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Lupulinário

Por Sônia Apolinário

Sônia Apolinário é jornalista tendo trabalhado nos principais jornais do país, sempre na área de Cultura. Também beer sommelière, quando o assunto é cerveja e afins, ela se transforma na Lupulinário.
Publicado

No mês da Mulher, não quero homenagem; quero o fim do assédio

placa armazém

Todo ano, quando chega o 8 de Março, começam as mensagens homenageando as mulheres e, junto, promoções para atrair a atenção dessa parcela dentre os consumidores de cerveja.

Nada contra homenagens ou promoções, mas, hoje, o tema dessa coluna que tem como gancho o Dia Internacional da Mulher é mais amargo que muitas IPAs por aí. Vamos falar sobre assédio.

O problema é muito antigo e parece que ganhou um pouquinho de gás, este ano, em busca de alguma, se não solução, melhora da situação.

Primeiro, alguns números:

66% das mulheres já sofreram algum tipo de assédio em bares e restaurantes;

53% delas deixaram de frequentar algum estabelecimento por terem sido assediadas;

41% das mulheres só se sentem seguras andando em grupo de amiga (o) s;

40% das mulheres já foram seguradas pelo braço ou cabelos, em bares, quando não corresponderam a um assédio.

Esses dados são de uma pesquisa feita por uma publicação do Ministério Público do Estado de São Paulo. Pois foi justamente o MPSP que lançou, no final do ano passado, o movimento “Pacto Ninguém se Cala”.

O objetivo é incentivar a conscientização do enfrentamento da violência contra a mulher em bares, baladas, restaurantes, casas de espetáculos, eventos e similares. De acordo com o MPSP, as legislações pertinentes buscam a prestação de proteção e auxílio a mulheres em situação de risco e/ou  vítimas de assédio, abuso, violência e importunação. A proposta do MPSP é que as empresas façam campanhas, ofereçam suporte para ajudar as mulheres e crie canais de denúncias.

A Abracerva, Associação Brasileira das Microcervejarias, aderiu formalmente ao Pacto, no começo de 2024. Em função disso, emitiu comunicado aos seus associados que bares e restaurantes devem se adequar ao protocolo “Não se Cale” até o final de março.

“O protocolo “Não se cale” trata-se de um fluxo completo de ações em prol das vítimas, que oferece aos estabelecimentos todas as diretrizes e um curso para que seus colaboradores saibam prestar auxílio adequado em situações de assédio, abuso, violência e importunação: desde ações preventivas até o acompanhamento da vítima à saída do local e acionamento da rede pública de saúde e segurança. Os estabelecimentos podem estimular a capacitação de seus colaboradores através de treinamento gratuito com certificado, oferecido pela Secretaria Estadual de Políticas para a Mulher. Esteja em conformidade com a lei até o primeiro trimestre de 2024.
A ABRACERVA está junto nesta causa e conta com o apoio de todo o setor cervejeiro para construirmos um ambiente igualitário e seguro, oferecendo respeito e combatendo qualquer tipo de violência ou assédio à mulher.
Para realizar o treinamento gratuito, basta se inscrever pelo link: https://forms.univesp.br/nao-se-cale/” informou a associação pelas suas redes sociais.

Rio de Janeiro

Na cidade do Rio de Janeiro, já existe uma lei desde 2021 que legisla sobre o tema. Porém, não “colou” e é praticamente desconhecida tanto pelos estabelecimentos quanto pelas mulheres. A Lei 6.932/21, que está em vigor, prevê que bares, restaurantes e casas noturnas do município do Rio deverão dar apoio a mulheres que estiverem em situação de risco, como assédio sexual, devendo designar um funcionário para acompanhá-las até o local de embarque em um meio de transporte.

De acordo com a norma, os estabelecimentos deverão afixar painéis e avisos com orientações às mulheres nos banheiros femininos, orientando-as a procurar um funcionário em caso de risco. O texto também determina que o funcionário do local deverá acompanhar a mulher até a polícia, se esse for o seu desejo.

Fiz uma pequena enquete entre amigas cervejeiras e frequentadoras de bares e ninguém sabia da existência dessa lei. Nessa pesquisa informal, foi recorrente ouvir das amigas que se sentem envergonhadas em pedir ajuda – até porque, na maioria das vezes, o pedido de ajuda será feito a um homem.

Niterói

 

Em Niterói, um bar instituiu esse protocolo muito antes da lei carioca ser criada. No Armazém São Jorge, no Jardim Icaraí, há 5 anos, essa placa “decora” o banheiro feminino. Essa providência simples é exatamente o que pedem a lei carioca e o protocolo paulista.

O Armazém São Jorge, que fica na rua Leandro Mota, 8, é administrado por Rogério Silva e seu filho Victor e conta com mulheres no seu quadro de funcionários.

– Até hoje, não tivemos nenhuma ocorrência de uma mulher nos pedir ajuda. Porém, estamos sempre de olho. Aqui, a maior parte da clientela é conhecida, então, fica um pouco mais fácil perceber se alguma coisa estranha está acontecendo. Já chegamos a perguntar a uma cliente se um homem que se sentou na mesa dela a estava incomodando e, de fato, estava. Nós o convidamos a se retirar. Também ficamos atentos em relação às funcionárias – contou Victor que desconhecia a existência da lei carioca.

 

É ótimo que estabelecimentos estabeleçam protocolos para ajudar as mulheres. Melhor ainda se for possível a uma mulher pedir ajuda a outra mulher. É por essas e por outras que oportunidades (e remuneração ) iguais entre os gêneros é importante.

Afinal, é muito bom poder chegar no seu bar preferido ou explorar um novo estabelecimento, a hora que quiser, sabendo que poderá beber sua deliciosa cerveja em paz e em segurança. Aliás, é incrível que a essa altura do campeonato, nem sempre seja assim.

Feliz Dia Internacional da Mulher Todos os Dias

Leia também: Mulher, cerveja e bruxaria

 

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