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A paisagem das praias oceânicas de Niterói começa a mudar diante do aquecimento global, do aumento das marés e da ocorrência de ressacas. No lugar da mata de restinga, surgem paredes de contenção de concreto.
No passado, apenas a praia de Piratininga era mais castigada, com reparos de emergência no calçadão, que se repetem periodicamente há mais de 20 anos.
Agora, o paredão já ocupa um bom trecho de Camboinhas, e até Itacoatiara teve obra de emergência perto do Costão. Uma obra de engenharia mais complexa, cara e resistente à nova realidade climática.
Mesmo nas águas abrigadas da baía de Guanabara foi preciso lançar concreto para conter os danos na Boa Viagem.
Para recuperar a orla de Camboinhas, que teve parte de um barranco de areia e as escadas de três quiosques derrubadas, após três ressacas seguidas, a Prefeitura optou por construir um muro de gabião.
Considerada como “obra emergencial”, a recuperação de um trecho de 270 metros do total de 1.500 metros de calçadão, teve um custo de R$ 10,6 milhões , segundo informou a Prefeitura.
Foi iniciada em 2022. Em abril de 2023, quando já estava concluída, um trecho do calçadão cedeu, entre dois dos muros.
Na opinião de especialistas, construir um muro de gabião para proteger a orla de Camboinhas contra erosões provocadas por ressacas se mostrará um tiro no pé.
Em setembro do ano passado, foi inaugurado um “calçadão reforçado” em Piratininga. Foto: Prefeitura de Niterói
A paisagem do Costão de Itacoatiara ganhou um novo elemento: um paredão de concreto. Trata-se de um muro de contenção cujo objetivo é resolver o deslizamento da restinga que estava acontecendo no local.
O muro foi erguido onde já existia uma das duas saídas de drenagem de água pluvial, no calçadão do bairro.
A outra fica na Prainha, na altura do Pampo Club onde pedras foram colocadas para evitar o desmoronamento da restinga e, até, de uma das paredes laterais do próprio clube.
O novo muro de Itacoatiara, que ainda não está concluído, tem função similar ao erguido na areia de Camboinhas.
A Empresa Municipal de Moradia, Urbanização e Saneamento (Emusa) concluiu, em outubro passado, a obra de contenção de encosta à beira mar localizada entre a Praia das Flechas e a Avenida Engenheiro Martins Romeo, na Boa Viagem, Zona Sul de Niterói.
A intervenção consistiu na estabilização do talude com uma cortina de 92 metros de extensão, o reforço do gabião já existente, e a drenagem com a colocação de duas escadas hidráulicas. O objetivo da nova contenção foi evitar os riscos de deslizamentos causados pelo impacto das ondas no solo. O investimento foi de R$ 2,7 milhões.
Somente em 2023, a Prefeitura de Niterói destinou mais de R$ 236 milhões em obras de contenção de encostas em cerca de 70 pontos da cidade, beneficiando diretamente moradores de comunidades como, por exemplo:
Além dessas regiões, bairros como Jurujuba, Santa Rosa, Fátima, Cantagalo, Cafubá e Itacoatiara também foram contemplados com obras de contenção. Dos cerca de 70 pontos contemplados neste ano, 40 já tiveram os trabalhos concluídos.
Inundações provocadas por chuvas extremas, aumento do volume das águas do mar e ressacas cada vez mais potentes e recorrentes, avançando sobre o litoral. É isso que Niterói deve enfrentar como consequência do aquecimento global, que está provocando aumento do nível dos oceanos.
O quadro é apenas uma “ponta de iceberg”, se o “iceberg” não derreter antes, dos problemas apontados no estudo “Cenário Otimista de elevação do nível médio do mar de 0,50 m e Possíveis Impactos Ambientais, Resultantes de Variações de Marés, na Cidade de Niterói”, realizado por pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF), entre eles, os professores Fábio Ferreira Dias (Departamento de Análise Geoambiental) e Rodrigo Amado Garcia Silva (Departamento de Engenharia Agrícola e Meio Ambiente).
– A ‘novidade’ em relação às ressacas é que se tornarão mais recorrentes e cada vez mais potentes. E vão aproximando o mar de lugares em que não chegavam antes. Os estudos indicam que a beira mar vai avançar e se aproximar de onde hoje é o calçadão de Piratininga, mas não vai ultrapassá-lo. Nós usamos esse conhecimento do passado, os fatos que já aconteceram, para entender o presente e projetar o que pode vir a acontecer no futuro. A natureza avisa, o tempo todo. Nós decidimos se vamos dar atenção ou não aos avisos – afirmou Fábio Ferreira Dias.
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