharia de fato e, desde então, nunca mais deixou a ponte. Hoje, um senhor de 76 anos, é consultor da Ecoponte. A sua biografia se confunde  com a história da Ponte Rio-Niterói.
– Tenho muito orgulho da minha vida profissional, mas com o pé no chão. Ficar 52 anos no mesmo lugar é emblemático. Hoje, sou o mais velho da equipe. A passagem da minha vida está sendo, paulatinamente, inserida no contexto da Ponte Rio-Niterói -, disse Siqueira. Como se já não fosse uma relação forte o suficiente, tem outro dado marcante neste relacionamento. nasceu num 4 de março, como a Ponte.
Ele conta sorrindo que, quando ingressou, aos 24 anos, foi recebido no canteiro pelo chefe com “olhar de ira e desdém”, por causa do seu cabelo comprido, pouco abaixo do ombro. “Mas falei: não faz mal. Olhei nos olhos dele e vi que ele dizia que se eu quisesse trabalhar na obra, teria que cortar o cabelo. Mas entrei daquele jeito e continuei daquele jeito”, afirmou.
Eram anos conservadores, de ditadura militar. A construção da ponte fazia parte de um pacote de grandes projetos de infraestrutura do governo do general Emílio Médici, que incluía a rodovia Transamasônica e as usinas nucleares Angra 1 e 2. Pelas suas dimensões, eram chamados pela imprensa de obras faraônicas.
O engenheiro lembra de matérias da época, do extinto Jornal do Brasil, principalmente, acusando o governo federal de gastar milhões com a Ponte Rio-Niterói, em vez de priorizar os mais pobres.
A sua visão, no entanto, é que “seria impossível viver nas duas cidades sem essa ligação”. Sem a ponte, era necessário percorrer 150 km, em uma hora e meia, passando pelo município de Magé, na Baixada Fluminense.
A ponte em construção. Foto: Domínio público / Acervo Arquivo Nacional
Uma experiência, em especial, marcou a sua memória dos tempos da construção: a dos ensaios para verificar se o comportamento da estrutura condizia, na prática, com o que estava sendo projetado. Uma prova de carga, com 18 caminhões de 21 toneladas, foi realizada para verificar deformações e pressões, durante três dias do carnaval. Depois, já com a ponte inaugurada, a equipe de engenharia tentou repetir o experimento, mas se arrependeu.
Foi programado um engarrafamento para descobrir as condições da ponte numa situação de ocupação total. “Nunca mais a gente faz isso. Ninguém aguentou ficar 10 minutos parado. Nem policial rodoviário conseguia dar jeito. A multidão ia para cima, enfurecida”, contou ele, em tom descontraído.
Esse não foi, no entanto, um dos principais desafios que experimentou. Ainda na fase de construção, acompanhou o esforço de uma equipe de mergulhadores e engenheiros para encontrar a melhor rocha para cravar a estrutura da ponte, a 60 metros abaixo do nível do mar. Em outro momento, o desafio foi transportar 13 mil toneladas de aço pelo mar para lança-las sobre a ponte. A solução foi usar um dos pedaços de metal como flutuante pelo qual seriam carregados os demais.
– Nunca me passou pela cabeça que o projeto não ia dar certo. Estávamos imbuídos em fazer essa obra sair, certos de que ela era necessária para a sociedade. Tínhamos a consciência de que ela uniria dois estados: o da Guanabara e o do Rio de Janeiro”, disse.
Passados cinco anos de obra, chegou o dia da inauguração, marcada por uma solenidade formal na praça do pedágio, às 10h, e uma missa, à tarde, rezada por um padre italiano, segundo Siqueira. O presidente Médici chegou num Rolls-Royce, acompanhado do ministro dos Transportes, Mário Andreazza, e da sua comitiva.
– A praça do pedágio estava lotada -, contou o engenheiro. Quando acabou a missa, ninguém segurou a multidão, que, saindo de Niterói, correu pela ponte até o vão central. A imagem era de um mar de gente, segundo ele. O primeiro carro, no entanto, passou apenas no dia seguinte.
E continua:  “Só me dei conta de que aquela inauguração estava acontecendo no dia do meu aniversário porque minha ex-mulher, ao meu lado, me alertou. Fiquei bastante emocionado. Mal sabia eu que, a partir dali, continuaria por toda minha vida profissional nessa obra”, afirmou Siqueira.

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