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Dois bairros de Niterói foram os mais afetados com os tiroteios durante o ano de 2022, segundo aponta levantamento feito pelo Instituto Fogo Cruzado. O Fonseca, na Zona Norte, e o Morro do Estado, na Zona Sul, “abrigaram” 33,57% das 148 ocorrências registradas no ano passado.
Porém, a maior incidência de disparos de arma de fogo foi documentada no Fonseca, que registrou 30 casos entre janeiro e dezembro, isto é, quase três por mês. Em meio a uma eterna disputa entre o Terceiro Comando Puro (TCP) e o Comando Vermelho (CV) pelo tráfico da região, o bairro teve mais ocorrências do tipo do que Morro do Estado (17) e Engenhoca (9), terceiro colocado, somados.
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Ainda segundo o estudo, 16 desses tiroteios, mais da metade, ocorreram durante ações policiais. Na opinião do coordenador regional do Instituto Fogo Cruzado no Rio de Janeiro, Carlos Nhanga, os dados evidenciam que a política de segurança que prioriza o conflito põe em risco toda a população, inclusive os agentes de segurança.
– O número de tiroteios em ações policiais mostra que o modelo de atuação do Estado não dá conta de proteger nem quem deveria estar preparado para esse tipo de situação de confronto, quem dirá o cidadão comum – afirmou
Já na maior favela do município, que foi elevada a bairro em 1986, foram 17 disparos de arma de fogo contabilizados. Os dados apresentam uma atuação diferenciada no crime: “apenas” um desses registros foi provocado por agentes do estado. Ao longo do ano passado, houve cinco mortes na região.
A diminuição da presença policial é justificada pela forte atuação do tráfico de drogas, além da localização geográfica, que oferece poucas saídas alternativas e muitos “esconderijos” entre as casas, o que dificulta a entrada dos policiais. Além disso, conforme identificado por uma operadora de internet em maio, os chefes do tráfico adotaram as mesmas práticas da milícia, cobrando por serviços como o fornecimento de internet, TV por assinatura ou a entrega de gás.
A listagem mostra uma redução da criminalidade em comparação a setembro de 2021, época em que o Fogo Cruzado divulgou, pela última vez, o relatório separado por bairros. Fonseca segue na liderança absoluta, porém com 13 tiroteios a menos. Entre janeiro e agosto do ano retrasado, foram 43.
Também no levantamento do ano retrasado, o Instituto não considerou o Morro do Estado como bairro, mas sim como sub-bairro do Ingá. Na somatória das duas regiões, apontou a ocorrência de 18 tiroteios. Em 2022, o número foi o mesmo: 17 tiroteios na favela e um tiroteio no asfalto.
As ocorrências também caíram no Cubango (de 19 para três), na Engenhoca (de 18 para nove) e em Santa Rosa (de 12 para oito). O único bairro onde os disparos de armas de fogo aumentaram foi no Barreto, de oito para nove. Porém, é preciso levar em consideração que os números de 2021 abrangem apenas oito meses.
Também foram registrados tiroteios nos seguintes bairros: Largo da Batalha, Cubango e Jacaré, todos com três; Piratininga, Charitas, São Francisco, Maria Paula, Ponta D’areia e Serra Grande, todos com dois; e São Lourenço, Gragoatá, Muriqui, Cafubá, Engenho do Mato, Cantagalo, Ilha da Conceição, Ingá, Maravista e Rio do Ouro, todos com um caso.
Outro dado relevante diz respeito ao número de mortos. Ao todo, foram 63, mais de cinco por mês. A cidade registrou, ao longo de 2022, 148 tiroteios, 74 deles com presença de agentes de segurança, ou seja, 50%. Nessas ocorrências, 126 pessoas foram baleadas, sendo que 63 ficaram feridas.
O levantamento do Fogo Cruzado também mostra os meses mais violentos de 2022. Julho, que teve 20 tiroteios e oito mortes, lidera as estatísticas. Novembro (16 tiroteios e oito mortes), agosto (15 tiroteios e cinco mortes) e outubro (14 tiroteios e nove mortes) vêm na sequência.
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