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A fome está ligada à falta de investimentos e desigualdades sociais, diz especialista

Por Gabriel Mansur
| aseguirniteroi@gmail.com

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Coordenadora de Segurança Alimentar de São Gonçalo diz que é preciso investir mais em agricultura familiar que no agronegócio
Fome atinge cerca de 2,8 milhões de cariocas. Foto: Bruno Eduardo Alves
Fome atinge cerca de 2,8 milhões de pessoas no estado do Rio. Foto: Bruno Eduardo Alves

“É preciso deixar claro que a pandemia não é um fator determinante para esta crise. A fome está muito relacionada ao aumento da desigualdade social e à diminuição do poder de compra do salário mínimo.” A avaliação é da coordenadora de segurança alimentar e nutricional da Secretaria Municipal de Assistência Social de São Gonçalo, Viviane Gomes.

O assunto foi tema do primeiro Seminário Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional, organizado pela Universidade Estácio de Sá de Alcântara, em São Gonçalo, nesta quarta-feira (26). O município de 1,100 milhão de habitantes é um dos mais castigados pelo problema, no estado do Rio.

Um estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan), divulgado em 14 de setembro, apontou que 57,2% da população do Rio de Janeiro, isto é, cerca de 10 milhões de pessoas, vivem uma rotina de insegurança alimentar, seja ela leve, moderada ou grave. Desse grupo, ainda de acordo com o levantamento, 2,8 milhões estão na categoria grave; ou seja, passam fome. No Brasil, são mais de 33 milhões de pessoas nesta situação.

Leia mais: Negada por Bolsonaro, fome atinge 2,8 milhões de pessoas no Rio de Janeiro

O A SEGUIR: NITERÓI acompanhou o evento e conversou com Viviane Gomes.

Fome atinge 2,8 milhões de pessoas no Rio. Foto: Pixabay

Redução do poder de compra

Viviane Gomes destaca que a pandemia não é responsável pela crise que vivemos. Está mais relacionada ao aumento da desigualdade social e à redução do valor real do salário mínimo.  Para ela, a perda do poder  compra do salário mínimo intensificou a crise alimentar no país.

– São vários fatores. É falta de investimento político, falta de investimento público na área de segurança alimentar. É necessário ter políticas públicas de geração de renda, para as pessoas terem autonomia de escolher os melhores produtos, independentemente do preço, porque hoje a gente acaba optando pelo mais barato – ressaltou.

No governo de Jair Bolsonaro, o salário mínimo do Brasil perdeu o poder de compra pela primeira vez, desde a implementação do Plano Real, em 1994.

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) calculou que o valor do salário mínimo brasileiro ideal, para suprir todas as despesas de uma família com quatro pessoas, por exemplo, deveria ser de R$ 6.754,33, o que equivale a mais de cinco vezes ao atual de R$ 1.212.

Mais agricultura, menos agronegócio

Na opinião de Viviane, o crescimento da insegurança alimentar no Brasil não tem relação com uma eventual falta de comida, mas é ligada a falta de investimento na agricultura familiar.

– Além da fome, estamos vivendo também a desigualdade em relação aos efeitos da pandemia. Por isso, vemos vulnerabilidade social e insegurança alimentar. A gente vê, hoje, a fome oculta, a fome de nutrientes e de alimentos de qualidade. Hoje são raros os produtos que são produzidos pela agricultura familiar e que não sofreram com a produção de defensivos agrícolas – destacou.

O pacote do veneno

Outra ameaça à segurança alimentar diz respeito aos agrotóxicos. Conforme destaca a especialista, a aprovação de defensivos agrícolas influencia negativamente no campo da segurança alimentar. A melhor solução, segundo a especialista, é investir em políticas de incentivo aos pequenos produtores e a agroecologia, hoje principais responsáveis pela produção dos alimentos consumidos pela população.

– A estratégia é investir na agricultura familiar, porque não é o agronegócio que vai mudar essa situação. É a partir deste investimento que você consegue melhorar a condição de vida do produtor local. Assim, haverá produtos de melhor qualidade na mesa dos brasileiros. Fomentando a agricultura familiar, você gera renda para aquelas famílias, e isso gera um ciclo de investimento – avaliou.

Niterói no combate à fome

A Prefeitura de Niterói tem investido em políticas sociais para tentar contornar a crise alimentícia. Prova disso é o restaurante popular Jorge Amado, no centro, onde o prato de comida custa R$ 2. O local atende cerca de 2.200 pessoas, por dia, entre desjejum e almoço. A adesão ao programa é tão grande que a Prefeitura já começou a construir mais um restaurante popular na cidade, no bairro Fonseca, Zona Norte.

Leia mais: Almoçamos no Restaurante Popular de Niterói, onde a refeição custa R$ 2 e alimenta 2.200 pessoas por dia

Outra medida adotada foi a criação da Câmara Intersetorial de Segurança Alimentar e Nutricional de Niterói (CAISAN). Com a finalidade de promover a articulação e a integração dos órgãos, entidades e ações da administração pública municipal à área de segurança alimentar e nutricional, o decreto municipal foi lançado no Diário Oficial em 2017.

O que é insegurança alimentar?

O conceito de insegurança alimentar foi dividido pelo estudo em três níveis:

  • Leve: quando há preocupação ou incerteza se vai conseguir alimentos no futuro;
  • Moderada: quando há uma redução concreta da quantidade de alimentos e o padrão saudável de alimentação é rompido por falta de comida;
  • Grave: quando a família sente fome e não come por falta de dinheiro.

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