21 de novembro

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Crise do transporte público agrava engarrafamentos em Niterói, diz pesquisa da UFRJ

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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Segundo a Coppe, falta de ônibus faz moradores preferirem usar o carro; Secretário de Mobilidade de Niterói reconhece redução da frota
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Mar de carros particulares nas ruas é cena comum em Niterói; cidade tem mais de 300 mil veículos. Foto: arquivo

O longo tempo da viagem e também da espera por um veículo nos pontos são os principais fatores que afastam o niteroiense dos ônibus da cidade. Como se deslocam, então? Preferencialmente de carro, seja próprio ou de aplicativos. Essa situação, que explica bastante os atuais engarrafamentos nas vias de Niterói, foi detectada em uma pesquisa da Coppe-UFRJ, apresentada nesta quarta-feira (15), em evento realizado na Associação Comercial do Rio de Janeiro.

A longa espera por um ônibus, nos pontos, é reclamação antiga dos niteroienses. Foto: arquivo A Seguir Niterói

O levantamento faz parte do projeto “Desafios para a promoção de um transporte público sustentável na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ)”, coordenado pelo professor do Programa de Engenharia de Transporte da Coppe  Glaydston Mattos Ribeiro.

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– Nosso objetivo é entender quais são os desafios e as responsabilidades da iniciativa privada, do poder público e da sociedade civil para a promoção de um transporte público sustentável na Região Metropolitana do Rio de Janeiro – informou Ribeiro.

Para a realização da pesquisa, foram entrevistadas 4.323 pessoas, entre agosto e outubro do ano passado, de 12 municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Desse total, 5,34% foram niteroienses. O critério utilizado para a amostragem foi o tamanho da população dos municípios. Assim, 46,91% dos entrevistados foram moradores do Rio de Janeiro, seguidos de 7,91% de gonçalenses.

Niterói

Em Niterói, 11,69% dos entrevistados disseram que modificaram seu modo de deslocamento após a pandemia. Desse total, 31,6% apontaram como principal causa para a mudança do padrão o regime de trabalho híbrido ou remoto; já o desemprego foi apontado por 15,8% dos entrevistados.

Dentre os que mudaram seu modo de deslocamento, 15,8% deixaram de andar de ônibus. Os motivos mais citados para isso foram o tempo de viagem (27,3%) e tempo de espera pelo veículo no ponto (18,2%). Já dentre os que seguem usando ônibus, 50% o fazem por causa do custo e 45,9% porque não possuem outra maneira de deslocamento.

A pesquisa detectou que as pessoas com maior escolaridade (ensino superior completo a pós-graduação completa) e com salários acima de 3 salários mínimos foram as que mais modificaram o padrão de deslocamento no pós pandemia. Acima de 10 salários, o grupo foi onde a opção pelo “outro modo”, diferente do ônibus, representou 50% da escolha dos respondentes. E sobre o “outro modo”, o carro particular foi o escolhido por 50% dos entrevistados.

“Personagem”

A professora niteroiense Cintia é a personificação do resultado do trabalho. Foto: Sônia Apolinário

No evento, a pesquisa foi apresentada por Cintia Machado de Oliveira, professora do Cefet-RJ e Secretária Executiva da Associação Nacional de Pesquisa e Ensino em Transporte (ANPET). Niteroiense e moradora do Rio do Ouro, ela é a própria personificação do resultado do trabalho que apresentou, no que diz respeito ao município:

– Para me tirar do carro, o sistema de transporte público vai ter que melhorar muito e o transporte para automóvel vai ter que encarecer muito. Só tem uma linha de ônibus que atende meu bairro que, além de demorar para passar, dá uma volta gigantesca para chegar ao seu destino – afirmou ela que, mesmo de carro, leva cerca de 3h para percorrer os 40 Km entre sua casa e o trabalho, diariamente.

Sim, ela sabe que Niterói está congestionada. Afinal, a cidade se enquadra no padrão alta escolaridade-alta renda onde se encontra, de acordo com a pesquisa, o maior grupo de pessoas que usam o automóvel em detrimento do transporte público.

Apesar do grande número de veículos particulares nas ruas da cidade, ela é da opinião que o que trava, mesmo, o município, é a Ponte Rio-Niterói.

Sim, o tão sonhado Metrô 3 pode ser uma solução. Mas, dentre tantos traçados já sugeridos, qual Cintia acha o mais adequado?

