22 de novembro

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Musical Itapuca é superprodução feita com engenho e arte no Municipal de Niterói

Por redação
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História de amor da indígena Jurema e de Kaub ganha forma na Pedra da Itapuca
Peça fica em cartaz até o dia 24, em Niterói, e depois pode ser exibida em outras cidades. Foto: divulgação

A expectativa era grande. Foram quase dois anos de conversa, um ano de trabalho na construção do roteiro e das músicas. Pelo menos seis meses de preparativos, contratações, ensaios. Mais de 70 pessoas trabalhando… O produtor Fabrízio Sassi não escondia a ansiedade. O diretor Marllos Silva cuidava dos últimos acertos. Até que as cortinas do Theatro Municipal de Niterói se abriram para o espetáculo tão esperado: Itapuca, o musical. Uma superprodução como a cidade poucas vezes viu. E que mereceu todo o aplauso que recebeu do público na noite de estreia.

A ousadia começa pela escolha do tema: o  conto da pedra da Itapuca, talvez o mais duradouro símbolo de Niterói. A pedra furada, do tupi-guarani, que foi recortada no século passado para a ligação entre Icaraí e o Ingá, foi revestida de mistério e poesia, no roteiro que conta a história do amor da índia Jurema e (na atualização do texto original) do escravo foragido Kaub. O canto que emana daquele remanso do mar, ao sabor do vento e das marés. A Itapuca dos cartões postais, tombada em 1985 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural, agora tem sua trilha sonora, na Música de Elton Towersey. 

A produção, muito bem cuidada, contou com a colaboração de aldeias e grupos indígenas, para a elaboração dos cenários, vestuário e coreografias. No elenco, entre os atores, estão três indígenas das aldeias Xukuru (Pernambuco) e Maracanã (Rio) Dario Jurema (Morubixaba Itanhyã), Henrique Patuá (Taynã) e a experiente Jana Figarella (Aryia) que atuou em diversos musicais como Cassia Eller e Por Elas entre outros.

No palco, os estreantes Yasmin Pellerano (Jurema) de Belém do Pará e o carioca Pedro Madeira (Kaub) dão vida à história de amor, que também conta com o retorno aos palcos niteroiense da atriz e cantora Giovanna Sassi, no papel de Maria Antonieta, depois de uma longa temporada de sucesso em São Paulo com o musical Kafka e a Boneca. Destaque também para a Jecotyara de Gabi Deolinda. Completam o elenco Caio Passos (João Gomes), Pablo Marcel (Gonçalo) e Rodrigo Rangel (Honório).

Tupã e a Itapuca

Segundo o conto, Kaub e Jurema viviam um amor proibido. Ao serem perseguidos e encurralados, com medo do que poderia acontecer, pediram ao deus Tupã (da mitologia tupi-guarani) que o amor entre os dois fosse eternizado. Para realizar isso, Tupã transportou-os para dentro da pedra de Itapuca, onde estão juntos até hoje.

O diretor da peça, o dramaturgo Marllos Silva, explica como surgiu o interesse inicial em contar essa história no teatro, apresentada a ele pelo diretor executivo da peça, Fabrizio Sassi.Quando eu vi a história de Itapuca, eu olhei e falei assim: ‘isso aqui seria uma história interessantíssima’. O Fabrizio encampou a ideia e falou “vamos produzir isso, porque acho que realmente é uma coisa interessante pra cidade, interessante como elemento teatral -, revela o dramaturgo.

Nações diferentes

A história ganhou forma pela primeira vez em 1944, escrita por Alvarus de Oliveira, na revista “O Malho”. Naquele momento, o autor retratou a história com um casal formado por duas pessoas indígenas, mas de “nações” diferentes, o que, na época, possuía uma conotação diferente.

Considerando esse fato e buscando explorar a diversidade presente no Brasil e nas formas de isso gerar identificação entre os povos, a peça apresenta algumas diferenças em relação ao conto original.

O que estamos fazendo nessa proposta é dar um segundo olhar pra lenda. Pensamos em trazer a diversidade da formação do DNA da população brasileira, então fizemos algumas alterações. O que a gente fez na nossa versão é apresentar Cauby como um homem negro, que foi escravizado e fugiu de uma fazenda que fica no Rio de Janeiro. Isso traz uma identificação entre Cauby e Jurema, que é encarar a beleza da diferença entre os dois: Cauby, um homem negro, e Jurema, uma mulher indígena -, conta o diretor.

O espetáculo

Para gerar mais identificação com a história e representatividade, a direção promoveu audições com preferência para a diversidade. Dentre os atores, estão, inclusive, três indígenas das aldeias Xukuru (Pernambuco) e Maracanã (Rio). Uma outra preocupação na produção da peça foi contar com a consultoria de José Bessa, estudioso das línguas indígenas com mais de 20 livros publicados.

Dentre os atores estão três indígenas das aldeias Xukuru (Pernambuco) e Maracanã (Rio).

A trilha sonora do musical foi especialmente composta para a peça por Elton Towersey, experiente músico niteroiense. A intenção foi trazer elementos sonoros específicos para cada personagem. Para cada um deles, foi criada uma trilha sonora, com o intuito de gerar imersão no universo de cada personagem, retratando ainda mais a diversidade da cultura brasileira.

A gente traz elementos da música de Portugal pra Maria Antonieta (personagem portuguesa), elementos da música africana pro Cauby e elementos da música indígena pra Jurema. Quando eles cantam todos juntos, você ouve essa miscelânea de sons em algumas canções e você percebe ‘aqui tem uma flauta indígena, aqui tem um tambor africano, aqui tem um acordeão português’, aí você vai falar assim: ‘isso aqui é uma música brasileira’. Aí a gente também percebe o quanto a cultura brasileira é influenciada dentro da música, em palavras, em falas… – explica Marllos.

Os figurinos do espetáculo foram feitos de forma artesanal, e todos os adereços foram construídos por aldeias indígenas. Os grafismos corporais são feitos por Sandro Okroá, artista plástico indígena do Maranhão, que hoje vive na Aldeia Maracanã.

Niterói e outras cidades

Fabrizio Sassi, diretor executivo do espetáculo, conta que, a intenção é levar o espetáculo produzido em Niterói também para outras cidades.

A ideia começou por Niterói. Apresentar aqui. Mas a ideia também é circular, levar Niterói pra fora. Fazer um caminho um pouco contrário, porque Niterói recebe muito – revela Fabrizio.

Serviço

“Itapuca, O Musical” será exibido no Theatro Municipal de Niterói até o dia 24 de março.                                                                LOCAL: Teatro Municipal de Niterói (Rua Quinze de Novembro, 35 – Centro, Niterói – RJ) Capacidade: 400 lugares.                  HORÁRIO: Quinta-feira sessão:15h. Duas sessões  Sexta-feira, Sábado e Domingo: às 15 h e às 17 h – *Dia 16/março excepcionalmente às 19h.                                                                                                                                                                        INGRESSOS: R$ 30,00 (inteira), R$ 15,00 (meia), R$ 10,00 (somente para moradores ou nascidos em Niterói) ou pelo Sympla e na bilheteria do Theatro Municipal de Niterói.

 

 

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