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Os desejos dos moradores de Niterói para o ano que se inicia

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

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Investimento na saúde, segurança pública, planejamento da mobilidade urbana e menor desigualdade social são alguns dos pedidos
Foto do Gustavo Stephan
Melhorar a mobilidade urbana é um dos principais pedidos dos moradores. Foto: Gustavo Stephan

A lista de resoluções costuma ser uma forma prática de colocar as metas em perspectiva e trazer para o plano real. A chegada de um novo ano traz a possibilidade de revisitar o que não deu tão certo e pensar em novos caminhos e ações que podem levar a um lugar melhor. Traçar objetivos e estruturar metas para alcançá-los não é fácil como se vê em filmes e livros. É necessário, antes de tudo, investir no autoconhecimento e numa maior consciência do ambiente em que está inserido. Listar as prioridades do ano e as medidas emergenciais pode ser um ótimo exercício de autoreflexão e, sobretudo, um ato coletivo quando alcança o maior número de pessoas e não se restringe apenas às vontades individuais.

A Seguir: Niterói conversou com alguns moradores da cidade para que listassem os principais desafios de Niterói em 2023.

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A começar por algo que afeta cotidianamente a vida do morador que se desloca para viver: o trânsito na cidade. Essa foi uma das críticas mais recorrentes e citadas por quase todos os entrevistados.

Os moradores reclamam do grande adensamento da cidade, que ganhou ainda mais vigor com o crescimento e a retomada do mercado imobiliário. A piora do trânsito, segundo os moradores, influencia não só no deslocamento para o trabalho, como também para atividades do lazer. Isso porque os longos engarrafamentos em diversas ruas da cidade não são exclusividade dos dias úteis.

Ao falar da mobilidade urbana, o niteroiense observa que a construção de novas ciclovias tem pouco contribuído para a redução do congestionamento e falam que a ciclovia pode ser vista como uma alternativa e não como uma solução, já que não é possível chegar a alguns pontos da cidade de bicicleta. Um caminho que eles citam é um melhor planejamento urbano.

Uma queixa muito comum dos moradores é a redução das linhas de ônibus, principalmente dos municipais. Quem depende de transporte público diariamente fala da paciência que é exigida para a longa espera de determinadas linhas de ônibus.

– Costumo pegar sempre o 53 para as barcas. Moro em Santa Rosa e trabalho no Centro do Rio, então ir de barca é a forma mais prática e rápida. A ponte anda infernal, com obras e muito trânsito, principalmente nos horários de pico. Tenho reparado uma demora no 53 mais do que estou acostumado. Às vezes opto pelo uber, para não perder a barca. Porque tem isso, qualquer minuto faz diferença – relata o advogado de 25 anos, Matheus Pereira.

Se for o caso de utilizar outro transporte público depois, tanto pior, pois o atraso é cumulativo. Por falar em transporte público, as barcas também é um tópico que tem gerado insatisfação. Moradores que costumam ter a barca como principal meio de transporte relatam que a travessia é, muitas das vezes, em pé devido à superlotação. As pessoas acreditam que possa ter relação com os intervalos das saídas das embarcações. Outros citam a falta de investimento.

Lucia trabalha na área de Administração há 15 anos no Centro do Rio. Um pouco antes da pandemia costumava pegar ônibus, pela facilidade, para evitar baldeação e pela proximidade do ponto com a rua do seu trabalho.  Porém, com o trânsito da ponte, se viu obrigada a mudar sua rotina. A alternativa foi fazer o esquema: ônibus + barcas + uma caminhada de 20 minutos a pé do seu trabalho.

– O problema não é apenas o trânsito da ponte, mas de Niterói também. Como vou de manhã cedo, costumo pegar trânsito de escola diariamente. Um trajeto que poderia ser feito em 20 minutos, acaba se alongando. Em dias chuvosos, então, fica o caos. Ainda assim, mesmo com todo o trânsito em Icaraí e no Ingá, a melhor alternativa é ir de barca. Niterói precisa retomar com a frota normal de ônibus. É um absurdo isso ser aceito. E sei que, o meu caso, não é o pior de todos. Tem linhas que foram extintas! – observa.

Outra questão apontada foi o aumento da violência na cidade. O Instituto de Segurança Pública (ISP) revela que o crescimento de crimes, como o roubo de rua e de veículos, cresceu por mais um mês consecutivo. Os dados mostram que o roubo de rua aumentou em 24,5%, comparando-se outubro de 2021 com outubro de 2022. No caso dos roubos de veículos, o aumento percentual foi bem maior.

