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“Niterói é a notícia” foi o tema do evento realizado pelo A Seguir: Niterói neste sábado (20), às 18h, na Livraria da Travessa Icaraí. Em comemoração ao aniversário da cidade e reafirmando a importância do jornalismo local, em meio à onda de fake news e desinformação, o debate reuniu jornalistas experientes, moradores da cidade, para discutir os desafios que Niterói vai enfrentar no pós-pandemia. Depois de mais de uma hora de debate, ficou claro que Niterói terá que buscar na união dos seus moradores a solução para a retomada da atividade econômica e o enfrentamento da crise social. Na plateia, estavam presentes moradores da cidade, leitores assíduos, colunistas parceiros e, sobretudo, pessoas interessadas nos desafios da cidade em um tempo de reconciliação com o passado.
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Além de homenagear a cidade, o encontro marcou também o lançamento da nova seção do A Seguir, a TV Nikity, que entra no ar no dia do aniversário da cidade, nesta segunda, 22 de novembro. O canal estreia com o bate-papo, na íntegra, realizado na Livraria da Travessa. A ideia, daqui para frente, é produzir reportagens e eventos ao vivo, que serão transmitidos pelo site, com conteúdos autorais, registrando o dia a dia de Niterói e fazendo recortes das diferentes perspectivas desta cidade que guarda muitas histórias escondidas.
Mediado pelo jornalista, editor e cronista Luiz André Alzer, o debate contou ainda com a colunista do Globo Niterói, Ana Cláudia Guimarães, a também jornalista Daniela Araújo, que coordena o projeto BemTV, e Luiz Cláudio Latgé, fundador e editor do A Seguir: Niterói.
Para o editor e cronista Luiz André Alzer, o jornalismo local é a bola da vez. Ele acredita que a tendência é que, cada vez mais, as pessoas se interessem por notícias que estão à sua volta. De acordo com Alzer, o pós-pandemia é o momento do jornalismo comunitário se fortalecer.
– Acho que o jornalismo entra para ser um serviço muito útil. O jornalismo local precisa, antes de tudo, ser útil. Acho que os grandes jornais e os grandes portais estão cada vez mais nacionais. Ter um veículo que fala sobre a cidade é ouro puro para as pessoas que consomem notícia e querem saber o que está acontecendo na sua redondeza. Claro, as redes sociais já fazem isso, mas a curadoria do jornalismo você não vai encontrar na maioria desses perfis – afirmou.
O editor do A Seguir: Niterói, Luiz Cláudio Latgé, falou da importância do jornalismo local, que teve que se reestruturar durante a pandemia como um serviço de informação confiável, checada, com um respaldo da universidade e o amparo da ciência.
– A cidade vive um recomeço e o novo normal já pressupõe que há algo diferente. A cidade vai ter que se reorganizar para ser agradável, acolhedora e inclusiva nesta nova etapa. Os mecanismos de organização vão permitir que a cidade ofereça novas oportunidades de emprego, de comércio, lazer e entretenimento, porque as pessoas vão circular mais aqui, conviver mais no espaço da cidade. Estamos nos encaminhando para uma tendência muito forte de as pessoas resolverem a vida dentro da cidade. Muitas empresas estão acreditando nesse movimento e vindo para Niterói – explicou.
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Niterói como polo
Essa aposta na cidade, que se consolida cada vez mais como um polo de reencontro, com a valorização da “cena” local, foi o que impulsionou a abertura da Livraria da Travessa em Niterói, em dezembro de 2020, a única da rede com um espaço totalmente dedicado a palestras, lançamentos de livro e debate. O evento deste sábado foi o terceiro presencial da Travessa de Icaraí desde a sua abertura e o primeiro sobre jornalismo.
Responsável pela área de comunicação e marketing da Travessa, Eva Kaufman reforçou a importância do espaço estar integrado a Niterói, discutindo a cidade e abrigando suas questões. Ainda que os eventos mais recorrentes da Travessa sejam, naturalmente, de lançamentos de livro, a livraria se propõe cada vez mais a apoiar as reflexões sobre a cidade.
