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Com que roupa eu vou para a eleição que você me convidou?

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

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Conversamos com o eleitorado da direita e esquerda, para registrar os capítulos finais desta eleição, marcada pela polarização acirrada
ato eleição 2022 - saída das barcas
A saída das barcas, na Praça Arariboia, é ponto frequente de campanhas políticas, dos dois “lados”. Foto: Livia Figueiredo

Nem a previsão de chuva e as rajadas de ventos tiraram os apoiadores de Lula e de Bolsonaro da rua. Neste domingo (30) o ex-presidente da República e o atual disputam o segundo turno das eleições.

O início da tarde desta sexta-feira (28), na quase véspera do capítulo final dessa história, foi de grande polarização, na cidade. O A Seguir: Niterói percorreu as principais ruas da cidade para registrar o clima de pré-eleição. Conversamos com o eleitorado da direita e esquerda, em uma tentativa de registrar e, por vezes, resgatar, o legado de uma eleição histórica e marcada por pontos de vistas, caminhos e anseios tão díspares.

Leia mais: Quem não votou no primeiro, pode votar no segundo turno das eleições

O movimento de campanhas já era intenso desde o início da tarde na saída das barcas, no Centro de Niterói. Foto: Lucas Neves

Nas ruas e, em alguns casos, numa mesma banca de camelô, itens pró- Lula e Bolsonaro eram “coagidos” a compartilhar do mesmo espaço. Enfileirados, estavam acessórios, como bonés, chapéus, além de camisetas, bandeiras e toda a paramentaria que há.

Cornetas, bandeiras, bonés e camisetas são alguns dos itens vendidos. Foto: Lucas Neves

Uma vendedora ambulante, que preferiu não se identificar, diz ter ficado surpresa com o movimento. Segundo ela, as pessoas já saem das banquinhas a postos e “adesivadas” e o que mais tem saído são os acessórios do Lula.

–  Tem gente com medo. Mas as pessoas já saem daqui usando. O movimento está intenso, o que ilustra bem o que enfrentaremos no dia 30 de outubro – diz.

Itens do Lula são os mais vendidos na banca que fica localizada em Icaraí, na Rua Paulo Gustavo, entre a Presidente Backer e a Lopes. Foto: Lucas Neves

“Temos que tomar cuidado”

O contraste era nítido também no decorrer do trajeto. Enquanto alguns não se continham com apenas um adesivo, outros optavam pela discrição, por receio de uma possível represália. Porém, todos os entrevistados para esta reportagem disseram que estariam confortáveis em ir com algum objeto – ou alguma roupa – que represente o seu candidato, no dia da eleição, digitar seu voto na urna eletrônica.

– Não tenho medo da represália. Teoricamente, estamos num bairro civilizado, que é Icaraí. Eu não vou votar porque não consegui transferir meu título de eleitor, mas se pudesse iria com o adesivo dele (Bolsonaro). Mas ao mesmo tempo, temos que tomar cuidado. Os dois lados estão extremados. Qualquer coisa que eu posto, pensam que sou maluco, sou doente. Esses dias tive que tirar um adesivo da minha moto porque começaram a gritar comigo – destacou Rodrigo, que é motoboy.

O motoboy Rodrigo se pudesse votaria no Bolsonaro. Foto: Lucas Neves

Sua mãe, Silvia, assina embaixo:

– Está todo mundo à flor da pele. Mas não vou mentir. Vou votar com o adesivo do meu candidato. Fiz isso no primeiro turno e vou fazer de novo. Não podemos ter medo – completou.

Luiz Carlos, 58 anos, segurança de uma galeria próxima à padaria Beira Mar, conta que tem presenciado diversas agressões verbais e cita a esquina da Lopes Trovão com Paulo Gustavo como uma das mais turbulentas.

O segurança Luiz Carlos é 22. Foto: Lucas Neves

– Meu irmão, não adianta. Se tiver que Lula ganhar, ele vai ganhar. Se tiver que Bolsonaro ganhar, será ele. Ficam arrumando confusão com tudo. É 22 ou 13. Eu sou 22. Minha família também é – afirma.