Uma comparação com o mesmo período aponta que os registros saltaram de 20 para 51 casos, um crescimento de 155%. O aumento da violência, especialmente nessa época do ano, quando são comuns roubos em diversos pontos da cidade, tem contribuído para uma maior insegurança dos moradores e de situações de riscos. 

A maior presença de moradores de rua foi outro ponto muito abordado pelos niteroienses. Embora existam algumas ações sociais por parte da Prefeitura, fica nítido que as medidas não contemplam nem a maioria das pessoas em situação de vulnerabilidade social. Os moradores avaliam que não se trata de uma prioridade do governo municipal.

Ao A Seguir, as pessoas relatam o completo desamparo com essas pessoas que não foram ou não podem ser acolhidas por falta de moradia destinadas a elas. O reflexo está no cotidiano: as esquinas que já possuíam moradores de rua estão ainda mais cheias e algumas que costumavam ser desertas, já não estão mais. Embora cientes de que essa não seja a solução, alguns moradores optam por comprar quentinhas, pequenos lanches, sanduíches ou levar algo de casa para destinar aos que mais necessitam. Mas quando o assunto é dar dinheiro, ele deve ser pensado com cautela.

A professora de inglês que dá aula para crianças, Laís Mendes, fala que no caminho do seu trabalho, tem um ponto fixo onde moradores de rua costumam ficar. De uns meses para cá, o local tem ficado ainda mais cheio. A Presidente Backer com Paulo Gustavo já é conhecida como um ponto frequente de moradores de rua. Eles ficam ali enfileirados. E mais de uma família, muitas das vezes. 

– Fica um estigma muito chato porque as pessoas não costumam fazer nada. Já banalizou. Eu procuro sempre que posso comprar uma quentinha ou um sanduíche. Já vi criança esperneando de fome. É muito doloroso. Faço a minha parte e sei de pessoas que fazem também. Vejo muita campanha solidária em Niterói. Mas esse fim de ano, estou achando diferente – conta.

O crescimento da disparidade social tem sido escancarado em esquinas de diversos cantos da cidade. Alguns moradores citam que têm observado um aumento de ações sociais de doação de alimentos e itens de higiene pessoal, mas reforçam que tratam-se de situações pontuais e não chegam perto do suficiente.

Esperar, provavelmente, foi o que o niteroiense mais fez esse ano. As longas filas nos postos de saúde para testagem da Covid ou até mesmo para a marcação de exame são um retrato disso. As policlínicas da cidade apresentaram, em alguns momentos do ano, falta de medicamentos básicos.

Clínicas psiquiatras se viram desabastecidas de medicamentos destinados às pessoas que dependem de remédios que ajudam a equilibrar a saúde mental. Medicamentos para pessoas com comorbidade também estiveram em falta, por aqui. Também foi observado um esvaziamento de profissionais de saúde dos postos, o que provocou, naturalmente, o aumento de filas devido à grande demanda e pouca oferta de profissionais para supri-la.

– A Prefeitura de Niterói está deixando muito a desejar. Fazendo miséria com os doentes dos CAPS. Conheço uma pessoa que ficou três meses sem remédios. Acompanhei o sofrimento de muitos pacientes. Muito triste… A saúde pública está abandonada. Os CAPS nem refeições estão distribuindo para os pobres que precisam passar o dia por lá. Soube que os doentes estão dividindo os lanches. Eu coloco a boca no mundo! Pacientes psiquiátricos não votam, talvez por isso o descaso. Tento não me envolver, mas não consigo – ressalta a aposentada, Maíse Morse.

A saúde, que deveria ser prioridade mor de qualquer governo, tem se revelado como um segmento que recebeu pouco investimento e isso reverbera nitidamente na qualidade de vida do morador.

Outro ponto muito citado foram as ruas que costumam encher em dias de pancadas de chuvas volumosas. Alguns moradores relataram que, em mais um ano, não conseguiram sair de casa devido ao estado das ruas. Ou tiveram que esperar por algumas horas para conseguirem sair. Eles comentam que são sempre as mesmas ruas que costumam ficar alagadas. Os vídeos já são tão batidos que viraram memes. Eles mostram partes dos carros que ficam submersos na água, sem contar nas enormes poças de lama. Os moradores atribuem esse estado das ruas ao entupimento de bueiros e à falta de manutenção das vias, que poderiam ser melhor asfaltadas. 

Uma questão que permeou os depoimentos e tem relação com todos os itens citados anteriormente é o investimento maciço em obras que não são prioridade e que, justamente por não serem, acabam contribuindo para a pouca (ou nenhuma) aplicação de recursos em locais que mereciam a atenção e um cuidado maior.

Investimento na saúde, melhor coordenação da segurança pública, planejamento da mobilidade urbana e redução da desigualdade social são os desejos e votos dos moradores de Niterói para 2023.

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