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Livro que narra a trajetória de Caetano Veloso até sua reinvenção com a banda Cê é lançado em Niterói

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

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Obra aborda os bastidores das gravações de cada disco da trilogia. Será lançada, neste sábado (20), com bate-papo com os autores
Tito Guedes, Caetano e Luiz Fernando
Caetano Veloso entre os pesquisadores Tito Guedes (esquerda) e Luiz Felipe (direita). Foto: Divulgação

A busca implacável por novas experimentações sempre sedimentou a carreira de Caetano Veloso. Ao longo de mais de 60 anos de carreira, Caetano demonstrou que soube dosar muito bem a capacidade de surpreender o público, sem perder a consciência dos seus próprios anseios.

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Esse caminho permeado por diversas vertentes estéticas e sonoras –  que variam da bossa nova à MPB, do rock ao funk, passando pelo tango – culminou na virada radical com a banda Cê, power trio que montou em 2006 com músicos 30 anos mais jovens. Esse é justamente o mote do livro “Lado C”, escrito pelo pesquisadores Luiz Felipe Carneiro e Tito Guedes, esse niteroiense. A obra será lançada neste sábado, 20 de agosto, às 17h, na Livraria da Travessa de Icaraí. A noite de autógrafos contará, ainda, com um bate-papo com mediação da jornalista e pesquisadora musical Chris Fuscaldo, que também é de Niterói. Esse é o primeiro lançamento do livro que terá uma sessão de debate. A edição é da Máquina de Livros.

No livro fala-se muito sobre o que pouco se sabe desta fase da carreira de Caetano. Os bastidores das gravações com a banda Cê e o processo criativo de cada disco da trilogia, que culminou em Abraçaço, são narrados no livro sem poupar detalhes. ‘Lado C’ mostra também a relação controversa de Caetano com a imprensa, revela detalhes do convívio do compositor com sua equipe e as experiências e parcerias com artistas de diferentes gerações, incluindo os próprios filhos.

Antes dessa história começar a ser lapidada, o pesquisador Luiz Felipe Carneiro teve a ideia de produzir um pequeno documentário para o YouTube sobre a fase Cê. Ele chegou a entrevistar os três integrantes da banda e, no meio do processo, percebeu que aquela história seria melhor contada no formato de livro. Veio, porém, a pandemia e o projeto teve de ser engavetado. Mal sabia ele que o projeto viria à tona em um encontro inesperado com o pesquisador musical Tito Guedes:

– No ano passado, quando lancei meu livro “Querem acabar comigo”, sobre Roberto Carlos, o Luiz Carneiro me entrevistou no seu canal, Alta Fidelidade, e a partir daí começamos a conversar sobre música. Ele logo me chamou para fazer em parceria o livro sobre a fase Cê. Eu topei e imediatamente demos start no projeto, fazendo (muitas) novas entrevistas e pesquisando os acervos de jornais. Quando se fala desses medalhões, as pessoas costumam se centrar apenas nos anos 60 ou 70, como se eles não tivessem feito nada de relevante depois disso, o que não é verdade. A ideia do livro era mostrar que, mesmo nos anos 2000, com mais de 60 anos de idade, Caetano continuava tão instigante, criativo e relevante como na época em que fez o “Transa” – pontua Tito Guedes, em conversa com o A Seguir.

Capa do livro que faz parte do portfólio da editora Máquina de Livros.

O livro é resultado de mais de 40 entrevistas, busca de arquivos físicos e virtuais e uma troca quase diária de e-mails com o compositor baiano. Traz, ainda, fotos do acervo dos músicos da banda Cê e de pessoas próximas a Caetano. O resultado é um documento valioso não só para fãs, mas também para apaixonados pela Música Popular Brasileira.

– Uma coisa muito interessante é que resgatamos posts do blog que Caetano manteve durante a produção do álbum “Zii e Zie”, que se chamava “Obra em Progresso”. Lá, por exemplo, ele falava de política, cinema, contava causos e ainda protagonizou um embate com a crítica paulistana que criticou um show que ele fez com Roberto Carlos na época. Tudo isso foi recuperado por nós (já que o blog saiu do ar) e está no livro – completa.

Essa efervescência que empresta viço à carreira de Caetano é abordada pelo pesquisador Luiz Felipe Carneiro. Um período marcado por uma concentração muito forte de criatividade e inovação que resultou em três álbuns de inéditas, outros três ao vivo, além de três turnês internacionais imensas. Isso tudo em pouco menos de 10 anos.

– Era uma fase muito rica, muito diferente. Ele vinha se apresentando com Jaques Morelenbaum, às vezes com grandes orquestras. Nesta fase da banda Cê ele injetou um pouco de rock na carreira dele, embora não seja apenas isso. Foi muito mais que isso. É muito pobre resumir como a fase rockeira dele. Caetano sempre foi muito camaleão. Desde a Tropicália, nos anos 70 e 80, ele já pincelava rock na carreira dele. Assim como a obra dele é muito surpreendente, e por isso, nunca sabemos que passo ele vai dar, eu e Tito nos surpreendemos com muita coisa que a gente descobriu e apurou ao longo do processo – detalha Carneiro.

Para além da troca com Caetano, o livro contou com o trabalho engenhoso de edição que só foi possível graças ao diálogo direto e contínuo entre os autores e os editores e jornalistas Luiz André Alzer e Bruno Thys, da Máquina de Livros. As conversas e ajustes do que entra e sai perduravam, às vezes, o dia inteiro. “Foi quase como uma faculdade de edição de livro”, conta o pesquisador.

Segundo ele, “Lado C” revela uma faceta pouco esmiuçada de Caetano, uma fase marcada por uma aproximação do artista com o público jovem. Na época, Guedes conta que ele estava muito marcado como ídolo da MPB. Esse aspecto refletia até na forma de se vestir, quando tocava de terno e brilhantina no cabelo. A formação da banda Cê o possibilitou um comportamento mais despojado, uma linguagem pop e roqueira. Os shows foram realocados e ganharam novos ares e chegaram, por exemplo, em espaços mais alinhados com a nova proposta, como o Circo Voador.

Com a ampliação do público, muitas pessoas que antes não entendiam a obra de Caetano, passaram a dar valor e a frequentar os shows, comprar os discos, numa espécie de descentralização cultural. Uma absorção mais palatável. Além disso, Guedes ressalta que foi um período muito autoral de Caetano. Isso porque o “Cê” é o primeiro disco da carreira 100% autoral, ou seja, todas as músicas foram compostas somente por ele. Era uma época em que ele fervilhava de ideias e despejou tudo isso com o vigor.

Antes de formar a banda Cê, Caetano já havia experimentado grupos enxutos. O primeiro deles foi para o disco “Transa”, gravado no exílio londrino em fins de 1971. Ele convocou Jards Macalé e mais três músicos, que trabalharam nos arranjos das canções. O lançamento do LP marcou o seu retorno ao Brasil em 1972, com shows históricos no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Salvador. Ainda nos anos 1970 e 1980, Caetano montaria outros dois grupos: A Outra Banda da Terra e Banda Nova.

Serviço:

Bate-papo com os autores de ‘Lado C’ e noite de autógrafo

Data: 20 de agosto (sábado)

Horário: a partir 17h

Local: Livraria da Travessa de Niterói

Endereço: Rua Tavares de Macedo 240, Icaraí

Entrada franca

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