COMPARTILHE
Precariamente iluminada e visivelmente desabastecida. Assim funcionou a loja Leader, em Icaraí, nesta segunda-feira (29), após dois dias de portas fechadas, na semana passada. A Leader é uma das mais tradicionais e antigas lojas de Niterói, fundada em 1951, como um armarinho.
Há cerca de uma semana, a rede de lojas de departamento fechou a unidade de dois andares que funcionava no Centro de Niterói – seu segundo andar era interligado ao Plaza Shopping por uma passarela. Na porta, foi colado um aviso que informava sobre o encerramento das atividades, no local, e indicava como loja “mais perto” a da rua Otávio Carneiro, 86, em Icaraí. Esta, porém, não abriu na última sexta-feira (26) e sábado (27).
Leia mais: ‘Pé-de-Meia’: programa recém-criado pelo Governo Federal existe desde 2018 em Niterói
Nesta segunda-feira, funcionários da loja de Icaraí informaram que o local não funcionou nos últimos dias por falta de energia elétrica. Para o A Seguir, a Enel Distribuição Rio informou que o fornecimento de energia à loja foi suspenso “em decorrência de débitos não quitados que estabelecimento possui com a distribuidora”.
O que o A Seguir constatou, nesta segunda-feira, foi que o local estava apenas parcialmente iluminado, com as escadas rolantes paradas e climatização precária.
Grande parte dos produtos está em liquidação. No primeiro andar, a seção de lingeries sumiu. No segundo, não há mais itens de utensílios para casa ou de banho, apenas poucas peças de cama e roupas infantis. Uma parte do espaço foi fechado por um tapume publicitário. Uma funcionária afirmou que muita coisa foi vendida na liquidação, na semana passada, e que há previsão de reposição de mercadoria na próxima sexta-feira, 2 de fevereiro. Segundo ela, o trabalho segue normal, sem informações sobre possível fechamento da unidade.
O A Seguir tentou contato com a empresa mas não teve retorno.
A Leader foi fundada em 1951 em Miracema (RJ). Era, então, uma loja de tecido e armarinho chamada Bazar Leader. Um dos fundadores foi Newton Fernandes Gouvêa, nascido em Palmas (MG), filho de ferroviário cujo primeiro empreendimento foi a venda, com irmãos, de doces caseiros feitos pela mãe. Newton Fernandes Gouvêa permaneceu à frente da gestão da empresa por 60 anos. Ele faleceu em 2015, aos 90 anos.
Em 1966, com três lojas no interior do Rio, a Leader chegou a Niterói e iniciou sua expansão. Em 1970, houve a fusão de várias empresas da família Gouvêa dando origem à União de Lojas Leader Limitada, sob o nome fantasia Leader Magazine. Em 1991, a segunda geração das famílias dos sócios-fundadores assumiu o negócio. Foi inaugurada a primeira loja no município do Rio, em Madureira, e nesse ano também foi aberta a fábrica Leader, em São Gonçalo. No seu auge, a rede chegou a ter 65 unidades em oito estados. Tinha, então, 5 mil funcionários .
Em 2005, o banco de investimentos BTG Pactual, do banqueiro André Esteves, comprou a varejista Leader Magazine. O banco ficou com 70% das ações em um negócio que girou em torno de R$ 1 bilhão. Em 2008, a Renner tentou comprar a Leader, mas desistiu do negócio, após a crise global atingir os mercados financeiros.
O BTG Pactual controlou a Leader até 2016, quando anunciou o pedido de falência da rede varejista. A solicitação foi feita pela família Furlan, dona da rede da rede paulista Seller, comprada pela Leader, em 2013, que reclama pagamento atrasado de R$ 9 milhões, na Justiça.
Com uma dívida de R$ 1,1 bilhão, em 2020, a Leader negociou os termos de seu plano de recuperação judicial com credores. Várias de suas lojas encerraram as atividades comerciais, inclusive a sua primeira loja, em Miracema, que fechou após 71 anos de operação em 29 de outubro de 2022. Agora, é dado como certo o fechamento da Leader Icaraí.
No site da rede, consta o seguinte informe:
“A Recuperação Judicial visa resguardar a capacidade de operação e de geração de receitas, num processo pensado cuidadosamente para garantir a retomada da empresa, com o menor impacto possível. É mais um passo, portanto, na estratégia de recuperação dos negócios, pois fornece as garantias e a segurança necessárias para uma negociação ampla e definitiva de todas as pendências financeiras com seus credores.
Desde 2016, o Grupo Leader se lançou ao desafio de se reerguer e voltar a ser uma das maiores empresas do varejo brasileiro. Nessa trajetória, diversas medidas foram tomadas, sempre com cautela e visando a preservação das relações de parceria com seus fornecedores e clientes. No entanto, a retração econômica dos últimos anos teve reflexos ainda mais profundos em 2019.
As vendas de dezembro e janeiro foram muito abaixo do esperado, o que ocasionou uma grande dificuldade de caixa. Com a crescente realização de protestos, de valores cada vez maiores, recorrer a proteção legal da recuperação judicial tornou-se inevitável.
Operando sem interrupções e com as proteções garantidas pela recuperação judicial, o Grupo Leader conseguirá gerar os recursos necessários para atender todas as demandas, como sempre aconteceu no enfrentamento de vários outros momentos de dificuldades econômicas no setor varejista”.
COMPARTILHE