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Restaurante de alta gastronomia é atração que “vale viagem” para o Engenho do Mato

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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O Amana, do chef niteroiense Leonardo Guida, venceu a inédita categoria “Vale a viagem, Niterói” do prêmio Comer & Beber da revista Veja Rio
Trilha defumada, brioche e n’duja
Trilha defumada, brioche e n’duja, o salame típico da Calábria, na Itália, um dos pratos do menu degustação do Amana. Fotos: Divulgação

No bairro do Engenho do Mato, casas de muro baixo em ruas estreitas de terra são comuns. O que não é comum é uma delas abrigar um restaurante de alta gastronomia, um dos raros do tipo, em Niterói. O Amana abriu as portas há pouco mais de dois anos, sem alarde, seguindo o ritmo silencioso do local. Do outro lado da Baía de Guanabara, porém, os festejos em torno do estabelecimento foram feitos em alto e bom som, na forma de uma recente premiação. O Amana foi o vencedor da inédita categoria “Vale a viagem, Niterói” do tradicional prêmio Comer & Beber da revista Veja Rio.

O Amana foi construído em uma parte da propriedade do falecido avô do chef Leo Guida, no Engenho do Mato.

– Foi uma surpresa total ganhar esse prêmio. Primeiro, que não existia a categoria, criada este ano. Depois, porque se trata de um pequeno restaurante no meio do mato. Foi uma surpresa e foi gratificante – comentou o chef Leonardo Guida, criador do Amana.

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De fato, trata-se de um pequeno restaurante. Afinal, recebe, no máximo, 12 pessoas por vez. Impreterivelmente sob reserva. Fora isso, nada mais se ajusta no adjetivo – seja o trabalho de pesquisa dos ingredientes desenvolvido por Leo ao menu degustação que elabora, formado por oito pratos.

Leo cozinha e serve os comensais com a ajuda de dois garçons. A construção que abriga o restaurante é simples, com seus traços retos. A propriedade em que se insere é “abraçada” por uma antiga horta, originalmente criada pelo senhor Reginaldo, avô de Leo, e ampliada pelo chef. De lá saem 40% dos ingredientes usados nas suas criações. O restante, de pequenos produtores locais, sendo a “vizinha” Serra da Tiririca uma inspiração.

A área da churrasqueira da propriedade, na frente de uma piscina, ainda mantida, foi transformada no restaurante.

E pensar que Leo, quando adolescente, nem sabia fazer macarrão instantâneo, como ele mesmo contou. Niteroiense, ex-estudante do Abel que sonhava em frequentar o Centro Educacional, ele chegou a cursar alguns períodos de uma faculdade de Jornalismo, sem muita convicção. Praticante de surfe e escalada, ele até pensou em se tornar fotógrafo esportivo.

Um amigo foi estudar gastronomia e, de repente, ele mesmo se viu usando roupas de chef, na mesma escola, no Rio:

– Quando me deparei com aquelas roupas, fiquei me perguntando o que eu estava fazendo ali. Até então, só gostava de coquetelaria. Mas a verdade, é que a comida afetiva estava dentro de mim. Sempre gostei de comer. Minhas avós e tias cozinhavam muito bem e as refeições em família eram comuns. Meu avô, na casa do Engenho do Mato, plantava café e criava galinhas. Muita coisa aprendi ali. E, no final, seguir esse caminho foi muito espontâneo – afirmou Leo.

Do curso, o então aprendiz de cozinheiro rumou para o aeroporto, depois de uma escala em trabalhos no Rio de Janeiro. Estudou e trabalhou em vários restaurantes, pelo mundo. Inclusive detentores de estrelas Michelin. Depois de 16 anos “trabalhando para os outros”, ele quis voltar para casa. Leo fazia parte do time do restaurante Boragó, considerado o melhor do Chile, que integra a lista dos 50 melhores do mundo, quando decidiu que abriria o próprio negócio.

– Eu não tenho investidor. Precisava criar um negócio sustentável, que gerasse lucro. Não poderia abrir um restaurante mais do mesmo. Fui  em busca da cozinha autoral. Fiz pós-graduação na Itália. Lá, e em vários países da Europa, é comum ver restaurantes em pequenos vilarejos onde a própria família cozinha. Essa foi a minha inspiração. E vir para Niterói foi uma forma de ter um investimento relativamente baixo. Se eu tivesse que pagar R$ 10 mil por mês de aluguel de um espaço seria inviável. Meu projeto, desde o início, era fazer um restaurante de alta gastronomia sustentável fora da rota tradicional dos centros urbanos  – explicou.

