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Curtos, panes, queda de energia: os perigos do emaranhado de fios nos postes de Niterói

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

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O A Seguir convidou o engenheiro elétrico e professor da UFF, Marcio Guimarães, para percorrer a cidade e avaliar a situação da redes de energia e telefonia
Fios, Centro
Além da confusão dos fios, roubo de cabos no estado do Rio é o maior do país e representa ameaça para a população. Foto: Livia Figueiredo

O emaranhado de fios nos postes tem chamado a atenção da população de Niterói. Em alguns pontos, os postes parecem vergar com a quantidade de fios de energia e telecomunicações que trafega sobre a cabeça dos moradores – e as vezes tombam pelas calçadas. Não importa o bairro, uma coisa é certa: o aglomerado de fios, muitas vezes já sem função alguma, virou parte da paisagem. Ou melhor, da poluição da paisagem. E pior que isto, representa um risco para a cidade.

O A Seguir percorreu algumas ruas do Centro da cidade, Icaraí e Charitas com o especialista e professor de Engenharia Elétrica da UFF Márcio Guimarães para explicar os erros de instalação e os riscos à população. Ao longo da conversa, ele também aponta o que tem funcionado e fala de quais são os modelos que estão dentro das diretrizes.

Leia mais: Que se faça a luz! Entenda como a Enel monitora a energia elétrica em Niterói

Esses postes são da empresa de energia, hoje a concessionária Enel, que cobra de outros permissionários de serviços pelo uso dos postes, como é o caso das redes de telefonia. A tarefa de fiscalizar cabe ao Poder Público. No caso, à Prefeitura de Niterói – ainda que existam, em algumas situações, competências do Estado e até do Governo Federal.

 

Fios de energia elétrica são os três superiores. Foto: Livia Figueiredo

Marcio explica que os fios elétricos são os três superiores, mais espessos, que passam em cima dos demais. Eles são de média tensão. Possuem 13.800 volts e são os mais perigosos, porque são desencapados. Devido a furtos recorrentes, os outros cabos, que passariam por esses de nível superior, tiveram que ser remanejados e foram transferidos para a ponta da cruzeta (a haste de madeira do poste). Segundo pesquisa da FGV, o índice de furtos do Estado do Rio é o maior do Brasil. De acordo com o professor, a média do mundo é 7%; do Brasil, 13% e do Rio está por volta dos 30%.

– O emaranhado de fios é da telefonia, que paga um aluguel a Enel para utilizar a rede elétrica. Esses fios têm baixa tensão ( 220/110 volts) e vão para a tomada da casa. Eles são encapados, ou seja, possuem a cobertura isolante. Já em relação ao cabo de 13.800 volts, já há o risco de choque, com 30 cm de distância. Mas há, em alguns casos, rede elétrica que passa numa altura mais próxima do emaranhado de fios. Esses sim são muito perigosos, porque são desencapados.

E reforça: – É necessário muito cuidado porque eles podem causar transtorno. Especialmente nos casos em que as pessoas fazem construções muito próximas dos três fios superiores. O que acontece é que a Enel tirou as roldanas e a telefonia aproveitou para os cabos dela – explica o especialista.

Em São Gonçalo, por exemplo, é muito comum que os fios passem no interior das varandas das casas. Isso é de extremo risco. Porém não é necessário ir muito longe, na Avenida Amaral Peixoto, uma das principais do Centro, há vários fios que atravessam os prédios, conforme ilustração abaixo. Tratam-se de instalações irregulares e fora do padrão. Nesse caso, é arriscado porque há possibilidade de o cabo entrar em contato com a porta metálica e, assim, provocar um choque elétrico.

Os fios “entrando” nos prédios da Avenida Amaral Peixoto. Foto: Livia Figueiredo

A instalação correta seria passando pela parede ou de forma subterrânea. “Há um padrão exigido pelas próprias concessionárias e eles devem ser respeitados. É simples: saindo da mufla, o fio passa por um eletroduto, que possui dois metros de altura e percorre por debaixo do solo até chegar ao apartamento ou pelas vias aéreas, adentrando na instalação do cliente, sempre com a distância de pelo menos 30 cm, para evitar maiores riscos.

