23 de novembro

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Chuva deixa Engenho do Mato na lama, em Niterói

Por Gabriel Mansur
| aseguirniteroi@gmail.com

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Chuvas que caem na cidade, desde a semana passada, deixam as ruas alagadas; moradores seguem ilhados e o tráfego de veículos é limitado
Avenida Irene Lopes Sodré completamente alagada. Foto: Gabriel Mansur
Avenida Irene Lopes Sodré completamente alagada. Fotos: Gabriel Mansur

A chuva cai, a rua inunda. Eis uma música que marca os aniversários dos brasileiros e que tinha tudo para ser levada na brincadeira se não retratasse, também,  grande parte de Niterói em dias mais chuvosos. Nos últimos dias, como mostrado pelo A Seguir, a cidade sofreu com alagamentos, quedas de árvore, enchente e até desabamentos de casas. No bairro mais rural do município e com a economia voltada para produção agrícola, a situação é especialmente grave.

Leia mais: Niterói volta às manchetes policiais na primeira semana do ano

Trata-se do Engenho do Mato. A fraca, porém, persistente, chuva que cai na cidade, desde a semana passada, mantém as ruas do bairro alagadas. Alguns moradores seguem ilhados. E o tráfego de veículos segue limitado – senão impossível.

O problema começa depois do Ubá Floresta, condomínio que abriga uma população de classe alta e média alta. Na rua Dr. João Batista Leal há uma cratera de pelo menos três metros de diâmetro e dois de profundidade, o que dificulta ainda mais a mobilidade  dos moradores. O “abismo” está ali há cerca de duas semanas. Nesta segunda, por conta da chuva que caiu nos últimos dias, a tubulação estourou, jorrando litros de água na rua já castigada pela pluviosidade.

O vazamento também influencia no fornecimento de água para os moradores, que relatam insuficiência e dificuldade para realizarem tarefas diárias, como lavar roupa, fazer faxina e  ou tomar banho. A descarga também não funciona.

Cratera de 3m de diâmetro na rua João Batista Leal.

– Essas obras parecem estar sendo realizadas por amadores, que não conhecem nada de drenagem pluvial e pavimentação. A rua está mais esburacada e alagada do que nunca. Fora que não há sequer uma placa que sinalize essa cratera, somente para quem vem da principal. Às vezes, tenho que sair de casa, à noite, com pressa, e esqueço dessa obra por alguns segundos. Já me acidentei duas vezes por fazer um desvio repentino. É melhor cair na areia do que nesse “precipício” – afirmou o físico Arthur Rebello, que é motociclista.

Pelo bairro

A reportagem do A Seguir rodou todo o bairro, de carro, na manhã de segunda-feira (9). Foi possível constatar diversos problemas, principalmente, nas vias secundárias, que são quase todas de terra. No loteamento Vale Feliz, que abriga um campo de futebol em estado precário, há trechos com buracos tão grandes que restringem o acesso de automóveis leves.

Buraco no Vale Feliz atrapalha circulação de veículos.

Nem a avenida principal escapa da falta de conservação. Na rua Irene Lopes Sodré, que corta toda a região até a entrada de Várzea das Moças, existe uma “buracolândia“, além de terra e muita lama, provocadas por uma espécie de “desasfaltamento” por conta da obra de drenagem pluvial que vem sendo feita desde abril de 2022.

Os piores trechos estão entre a ex-pizzaria “Napoli” e a “Tra I Gusti – Cucina & Pizzeria”; e a partir da pracinha, onde fica a Biblioteca do Engenho do Mato (BEM), até a avenida Profa. Romanda Gonçalves. A partir daí, há uma interdição no meio da pista que impede o acesso direto à Várzea das Moças.

Interdição na avenida Irene Lopes Sodré antes da rotatória para Várzea das Moças.

– Eu moro no Engenho do Mato praticamente a minha vida toda (32 anos de idade e 30 de Engenho) e afirmo com total convicção que nunca foi tão ruim. Nem na década de 90, época em que tudo era mato, literalmente. Eles (Prefeitura) prometeram asfaltar 117 ruas após a drenagem, mas ninguém imaginava que, para melhorar, teria que piorar tanto. Já levei meu carro ao mecânico para trocar suspensão, porque acaba desgastando com tanto buraco, além de pneus, que sempre furam – lamentou Iana Couto.

