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O que esperar da ‘bancada de Niterói’ no Congresso Nacional em 2023

Por Gabriel Mansur
| aseguirniteroi@gmail.com

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Pastor Henrique Vieira renova os representantes da cidade que conta ainda com a psolista Taliria Petron e o bolsonarista Carlos Jordy
A cúpula menor, voltada para baixo, abriga o Plenário do Senado Federal. A cúpula maior, voltada para cima, abriga o Plenário da Câmara dos Deputados.
No Congresso Nacional, a cúpula maior, voltada para cima, abriga o Plenário da Câmara dos Deputados. Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Ano novo, vida nova. Em 2023, significa também governo novo, com a posse, já no primeiro dia do ano, de todos os governadores, além do novo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), eleitos em outubro passado. A cerimônia de posse para cargos legislativos – como os de senadores, deputado federal e estadual – acontece em 1º de fevereiro de 2023. A data cairá em uma quarta-feira.

Leia mais: Bancada de Niterói na Câmara será 25% maior em 2023; conheça eleitos

Em Brasília, Niterói seguirá com três representantes na Câmara dos Deputados, mas com uma mudança. Sai o pedetista Chico D’Angelo, após quatro mandatos consecutivos, e entra o pastor Henrique Vieira (PSOL), que promete fazer “oposição à bancada evangélica”.

Outros dois parlamentares foram reeleitos pelos niteroienses: Talíria Petrone (PSOL) – que está de licença médica e vai tomar posse de forma virtual devido ao estado avançado de sua segunda gravidez – e Carlos Jordy (PL), ex-vice líder do governo, que promete não facilitar a vida do novo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Ambos tomam posse para um segundo mandato.

Conheça a “bancada” de Niterói, na Câmara dos Deputados

Pastor Henrique Vieira

Ator, escritor e professor, Henrique recebeu 53.933 votos, sendo o 36º mais votado entre os eleitos do Rio de Janeiro. O novo deputado de Niterói é pastor da Igreja Batista do CaminhoPorém, se posiciona a favor de pautas mais progressistas, como a legalização do aborto e o estado laico.

Durante a eleição, afirmou que decidiu ressaltar sua experiência religiosa para mostrar que é possível ter fé em Deus “e, ao mesmo tempo, defender a diversidade e a democracia”. Também se opõe ao chamado fundamentalismo religioso, atualmente, alinhado à extrema-direita. Enfatizou “que não estará em Brasília para defender os interesses da Igreja, mas sim do povo”.

Pastor Henrique Vieira apoiou Lula nas eleições. Foto: Ricardo Stuckert

Eu não vou estar em Brasília para defender os interesses da Igreja, eu vou estar em Brasília para defender as causas e interesses do nosso povo. Achamos, enquanto equipe, que reafirmar que sou pastor, a serviço do bem comum, da justiça social, do estado laico, da democracia, combatendo o fundamentalismo, que isso seria importante e pedagógico, além de um sinal necessário para o nosso tempo – disse o parlamentar, de 35 anos, em entrevista à Band News.

Formado pelo Seminário Teológico Batista, Henrique prefere ser identificado como um cristão que ama o Evangelho e defende pautas ligadas ao povo negro, LGBTQIA+ e às mulheres. Em campanha, prometeu dialogar – até divergir – com o bolsonarismo, que segue com força no congresso, uma vez que o PL, partido do ex-presidente da República, conquistou a maioria das cadeiras na Câmara, apesar da derrota do seu líder nas eleições presidenciais.

Talíria Petrone

Candidata de esquerda mais votada no Rio (terceira no geral, com 198.548 votos), Talíria Petrone, de 37 anos, chegou a assumir a liderança do PSOL na Câmara, sendo uma das primeiras negras a ocupar o cargo máximo de um partido, naquela Casa Legislativa.

