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Ao longo das décadas, muita coisa mudou em Niterói, mas algumas tradições resistem ao tempo. Desde 1996, quem caminha ou se exercita pela orla da Boa Viagem pode fazer uma pausa para se refrescar com uma água de coco gelada servida por Valdecir ou Beto, vendedores icônicos da região há mais de 25 anos.
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No entanto, a atividade dos vendedores pode estar com os dias contados, pelo menos da forma como é realizada hoje. No último dia 8 de março, a Prefeitura de Niterói publicou uma portaria determinando que a comercialização de água de coco na cidade ocorra exclusivamente por meio de um carrinho móvel padronizado. A norma, prevista na portaria SEOP Nº 025/2025, já entrou em vigor.
Apesar da medida já estar valendo, os vendedores disseram que ainda não sabem ao certo como será a aplicação da regra.
– Ainda está tudo muito confuso, eu nem sei se vou precisar comprar um novo carrinho – afirmou Beto.
Ele questionou a justificativa da prefeitura para a mudança e apontou possíveis problemas na padronização.
– Se for por questões higiênicas, acho que nem faz sentido. A serpentina desses carrinhos acumula sujeira e bactérias, o que pode ser prejudicial à saúde de quem consome o coco – alertou.
Enquanto o A Seguir entrevistava os dois vendedores, chamou atenção o cuidado com a limpeza que têm ao servir a água de coco para os clientes, que podem optar por beber direito do coco ou em garrafinhas fechadas.
– Eu sempre disponibilizo álcool para espirrar nas mãos das pessoas, papel toalha e canudo fechado no plástico – informou Valdecir enquanto atendia um cliente.
Além da incerteza sobre a mudança, há também desconfiança quanto à viabilidade dos carrinhos padronizados. Uma pessoa que acompanha a rotina dos vendedores relatou que agentes da Secretaria Municipal de Ordem Pública (SEOP) estiveram na orla da Boa Viagem recentemente fotografando os equipamentos usados para a venda de cocos. Segundo o relato, um dos agentes teria comentado que os futuros carrinhos seriam “bem mais feios” do que os já utilizados pelos vendedores.
Os modelos escolhidos pela prefeitura foram publicados no Diário Oficial de Niterói de sábado (8). São eles:
Dimensões: 1.40m comprimento x 0,73cm largura x 0,90cm altura Cor do carrinho: Bancada Verde e corpo branco Guarda sol: Verde. Choque de ordem chega venda de água de coco. Preço pesquisado pelo A Seguir na Internet: R$ 7.100,00
Dimensões: Largura x Comprimento: 20 cm x 155 cm Altura total: 200 cm Cor do carrinho: Verde, Guarda sol: Verde. Preço pesquisado pelo A Seguir na Internet: R$2.780
Ao ver imagens dos modelos escolhidos pela prefeitura, Valdecir afirmou:
– Já comprei um desses uma vez e era péssimo para trabalhar. Não cabem mais de 30 cocos, enferruja fácil e é muito pesado para empurrar na ladeira da orla da Boa Viagem, além de ser pouco ergonômico. A minha serpentina mofou e as rodas do carrinho já quebraram, então deixo ele lá em casa e trabalho com um material melhor para mim e para o cliente.
Atualmente, Beto utiliza um carrinho quase idêntico a um dos modelos escolhidos pela prefeitura, mas apenas para apoiar os materiais que ele usa para trabalhar. Ele concorda com o colega Valdecir que o carrinho não é bom para armazenar e servir os cocos. Ainda assim, afirmou que, se for obrigado, comprará o novo modelo para continuar trabalhando.
– Eu vivo disso, tenho que trabalhar. Não posso parar, fazer o quê? – disse.
A nova exigência da prefeitura também não bem recebida pelos consumidores. Questionados sobre a mudança, moradores de Niterói demonstraram apoio aos vendedores e disseram não ver problema na forma atual de comercialização.
– Já bebi o coco lá da Boa Viagem e beberia de novo, não vejo nenhum problema – afirmou Vanderlei Spedini. Ele e Tereza Monteiro, moradores de Icaraí, criticaram a decisão da prefeitura. Na opinião deles, tem coisas mais importantes para a prefeitura fazer. – Os cocos de lá (da Boa Viagem) são ótimos.
Marina Frazão, Etimara Passos e André Alonso também discordam da necessidade da padronização.
– Já tomei água de coco na Boa Viagem uma vez e estava tudo certinho, muito bom inclusive – disse Etimara.
Diante das incertezas e das críticas, Beto, Valdecir e outros vendedores aguardam um posicionamento mais claro da prefeitura sobre a aplicação da nova regra e os impactos que ela trará para quem depende dessa atividade para sobreviver. Mas, independentemente do que aconteça, Valdecir e Beto disseram que continuarão mantendo viva a tradição de vender coco em Niterói, assim como fazem desde 1996.
Até o momento, nada. O A Seguir encaminhou uma série de questionamentos, na segunda-feira (10). Uma das perguntas era se a padronização valeria também para os vendedores de coco na orla de Icaraí e Charitas. Até o fechamento desta edição, não houve resposta.
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