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A expectativa era grande. Foram quase dois anos de conversa, um ano de trabalho na construção do roteiro e das músicas. Pelo menos seis meses de preparativos, contratações, ensaios. Mais de 70 pessoas trabalhando… O produtor Fabrízio Sassi não escondia a ansiedade. O diretor Marllos Silva cuidava dos últimos acertos. Até que as cortinas do Theatro Municipal de Niterói se abriram para o espetáculo tão esperado: Itapuca, o musical. Uma superprodução como a cidade poucas vezes viu. E que mereceu todo o aplauso que recebeu do público na noite de estreia.
A ousadia começa pela escolha do tema: o conto da pedra da Itapuca, talvez o mais duradouro símbolo de Niterói. A pedra furada, do tupi-guarani, que foi recortada no século passado para a ligação entre Icaraí e o Ingá, foi revestida de mistério e poesia, no roteiro que conta a história do amor da índia Jurema e (na atualização do texto original) do escravo foragido Kaub. O canto que emana daquele remanso do mar, ao sabor do vento e das marés. A Itapuca dos cartões postais, tombada em 1985 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural, agora tem sua trilha sonora, na Música de Elton Towersey.
A produção, muito bem cuidada, contou com a colaboração de aldeias e grupos indígenas, para a elaboração dos cenários, vestuário e coreografias. No elenco, entre os atores, estão três indígenas das aldeias Xukuru (Pernambuco) e Maracanã (Rio) Dario Jurema (Morubixaba Itanhyã), Henrique Patuá (Taynã) e a experiente Jana Figarella (Aryia) que atuou em diversos musicais como Cassia Eller e Por Elas entre outros.
No palco, os estreantes Yasmin Pellerano (Jurema) de Belém do Pará e o carioca Pedro Madeira (Kaub) dão vida à história de amor, que também conta com o retorno aos palcos niteroiense da atriz e cantora Giovanna Sassi, no papel de Maria Antonieta, depois de uma longa temporada de sucesso em São Paulo com o musical Kafka e a Boneca. Destaque também para a Jecotyara de Gabi Deolinda. Completam o elenco Caio Passos (João Gomes), Pablo Marcel (Gonçalo) e Rodrigo Rangel (Honório).
Segundo o conto, Kaub e Jurema viviam um amor proibido. Ao serem perseguidos e encurralados, com medo do que poderia acontecer, pediram ao deus Tupã (da mitologia tupi-guarani) que o amor entre os dois fosse eternizado. Para realizar isso, Tupã transportou-os para dentro da pedra de Itapuca, onde estão juntos até hoje.
O diretor da peça, o dramaturgo Marllos Silva, explica como surgiu o interesse inicial em contar essa história no teatro, apresentada a ele pelo diretor executivo da peça, Fabrizio Sassi.– Quando eu vi a história de Itapuca, eu olhei e falei assim: ‘isso aqui seria uma história interessantíssima’. O Fabrizio encampou a ideia e falou “vamos produzir isso, porque acho que realmente é uma coisa interessante pra cidade, interessante como elemento teatral -, revela o dramaturgo.
A história ganhou forma pela primeira vez em 1944, escrita por Alvarus de Oliveira, na revista “O Malho”. Naquele momento, o autor retratou a história com um casal formado por duas pessoas indígenas, mas de “nações” diferentes, o que, na época, possuía uma conotação diferente.
Considerando esse fato e buscando explorar a diversidade presente no Brasil e nas formas de isso gerar identificação entre os povos, a peça apresenta algumas diferenças em relação ao conto original.
– O que estamos fazendo nessa proposta é dar um segundo olhar pra lenda. Pensamos em trazer a diversidade da formação do DNA da população brasileira, então fizemos algumas alterações. O que a gente fez na nossa versão é apresentar Cauby como um homem negro, que foi escravizado e fugiu de uma fazenda que fica no Rio de Janeiro. Isso traz uma identificação entre Cauby e Jurema, que é encarar a beleza da diferença entre os dois: Cauby, um homem negro, e Jurema, uma mulher indígena -, conta o diretor.
Para gerar mais identificação com a história e representatividade, a direção promoveu audições com preferência para a diversidade. Dentre os atores, estão, inclusive, três indígenas das aldeias Xukuru (Pernambuco) e Maracanã (Rio). Uma outra preocupação na produção da peça foi contar com a consultoria de José Bessa, estudioso das línguas indígenas com mais de 20 livros publicados.
A trilha sonora do musical foi especialmente composta para a peça por Elton Towersey, experiente músico niteroiense. A intenção foi trazer elementos sonoros específicos para cada personagem. Para cada um deles, foi criada uma trilha sonora, com o intuito de gerar imersão no universo de cada personagem, retratando ainda mais a diversidade da cultura brasileira.
– A gente traz elementos da música de Portugal pra Maria Antonieta (personagem portuguesa), elementos da música africana pro Cauby e elementos da música indígena pra Jurema. Quando eles cantam todos juntos, você ouve essa miscelânea de sons em algumas canções e você percebe ‘aqui tem uma flauta indígena, aqui tem um tambor africano, aqui tem um acordeão português’, aí você vai falar assim: ‘isso aqui é uma música brasileira’. Aí a gente também percebe o quanto a cultura brasileira é influenciada dentro da música, em palavras, em falas… – explica Marllos.
Os figurinos do espetáculo foram feitos de forma artesanal, e todos os adereços foram construídos por aldeias indígenas. Os grafismos corporais são feitos por Sandro Okroá, artista plástico indígena do Maranhão, que hoje vive na Aldeia Maracanã.
Fabrizio Sassi, diretor executivo do espetáculo, conta que, a intenção é levar o espetáculo produzido em Niterói também para outras cidades.
– A ideia começou por Niterói. Apresentar aqui. Mas a ideia também é circular, levar Niterói pra fora. Fazer um caminho um pouco contrário, porque Niterói recebe muito – revela Fabrizio.
“Itapuca, O Musical” será exibido no Theatro Municipal de Niterói até o dia 24 de março. LOCAL: Teatro Municipal de Niterói (Rua Quinze de Novembro, 35 – Centro, Niterói – RJ) Capacidade: 400 lugares. HORÁRIO: Quinta-feira sessão:15h. Duas sessões Sexta-feira, Sábado e Domingo: às 15 h e às 17 h – *Dia 16/março excepcionalmente às 19h. INGRESSOS: R$ 30,00 (inteira), R$ 15,00 (meia), R$ 10,00 (somente para moradores ou nascidos em Niterói) ou pelo Sympla e na bilheteria do Theatro Municipal de Niterói.
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