5 de dezembro

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Pau-Brasil, Ingá-de-macaco, Jequitibá: censo arbóreo transforma parques de Niterói em museu a céu aberto

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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Neste dia da árvore, 21 de setembro, um roteiro pelas espécies encontradas pelo Campo de São Bento e os hortos do Fonseca e Barreto
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Os três parques registram 2.307 espécies arbóreas. Fotos: Prefeitura de Niterói

Resedá, Ingá-de-macaco, Grumixama e Carrapeta são nomes que podem soar estranhos, mas são espécies de árvores presentes nos principais parques urbanos de Niterói. O Campo de São Bento e os hortos do Fonseca e Barreto foram alvo de um censo florístico realizado pela Prefeitura. Nos três, o famoso Pau-Brasil, ameaçado de extinção, está presente.

O trabalho, feito sob coordenação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade (SMARHS), teve como objetivo mapear as espécies arbóreas da cidade. Esse inventário vai dar suporte à Secretaria de Conservação e Serviços Públicos (Seconser), responsável pela manutenção dos parques, para realizar o manejo adequado das árvores existentes, bem como propiciar informações técnicas para projetos de Educação Ambiental.

O próximo passo é identificar todas as árvores, que serão marcadas com lacres numerados tipo “espinha de peixe” e terão seu registro fotográfico. Quando essa parte do trabalho estiver concluída, os parques se tornarão uma espécie de museu a céu a aberto, quando será possível conhecer todos os detalhes a respeito de cada “indivíduo” que embeleza o local.

Juntos, os três parques registram 2.307 espécies arbóreas.

Campo de São Bento

Uma das primeiras árvores já identificadas no Campo de São Bento.

Em uma área de 36 mil metros quadrados, foram identificados 829 elementos arbóreos, com 130 espécies e 148 mudas florestais. As espécies mais frequentes por lá são Resedá, Pau-Brasil, Grumixama, Ipê amarelo e branco.

O estudo detectou, no Campo de São Bento, três espécies que constam na Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção: Pau-Brasil, com 21 elementos arbóreos e 19 mudas, Cedro, com 4 elementos arbóreos e Cedro Odorata com 1 elemento arbóreo.

No momento, uma das árvores já identificadas no São Bento é o Pau-ferro, espécie muito visada para o paisagismo por suas características ornamentais e de sombreamento. Apesar do porte, não possui raízes agressivas, o que é um fator importante de eleição para arborização urbana. Deve-se evitar, no entanto, o plantio em calçadas, sob fiação elétrica, e em locais de transito intenso de pessoas e carros, pois os ramos tendem a quebrar e cair em tempestades, oferecendo perigo. Como o próprio nome já diz, o Pau-ferro possui madeira dura, densa, durável e resistente, de excelente qualidade para a fabricação de violões e violinos, e para construção civil, na construção de vigas, esteios, caibros, etc. Seu crescimento é rápido, principalmente nos primeiros anos. Em recuperação de áreas degradadas, o pau-ferro também é uma excelente escolha, por crescer bem em áreas abertas.

Horto do Fonseca

O horto do Fonseca é o primeiro de Niterói.

Em uma área de 80 mil metros quadrados, foram inventariados 949 elementos arbóreos divididos em 130 espécies. As mais frequentes do local são Jaqueira, Areca Bambu, Carrapeta, Ingá de macaco e Palmeira imperial.

No horto do Fonseca foram encontradas quatro espécies que constam da Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção: Pau-Brasil, com 35 elementos arbóreos, Jequitibá rosa com 2 elementos arbóreos, Cedro com 5 elementos arbóreos e Cedro Odorata com 3 elementos arbóreos.

O Jequitibá rosa é considerado a maior árvore nativa do Brasil. Pode atingir até 50 metros de altura e diâmetro de tronco podendo ser superior a dez metros.

Horto do Barreto

O bucólico jardim japonês é atração do local.

Menor dos três parques, o horto do Barreto tem uma área de 20 mil metros quadrados, onde foram mapeados 529 elementos arbóreos divididos em 85 espécies. As mais frequentes no parque são: Mangueira, Pau Formiga, Palmeira rabo de peixe, Murta, com destaque para o Ingá-de-macaco.

O gênero botânico Inga é rico em espécies (por volta de 300) que se distribuem do México até a Argentina, estando presente no Brasil 134 espécies nativas. Dentre elas a espécie Inga sessilis que é endêmica do Brasil e chamada popularmente de Ingá, Ingá-macaco, Ingá-peludo, Ingá-ferradura, Ingá-carneiro, além de outros nomes que variam entre as regiões.

O ingazeiro é uma planta de grande importância ecológica por fornecer alimento para os animais silvestres, como néctar, pólen, polpa e sementes dos frutos, além de enriquecer o solo com nitrogênio. Por esses benefícios, é uma excelente planta para recuperação de áreas degradadas.

