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São nove os quesitos de avaliação das escolas de samba. Cabe à bancada, formada por quatro jurados em cada categoria, com uma nota de descarte, a responsabilidade e olhar criterioso para avaliar os mais diversos elementos que compõem o desfile. São eles: Bateria, Samba-enredo, Harmonia, Evolução, Enredo, Alegorias e Adereços, Fantasias, Comissão de Frente, Mestre-Sala e Porta Bandeira. Mas não falta algum?
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Maquiadora há 30 anos e completando seis anos de trajetória na Viradouro, a niteroiense Christina Gall é enfática ao falar da ausência da maquiagem como quesito de avaliação das escolas de samba:
– Quem sabe um dia a gente tenha um quesito maquiagem. Afinal, no Oscar tem, não é verdade? Então porque não no Carnaval do Rio que sempre surpreende com suas criações? – diz.
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Christina acredita que há um movimento crescente das grandes escolas em investirem na maquiagem. Segundo ela, o nível do espetáculo de hoje praticamente exige esse grau de elaboração.
– Um figurino sem maquiagem nunca é visto da mesma forma. Sinto muito orgulho em saber que esse é um movimento que comecei em 2019 e vem ganhando corpo a cada ano – endossa.
Como toda tendência, é necessário pensar fora da caixa para se destacar. Para ela, os maiores desafios estão sempre relacionados à busca de inovação, seja através de um material diferente, uma execução mais elaborada para a maquiagem de uma ala ou fatores dificultadores dentro de uma Comissão de Frente.
Para esse desfile a Viradouro contou com 140 maquiadores, 15 franceses que vieram estagiar no carnaval, além de 5 maquiadores alunos do programa EMPODERADAS, que atende mulheres vítimas de violência (confira os dados no final da matéria).
O ano de retorno da Viradouro para o Grupo Especial (2019) foi o mais marcante. Christina conta que 1.600 pessoas utilizaram próteses de látex em mais de 4 alas, confeccionadas em seu ateliê. Mais de 3.000 peças, além de próteses em silicone para a Comissão de Frente.
– Hoje olho para traz e penso: “doooidaaa”. Mas foi muito, muito prazeroso ver a escola impecável na avenida – completa.
Para o carnaval do ano que vem, Christina pretende continuar na Viradouro, se renovarem seu contrato, e na Imperatriz, onde já está renovada.
A seguir, os melhores trechos da entrevista:
A SEGUIR: NITERÓI: Como recebeu a notícia do tricampeonato da Viradouro?
CHRISTINA GALL: Ver a Viradouro ganhar, depois de perder por um décimo em 2023, foi uma espécie de “alma lavada”. A escola fez um desfile perfeito além de trazer inovações que a fizeram digna de receber o título gabaritando. Como niteroiense e maquiadora da escola há 6 carnavais, foi uma explosão de alegria!
Como foi o processo da maquiagem? Quais foram suas principais referências?
Meu trabalho na Viradouro começa logo em seguida da escolha do enredo, que é quando visualizo os desenhos do carnavalesco. Esse é o momento que início a minha pesquisa de conteúdo, entendendo o enredo e a proposta para aquele figurino.
Entender qual tipo de mensagem o carnavalesco deseja passar. Aí sim, começo a fazer o esboço da proposta da maquiagem. Nesse esboço, croqui, crio a maquiagem levando em consideração os processos necessários para execução pela equipe, sem perder a qualidade e a unidade, garantindo um resultado único para cada componente, independente da mão que estará executando.
As referências utilizadas são os conteúdos históricos, muitas das vezes, relacionado ao tema.
Quais foram os principais desafios durante todo o processo?
Os maiores desafios estão sempre relacionados à busca de inovação. Seja através de um material diferente, uma execução mais elaborada para a maquiagem de uma ala ou fatores dificultadores dentro de uma comissão de frente, que muitas das vezes exige qualificações específicas. Neste ano, por exemplo, tivemos as carecas com apliques em cabelo.
O que mais te motiva na sua profissão?
Estar trabalhando! Amo o que faço e, independente da proposta, estou sempre buscando entregar com a máxima perfeição e qualidade. Resolver os desafios que encontro é o maior energético que tenho e acabei ficando viciada nisso…
Mas algo que guardo em mim, que é bem latente, é o desejo de ver a maquiagem ganhando respeito e corpo no carnaval. Nosso trabalho, e quando digo nosso, não estou me referindo somente ao meu, mas a todos os grandes nomes da maquiagem do carnaval do Rio, não deixa nada a desejar a nenhum filme.
A qualidade dos trabalhos entregues hoje é de um nível muito alto. Próteses, maquiagens artísticas corporais, caracterizações extremamente elaboradas e com recursos baixos.
Além de termos fatores que são únicos no carnaval, como tempo de execução (3 horas), fator calor extremo, fator componente que não é modelo ou ator, fator chuva e durabilidade. Olhar uma ala maquiada atravessando a avenida, e depois olhar essa mesma ala sem a maquiagem. É gritante a diferença!
Mas quando vemos com maquiagem, o público em geral, tem a percepção de um todo e pensa: “nossa que lindo”.
Mas não consegue pontuar especificamente que é a maquiagem o grande ponto de diferença. Quando vê sem maquiagem, o público pensa.. falta algo, o que é?!
Hoje, vejo um movimento crescente das grandes escolas em investirem na maquiagem. Afinal, o nível do espetáculo hoje praticamente exige esse grau de elaboração.
Um figurino sem maquiagem nunca é visto da mesma forma. Sinto muito orgulho em saber que esse é um movimento que comecei em 2019 e vem ganhando corpo a cada ano.
Quem sabe um dia a gente tenha um quesito: maquiagem! Afinal, no Oscar tem, não é verdade?! Então por que não no carnaval do Rio que sempre surpreende com suas criações?
Há quanto tempo trabalha na área e quais são as memórias mais marcantes?
Sou maquiadora e cabeleireira há quase 30 anos já, com muito orgulho. Durante esse tempo dediquei 6 anos ao carnaval carioca que, a cada ano, me deixa memórias incríveis.
Nunca vou esquecer o Carnaval de 2019, que foi o ano do retorno da Viradouro ao Grupo Especial. Nesse ano eu maquiei 1.600 pessoas utilizando próteses de látex em mais de 4 alas, confeccionadas em meu ateliê, mais de 3.000 peças, além de levar próteses em silicone para a comissão de frente. Hoje olho para traz e penso: “doooidaaa”.
Mas foi muito, muito prazeroso ver a escola impecável na avenida. E mais ainda, ter ganhado de presente aquele carnaval, que teve a frente o grande nome Paulo Barros, e eu que só estava há 1 ano na escola e no carnaval.
O que planeja para o Carnaval do ano que vem?
Nossa, responder a essa pergunta assim que o carnaval acaba é bem difícil. Porque todos nós sempre dizemos: nunca mais vou fazer carnaval, aliás, falo isso todos os anos! Mas basta o novo enredo ser apresentado que o bichinho do carnaval pica a gente e a vontade de criar recomeça! Para 2025 pretendo continuar na Viradouro, obviamente se me quiserem, e na Imperatriz que já estou renovada!
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