2 de dezembro

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‘A agressividade deve aumentar e pode ser a tônica do segundo turno’, diz cientista político da UFF

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

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Em entrevista ao A Seguir: Niterói, Márcio Malta fala da onda do conservadorismo do Brasil e analisa o mapa político do estado do Rio pós-eleição: comportamento autoritário e liderança cega
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O governador reeleito do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), em pronunciamento. Foto: Divulgação Governo do Rio de Janeiro/

O resultado das eleições de 2022 chancela a onda bolsonarista que ganha ainda mais força. Na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), a bancada conservadora é superior a 60%. A Casa terá forte base de apoio ao governador reeleito, Cláudio Castro, do PL, que fez 17 deputados, e mais um número significativo de representantes de partidos aliados. Dos 10 deputados estaduais mais bem votados, aliás, sete são do PL. No Senado Federal, o PL terá a maior bancada elegeu oito senadores e, com isso, ocupará 15 das 81 cadeiras do Senado na próxima legislatura, que começa em 2023. Seguem, ainda, na bancada 7 senadores do partido. Com isso, ele se torna o partido com maior crescimento de bancada neste ano.

Leia mais: PL de Castro e Bolsonaro elege 17 deputados estaduais para a Alerj; confira os 70 eleitos

O Brasil conservador, de extrema direita, ganha vigor. A onda bolsonarista venceu nos três maiores colégios eleitorais do país. De Norte a Sul, o que se viu tão logo as urnas foram abertas foi o bolsonarismo raiz vencendo e mostrando força. Se for considerar a votação por região, Nordeste foi a única do país em que os votos em Lula superaram os do Bolsonaro. O ex-presidente Lula, inclusive, chegou na frente no primeiro turno, com 48,4% dos votos, mas a vantagem dele sobre Bolsonaro foi muito inferior ao que indicavam as pesquisas da Datafolha e do Ipec.

Em entrevista ao A Seguir: Niterói, o cientista político, professor da UFF e colaborador do A Seguir, Márcio Malta faz uma análise do mapa político do estado do Rio de Janeiro após as eleições. Ele fala sobre a composição da Alerj, com a forte atuação do bolsonarismo, da dificuldade do PDT nessas eleições – a exemplo do mau desempenho do ex-prefeito de Niterói e do candidato à presidência Ciro Gomes – e destaca a tônica do segundo turno: “A agressividade deve aumentar”, aponta.

Confira a entrevista abaixo:

A Seguir: Niterói: Com a reeleição do Cláudio Castro para governador, como fica a bancada de Niterói?

Márcio Malta: Temos alguns exemplos que ajudam a dar um panorama desse cenário. O Chico D’Angelo, por exemplo, não foi eleito. O Rodrigo Neves tentou emplacar alguns candidatos na Alerj que são historicamente seus aliados e não conseguiu. Quem elegeu muito deputado foi o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD). Já Axel Grael  (PDT) teve um pouco de dificuldade por conta do seu partido, pelo desempenho do Ciro Gomes nas eleições presidenciais. Para se ter uma ideia, o PDT elegeu apenas um deputado federal. E ninguém dessa aliança clássica que historicamente atua em Niterói foi eleito.

– Quais são as expectativas em relação a questões importantes para o município, como o futuro das barcas? E o segmento da educação, que apresentou uma piora, de acordo com os resultados do último Ideb? A rede pública de saúde também tem sido muito criticada.

Historicamente o deputado estadual Flavio Serafini tem acompanhado a trajetória das empresas que administram as barcas, no sentido de fiscalizar, mas não necessariamente de conseguir, porque depende mais do governo do estado do que da expansão da linha.

Na área da saúde pública, os candidatos da esquerda costumam ter esse protagonismo, não só de fiscalização, mas também da tentativa de conseguir emendas. Isso não só em termos de Alerj, como em âmbito federal.

Temos novamente o mandato da deputada federal Talíria Petrone (PSOL), que pode conseguir emendas para a saúde, ao passo que você tem os antagonistas, como o Carlos Jordy (PL), por exemplo, que não vai se preocupar com esse tipo de destinação e fiscalização. Isso porque  geralmente seu partido tem um comportamento mais de oposição ao executivo da cidade muito mais no campo da opinião do que uma perspectiva mais construtiva.

Em relação à educação, temos que acompanhar se a atual presidente da Comissão vai continuar. A princípio, o deputado estadual reeleito Flavio Serafini tem essa intervenção e atuação na área da educação. O professor Josemar (PSOL), eleito em São Gonçalo a deputado estadual por conta da sua atuação na área da educação, também talvez se destaque neste campo de fiscalização porque as demandas da área são muitas, principalmente no começo do ano letivo, quando Niterói demonstrou não ter vagas para todas as crianças na ensino básico.

O deputado Waldek (PT), por exemplo, que também tem um histórico de combatividade neste tipo de atuação e não conseguiu a eleição. Algumas figuras de direita como, por exemplo, Douglas Gomes (PL), vereador de Niterói, não conseguiu se eleger pela Alerj.

– As eleições tanto para o legislativo, quanto para o executivo demonstraram um avanço das forças mais conservadoras. A que você atribuiria isso?

Em termos de representação federal, nós observamos dois comportamentos: uma transferência de votos por parte do atual presidente da república, Jair Bolsonaro, que conseguiu eleger em muitas das vezes seus correligionários, apesar dos desgastes e da má avaliação do seu mandato.