“Melhor voltar, vai atolar”

Durante a “ronda”, foi possível perceber que todas as ruas secundárias, sem exceção, estão cobertas de lama, ainda que trafegável. Uma, entretanto, segue intransitável: a São Sebastião, atrás da praça. Em um carro alto, modelo Corolla Cross, foi possível dirigir até o Parque Rural de Niterói. A partir dali, foi melhor não arriscar. Até porque, um morador que passava de bicicleta recomendou que déssemos meia volta. “É melhor voltar para não atolar”, orientou.

Na sexta-feira da semana passada (6), a reportagem conversou com Renato Ramos, motorista de aplicativo. Ele é inquilino em uma casa cerca de 3,5 quilômetros pracinha adentro. Mora na rua Bertha Motta Vieira, onde, nesta segunda-feira, foi impossível chegar perto. No sábado, com medo que seu carro fosse levado pela correnteza que se forma em dias de chuva, conseguiu retirá-lo com ajuda de um trator.

Rua São Sebastião segue completamente alagada.

Desde então, ele estaciona seu automóvel na rua São Sebastião, a 2,5 km de distância de sua residência. O resto do caminho ele faz a pé, pela lama. Às vezes, com seu filho de seis anos nas costas. Diante do problema, que segundo ele aparenta ser “insolúvel”, escolheu se mudar para Piratininga.

A nova casa é de família, o que torna o aluguel “gratuito”, embora ele estivesse disposto a pagar R$ 500 a mais do que paga para não precisar se preocupar com bolsões d’água. Na casa do Engenho do Mato, aliás, o aluguel é R$ 1 mil. O IPTU, bancado pelo proprietário, custa R$ 1.700.

– Já estamos nos mudando, mas só vamos conseguir concluir esse processo quando a água baixar, e eu conseguir entrar com o carro na garagem para pegar as mobílias mais pesadas. Eu gosto da tranquilidade do Engenho do Mato, mas infelizmente, não compensa todo esse problema que passamos em época de chuva. Sexta não foi a primeira vez e não estou disposto a esperar o término da obra de drenagem para ter melhor qualidade de vida. Meu filho perdeu algumas aulas durante o ano porque estávamos ilhados. Minha esposa perdeu dias de trabalho pelo mesmo motivo – contou.

Prefeitura de Niterói se posiciona

A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Niterói, por intermédio da sua assessoria de imprensa. Em nota, foi informado que “a Empresa Municipal de Moradia, Urbanização e Saneamento (Emusa) está executando o projeto de urbanização do Engenho do Mato – que inclui implantação de rede de drenagem e pavimentação – no qual 117 ruas serão contempladas”. Serão cerca de 17 mil moradores beneficiados na região.

Ainda de acordo com a Emusa, “76 dessas ruas já receberam algum tipo de intervenção na rede de drenagem. Alegou também que esse número “ainda não é o suficiente para que os problemas sejam sanados em relação às chuvas, já que a rede de drenagem e a pavimentação ainda não está concluída”.

Rua Bertha Motta Vieira se transforma num córrego. Foto: leitor

Acrescentou que as “equipes da Emusa e da empresa responsável pela obra encontram-se, desde sexta-feira (06), executando os reparos nas vias para melhoria dos acessos”.

Sobre o “desasfaltamento” da avenida Irene Lopes Sodré, trecho da RJ 108, o prazo inicialmente previsto para asfaltar-lá é março, mas, segundo a Prefeitura, “a via ainda continuará com intervenções, já que o serviço é executado por trechos como forma de minimizar os transtornos gerados”.

As obras de drenagem e pavimentação do Engenho do Mato foram sancionadas em 7 de outubro de 2021, mas as reformas só iniciaram, de fato, em abril de 2022. Conforme previsto pela Prefeitura, as obras terão duração de 30 meses, ou seja, devem ser concluídas somente em dezembro de 2024, após a eleição municipal. A revitalização do bairro custará, ao fim do trabalho, o valor máximo estimado de R$ 217 milhões.

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