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Entre 2020 e 2023, foram registradas, no Brasil, 408.395 denúncias de violência contra idosos. Os filhos são responsáveis pela maioria dos casos que costumam acontecer, muitas vezes, onde as próprias vítimas residem.
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Essas são algumas das conclusões de um estudo feito pelas pesquisadoras Alessandra Camacho (Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da UFF) e Célia Caldas (Faculdade de Enfermagem da UERJ) que analisaram notificações de denúncias de casos suspeitos ou confirmados de violência contra indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos. Elas usaram como fonte dados do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, além de informações disponíveis no Painel de Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos.
Em um simples levantamento quantitativo de ocorrências, as pesquisadoras detectaram que, no ano passado, o total de agressões sofreu um aumento de quase 50 mil casos, quando comparado com o ano anterior.
Segundo a professora Alessandra Camacho, esse aumento não representa, porém, maior número de ocorrências, mas de denúncias:
– Isso significa algo importantíssimo, já que conscientizar os idosos a denunciar essas situações é parte fundamental do trabalho de educação e conscientização da sociedade em relação a esse assunto – observou ela lembrando que a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu junho como mês da conscientização da violência contra a pessoa idosa, justamente para dar visibilidade à causa.
De acordo com as pesquisadoras, outro ponto que revela a associação entre a idade avançada e a vulnerabilidade da pessoa é o “percentual expressivo” de denúncias de violência envolvendo idosos que estão na faixa etária de 80 anos ou mais. Em 2023, o percentual atingiu o seu máximo, ao bater 34% dos casos.
As pesquisadoras detectaram que, como uma representação da sociedade como um todo, os dados de denúncias notificadas não fogem do recorte de gênero. Segundo Alessandra Camacho, “é notável que as mulheres estão suscetíveis a uma maior vulnerabilidade à violência, condição justificada pela desigualdade de gênero, que é intensificada durante o envelhecimento”.
Dessa forma, no recorte dos três anos, o sexo feminino representou mais de 67% das denúncias notificadas, com um aumento percentual no ano de 2022, equivalendo a quase 70% dos casos registrados.
Em relação à raça/cor dos idosos vítimas de violência, as pesquisadoras detectaram que a população branca foi a mais atingida e apresentou um crescimento percentual ao longo dos anos. Além disso, a população parda foi a segunda maior categoria notificada, também mostrando uma tendência de aumento durante o período analisado, com um pico em 2022, onde representou 31,30% dos casos.
O estudo também fez uma relação entre os casos de violência entre idosos e diferentes graus de escolaridade e instrução.
– Apesar de ser notável que a falta de informação entre idosos, de baixa escolaridade e renda, aumenta a vulnerabilidade e causa uma maior ocorrência de violência contra esses idosos, é crucial entender também que um nível elevado de escolaridade e renda não funciona como fator protetivo. Muitas vezes, idosos com alto grau de instrução e renda favorável podem evitar buscar apoio através da denúncia – afirmou a professora Célia Caldas.
Com 53% dos casos, a região Sudeste foi a que apresentou mais registros em todos os anos no período analisado. Em seguida, vem a região Nordeste – terceiro maior número de idosos do país – com 19,9% de denúncias.
Apesar de Niterói ser a cidade com maior população de idosos do Rio de Janeiro, as pesquisadoras não analisaram dados relacionados com o município.
A análise sobre o agente suspeito de violência em casos envolvendo idosos vítimas expôs, segundo as pesquisadoras, que os filhos são maioria dos suspeitos em casos declarados. Nos anos analisados, eles representaram 47,78% em 2020; 47,07% em 2021; 50,25% em 2022 e 56,29% em 2023.
Em relação ao contexto, o estudo detectou que a maior parte das denúncias e violações contra idosos relatadas ocorreram na casa onde reside a vítima e o suspeito, seguido da casa da própria vítima.
– As análises levam a uma interpretação conjunta que revelam a conexão direta entre as violações ocorridas em ambiente doméstico e as agressões cometidas por familiares, especialmente filhos. Outro ponto identificado na pesquisa foi o aumento de casos durante a pandemia de Covid-19 – observou a professora Célia Caldas.
Delegacia Especial de Atendimento a Pessoa da Terceira Idade (DEAPTI ) – Rua Figueiredo Magalhães, n° 526, Copacabana, RJ. No município do Rio de Janeiro, as ligações para a central são realizadas através do número de telefone 1746, além do 2333-9260; para outras localidades, o número da central é (21) 3460-1746.
Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Proteção ao Idoso – caopjpid@mprj.mp.br
Defensoria Pública do Rio – telefone 129
Ministério Público do Rio – telefone 127
Disque Direitos Humanos – telefone 100
Em casos de risco iminente, é recomendável entrar em contato direto com a Polícia Militar, pelo telefone 190
Secretaria Municipal de Idosos de Niterói – Av. Amaral Peixoto 171/401, Centro – Tel: 2620-7775
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