Em contrapartida, observamos diversas figuras de esquerda que conseguiram se reeleger, tendo boa votação, com destaque para Talíria Petrone. Figuras mais antigas do campo combativo da esquerda, como Jandhira Feghali (PCdoB) e Lindbergh Farias (PT) conseguiram manter seus mandatos. Essa disputa entre esses dois campos acabou se refletindo também no âmbito federal.

Nós perdemos muito os deputados formadores de opinião. Figuras como César Maia (PSDB), Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSD)… Nós não vamos observar muito um debate mais propositivo, como o do Marcelo Freixo que disputou a Governador do Estado pelo PSB, que vai deixar a Câmara, por não ter concorrido como deputado federal. Isso vai gerar um certo esvaziamento, de certa maneira. Claro que pode ter uma renovação, como a do Professor Tarcísio Motta (PSOL). O PT também conseguiu eleger alguns deputados. Ao mesmo tempo, partidos tradicionais como PSDB e PMDB, que historicamente tinham mais deputados, tiveram um esvaziamento muito grande.

– Rodrigo Neves terminou o seu mandato com grande aprovação (cerca de 85%), elegendo o seu sucessor em primeiro turno (com 62%). Todavia, na eleição para governador, recebeu 34% dos votos em Niterói. A que pode ser atribuída essa queda?

Ciro Gomes não estava indo bem nas pesquisas e o resultado das urnas mostraram o derretimento da sua capacidade eleitoral. Ele teve 12% em 2018 e nestas eleições de 2022, teve 3%. A bancada do PDT ficou muito reduzida. Figuras de ponta, historicamente de expressão, como Chico Dantas, dentre outras não conseguiram se eleger para a Câmara Federal por conta de um desempenho péssimo, o qual o Rodrigo Neves acabou naufragando junto.

Rodrigo Neves, na expectativa de ir para o segundo turno, se alia em termos de dobradinha muitas das vezes, ao Cláudio Castro, permitindo até que ele fosse eleito no primeiro turno, por conta dessa política mais agressiva com Marcelo Freixo. Muitos desenhavam que no segundo turno ele apoiaria Freixo. Mas acabou que, no fim das contas, os derrotados foram os dois.

– O que explica o ex-ministro de saúde, Eduardo Pazuello, ter sido o segundo deputado federal mais votado no Rio?

É um tipo de comportamento bonapartista, mais tirano e autoritário em que há uma liderança cega, pela qual os eleitores cumprem à risca com o Bolsonaro ao votar em candidatos ilógicos, com o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Os candidatos que mantiveram essa fidelidade com Bolsonaro conseguiram ser bem eleitos. O conservadorismo continua a despeito do comportamento da pandemia que foi pífio, com inaptidão e uma omissão completa. Mesmo assim, não foi o suficiente para rever o número de votos.

– A que você atribui a grande rejeição do Marcelo Freixo?

Acho que a expectativa era de voto útil no Lula e o que aconteceu foi um derretimento do Ciro Gomes e uma transferência de votos no Jair Bolsonaro. No Rio de Janeiro houve um pouco do comportamento do eleitor nesse sentido. O eleitor geralmente decide muito de última hora. Não significa que os institutos de pesquisas tenham errado. Houve uma subnotificação desse eleitorado, que muitas das vezes não responde as pesquisas. Ou pode estar atrelado ao voto envergonhado, quando há uma resposta que não corresponde à realidade de fato. Acho que o conservadorismo acaba levando a uma resistência por parte do eleitorado. Outro ponto é que muitas pessoas se colocam contrariamente aos direitos humanos. Então talvez por conta da sua militância na esquerda e a defesa dos direitos humanos, houve esse tipo de rejeição ao Marcelo Freixo.

– Neste cenário de grande polarização, como você acredita que ficará a disputa no segundo turno?

O ex-presidente Lula teve um bom desempenho, afinal de contas foram 57 milhões de eleitores que votaram nele, batendo recorde. Ao mesmo tempo não se esperava esse desempenho de Bolsonaro, que tinha um alto índice de rejeição e as pesquisas não detectaram. Com isso, fica comprometido, no segundo turno, o direito à manifestação política por conta da violência e da agressividade por parte de um campo político. Isso não é polarização. É além disso. Trata-se de um debate civilizatório. Polarização é quando tinha PSDB x PT. São dois campos alternativos que devem ser respeitados o direito à manifestação pública. Vimos isso no debate.

A agressividade deve aumentar e pode ser a tônica do segundo turno. Acho que tem que ser um debate propositivo, preocupado com os rumos da nação, com a retomada da economia, do emprego, o combate à fome. Vamos ver se o Brasil consegue amadurecer esse debate no segundo turno.

*Márcio Malta é professor adjunto de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (INEST/UFF, Relações Internacionais). Pesquisador do Laboratório de Estudos em Política Internacional (Lepin/Uff) e do Imaginasul (UFF). Doutor em Ciência Política no Programa de Pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (PPGCP/UFF). Atua nas áreas de Relações Internacionais, pensamento social brasileiro e pensamento político latino-americano. Mestre em Ciência Política pelo Programa de Pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Bacharel e licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense.Cartunista, assina o pseudônimo de Nico

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