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Extremos climáticos: Niterói vai precisar de comportas e bombas para regular fluxo de águas?

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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O professor da UFF Rodrigo Amado, um dos autores de estudo sobre aumento das marés, alerta para a necessidade de medidas de proteção
Ressaca na Praia de Icaraí, em 2011. Foto- Reprodução
Ressaca na Praia de Icaraí, em 2021. Foto: Arquivo A Seguir Niterói

A implementação de comportas para regular o fluxo de água do Canal de Itaipu e também de bombas para drenagem de águas pluviais podem ser medidas que Niterói pode precisar vir a adotar para lidar com inundações provocadas por chuvas extremas, aumento do volume das águas do mar e ressacas cada vez mais potentes e recorrentes, avançando sobre o litoral.

A opinião é do professor da Universidade Federal Fluminense, Rodrigo Amado Garcia Silva (Departamento de Engenharia Agrícola e Meio Ambiente). Ele é um dos pesquisadores envolvidos no estudo “Cenário Otimista de elevação do nível médio do mar de 0,50 m e Possíveis Impactos Ambientais, Resultantes de Variações de Marés, na Cidade de Niterói”, lançado ano passado e divulgado em primeira mão pelo A Seguir, em novembro.

Leia mais: Os riscos de Niterói diante da emergência climática

A solução que ele acredita pode vir a ser importante “no futuro” é, segundo o professor, similar ao que existia em Porto Alegre, a capital gaúcha que se encontra inundada junto com vários municípios do Rio Grande do Sul.

– Em Porto Alegre, o sistema não funcionou por não haver manutenção. Esse tipo de sistema já existe na Holanda há muito tempo, país que tem boa parte de seu território abaixo do nível médio do mar. Essa não é uma necessidade para hoje, mas sim para quando houver elevação expressiva do nível médio do mar – explicou em entrevista para o A Seguir.

Em relação a essa “elevação expressiva” do nível dos oceanos, o professor observou que não é mais uma simples hipótese. Segundo ele, a comunidade científica internacional trabalha, dentro de uma estimativa otimista, que essa elevação será de 0,50 m. A projeção pessimista é uma elevação de até 2,5 m, até 2050.

De acordo com o professor, o que vai determinar esse nível é o CO2 que é lançado na atmosfera em consequência das ações dos seres humanos.

– Esse gás de efeito estufa está mudando o clima da Terra e provocando o derretimento de geleiras e a própria expansão térmica dos oceanos, o que causam o aumento do nível do mar – afirmou Rodrigo, Engenheiro Civil e Ambiental, Coordenador do LABCOST (Laboratório de Modelagem de Processos Costeiros) da UFF.

Sendo assim, qual a providência imediata que a gestão municipal deveria tomar para “proteger” a cidade?

Rodrigo Amado Garcia Silva: A meu ver, os pontos de maior vulnerabilidade para os quais Niterói deve atentar são alagamentos, deslizamento de encostas e erosão costeira frente a ressacas.

Em relação a deslizamentos de encostas, não sou dessa área, então não opino. Espero que a prefeitura tenha mapeamento das áreas de maior risco.

No que diz respeito à erosão costeira, que é a área na qual sou especialista, o ponto de maior vulnerabilidade é a Praia de Piratininga. Deve ser executado o projeto de recuperação do estoque de areia dessa praia, conforme estudo que a prefeitura já contratou. Caso contrário, corre risco de, ou haver nova queda do calçadão nos pontos mais vulneráveis (leste e oeste), ou de aceleração do processo erosivo que essa praia sofre há décadas. Isso deve ser implementado de imediato.

Sobre alagamentos, também não sou especialista em drenagem de águas pluviais, então não me sinto confortável para opinar sobre alagamentos pontuais gerados por chuvas. Entretanto, o alagamento pode vir também do mar ou das lagoas. Do mar, no futuro, para o caso de marés muitos altas, em um cenário de elevação do nível médio do mar. Das lagoas, para o caso ou de passagem de frentes frias em associação à elevação do nível médio do mar.

O que é possível fazer em relação às inundações?

RAGS: O artigo que publicamos apresenta manchas de inundação esperadas. As soluções para esse problema passam pela implementação de diques (barragens), circundando as regiões de cota mais baixa. No caso do Canal de Itaipu, é importante a dragagem do mesmo para melhor escoamento de águas pluviais em eventos de chuvas muito intensas e para a manutenção da qualidade da água do sistema lagunar Piratininga-Itaipu.

Por outro lado, no futuro, provavelmente será necessária a implementação de comportas nesse canal para impedir a entrada excessiva de água do mar em períodos em que o nível do mar esteja muito elevado por ação das marés.

Havendo fortes chuvas, será necessária também a implementação de bombas para drenagem das águas pluviais.

Essa proposta se refere a um sistema similar ao que já existe em Porto Alegre e, por não haver manutenção, não funcionou. Esse tipo de sistema já existe na Holanda há muito tempo, país que tem boa parte de seu território abaixo do nível médio do mar.  Essa não é uma necessidade para hoje, mas sim para quando houver elevação expressiva do nível médio do mar.

Niterói é uma cidade criada a partir de um imenso aterro. Isso deixa a cidade mais vulnerável do que outras “normais”?

RAGS: A meu ver não, pois não tenho notícia de o terreno na cidade estar afundando.

Como avalia as condições de Niterói, neste momento, para o enfrentamento de extremo climático?

RAGS: Acho bastante positiva a posição da prefeitura de elaborar um plano de resiliência a mudanças climáticas. As estratégias estão no momento em elaboração (assim espero, pelo menos). Nenhuma cidade do mundo está 100% preparada para o aumento da frequência e severidade dos eventos climáticos extremos. Muitas cidades estão percorrendo esse caminho de preparação, espero que Niterói seja uma delas.

 

 

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