Cabos de energia em instalação irregular na Avenida Amaral Peixoto, no Centro de Niterói. Foto: Livia Figueiredo

Há também casos em que há desgaste da proteção com o tempo, como quando o condutor fica constantemente encostando em algum outro material. Por isso, a atenção deve ser redobrada. “A manutenção de postes que possuem emaranhado de fios é extremamente complexa. O técnico mexer num cabo e estar objetivando mexer em outro é fatal. É muito difícil fazer manutenção com esse ambiente da baderna”, ressalta.

O emaranhado de fios de poste em Charitas. Foto: Luiz Claudio Latgé

Cabos subterrâneos: solução?

Os cabos subterrâneos já foram tão discutidos em Niterói como possibilidade de amenizar os riscos à população e, ao mesmo tempo, reduzir a poluição visual, que chegaram a ser contemplados em um projeto que seria implementado em outra importante rua de comércio da cidade: a Rua Ator Paulo Gustavo, antiga Moreira César, em Icaraí. O projeto não chegou a ser levado para frente, mas não deixou de ser uma alternativa a ser considerada.

O que acontece é que os cabos subterrâneos elevam o custo de manutenção, diferente dos aéreos, como vimos atualmente. De modo geral, a rede aérea de Niterói é de 5 a 10 vezes mais barata que a rede subterrânea. Embora, os cabos subterrâneos representem baixo risco, de forma geral, quando há um acidente, ele costuma ser grave:

– Como o cabo subterrâneo fica confinado, quando acontece um curto, há uma explosão de bueiros, que pode causar danos físicos, mas não é comum. Mas é mais caro. Como ele não está no campo da visão, é mais trabalhoso identificar o problema. Costumam ser vários testes. Em média, os cabos subterrâneos são três vezes mais caros que os aéreos – completa.

Como deve ser feito

Segundo Marcio, o modo correto e totalmente seguro ocorre quando os cabos de média tensão chegam por cima dos postes e vão direto para os prédios, com 13.800 volts. Ele desce encapado/isolado, subterrâneo para o interior do prédio. Um exemplo de cabos instalados de forma correta é na Rua Tavares de Macedo, esquina com Álvares de Azevedo, em Icaraí.

Nela, é possível observar o cabo de baixa tensão desencapado passando na altura e distância adequada. O ramal de entrada do cliente sai em cabo encapado, de forma segura. O resto é de responsabilidade da rede de telefonia.

Os cabos de energia elétrica instalados da maneira adequada na Rua Tavares de Macedo, em Icaraí. Foto: Livia Figueiredo
Novamente os cabos elétrico ao alto e a telefonia passando em baixo e obedecendo o padrão. Foto Livia Figueiredo

O que deve ser cobrado da Enel

Como a responsabilidade dos postes, em Niterói, é da concessionária Enel, deve ser cobrada uma organização. A medida correta, na verdade, é que a rede de telefonia tenha uma responsabilidade compartilhada na disposição dos cabos, ou seja, na arrumação visual deles.

A Enel não tem gerência no padrão da rede de telefonia, mas ela pode limitar para que visualmente não fique ruim e para que os cabos fiquem numa distância segura entre a rede elétrica e a de telefonia.

Medidor de energia

A caixa do medidor, que verifica o consumo de energia do cliente, também pode ser instalado de forma irregular, como a ilustração abaixo. Nela, é possível observar o envergamento dos postes devido a uma sobreposição de fios que não foram dimensionados para eles. Isso porque os postes não foram preparados para suportar uma quantidade enorme de cabos, como ocorre com frequência.

O medidor de energia instalado de maneira incorreta pode envergar o poste. Foto: leitor

Marcio Guimarães tem graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal Fluminense (1998), Mestrado em Computação pela Universidade Federal Fluminense (2011) e Doutorado em Computação pela Universidade Federal Fluminense (2015). Atualmente Leciona as Disciplinas de Linguagens de Programação para Engenharia Elétrica, Instalações Elétricas de Baixa Tensão e Analise de Defeitos em Sistemas de Potência, na Universidade Federal Fluminense

 

 

 

 

 

 

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