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Canal de São Lourenço: ‘Tem pneu, sofá, cadáver. É uma tragédia’, diz empresa que fará dragagem

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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A DTA começa a remoção do lixo na entrada do porto de Niterói. A obra, mesmo, inicia em junho, como informou para o A Seguir João Acácio, presidente da empresa
Canal de São Lourenço próximo ao terminal pesqueiro
Canal de São Lourenço próximo ao Terminal Pesqueiro (telhado branco à direita). Foto Leonardo Simplício/reprodução

A tão aguardada dragagem do Canal de São Lourenço já começou. Não a obra propriamente dita, mas uma outra intervenção necessária para que os trabalhos comecem. Trata-se da remoção do lixo do local, trabalho que draga alguma conseguiria “dar conta”.

– O canal está há muitos anos largado. Está  recheado de lixo, pneu, sofá, cascos de barco. É uma tragédia. Tem cadáver, tem tudo – afirmou João Acácio Gomes de Oliveira Neto, presidente da DTA – Engenharia Portuária & Ambiental, único grupo 100% brasileiro a atuar no segmento de dragagem portuária pesada no Brasil.

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A empresa, com sede em São Paulo, lidera com participação de 57%, o Consórcio Fluminense. Formado também pela SK Infraestrutura, de Curitiba (PR), o consórcio foi o vencedor da licitação para a realização da obra, que vai aumentar a profundidade do acesso aquaviário ao Porto de Niterói de 7 para 11 metros de profundidade. Com duração de um ano, está orçada em R$ 137 milhões.

Ruth: draga ainda desmontada, já está no porto de Niterói. Fotos: Divulgação

A primeira draga de sucção e recalque a ser usada na obra já chegou na cidade, mas ainda está desmontada, no porto de Niterói. A previsão é que entre em funcionamento em junho, iniciando, de fato, a dragagem do Canal de São Lourenço.

Engenheiro civil especializado em portos pela Universidade de Delft (Holanda), Neto falou com exclusividade para o A Seguir Niterói sobre os trabalhos que já estão sendo feitos pela DTA, na cidade. E antecipou informações sobre outra empreitada a cargo da empresa: a construção do Porto de Jaconé, nome popular dos Terminais Ponta Negra (TPN), no vizinho município de Maricá. O complexo será o maior empreendimento portuário integralmente privado do país e se tornará o responsável por praticamente toda a movimentação diária de petróleo do pré e pós-sal.

Sobre a DTA

João Acácio Gomes de Oliveira Neto é o presidente da DTA.

Há 26 anos, a DTA se dedica à engenharia portuária, segmento onde é líder, contando com uma unidade de negócio relevante no segmento de dragagem portuária pesada, dominado mundialmente por poucas companhias europeias.

A empresa fez parte do consórcio que desenvolveu os estudos de privatização dos portos de Santos e São Sebastião, no litoral de São Paulo. Também deteve o contrato de dragagem do complexo santista, o maior da América Latina, e dos portos de Paranaguá e Antonina (PR).

Recentemente, a DTA venceu a licitação para elaboração dos projetos básico e executivo de engenharia, além da execução das obras de contenção da erosão e restauração da Praia Central de Piúma (ES). Nesse segmento, concluiu, em março último, a recuperação da Praia de Jurerê, em Florianópolis, tendo também atuado em Balneário Camburiú, ambos em Santa Catarina.

Apenas em recuperação de praias, a DTA executou mais de 4 milhões de metros cúbicos de aterro hidráulico. Até 2020, a empresa já tinha feito 100 milhões de metros cúbicos de dragagem, o que corresponde a 65 estádios do Maracanã cheios até o teto.

Confira a entrevista

Quando começa a dragagem do Canal de São Lourenço?

João Acácio Gomes de Oliveira Neto: A dragagem de São Lourenço está em fase final de projeto. Antes, porém, tem um trabalho que antecede que é de remoção de lixo e material contaminado.

Como está a situação do local, em termos ambientais?

JAGON: O canal está há muitos anos largado. Está recheado de lixo, com pneu, sofá, cascos de barco. É uma tragédia. Tem cadáver, tem tudo. Dragagem é succionar água com sedimentos. A máquina não engole lixo. Nisso, tem outro ponto. A maior parte do material a ser succionado está contaminado. Não podemos jogar de volta na água.

O que será feito?

JAGON: A maior parte é material contaminado com esgoto doméstico, ou seja, de origem fecal, além de efluentes industriais, resto de solda de estaleiro e metal pesado. Tem de tudo. É o fim do fim. Esses resíduos não podem ser lançados no mar. Vai para um dique onde o material recebe polímeros e fica acondicionado em espécies de sacolas. Essas sacolas não vão para bota fora marítimo, mas para um aterro para ficarem isoladas. Depois da água tratada é que ela volta para a Baía de Guanabara. Já fizemos esse tipo de obra. É tudo normatizado e o Inea (Instituto Estadual do Ambiente) fiscaliza. Essa obra é um case importante para nós porque vai deixar o local, dessa situação de lixo, para virar paraíso. Haverá renovação da água que vai ficar limpa e vai voltar a ter peixe.

