30 de dezembro

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Um olhar atento para a História de Niterói ao seu redor

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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Saber identificar marcos da História da cidade é o objetivo do curso gratuito “Niterói Sob Vários Olhares”, que começa no próximo dia 28
Igreja de São Lourenço dos Índios
A Igreja de São Lourenço dos Índios é o mais significativo marco da fundação de Niterói. Fotos: reprodução

Olhar para a cidade e saber identificar marcos importantes da sua História. Esse é o objetivo do curso gratuito “Niterói Sob Vários Olhares”, que começa a ser ministrado no próximo dia 28, às 15h, com uma aula inaugural no Museu da Justiça, na Praça da República, no Centro.

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Este ano, o curso está na sua sétima edição. Inicialmente, foi pensado como uma capacitação voltada para professores da rede municipal de educação de Niterói – na grade curricular, aulas sobre a História do município são ministradas apenas no 4 ano do Ensino Fundamental. Atualmente, o curso é aberto a quem se interessar pela História e Geografia da cidade.

– Há muita expectativa por parte das pessoas que chegam para fazer o curso, a cada ano. Porque há uma grande lacuna para se pesquisar sobre a cidade. De uma maneira geral, as pessoas não sabem nem procurar pela História de Niterói. E, cada vez mais, o curso tem sido procurado por guias turísticos que vislumbram montagem de roteiros pela cidade, após a realização do curso – afirmou Cristina Pontes, historiadora, professora aposentada da rede municipal de Niterói e coordenadora do curso, que vai até novembro.

Niterói em tempos passados, com a Pedra de Itapuca em primeiro plano, na visão do pintor Antonio Parreiras (1860-1937). Foto: reprodução

As aulas se dividem em teóricas e práticas. Sendo que, por prática, entenda-se caminhar pela cidade, tendo o olhar devidamente dirigido pela História.

Nesta edição, os alunos vão conhecer, por exemplo, o Museu da Imigração, que funciona na Ilha das Flores, uma área de Marinha que fica em São Gonçalo – um território que, um dia, já foi Niterói. O museu não só preserva a memória da imigração no Brasil, como, particularmente, da Hospedaria de Imigrantes, que funcionou entre 1883 e 1966, sendo a primeira hospedaria de imigrantes criada pelo governo brasileiro, ainda na época imperial, e que chegou a receber a visita de Dom Pedro II.

É bom que se avise aos interessados pelo curso que “dolorosas” verdades são expostas. A começar pelo mito de Arariboia, que “respinga”, inclusive, na data de fundação da cidade: 25 de outubro ou 22 de novembro?

Foi em outubro que Arariboia, ou melhor, Martim Afonso de Souza (nome cristão que o cacique recebeu ao ser batizado pelos jesuítas), tomou posse das terras que lhe foram dadas pelos portugueses. Em novembro, teria iniciado a criação da aldeia de São Lourenço dos Índios.

O próprio Arabiboia, segundo a professora, era uma pessoa muito mais preocupada em defender seus interesses do que em, de fato, criar uma cidade – até porque, índios não vivem em cidades.

Como o historiador da Universidade Federal Fluminense Paulo Knauss já explicou para o A Seguir Niterói, a origem indígena da cidade é um mito republicano criado para suplantar o fato de que Niterói se constituiu a partir de memória da Monarquia; que nasceu, na verdade, como cidade imperial.

Outubro ou novembro, o fato é que o aniversário de Niterói não é mais feriado, na cidade.

– O aniversário da cidade não ser devidamente comemorado em novembro me chateia um pouco. É preciso conhecer a História porque só amamos o que conhecemos – afirmou a professora que vai ainda mais longe, no passado – o Museu de Arqueologia de Itaipu tem registros de vida na região que datam de 8 mil anos. Seria essa a real origem de Niterói?

