11 de dezembro

Niterói por niterói

Pesquisar
Close this search box.
Publicado

Bia Bedran: 50 anos de música e dedicação às crianças

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

COMPARTILHE

Em entrevista ao A Seguir, a cantora, compositora e educadora fala da sua relação com as filhas e o que mudou no comportamento das crianças ao longo dos anos
Bia Bedran e suas filhas
A cantora e suas filhas Julieta e Elisa. Foto: Arquivo pessoal

Bia Bedran completa 50 anos de carreira. Cantora, compositora, educadora, artista que ganhou o palco no Rio e se projetou na TV, é uma destas pessoas que associaram seu nome e talento a Niterói, onde sempre morou.  No meio da sua caminhada matinal pela Estrada Fróes,  fez uma pequena pausa, embargada pelas lembranças da casa que fez parte da sua vida por 46 anos. O canto que chama de aconchego é onde a artista viveu sua infância, casou, teve suas filhas Julieta e Elisa, se separou e, depois,  viveu solteira,  ao lado de sua mãe.

É na cidade que planeja celebrar a carreira, aos 67 anos, com o lançamento de um novo álbum digital e mais três livros. Bia lançou recentemente o álbum “Invenções”, seu primeiro trabalho divulgado diretamente nas plataformas digitais, com canções voltadas para o público infantil. A produção musical do novo trabalho é de Ricardo Medeiros, que também é responsável pelos arranjos, junto com Sidney Mattos. O disco ainda conta com a participação especial do cantor Lenine.

Em entrevista ao A Seguir: Niterói, Bia Bedran avalia a sua trajetória, fala dos seus projetos e de como as crianças mudaram ao longo do tempo, sem perder a pureza. Fala também do lugar que a maternidade ocupa em sua vida, como administrou a vida profissional com suas filhas, que ainda pequenas, as acompanhavam no camarim e em turnês pelo Brasil.

Leia mais: Prefeitura prepara concessão para o serviço de bicicleta compartilhada em Niterói

As canções de Bia Bedran embalaram mais de uma geração de crianças – hoje algumas crianças que viram seus shows fazem questão de levar os filhos. Mantém a mesma criatividade e lirismo que embala e envolve  o público. Uma delicadeza preenchida com várias camadas sonoras, que variam entre os muitos instrumentos que ela coloca na canção, como  violão, clarinete, violino, percussão, e a colaboração de uma equipe de músicos renomados. É justamente o lúdico, o apreço pelos detalhes, a atenção retida no que realmente importa, o encanto pelo novo e sua permanência que dão o norte a essa entrevista.

 

Bia Bedran com Julieta no camarim do Teatro Villa- Lobos, no musical Dona Árvore. Foto: Arquivo

Nascida e criada em Niterói, Bia Bedran, 67 anos, sempre colocou sua cidade como prioridade na rota dos shows e da sua vida particular. Não à toa é onde mora até hoje e foi o local que escolheu para celebrar, em 2023, seus 50 anos de carreira, com o lançamento de um novo álbum digital e mais três livros.

Bia lançou recentemente o álbum “Invenções”, seu primeiro trabalho divulgado diretamente nas plataformas digitais, com canções voltadas para o público infantil. A produção musical do novo trabalho é de Ricardo Medeiros, que também é responsável pelos arranjos, junto com Sidney Mattos. O disco ainda conta com a participação especial do cantor Lenine.

Abaixo, os melhores momentos da conversa:

A Seguir: Niterói: O que observou de mudança no comportamento da criança nestes 50 anos de carreira? De que forma elas diferem entre as gerações?

Bia Bedran: Pela minha experiência de estar com crianças em muitos ambientes (palco, sala de aula, praças, eventos culturais), eu sinto sempre a criançada de alguma maneira, inclusive a chegada de outras gerações. Aquela criancinha que me assistiu lá atrás no lançamento do meu primeiro LP, ela hoje é pai ou mãe de crianças que são minhas fãs hoje em dia.

O que eu noto na essência, que eu chamo do “ser criança” é mantido. Apesar da poluição da grande mídia, das redes sociais, que poluem a mente com informações que muitas vezes não somam a criatividade e espiritualidade, a criança mantém na essência aquela pureza investigativa que quer conhecer o mundo, se admirar pelas coisas. Ela não banaliza a situação. Porém a criança é mais dispersa para tudo que está fora da tela. Ela tem mais dificuldade em manter seu foco de atenção mais tempo em algo que não seja algo em que ela está “viciada” no seu dia a dia.

Como educadora, artista e mãe, acredito que se a gente consegue instalar esse encantamento na nossa postura, a criança vem com a mesma atenção que tinha para assistir a uma peça de teatro de no mínimo 1h15 sem se dispersar, sair correndo pelo corredor. Hoje para manter a atenção da criançada por esse tempo é preciso que a gente seja muito bom, que nossa matéria-prima seja de muita qualidade visual, sonora. Precisa de mais esforço que antigamente. Eu pegava o violão sem microfone e a criançada baixava o tom de voz. Agora eu preciso de um approach muito maior. Eu busco não colocar o som muito alto, mas ainda conseguimos despertar o sensível, só que com um pouquinho de mais esforço (risos)

E a quais ferramentas você recorre no seu show para reter a atenção das crianças? 

Eu sou muito analógica. Sempre gostei de LP, livros. Mas eu tive que me adaptar. Na pandemia eu aprendi a contar histórias através de vídeos. Minha obra está no Spotify há muito tempo, mas esse último foi o primeiro que nasceu de forma digital, não tem físico. E eu não me conformo com isso! Mas por isso, eu lancei a revista “Invenções”, onde reuni curiosidades do meu novo disco. Eu estou sempre fazendo esse caminho, eu vou para frente, mas não deixo de olhar para trás.

