23 de novembro

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A barca da folia de Niterói

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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Repórter do A Seguir conta como é a travessia da barca com a Sinfônica Ambulante a bordo, em direção ao Rio de Janeiro. Em Niterói, fanfarra desfila pela praia de Icaraí no sábado (25)
sinfonica barca 2023
Detalhe do bloco do desembarque neste Carnaval. Fotos e vídeos: Sônia Apolinário

Quando o despertador tocou às 5h, no domingo (19), meu primeiro pensamento foi: “É Carnaval, estou de folga eu não preciso acordar tão cedo”.

Toda vez que me programo para pegar a “Barca da Sinfônica” é sempre assim. Porém, eu lembro que, da mesma forma, sempre agradeço por ter vencido a preguiça e embarcado na folia que cruza a Baía de Guanabara tendo Niterói como ponto de partida.

O desembarque-cortejo em carnavais passados. Foto: Divulgação

 

A Sinfônica em questão é a Ambulante, xodó de Niterói, mas que desde 2018, é Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Rio de Janeiro, a partir de uma iniciativa da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

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Os músicos não informam o horário em que farão a travessia. A senha, este ano, foi a hora do início da apresentação da fanfarra, na Praça XV, no Rio de Janeiro: 8h. Consultando os horários disponibilizados pela CCR Barcas, era preciso estar na barca das 7h30, uma vez que a anterior sairia às 6h30.

Pegar um Uber e sair de casa antes da 7h fazia parte da estratégia. Você pode estar se perguntando por que raios eu tinha que acordar às 5h. A resposta é simples: nesse horário executo todos os meus gestos em câmera super lenta. E se eu perdesse a barca das 7h30, só teria outra uma hora depois. E no meu caso eu ainda teria que comprar o bilhete ou recarregar meu cartão – a opção seria escolhida de acordo com a realidade das filas.

Se o Carnaval é o período do ano em que temos autorização para sair pela rua vestindo as roupas mais loucas, o saguão da estação das barcas é o “sanatório geral” mais colorido e alegre de Niterói, nessa época.

Da calçada, monitoro fervorosamente o aviso da concessionária que ainda dá tempo de pegar a barca planejada. O sinal pode mudar de verde para vermelho piscando a qualquer momento. Isso porque não é apenas a hora que determina a paralisação das catracas, mas também a lotação. E o saguão está muito cheio e do outro lado da catraca também.

Passo pela roleta na hora H. A Alice que estava atrás de mim não passou. Para desespero da Margarida que também tinha conseguido entrar e a esperava do lado de dentro.

Conquista realizada, é hora de tentar encontrar os amigos – porque é cada um por si para pegar a barca. E descubro que este ano não vai ser igual àquele que passou. Com o fechamento das catracas, ouvem-se alguns acordes de sopro da fanfarra, para alegria geral. Já teve tempos em que os músicos foram repreendidos e até ameaçados de serem retirados da estação se tocassem por lá. Tanto que, nos últimos tempos, a música só começava quando a barca estava no meio da baía.

Entrada liberada, embarcamos. A Sinfônica viaja no térreo e todos querem ficar no térreo também, o que é impossível, é claro. Muitos vão para o segundo andar contrariados, mas quando a música começa, assim que a barca desatraca, é só alegria.

Quanta diferença para as travessias em dias “normais” com pessoas de ar sonolento, semblantes sisudos e busca desesperada por um lugar para sentar.

Integrantes da tripulação também dançam discretamente, mas param, quando percebem que estão sendo observados. Converso com alguns deles. Aquela barca tem capacidade para 1.300 pessoas, mas não saiu com a lotação máxima por motivos de segurança.

Um deles contou que já viajou com a Sinfônica várias vezes e gosta muito. Porém, ele admite que é um travessia em que costuma ficar mais atento do que o normal, uma vez que todos ficam literalmente pulando dentro da barca – eu confesso que fico nervosa com essa pulação, mas o funcionário da CCR disse que eu não precisava me preocupar com isso.

Neste domingo de dia nublado e pouco vento, a embarcação balançou pouco. Lá dentro, nós balançamos muito.

 

Para mim, o melhor momento do Carnaval é o “bloco do desembarque”, quando a Sinfônica já sai da barca tocando, seguida pelos foliões – a turma do segundo andar desce “feito louca” para fazer parte do cortejo. Dessa vez, eu não participei do começo do desfile para fazer o registro de imagens para vocês.

É um desembarque mais demorado do que o normal, mas a galera da CCR alivia. Muitos funcionários também dançam e filmam o desfile. Este ano, a barca apitou para os foliões que perceberam a gentileza e gritaram em resposta.

Na Praça XV a Sinfônica segue sua apresentação e a estação fecha o portão do desembarque. A essa altura do campeonato, eu já estou muito feliz. Poderia até pegar a barca de volta – também sempre penso isso e desisto. Ainda não deu nem 8h e tem muito Carnaval ao longo do dia. Este ano, a Sinfônica não se juntaria ao Boi Tolo, faria um cortejo solo. E arrastou uma multidão pelas ruas do centro do Rio.

E mais uma vez, agradeci por ter acordado às 5h.

Detalhe: uma espécie de “cortejo reverso” começou este ano a ser feito. Integrantes da Sinfônica desembarcaram em Niterói na manhã de segunda-feira (20) e percorreram ruas do Centro, Gragoatá e Ingá. O bloco está sendo chamado de Terra de Ninguém, Nikity – com certeza, vai melindrar niteroienses mais sensíveis, mas paciência.

Outro detalhe: o desfile de Carnaval da Sinfônica Ambulante em Niterói será no próximo sábado, dia 25. A concentração é a partir das 14h, na praça Getúlio Vargas (pracinha do cinema), em Icaraí, com a saída do bloco às 16h. Este ano, tem novidade no itinerário: o cortejo seguirá até o final da praia de Icaraí ou seja, não entrará mais pela Gavião Peixoto rumo ao Campo de São Bento.

Sabe o que isso significa? Que não vou precisar colocar o despertador para me acordar às 5h, no próximo sábado.

A Sinfônica já na Praça XV.

 

 

 

 

 

 

 

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