Na esquina da Rua Presidente Backer com Paulo Gustavo, um fluxo de pessoas com adesivos e camisetas, algumas estampadas com o rosto do seu candidato, cruzavam as esquinas da movimentada Paulo Gustavo. Ainda era início de tarde e as ruas se configuravam de tal forma que se costurava, a cada cruzamento, uma dicotomia ideológica. Desamparados de carros de som e cornetas, a atenção repousava em símbolos, gestos, expressões e se materializavam em imagens.

A ecobag do Lula combinava com a blusa vermelha. Foto: Lucas Neves

Nem 8, nem 80

Nesta tarde de sexta-feira, as manifestações eram por vezes sutis e outras escancaradas. Ou, em determinas situações, elas coexistiam, como o caso do fisioterapeuta Pedro Lima, que chegou a tingir a barba de vermelho para o primeiro turno. Os resquícios dos pigmentos não o deixam mentir. Ele ainda vestia uma blusa vermelha e uma ecobag com o rosto do Lula estampado. Pedro vota no Ingá e diz que, no primeiro turno, não houve qualquer sinal de confusão onde costuma votar.

“Eu vou de camisa vermelha e adesivo do Lula, mas prefiro não ir com a bolsa. Seria demais”, pondera.

O fisioterapeuta Pedro Cruz votará no Lula. Foto: Lucas Neves

Conflitos

Jéssica, de 34 anos, conta ter sido espectadora de alguns embates. Isso porque a saída das barcas, na Praça Araribóia, no centro da cidade, virou ponto de encontro de bolsonaristas e lulistas, que aproveitam o alto movimento no entorno da estação para fazer campanha e, com sorte, virar voto.

– Já tem uns três dias que tem vindo o pessoal do Bolsonaro. Eles se posicionam aqui em frente às barcas, por volta das 16h, e começa um auê. Ficam jogando piadinha um para o outro. Teve um dia que um deles ficou zoando a minha colega que estava bandeirando. Falou que ela ia comer pão com mortadela. Outro gritava: “gente, segura o celular e a carteira aí”, como se nós, petistas, fossemos todos ladrões – conta.

Jéssica costuma “bandeirar” na Praça Arariboia, na saída das barcas, e cita alguns atos de represália. Foto: Lucas Neves

Ao cruzar alguns dos pontos mais movimentos da cidade, o vento já anunciava que uma tempestade estava por vir. A última parada da reportagem foi em frente à praia de Icaraí, outro local que costuma ser palco de manifestações recorrentes. Uma, inclusive, está marcada para este sábado (29), véspera das eleições: apoiadores de Lula fizeram uma convocação geral para um ato popular na Praia de Icaraí. Um grande corredor cultural ocupará toda a orla do bairro. Manifestações artísticas como música, dança, performances circenses, capoeira, batalha de rimas, grafite e artes visuais fazem parte da segunda edição do evento “LulArte”, em apoio à candidatura do ex-presidente Lula à presidência da república.

Debaixo da chuva, a estudante de Ciências Biológicas da UFF, Gabriela de Castro, já se encontra pronta para apertar 13 na urna.

– Eu vou votar com todos os adesivos possíveis. Assim como a minha família que mora comigo. Como eu voto no colégio São Vicente, na Miguel de Frias, em Icaraí, me sinto mais confortável, mais segura. Talvez se morasse no Rio, não faria o mesmo. Todos os meus parentes próximos vão votar 13. Quem não é próximo, vai votar 22. E por isso mesmo não é próximo – brinca.

“Vou votar com todos os adesivos possíveis”, diz estudante da UFF. Foto: Lucas Neves

A última “motocarreata”, organizada pelos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, também estava prevista para este sábado (29), em Niterói. A ideia era arregimentar moradores de municípios vizinhos a Niterói, para percorrer a Zona Norte da cidade.

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