Leo recebeu sinal verde da família para erguer o Amana em uma parte da casa construída na década de 70 pelo avô, já falecido, que frequentou quando criança e adolescente. O restaurante surgiu na área onde ficava a churrasqueira, agora ponto focal do restaurante, de onde saem muitas preparações feitas na brasa. A mãe arquiteta ajudou na construção que teve Leo como um dos pedreiros.

Após um ano e dois meses de obras, em maio de 2021, ainda sob as franjas da pandemia do Coronavírus, ele abriu as portas. Por quase um ano, teve, no máximo, dois clientes por noite. Mas ele manteve o perfil da casa. Isso inclui o trabalho na horta, onde aplica o manejo consorciado; o preparo dos próprios destilados e fermentados não alcoólicos de frutas, os Pét-Nat; a charcutaria própria; maturação de queijos e as pesquisas com PANCs (plantas alimentícias não convencionais) principalmente de regiões de praias.  Ele elabora grande parte dos ingredientes que usa em seus pratos, alguns, com direito ao uso de trufas frescas.

Ostra e granita (um tipo de raspadinha italiana) de kimchi de acerola. Kimchi é a conserva base da alimentação dos coreanos.

No Amana, o menu degustação é formado por pratos que usam ingredientes como, por exemplo, ostras, vieiras, foi gras, wagyu (a nobre carne japonesa), ikura (ovas de salmão selvagem), trilha defumada, presunto cru e goji berry (um fruto obtido de planta chinesa).

Os pratos mudam somente em função dos ingredientes com os quais Leo se depara. Sai a R$ 265,00 por pessoa – com bebida alcoólica harmonizando, deve-se acrescentar R$ 115,00. A carta de vinhos é formada por produções naturais e orgânicos. Ele também serve coquetéis de sua autoria.

Camarão com beurre blanc de flor de sabugueiro, azeite de folhas de figo e espinafre da horta: opção à la carte

Aos domingos, o cardápio é à la carte (R$ 200,00), com 18 opções para compartilhar, como em um típico bar de tapas espanhol. É formado por pratos do menu degustação, mais algumas preparações. Os pratos se harmonizam entre eles.

Segundo Leo, 70% da sua clientela é formada por pessoas que “viajam” até o Engenho do Mato vindas do Rio de Janeiro.

– Ia ser mais gratificante se 100% dos clientes fossem niteroienses. Mas o pessoal de Niterói não está acostumado a fazer reserva. As pessoas querem vir em cima da hora. Recebo muitos estrangeiros que trabalham em restaurantes, em diferentes partes do mundo, porque alguém recomendou  – conta.

Como na época em que era adolescente, Leo mora em Icaraí e vai para o restaurante de bicicleta (quando não está chovendo). Toda a família mora no bairro, mas, atualmente, as refeições com todos juntos não são mais tão constantes. Agora, como Leo já sabe cozinhar, a mãe costuma pedir para ele fazer paella. Massas também costumam frequentar a mesa da família.

O chef Leonardo Guida.

 

Aos 38 anos, casado e “pai” de três gatos, Leo disse que, no momento, não tem muito tempo para frequentar restaurantes em Niterói. Porém, derreteu-se em elogios pelo Boteco da Banca, no Jardim Icaraí.

– Comi uma moela com batata que me emocionou. Deveria ter mais lugares assim em Niterói, com comida saborosa e preço justo – disse ele que também é frequentador do Quiosque do Gustavo, em Itacoatiara onde, na sua opinião, serve uma “caipirinha maravilhosa”.

Isso porque seu restaurante favorito, no mundo, é o  Asador Extebarri, que fica na cidade basca de San Sebastian . Já o melhor chef, para ele, é o italiano Christian Puglisi, dono de restaurantes na Dinamarca, que tem a própria fazenda que abastece suas casas.

Será que Leo sonha em conseguir uma estrela Michelin?

– Isso é impossível. O restaurante fica em uma rua que a Prefeitura não asfaltou e constantemente temos problemas de alagamento. Já trabalhei em restaurante com estrela Michelin e o sarrafo é muito alto. Eu só quero fazer comida boa, despretensiosa e ser feliz. Se um dia vier a ganhar uma estrela, não vou reclamar, mas sei que não é possível. Eu trabalho com o pé no chão. Meu próximo passo é cozinhar e atender hoje melhor do que ontem.

 

O Amana, que significa  “água da chuva”, em tupi-guarani, fica na Av. do Canal, 145, no Engenho do Mato.

Funcionamento: sexta e sábado, das 20h à 00h30; domingo, das 14h às 18h

Atendimento apenas sob reserva: 21.965124667

 

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