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Pela liturgia da igreja Católica, as festas de final de ano, iniciadas com a comemoração do Natal, terminam em 6 de janeiro. Esta data é conhecida como Dia de Reis e, tradicionalmente, é celebrada pelas famílias com um Bolo de Reis.
Ele tem formato redondo, que remete a uma auréola, com um grande “buraco” no centro. Diferente da rabanada, que ocupa lugar cativo no coração e na mesa do brasileiro, independente de datas festivas, o Bolo de Reis é mais difícil de ser encontrado em padarias e confeitarias, fora de época. A receita mais trabalhosa e o conjunto de significados que permeia o doce talvez ajude a explicar o motivo.
Tradicional de Portugal, o Bolo de Reis remete à lenda sobre os presentes que os Reis Magos ofereceram a Jesus. A sua cor representa o ouro; as frutas secas simbolizam a mirra; e o aroma o incenso.
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O Bolo de Reis possui uma massa branca e fofa enriquecida com ovos e, muitas vezes, licores ou vinhos, misturados com passas, frutos secos e frutas cristalizadas. Para essa massa ficar no ponto certo, há toda uma técnica que parece simples, porém, exige atenção para que não desande – e precise ser totalmente descartada.
Quem revela os segredos desse doce para o A Seguir: Niterói é o confeiteiro da Beira Mar, Flávio Freitas, que faz o Bolo de Reis há 20 anos – quase a metade do seu tempo de vida, uma vez que ele possui 42 anos.
– Tem que ser feito com atenção. Bater demais queima a massa. Esquecer o fermento é outro erro comum. Mas errar na massa, não tem nem como salvar. É ficar atento a cada etapa. Sempre – resume.
Nos últimos dias, Flávio já fez 37 Bolos de Rei no tamanho pequeno e outros 18 grandes para dar conta dos pedidos na Beira Mar, padaria e confeitaria localizada na Rua Paulo Gustavo, em Icaraí.
Para esta quinta-feira (5), véspera do Dia de Reis, a previsão é fazer mais 15 grandes e 37 pequenos. O que sai mais é a versão no tamanho pequeno.
Na época do Natal, o confeiteiro fez 86 bolos, que foram vendidos em apenas um dia. Resultado: teve que fazer nova fornada, no dia seguinte.
O que não pode faltar no Bolo de Reis?
O Bolo de Reis da Beira Mar segue a receita tradicional portuguesa e leva fruta cristalizada, passas, rum e não pode faltar a abóbora glaceada, que é importada de Portugal.
Modo de preparo
É feita uma massa com água, farinha e fermento na masseira até formar o ponto de véu – aquele momento em que a massa fica bem elástica e pode ser puxada sem romper. É possível até mesmo ver a mão por trás dela.
Após esta etapa, bate a massa na batedeira, acrescentando, aos poucos, as frutas cristalizadas. Depois é colocado na mesa e é separado cada gramatura de massa, em 6oo g. A próxima etapa é bolear e deixa fermentar por 30 minutos. Na sequência, “pinta” com os ovos e coloca as frutas. Depois, vai direto para o forno a 160 graus, por 20 minutos.
Bolo de Reis x Bolo Rainha
O modo de preparo do Bolo Rainha é muito similar ao de Reis. A massa é a mesma e a diferença está nas frutas cristalizadas. Enquanto o Bolo de Reis é feito com fruta cristalizada e passas pretas, o de Rainha leva fruta seca, passas brancas, nozes e amêndoa.
O Bolo Rainha entrou para o cardápio da Beira Mar recentemente. Veio com a proposta de ampliar a oferta dos produtos e servir de opção para as pessoas que não gostam de frutas cristalizadas.
Barbara Costa, 30 anos, faz parte de uma empresa contratada pela Beira Mar para consultoria de nutrição. Ela conta que o Bolo Rainha acabou de entrar para o cardápio, mais precisamente, no final do ano passado.
– Volta e meia a diretoria faz pesquisa e sempre fica mapeando essas novidades para essas datas comemorativas. Nós fizemos degustação do Bolo Rainha e foi um sucesso. Acho que o diferencial é a amêndoa laminada em cima – conta a consultora, que afirma que o Bolo de Reis tem tido tanta procura que, no mês de outubro, as pessoas já perguntam quando começará a produção.
Na Beira Mar, assim como em outros lugares, no dia 7 de janeiro, o Bolo de Reis é retirado das prateleiras. Mas Flávio garante que não irá deixar ninguém na mão: “Faço por encomendas depois da data também, não há problema”, comenta, rindo.
Diálogo que remete às origens
De acordo com a nutróloga, o Bolo de Reis ajuda a entrelaçar a relação da confeitaria Beira Mar, fundada por um português, com o país de origem da receita.
– É legal porque tem todo esse cuidado de trazer os doces característicos de lá não só nessa época, como em outras do ano. As pessoas já chegam na confeitaria procurando pelo bolo, já é sabido a época que começa a vender. As pessoas já associam. Fica no imaginário delas – pontua.
A história
Apesar dos antigos registos históricos, os primeiros grandes vestígios do Bolo de Reis, adornado com frutas cristalizadas, surgiram em França, no século XVI, durante o reinado de D. Luís XIV. Com a chegada da revolução francesa, em 1789, o Bolo-Rei, como também é conhecido, foi proibido devido à sua designação (algo que também viria a acontecer em Portugal). Os pasteleiros decidiram mudar-lhe o nome para Gâteau dês Sans-culottes, de modo a poderem continuar a produzir o doce.
Só na segunda metade do século XVIII é que o Bolo-Rei foi importado para Portugal, inspirada na receita produzida no sul de Loire. Reza a história que a primeira casa que vendeu a iguaria foi a Confeitaria Nacional, em Lisboa, pelas mãos do famoso confeiteiro Gregório. Mais tarde, várias pastelarias adotaram a receita e passaram a comercializá-la.
Curiosidades
Antigamente, no interior do bolo, podia ser visto também uma fava seca e um pequeno brinde, normalmente feito de metal. Quem encontrasse uma fava na fatia que comesse, teria o dever de pagar o próximo Bolo-Rei. Já quem encontrasse o brinde, seria brindado com “boa sorte” para o ano. Havia ainda quem colocasse nos bolos pequenas adivinhas, cuja recompensa seria meia libra de ouro, ou mesmo as próprias moedas de ouro, como forma de presentear a quem se oferecia o bolo.
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