A dragagem do canal de São Lourenço será feita por um consórcio do qual a DTA faz parte junto com a SK Infraestrutura. O que cabe a cada empresa, na obra?

JAGON: A DTA é a líder do consórcio, com 57%. É quem faz a interlocução com o cliente. Porém, a responsabilidade é solidária. Tem subdivisão interna dos serviços. A SK tem um tipo de equipamentos e nós outros. Por isso são duas empresas que se juntaram. A draga que já está em Niterói, a Ruth, é da SK.

Onde está a Ruth?

JAGON: No Porto de Niterói. Tem 14 toneladas, com 25,60 m de comprimento. Foi transportada de Itajaí (SC) para Niterói por terra, desmontada. Depois virão as dragas grandes. Essa draga menor remove o sedimento de locais onde a maior não chega. Ela faz a combinação entre dois princípios básicos, como escavação e sucção: o solo é desalojado para que possa ser transportado pelo tubo de sucção. Porém, Ruth só remove argila, areia e água. E não sofás. Tem que estar com tudo digerível para a draga para a máquina entrar em funcionamento. Ao todo, essa obra vai dragar 2 milhões de metros cúbicos; a Ruth terá feito 17% desse volume.

Qual a previsão para a Ruth entrar em campo?

JAGON: A Ruth começa a operar no começo de junho, que é quando a obra propriamente dita começa. Até o momento, está tudo dentro do cronograma.

Ruth entra em ação em junho.

O consórcio Eicomnor-Novoplan também participa dessa obra de dragagem do canal de São Lourenço. Qual a atuação dele?

JAGON: Esse é um consórcio com outra especialização. Foi contratado pela prefeitura de Niterói para fiscalizar a obra, fazer supervisão e monitoramento ambiental. Está orçado em R$ 6 milhões.

Quais as etapas da obra?

JAGON: Primeiro, o levantamento que vai identificar tudo o que tem que ser removido para fazer a dragagem. É feito com uma espécie de fotografia do fundo do canal. Depois vem o trabalho de laboratório, relacionado com o material contaminado e a criação de uma área para deposição de material. Em paralelo, estamos terminando a definição do projeto, sua volumetria e o traçado do canal. Esse canal requer uma engenharia sofisticada.

Quando a obra começar, o Porto de Niterói para?

JAGON: Sim. O porto de Niterói tem limitações severas de operação. Quando as dragas estiverem trabalhando, o espaço tem que ficar para as dragas e o porto fica interditado. É uma operação clássica.

A obra tem como objetivo criar um acesso para o novo terminal pesqueiro de Niterói, mas vai beneficiar o porto, por tabela, correto?

JAGON: Por tabela, não; beneficia diretamente. A dragagem vai atender à remoção da lixarada e o terminal pesqueiro. Depois da obra, vai ficar um brinco aquela área, vai dar nova vida a um ecossistema atualmente comprometido. Hoje, não tem vida marinha lá. Por isso, a obra de dragagem do canal é até uma questão de saúde pública.

Quando chegam as dragas grandes?

JAGON: Assim que esse tipo de equipamento for necessário. Dragas grandes podem vir de qualquer lugar porque esse tipo de draga não para, vem navegando. Quando chega, já começa a trabalhar.

Elas também têm nomes próprios?

JAGON: Sim, todas têm. Mas não dá para saber, hoje, “quem” virá para Niterói. Vai depender de quando se precisar do equipamento, que, como disse, pode vir de diferentes lugares.

Antes da dragagem do canal terminar, em Niterói, a DTA vai começar a construir um porto em Maricá. Qual a dimensão dessa obra?

JAGON: O Porto de Jaconé (nome popular dos Terminais Ponta Negra – TPN), em Maricá é um projeto proprietário nosso. Ou seja, somos o titular do porto, um projeto que existe há 11 anos. É uma obra 100% privada. Vai custar US$ 2,4 bilhões, o que representa o maior investimento privado setor. A pedra fundamental será colocada no final do ano, entre outubro e dezembro.

Em maricá será construído um porto de águas profundas. A título de comparação, o canal em Niterói terá 11 metros de profundidade; o porto de Santos tem 15 m; Maricá terá 26 m. Serão 5,5 milhões de metros quadrados responsáveis por praticamente toda a movimentação diária de petróleo do pré e pós-sal. Atualmente, não há nenhuma instalação capaz de atender essa procura de petróleo nas operações STS  (Ship-to-Ship). O potencial de geração de impostos anual pelo empreendimento é de R$230 milhões (ISS, ICMS, Cofins, IR), conforme dados da Procuradoria Geral do Rio de Janeiro.

O porto de Jaconé será a chegada do gasoduto Rota 3 da Petrobras, na costa. (O gasoduto tem como objetivo ampliar o escoamento de gás natural dos projetos em operação na área do pré-sal da Bacia de Santos. Possui aproximadamente 355 km de extensão total, sendo 307 km referentes ao trecho marítimo e 48 km referentes ao trecho terrestre, e escoará gás natural do Polo Pré-Sal da Bacia de Santos até o Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, onde está localizada a Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN Rota 3). A vazão de escoamento do gasoduto é de aproximadamente 18 milhões de m³ de gás por dia.  O gasoduto terrestre passará pelos municípios de Maricá e Itaboraí).

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