À frente da sigla, defendeu o impeachment do então presidente Jair Bolsonaro, o retorno do auxílio emergencial e o combate à pandemia do Coronavírus, com a ampliação da oferta de vacina para o conjunto da população. Para o próximo mandato, ela afirma que terá como foco as lutas antirracista, “contra o genocídio do povo negro e a violência na política”.

Uma questão em que ela atuou se posicionando contrária, com bastante afinco, em 2022, vai “passar de ano”, na sua agenda: o Estatuto do Nascituro. Trata-se do projeto de lei que tramita no congresso desde 2007 e foi “ressuscitado” pela senadora eleita Damares Alves (Republicanos).

Em editorial que escreveu para o jornal Folha de São Paulo, Talíria foi veemente na condenação do PL, que visa proibir o aborto no país até em casos de estupro, anencefalia e quando há riscos para mulher.

Grávida, Talíria foi incansável na campanha eleitoral. Foto: leitor

– Além de uma noção anticientífica e violadora do Estado laico, é grave ataque às meninas, mulheres e demais pessoas que gestam. […] É preciso uma grande mobilização para impedir a aprovação da matéria, que contraria avanços na América Latina, vide Argentina e Colômbia. É hora de fortalecer políticas para reduzir a violência contra mulheres e meninas, enfrentar a cultura do estupro com campanhas públicas e educação não sexista – escreveu.

Antes de chegar à Câmara, em 2018, a parlamentar foi vereadora em Niterói entre 2012 e 2018, quando abdicou do mandato municipal para concorrer ao legislativo federal. Talíria é formada em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e mestre em Serviço Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Também é professora da rede pública de ensino.

Carlos Jordy

Carlos Jordy tem 40 anos e foi eleito para a Câmara, pela primeira vez, na onda bolsonarista de 2018. Antes, era vereador de Niterói, sendo um dos mais ruidosos representantes da extrema-direita, na cidade. Logo que chegou em Brasília, foi vice-líder do governo Bolsonaro – entre fevereiro de 2019 e setembro de 2020.

Em seu primeiro ano como vereador, em 2017, enviou ofício à administração central da Universidade Federal Fluminense (UFF) questionando a permissão do uso dos banheiros femininos nos respectivos institutos por transexuais.

Em junho de 2019, já como deputado federal, após a Vaza Jato ser divulgada pelo The Intercept, ameaçou de “deportação” o jornalista norte-americano Glenn Greenwald. Jordy o acusou de cometer um crime contra a “segurança nacional”.

Carlos Jordy é aliado de Jair Bolsonaro na Câmara. Foto: Michel Jesus/Câmara dos Deputados

Em setembro do mesmo ano, ele iniciou uma campanha contra o apresentador e influenciador Felipe Neto. Em suas redes sociais, acusou o youtuber de estar vinculado ao massacre de Suzano – ocorrido em 13 de março de 2019 , quando dois ex-alunos mataram, a tiros, cinco estudantes e duas funcionárias da Escola Estadual Professor Raul Brasil, no município de Suzano (SP) – por ensinar seus seguidores a entrarem na deep web. Acabou condenado pela Justiça a apagar a declaração que vinculava o youtuber à chacina, além de indenizar o artista.

Recentemente, criou o projeto de lei que pretendia responsabilizar institutos de pesquisa “por erros grosseiros” nos resultados. Também votou contra a PEC da Transição, se posicionou contrário à medida que deixou o orçamento do Bolsa Família fora do chamado Teto de Gastos e demonstrou apoio aos extremistas que acampam em frente a quartéis militares pedindo a destituição do presidente eleito.

– A PEC do encantador de serpentes fura o teto de gastos e garante quase 300 bilhões para o PT em 2023, destruindo a economia para fazer farra com o dinheiro público. A esquerda não tem 308 votos. Será que haverá serpentes suficientes caindo no canto do ladrão? – postou, em 13 de dezembro passado, antes da PEC ser aprovada.

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