Polêmicas em torno da fundação da cidade estarão presentes logo no primeiro dia do curso. A aula inaugural será com uma palestra que terá como tema “Síntese da História de Niterói com a polêmica sobre a fundação: Arariboia X José Clemente. Como Arariboia já foi “apresentado”, é a vez do português José Clemente Pereira.

Nas Bandas do Além do Rio de Janeiro colonial, em 1818, por decreto, ele foi nomeado Juiz de Fora da Vila de Maricá, mas não tomou posse. Quando a Vila Real da Praia Grande começou a ser criada, anexando a Vila de Maricá, ele finalmente assumiu. José Clemente acumulou o cargo de presidente da Câmara. Como tudo estava para ser feito na Vila Real da Praia Grande, ele arregaçou as mangas e começou várias obras – período muitas vezes descrito como “surto de progresso”. E uma cidade começou, de fato, a surgir. Hoje José Clemente batiza uma rua no Centro bem perto da Praça onde reina a estátua de Arariboia.

A aula inaugural terá como palestrante, além de Cristina, o também historiador Antônio Seixas.

Símbolos

O brasão da cidade tem símbolos indígenas, da monarquia, do comércio e reproduz a Pedra de Itapuca.

Seja como for, a cada edição do curso, a primeira aula é sempre a mesma: com o detalhamento dos símbolos da cidade: a bandeira, o brasão com suas três datas-chaves e os dois hinos de Niterói.

No brasão da cidade constam as datas 1573, 1819 e 1835 que marcam, respectivamente, fundação de Niterói; criação da Vila Real da Praia Grande e elevação da vila à categoria de cidade.

Sobre os hinos, nas comemorações é costume executar-se o “Hymno do Centenario da Creação da Villa Real da Praia Grande, hoje cidade de NICTHEROY” composto em 1919. A música é do Maestro Felício Toledo e os versos são do Dr. Senna Campos.

Almanir Grego e Nilo Neves compuseram “Vila Real da Praia Grande – Hino a Niterói”, gravado no LP de Almanir Grego, pelo selo Niterói Discos, em 1992.

Um passeio pela cidade que represente seus principais marcos de fundação, segundo a professora, começaria por Itaipu, seguiria pela Igreja de São Lourenço dos Índios, construída em pedra e cal, marco do aldeamento; de lá iria para a Igreja de São Domingos de Gusmão, no Gragoatá, como “representante” do Império; passando em seguida para a Praça da República – onde fica o centro cívico da cidade formado pelos prédios públicos da Biblioteca Pública Estadual, a Câmara Municipal de Niterói (antiga Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro), o Liceu Nilo Peçanha (antiga Escola Normal), a sede regional da Polícia Civil (antigo Palácio da Polícia) e o Fórum de Niterói do Tribunal de Justiça de Estado (antigo Palácio da Justiça). O encerramento dessa rota inicial, segundo a professora, seria na Praça da Renascença, onde atualmente tem um mergulhão.

Do roteiro do curso, mesmo, fazem parte, por exemplo,  uma visita ao Parque das Águas, no Centro, por onde começou o abastecimento de água da cidade; a Casa Oliveira Viana, no Fonseca, um dos bairros mais antigos de Niterói e o Forte do Pico, em Jurujuba, que fica a 230 m de altura.

Memorial

A professora Cristina Pontes entre Celedir Caetano (D), do CMHLF e Namir Lagos (IHGN).

O curso é uma iniciativa do Instituto Histórico e Geográfico de Niterói (IHGN) realizada em parceria com a Fundação Municipal de Educação, por intermédio do Centro de Memória da História e da Literatura Fluminense (CMHLF).

O Centro foi inaugurado em 2013. Fazia parte do Memorial Roberto Silveira, no Caminho Niemeyer. Abrigou a primeira biblioteca virtual da cidade, dedicada exclusivamente a autores fluminenses. Segundo a professora Cristina, o memorial encontra-se desativado.

Interessados em participar do curso devem enviar e-mail para: memorial@educacao.niteroi.rj.gov.br As vagas são limitadas.

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