Com uma festa de sete horas open bar e muito rock, a cervejaria Dead Dog, de Niterói, vai comemorar seus dez anos, no dia 9 de novembro. Das 15 torneiras que “participam” do evento, dez estarão plugadas com rótulos já clássicos da marca como a Coffe IPA e a Massacre. As outras serão ocupadas com cervejarias convidadas que têm relação com a história da Dead Dog,
Sendo dez anos, significa que é a segunda cervejaria de Niterói – “perde” apenas para a Noi, que tem 13. Na cidade, a marca praticamente, só é encontrada no Covil, como carinhosamente é chamado o seu taproom, na Vila Cervejeira, no Centro de Niterói. Lá, rock é rei.
À frente da marca está Sandro Gomes, astrônomo por (não completa) formação. A cerveja entra na sua história quando ele larga a faculdade e vai para os Estados Unidos, onde mora por um ano e meio. Foi lá que ele viu que “essa parada” de fazer cerveja artesanal era “possível mesmo”. Porém, ele ainda levaria 14 anos para fazer sua primeira cerveja. Até lá, de volta para seu trabalho no Planetário do Rio, a ideia ficou apenas maturando.
Em 2010, quando os passos iniciais do movimento craft começaram a ser dados no Rio, Sandro fez seu primeiro curso de produção de cerveja. Nem ele nem seus “colegas de classe” poderiam imaginar que, na época, estavam sendo dados também os primeiros passos para a fundação da Associação dos Cervejeiros Artesanais (AcervA) de Niterói e São Gonçalo, que acabou de completar 12 anos. E Sandro faz parte da atual diretoria.
– Comecei a desenvolver receita e a fazer cerveja em casa com amigos. Eu não sabia nada sobre o mercado. Ninguém sabia, na época, mas já havia um movimento se delineando – conta.
Em uma das brasagens caseiras que costumava participar, um cachorro veio caminhando e morreu na frente da casa onde os cervejeiros estavam, no Engenho do Mato, bairro de Niterói. Quando Sandro chegava com uma produção em algum lugar para que as pessoas experimentassem começou a ouvir a mesma pergunta: “é a do cachorro morto?”. E assim, a Dead Dog nasceu.
A primeira receita da então nova marca niteroiense foi uma Black IPA que foi sendo alterada até virar uma IPA, produzida de forma cigana na cervejaria da Cuesta, de Botucatu (SP). Uma segunda versão da cerveja marcou a “estreia” da marca, na festa da AcervA de 2014.
– Eu queria criar algo com personalidade. Eu ainda estava com minha cabeça nos Estados Unidos e lá, o que se tinha, principalmente, era a IPA. Com o tempo, percebi no meio cervejeiro um preconceito bizarro. Acabou virando consenso, no próprio movimento, essa ‘barreira do amargo’, com as mulheres indicando para outas mulheres cervejas não amargas. Era algo novo, mas já havia isso enraizado. Agora, já há um entendimento que cerveja para mulher é a que ela quiser – comenta.
Convidado para participar de uma Oktoberfest no Rio, Sandro precisaria levar uma cerveja em estilo alemão ou que tivesse alguma relação com a Alemanha para o evento. Ele chegou a cogitar passar sua IPA por um filtro de lúpulos alemães, mas desistiu da ideia porque não gostou o aroma da planta. Decidiu, então, colocar café no filtro por onde a cerveja passaria antes de ser servida.
Explicar a relação entre café e Alemanha foi o que o astrônomo Sandro mais fez, no evento: a Alemanha tinha uma dívida imensa com o Brasil por conta das compras de café que fazia. Sem dinheiro, ofereceu pagar com equipamentos científicos e muitos telescópios chegaram ao Brasil, que aproveitou a oportunidade para abrir planetários pelo país.
A história e a cerveja fizeram sucesso. Transformar a IPA em uma Coffee IPA foi “caminho natural”.
Outro rótulo icônico da Dead Dog é a Massacre, uma India Black Ale com 8% de teor alcoólico e 87 de teor de amargor. O rótulo foi criado para comemorar os 30 anos do primeiro disco da banda de heavy metal Taurus, banda essa que foi lançada no programa “Guitarras” da Rádio Fluminense FM, “maldita”, de Niterói. Massacre é o nome de uma das faixas do álbum “Signo de Taurus” (1986).
– Primeiro, eles me pediram para fazer uma cerveja levinha para o público beber ao longo do show. Eu me recusei. Falei para eles que a banda não era fácil de se ouvir, então, a cerveja não poderia ser fácil de se beber – conta Sandro que não pode deixar faltar Massacre no taproom sob pena de muitas reclamações.
Ao longo desses dez anos, a Dead Dog criou poucos rótulos. Essa história de lançamentos a todo momento para atrair público não funciona por lá. A marca participa de pouquíssimos eventos e não chega perto de concursos. Curiosamente, muitas marcas que surgiram na mesma época que a de Niterói e seguiram trends cervejeiras e ganharam medalhas saíram de cena do mercado do Rio de Janeiro.
Culpa da pandemia do Coronavírus?
– Não culpo a pandemia. Os bares que vendem cervejas da grande indústria dizem que o movimento voltou ao normal e o nosso movimento não voltou. Muitas cervejarias fazem lançamentos caríssimos e isso assusta o público. E quando uma cerveja faz sucesso, galera surfa na onda do outro. Ser pioneiro faz com que a gente quebre a cabeça mais do que os outros. Eu tive que fazer ajustes. Por exemplo, diminui a minha produção para me manter.
Sobre eventos cervejeiros, Sandro é da opinião que o preço para participar subiu demais. Além disso, tem o maior agravante, segundo ele: “é Pilsen pra todo lado”. Não, Dead Dog não tem Pilsen – favor não insistir. Mas tem Cãolifornia, uma California Common e, às vezes, Sem Vergonha, que é uma Bitter.
Na festa, ainda vai ter Surfer Dog, uma uma West Coast Rye IPA, colaborativa com a Ograner de Itaipava (RJ) e a Filthy Dog (American Wild Ale).
Quando a Dead Dog começou, Sandro tinha como sócio o cervejeiro Alberto Maia. Ele deixou o negócio antes da pandemia. Agora, Sandro produz e cuida do Covil com o auxílio da companheira Fernanda Esteves.
O próximo passo da marca é transforar o taproom em brewpub. Os equipamentos já estão “na casa”.
– Acredito que a Dead Dog se tornou uma marca querida. As pessoas reconhecem e gostam da marca, que oferece cerveja com personalidade. Não estou preocupado em fazer cervejas iguais ao que estão fazendo no momento. Acho que a marca se manteve no mercado por ter, além de personalidade, coerência. Mas isso tem um preço. Por que não tem Pilsen? Porque não tenho e não vou ter – diz Sandro
Serviço
Festa 10 anos da Dead Dog
Data: 9 de novembro
Horário: das 15h às 22h
Local: Aftae – Rua Engenheiro Henri Novo, no Centro de Niterói
Esquema Open Bar com copo exclusivo do evento
Apresentação de três bandas de Rock
Ingressos: R$ 200
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