COMPARTILHE
É como se fosse uma cidade fantasma. São 36.098 “domicílios” desocupados. Mais do tem Rio Bonito. Foi o que o Censo 22 revelou sobre a ocupação de Niterói. A cidade tem 230.792 domicílios, um aumento de 20,72% em relação à última pesquisa, de 2010, muito acima do crescimento da população, que ficou praticamente estagnada, até diminuiu. Mas deste total, 84,3% estão ocupados. Os demais 15,7 são considerados “vagos.”
A conta dos endereços desocupados, os 36.098, se desdobra em duas: 8.305, 3,6% do total de domicílios, são imóveis não ocupados de uso ocasional, como, por exemplo, casas de veraneio, que não caracterizam ocupação permanente, nem podem ser consideradas desocupadas. O número maior, 27.793, 12,1% se refere a endereços vagos, numa cidade que tem problemas habitacionais.
O IBGE não aprofundou o estudo destes números. Mas especialistas consideram alguns fatores, como a migração das populações dentro da cidade e para fora da cidade, em função da razões tão diversas quanto o aumento dos preços de aluguéis ou a deterioração urbana, como acontece, por exemplo, no Centro. Outras consideram que a pesquisa do Censo pode ter sido atrapalhada pela falta de recursos, longa duração e dificuldade de acesso aos moradores em algumas áreas.
Menos habitantes em Niterói; com famílias ligeiramente menores e mais domicílios, na cidade. Essa “equação” é resultado da divulgação dos primeiros dados do Censo 2022 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Nessa rodada, tudo o que foi informado pelo levantamento foi o número de habitantes e domicílios de cada canto do país. No caso de Niterói, o dado apresentado pelo Censo do IBGE 20/22, depois de 12 anos sem pesquisa domiciliar, surpreendeu.
A população da cidade que era de 487.562 moradores em 2010, agora é de 481.758 moradores – 5.804 menos que na pesquisa anterior, uma redução de 1,19%, invertendo pela primeira vez a curva de crescimento. Projeção feita pelo próprio IBGE apontava para uma população de 516 mil moradores. Com uma área territorial de 133,757 km², a cidade tem uma densidade demográfica de 3.601,74 habitantes por km².
Niterói, que historicamente aparecia como o quinto maior município em termos de população, perdeu posições no ranking do Estado do Rio de Janeiro para Campos e Belford Roxo e figura, agora, em sétimo lugar.
– A exemplo da maioria das pessoas, também me surpreendi com o esse primeiro resultado do Censo, que mostrou um “encolhimento” da população brasileira. No caso específico de Niterói, a diminuição da população não foi tão relevante quanto da cidade vizinha de São Gonçalo. Acredito que com os desdobramentos das informações, ficarão mais claras as razões, a que se deveu essa diminuição do número de moradores. Foi por uma dificuldade das visitas de campo, por exemplo? Apesar de não me sentir com embasamento para dar uma opinião sobre essa diminuição da população de Niterói, acredito que essa oscilação não influenciará na arrecadação e distribuição de tributos para o município – afirmou o vice-prefeito Paulo Bagueira para o A Seguir.
Ele citou São Gonçalo porque o município vizinho perdeu 102.984 moradores nesses 12 anos, uma redução de 10,30%. Um quadro bem diferente de Niterói que viu sua população encolher em menos de seis mil pessoas. A lembrar que, no município, oficialmente, 2.848 niteroienses morreram de Covid, até julho de 2022. Em 2010, na época do Censo anterior, a faixa etária com maior número de pessoas, em Niterói, tinha entre 60 e 69 anos: 42.605 moradores.
Durante o período de coleta de dados pelos recenseadores, A Seguir passou uma tarde acompanhando o trabalho de um deles. O levantamento, em todo o país, havia começado há 15 dias e o coordenador de área de Niterói do IBGE, Carlos Lima, já tinha identificado um problema que só iria se agravar: Niterói estava apresentando um alto grau de recusa em receber os profissionais do IBGE.
– A recusa em receber o recenseador é porque a pessoa não quer participar, mesmo. Acha que a informação dela não vai fazer diferença, mas faz. As informações de todas as pessoas são importantes. Tem gente também que não quer perder cinco minutos – disse ele, à época.