– É preciso desafogar a Ponte via barcas, um transporte que está precisando de salvação. Não é necessário um Metrô que passe por baixo da água da Baía de Guanabara, uma obra extremamente cara. Basta haver integração com as barcas. No Rio, é preciso levar o Metrô da Carioca até a Praça 15. As obras recentes de revitalização do Centro do Rio acabaram por isolar a estação das barcas. Em Niterói, a partir da Praça Arariboia, o Metrô (de superfície ou não) leva as pessoas para São Gonçalo, Itaboraí. Essa é uma boa solução, mas ainda vai demorar. Então, até que aconteça, outras alternativas podem ser feitas como incentivar faixas exclusivas de ônibus e incentivo ao não uso do automóvel.

Porém, a solução que Cintia considera, de fato, a melhor para diminuir os congestionamentos de Niterói e região é “simples”: fomentar o desenvolvimento local, com geração de empregos, o que resulta em diminuição de deslocamentos. E a “cereja do bolo” disso é, na sua opinião, a criação de uma Autoridade Metropolitana, que faria a integração dos sistemas de transportes dos municípios de forma racionalizada.

Poder público

Renato Barandier (D) participou do painel com representantes do poder público. Foto: Divulgação Coppe

Além da apresentação da pesquisa, fez parte da programação do evento um painel que contou com a participação de representantes do poder público. Niterói foi representada pelo secretário municipal de Urbanismo e Mobilidade, Renato Barandier. Coube a esses representantes informar as providências que suas cidades estão tomando para melhorar a mobilidade urbana.

Barandier citou avanços em infraestrutura promovidos pelo governo municipal como o alargamento de acessos à Ponte; a entrada em funcionamento da Transoceânica, a ampliação de 10 Km para 50 Km de faixas exclusivas para circulação de ônibus e a implantação de 100 Km de ciclovias.

Segundo ele, em relação aos ônibus, o maior desafio diz respeito às tarifas:

– A implantação do subsídio é a grande questão a ser resolvida. A Câmara Municipal aprovou o subsídio, no ano passado. Porém, como estamos em ano eleitoral, não podemos implantar. Reduzir a tarifa para o usuário é uma meta, em Niterói.

Ele admitiu que, atualmente, a população vive um cenário de redução de frota de ônibus e que o tempo de espera por um veículo aumentou. Tudo como  consequência do congelamento das tarifas. Por isso, segundo ele, a importância do subsídio para os ônibus.

– O transporte mais subsidiado no país é o automóvel. Os estímulos para a compra de carro particular estão na raiz dos últimos 60 anos, das questões de mobilidade das cidades. No caso de Niterói, a Ponte foi fator de ampliação dos carros no município. Assim, competir com os carros, na cidade, em termos de mobilidade, é um grande desafio – afirmou.

Barandier também informou que, para desestimular o uso de carros, em Niterói, 1.400 vagas deixaram de existir no Centro da cidade. Já para fortalecer o sistema de transporte público, ele citou duas iniciativas do governo municipal: o início da construção do terminal rodoviário do Caramujo e a implantação do MobNit.

O novo terminal vai ser construído na RJ-104,  na Zona Norte da Cidade. O objetivo é desafogar o Terminal João Goulart, até o momento, único terminal rodoviário municipal de Niterói, que fica no Centro da cidade.

O MobNit é o Sistema de Gestão da Mobilidade de Niterói, que vai reunir uma grande quantidade de dados e informações de diferentes fontes sobre o transporte público e a mobilidade urbana na cidade. A plataforma vai processar e organizar esses dados para que se tornem ferramentas gerenciais e para sirvam de subsídio para a implementação de políticas públicas de curto e longo prazo. O secretário não quis dar maiores informações sobre o projeto, mas já falava sobre ele em junho do ano passado:

– Essa plataforma vai aumentar a capacidade de controlar, de fiscalizar, de dar ainda mais transparência, e de fazer a gestão e o planejamento da mobilidade com base em informações e dados produzidos diariamente. Teremos informações em tempo real dos GPSs dos ônibus, das barcas, dos ônibus intermunicipais, dos sistemas de bilhetagem eletrônica e dos sinais inteligentes da cidade. Tudo centralizado nesse sistema. Vamos ter melhores condições de planejar a mobilidade – explicou Barandier, durante cerimônia em que foi dada a ordem de início para a elaboração do Sistema.

 

 

 

 

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