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Criador do Candongueiro, uma das mais tradicionais casas de samba do Rio de Janeiro, o músico Ilton Lopes Mendes morreu vítima de um AVC, aos 77 anos, no último sábado (1). Referência cultural de Niterói, o Candongueiro foi criado há 30 anos, no quintal da casa em que Ilton morava com a esposa Hilda e o filho Ivan, no Rio do Ouro.
Há muitos anos, ele devotava total fidelidade ao pandeiro, instrumento que, reza a lenda, passou a tocar por determinação de Clementina de Jesus. Até então, Ilton tocava surdo no Vissungo, grupo de samba do qual fazia parte, na juventude.
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O tom do Candongueiro sempre foi dado por Ilton. Músico, ao se mudar para a casa “na roça”, praticamente sem vizinhos, ele começou a tocar no quintal e a convidar amigos para acompanha-lo. No repertório, só samba “raiz” ou cantigas afros. Antes de se tornar o Ilton do Candongueiro, era conhecido como “O branco”, por ser praticamente o único branco no meio de músicos negros.
Para receber melhor os amigos, ele construiu um quiosque de sapê. O sucesso dos encontros no quintal fez com que ele começasse a planejar a ampliação do lugar para receber o público. Comprou um terreno ao lado da sua casa e criou o terreiro que transformaria no Candongueiro.
Lá nunca teve espaço para pagode ou “samba moderno”. Foi no berço da tradição que o lugar se criou. Baluartes da Velha Guarda das escolas de samba, Beth Carvalho, Wilson Moreira, Lei Lopes, João Nogueira, Zé Keti e Aniceto do Império foram alguns dos artistas que se apresentaram na casa. Muito dessa memória está preservada em fotos emolduradas e penduradas pelas paredes do local.
Outro recado que Ilton sempre fez questão de dar para o público que fosse à casa tinha conotação política. O espaço mais largo do terreno foi batizado Praça Che Guevara e fotos desse líder da revolução cubana ajudam a compor a decoração do lugar. Também era comum ver bandeiras como do Movimento Sem Terra (MST) tremulando pelo pátio.
Quando se mudou com os pais para a casa que se tornaria o Candongueiro, Ivan Mendes tinha 5 anos. Agora, aos 38, toca, clarinete e percussão. É um dos integrantes da roda do Candongueiro e nos últimos anos vinha ficando mais à frente da administração do local que chegou a fechar em 2017, mas foi reaberta no final do ano passado e resiste como endereço do samba em Niterói.
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