Três meses depois, o IBGE só tinha conseguido ouvir metade da população de Niterói. Isso porque os recenseadores estavam com dificuldade de acesso tanto às comunidades quanto aos condomínios de luxo – um problema, aliás, que aconteceu no Brasil todo. Tanto que, além de campanhas de esclarecimento à população, o IBGE deu opção do cidadão responder o Censo por telefone e pela Internet.
Somente em janeiro passado, graças a parcerias firmadas com entidades ligadas às comunidades, o Censo conseguiu ouvir dois milhões de pessoas, no país, como informou presidente interino do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Cimar Azeredo, na cerimônia de apresentação dos resultados.
Em março passado, o IBGE ainda corria contra o tempo para reverter o índice de não resposta do Censo, em Niterói – índice que os envolvidos no trabalho não tinham autorização para divulgar.
Agora, foi informado que o índice de não resposta, no Estado do Rio de Janeiro, foi de 4,50%, pouco abaixo do índice que o IBGE considera “tolerável” que é de 5% – em São Paulo, por exemplo, o índice de não resposta foi de 8,11%. A média nacional ficou em 4,23% – a não resposta é quando o recenseador vai no local e não consegue falar com o morador; diferente do índice de recusa em responder, este teve uma média nacional de 1,39%.
Para o A Seguir, o coordenador de área de Niterói do IBGE informou, na época do levantamento, que uma situação comum, na cidade, era o recenseador não encontrar o morador do imóvel pelo fato dele trabalhar em outro município.
Censo identificou um aumento de 20,72% no número de endereços em Niterói.
O Censo 2022 informou que Niterói tem 230.792 endereços, um aumento de 20,72% em relação ao Censo anterior. Já o tamanho das famílias, em cada residência, diminuiu, acompanhando a tendência de todo o país: 2,47 moradores em média, contra 2,79 na pesquisa nacional.
Ainda não foram divulgados dados que permitam entender esse quadro. Uma hipótese possível é lembrar que, no mesmo período em que o Censo deixou de ser feito, Niterói viveu uma explosão imobiliária. Nessa época, o mercado de imóveis apostava em um aumento de moradores, dentre outras coisas, como reflexo do tão falado Comperj, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro que deveria ter sido inaugurado em 2011, na vizinha Itaboraí. As obras foram paralisadas em 2015 por conta da Operação Lava Jato, o que provocou um desastre econômico na região.
O descompasso entre expectativa e realidade provocado pela divulgação dos primeiros dados do Censo 2022 fez com que a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) soltasse uma nota, na sexta-feira (30), dizendo que as informações “não representam com fidedignidade a realidade do país e impactam diretamente nos recursos transferidos aos entes locais, especialmente em relação ao Fundo de Participação dos Municípios e a diversos programas federais que consideram o porte populacional”.
De acordo com a confederação, os desvios muito acentuados entre a população estimada e o que foi levantado pelo censo indicam “erros de estimativas com sérias consequências para a gestão municipal”.
No dia da divulgação do Censo, o presidente interino do IBGE explicou a origem da divergência dos números:
– Foi uma contagem feita depois de 12 anos. Já esperávamos uma defasagem. Não podíamos esperar que fosse tão alta, mas já sabíamos que ia dar uma diferença em relação à população que vinha sendo estimada – afirmou ele informando que, em 2025, será feita uma nova contagem da população brasileira.
Sobre o Censo de 2022, a Prefeitura de Niterói se manifestou da seguinte forma para o A Seguir Niterói:
“A Prefeitura de Niterói informa que está aguardando a disponibilização dos microdados do Censo Demográfico 2022 por parte do IBGE para tecer análises mais aprofundadas a respeito dos dados sobre a cidade. Vale salientar que Niterói é um dos poucos municípios do Brasil a contar com uma Subsecretaria de Avaliação e Gestão da Informação de Políticas Públicas e que a equipe está acompanhando os desdobramentos do Censo desde o início da operação em parceria com outros órgãos municipais.”
COMPARTILHE