– Niterói tem uma possibilidade de estar junto para discutir questões com mais eficiência. É uma cidade menor, as pessoas têm maior proximidade. Esse ambiente aqui é diferente, nenhuma outra Travessa comporta um espaço desta maneira. Niterói é inédito nisso. A proposta do terceiro andar é oferecer uma praça de encontro, de convívio social. Vamos ter em breve algumas mesas de bar na varanda do terceiro piso. A gente acredita que no verão vai ser um grande ponto de encontro.
Apaixonada pela cidade, a colunista do Globo Niterói, e também integrante da equipe da coluna de Ancelmo Gois, Ana Claudia Guimarães, afirmou a importância de debater o papel do jornalista, que foi uma instrumento ainda mais essencial para conscientização das pessoas e de combate às fake news.
– O jornalismo fez o papel do governo e clareou a mente das pessoas. Além disso, ele ganhou uma nova camada, com a ampliação do jornalismo local. As pessoas querem saber qual a livraria bacana da cidade, os problemas da sua rua e como enfrentá-los, querem que a sua praia seja mais limpa. Acho que o jornalismo é uma forma de conhecer essas curiosidades, saber que seu vizinho é um artista plástico que expõe num museu lá de fora, por exemplo. Niterói é cheia de projetos sustentáveis, sobre os quais pouco saberíamos, hoje, se não tivesse o jornalismo cumprindo esse papel.
Os desafios do jornalismo local
Ao longo do debate, que durou pouco mais de um hora, a coordenadora da BemTV, jornalista Daniela Araújo, falou do papel do repórter em meio à infodemia, termo criado pela OMS que ajuda a definir o fenômeno de grande fluxo de informações que se espalham pela internet, sobretudo, de um assunto específico e que se multiplicam de uma forma muito acelerada em um curto espaço de tempo. A jornalista afirma que a comunicação tem que estar a serviço do tempo dela, pois só conversando sobre o assunto que a gente o desdobra.
– Acho que este termo traz muito a reflexão de que não vivemos numa época de falta de informação e de acesso a conteúdo e, sim, de excessos. Esse evento é importante porque reúne diferentes olhares sobre a notícia, porque aqui não tem uma hegemonia de pensamentos, é uma diversidade. Niterói tem uma contradição muito forte porque apesar de ter um alto índice de IDH, a gente também tem uma concentração de renda muito alta. O papel da cidade é fazer o dever de casa, investir cada vez mais em políticas públicas de inclusão, para que a gente se torne cada vez mais um exemplo de sociedade mais justa – ressaltou.
Ao final do evento, o músico Jorge Jr, da Orquestra da Grota, brindou o público com uma apresentação especial, acompanhado de seu violino, tocando clássicos como “Carinhoso”, de Pixinguinha e Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky, arrancando lágrimas e aplausos ao fim da apresentação.
O cartunista do A Seguir, Helio Bueno, marcou presença no debate e falou sobre a importância de denunciar e alertar as pessoas para as necessidades do dia a dia da cidade, que ainda é um espaço de muita carência e desigualdade.
– Eu acho que o A Seguir é uma bela iniciativa neste sentido. Fico muito honrado em contribuir para esse espaço de alerta. Não é simplesmente fazer o humor pelo humor, mas ser um veículo de denúncia, de constatação – afirmou, ao fim do evento.
O engenheiro Fernando Mattos ficou sabendo do evento na véspera e fez questão de conferir. Com um bloco em mãos e uma caneta, tomou nota dos seus momentos preferidos do debate.
– Como morador de Niterói, eu já acompanho o jornalismo local. Descobri que teria esse evento pelo WhatsApp e gostei muito. Foram discussões muito importantes. Estou animado, acho que estamos reagindo e encontrando saídas, cada um com sua experiência. Foi de altíssimo nível. Espero que sejam realizados mais debates como esse no ano que vem.
O coordenador da Orquestra da Grota, Marcio Selles, reafirmou a importância da ampliação do jornalismo local, como ferramenta de inclusão.
– Niterói padece de um problema que é a proximidade com o Rio, que tem grandes canais de imprensa, então a cidade fica sempre enfraquecida com essa cobertura. Acontecem muitas coisas na cidade que simplesmente não temos acesso, então é super importante um jornal como A Seguir servir como um guia dos principais acontecimentos da cidade, como um canal de serviços. Essa proximidade com pessoas que não costumam ter voz é fundamental para desmitificar a favela, os mais vulneráveis e reduzir essas instâncias para construir algumas pontes de convergência – concluiu.
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