Essa é uma espécie que ocorre nos biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica, em solos úmidos no interior e bordas de florestas, matas ciliares e várzeas. Pode se apresentar como arvoreta ou árvore de até 20 metros de altura, com tronco reto ou tortuoso, de casca áspera com pequenas lenticelas e cor pardo-acinzentada. A copa é ampla, com densa folhagem e galhos irregulares.

As flores surgem de racemos axilares, possuem longos estames, cálice campanulado, corola campanulada, com 5 pétalas de cor branca aveludada na parte externa e abrem-se no fim da tarde. Os frutos do Ingá-macaco ou Ingá-peludo chamam atenção pela beleza, são grandes, até 20 centímetros de comprimento por 4 centímetros de largura, com forma curvada, são lenhosos e com pelos que assemelham-se a um veludo, de cor ferrugínea com fundo verde nas faces, passando a totalmente ferrugíneo com a maturação.  

No horto do Barreto, o estudo levantou duas espécies que constam da Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção: Pau-Brasil, com 5 elementos arbóreos, e Cedro com apenas 1 elemento arbóreo.

Um dos atrativos do local é o jardim japonês, inaugurado em 2018, que ocupa uma área de 5 mil metros quadrados.

– As pessoas só amam o que conhecem. Então, o cidadão precisa conhecer o patrimônio arbóreo que nós temos dentro desses parques. A identificação dessas árvores por meio das placas que estão sendo colocadas é outro ponto importante. Muita gente não tem ideia do que é, por exemplo, uma Castanheira, um Mogno, um Vinhático ou o Pau-Brasil. Muitas pessoas passam por esses parques e não se dão conta de que há a necessidade de preservar essas espécies. Conhecendo, nós podemos, por exemplo, fazer o enriquecimento dessas áreas com outras espécies nobres. Essa é uma prática presente nas cidades mais importantes do mundo – comentou o biólogo Alexandre Moraes, da Seconser.

De acordo com a SMARHS, com o levantamento foi possível identificar as espécies que estão presentes na cidade, além de várias outras características das árvores, tais como o DAP (que é uma medida do diâmetro da árvore a 1,30 metros de altura em relação ao nível do solo igual ou maior que 5 centímetros), além de obter informações dendrométricas (altura, DAP e volume), a taxonomia de cada elemento arbóreo, bem como o seu respectivo estado fitossanitário, em planilhas numeradas.

A Prefeitura informou que o inventário foi elaborado por uma empresa especializada, contratada por meio de medida compensatória ambiental pela SMARHS. Na opinião do secretário Rafael Robertson, o diagnóstico é importante “pela riqueza de detalhes que ele apresenta e porque será fundamental para o controle e manejo dessa vegetação e para o planejamento de ações nos parques”.

Grumixama

Cerveja com grumixama , da cervejaria Matisse, de Niterói. Foto: Divulgação

Não é somente no Campo de São Bento que é possível encontrar essa espécie. Em um dos rótulos da cervejaria Matisse também. A marca de Niterói, que tem tap room na Vila Cervejeira, no Centro da cidade, usa a fruta dessa árvore nativa da Mata Atlântica na receita da sua Blonde Ale Espectros.

– A grumixama é uma fruta delicada, combina com um estilo delicado como uma Blonde Ale, mas acrescenta um sabor que deixa a cerveja diferenciada – explica Mário Jorge, sócio da marca.

Segundo ele, o sabor da grumixama lembra o da jabuticaba, sendo, porém, mais suave.

Mário tem até um pé dessa árvore na sua casa, em Camboinhas. Porém, não é de lá que vem a fruta para a sua cerveja. Para o seu rótulo, ele usa 100 quilos de polpa para cada mil litros de cerveja produzidos. Como a safra da grumixama é em outubro, ele só consegue fazer a Espectros uma vez por ano, em janeiro.

Ele explica que a fruta é muito perecível por conta da sua pele fina, o que a torna um produto não muito comercial e, portanto, pouco conhecida.

– A Grumixama é uma árvore difícil de se reproduzir. Como não é muito conhecida, é pouco preservada. Isso faz com que corra risco de extinção. Fazer a cerveja com sua fruta foi uma forma de chamar a atenção para essa nossa árvore nativa da Mata Atlântica e, de certa forma, ajudar a preservá-la – comenta.

Leia mais: Prefeitura de Niterói lança edital de R$600 mil para a Cultura no Casarão do Fonseca

Selo

No último mês de abril, Niterói recebeu o selo de “Cidade Árvore do Mundo”, concedido pelo programa Tree Cities of The World, administrado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e pela Arbor Day Foundation.

 

Os municípios com esse selo são conectados em uma rede dedicada a compartilhar e adotar as abordagens mais bem-sucedidas para gerenciar árvores e florestas comunitárias. No total, 138 municípios de 21 países foram reconhecidos.  Assim como Niterói, 34 cidades aderiram à rede pela primeira vez.

 

Além de Niterói, cidades como Campo Grande (Mato Grosso), Cambridge (Canadá), Barranquilla (Colômbia) e Birmingham (Reino Unido) também são reconhecidas com o selo, que é concedido anualmente.

 

O Campo de São Bento tem 829 elementos arbóreos.

 

 

 

 

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