O que é ser mãe para você? Como você define a Bia mãe?

Eu tenho uma alegria! É claro que não é obrigado que toda mulher viva a maternidade e realize. Eu não gosto dessa visão porque eu me considero feminista, luto pela representatividade da mulher no mundo, mas eu sou uma sortuda de ter sido uma jovem mãe dedicada a essas duas grandes aventuras: a paixão pelo meu trabalho e a paixão pela maternidade, pelo parto normal. Eu fui mãe com 24 anos. A Julieta já tem 42 anos e a Elisa, 38. Fui mãe podendo levar as meninas para o camarim. Quando minha filha mais velha nasceu eu fui fazer uma temporada em São Paulo e a gente ainda tinha aquele trem que saía da Leopoldina. Ela ia mamando, ficava no camarim… Eu pude viver a maternidade sem abrir mão do meu trabalho.

Quando nasceu minha segunda filha, em 1985, a Elisa, eu já era Bia Bedran e estava prestes a me lançar em um programa de televisão, mas eu me senti com necessidade em ter uma coisa mais fixa. Aí veio o lado mãe provedora. Eu era professora formada, mas não tinha feito concurso ainda. Estava separada do pai dela e fiz um concurso público, porque fiquei com medo de não poder dar uma vida confortável para as minhas meninas. Eu passei no concurso com minha filha nascendo, então eu já entrei de licença para trabalhar no Colégio de Aplicação da Uerj, onde fiquei 10 anos. Depois, levei para o campus da Uerj a minha oficina “A arte de cantar e contar histórias”, onde realizava uma oficina de contação de narradores de história através da música. No total, foram 30 anos de trabalho pelo estado.

Ser mãe foi um maravilhamento, um aprendizado. Eu me tornei mãe. Elas me ensinaram a ser mãe porque eu era muito jovem, então eu pude levar o amor da maternidade ao palco também, com elas. Eu morei muitos anos com minha mãe e ela também me deu esse suporte. Minha vida artística era muita agitada. Estava no auge, participando de muitos programas de televisão.

Bia Bedran com sua mãe, Wanda Martini Bedran, esperando a sua primeira filha, Julieta, em 1980. Foto: Arquivo

Como você conciliava sua vida profissional e sua vida como mãe?

Eu era uma mãe muito presente. Mas eu estava separada na época e pude contar com o suporte da minha mãe, a segunda mãe delas, a vovó Wanda, outra pessoa maravilhosa, que exerceu a maternidade de forma linda comigo e com  meus irmãos. Mas eu também fui muito filha. Morei até os 46 anos com minha mãe na Estrada Fróes, 282, que é um casarão lindo atualmente todo reformado, que mantém a estrutura da minha casa. Eu casei lá, me separei lá, morei com minhas filhas.

Quando eu era mais conhecida, elas me acompanhavam nas sessões de autógrafos e adoravam. A Elisa tinha um pouco de ciúme na época, vendo aquela fila de crianças. Mas as minhas filhas participavam da turnê, sentavam nas almofadas. As duas já participaram dos meus discos. Neste último disco a Elisa é a solista da faixa ‘Ararajuba”. No meu primeiro LP, eu tenho a voz da mais velha, a Julieta. É ela quem canta: “Perdi meu anel no mar, não pude mais encontrar”.

Para você ter uma ideia, a equipe de vendas de discos era composta por minhas filhas, minha mãe, minhas tias.. Era uma coisa muito caseira e muito interessante. Nós éramos uma trupe.

Agora a Julieta dá aula em uma escola em São Paulo e a Elisa trabalha com audiovisual.

O que vocês gostam de fazer juntas?

Olha, quando a gente se encontra eu gosto de dormir na casa delas. O que eu gosto de fazer com elas é dormir na casa da minha filha no Rio, vamos a restaurantes, teatros.. Quando eu fui para São Paulo, fiquei na casa da Julieta e ainda tive o privilégio de cantar na escola dela, em um festival. Quando elas vêm para Niterói, gostamos de ir à Praia de Itacoatiara, ao Seu Antônio.

Em São Paulo gosto muito de sentar com minha filha na varanda, tomar um vinho. Quando elas eram pequenas eu gostava de levá-las para Lumiar, era uma delícia. E muito para hotel fazenda. Eu gostava dessa onda de hotel fazenda. Eu levava violão. Era bem legal.

Como é a relação das suas filhas com a tecnologia?

Bia Bedran e suas filhas nos tempos atuais. Foto: Arquivo

A Elisa tinha o hábito de consumir mais discos que a Julieta. O pai era colecionador, então acho que elas herdaram esse gosto. A Lili (Elisa) prioriza os CDs, mas ela concorda que eu tinha que ter mais álbuns na plataforma. Hoje em dia elas consomem muito streaming. Eu não sou das redes, mas estou trabalhando com elas.

Como você encarou a questão dos limites em relação à tecnologia?

Elas não tiveram celular, então não estão passando pelo o que as crianças estão passando hoje. Mas elas adoravam game boy, assistiam a alguns programas infantis na televisão também. Eu fiz até uma música, “O Videotinha”, porque ninguém queria ler livro. Eu chamava a atenção. Fazia até uma performance em que eu jogava o livro no chão. E agora eu estou atualizando a música, revistando e adaptando.

Fale um pouco do seu show na Sala Nelson Pereira dos Santos, em homenagem aos seus 50 anos de carreira.

Eu vou fazer dois espetáculos lá, nos dias 23 e 24 de maio. O projeto é  “A escola vai ao teatro”. Vou fazer um grande show para a rede municipal de ensino. O meu projeto é fazer um circuito nas escolas particulares e na rede pública.

COMPARTILHE