21 de novembro

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Lupulinário

Por Sônia Apolinário

Sônia Apolinário é jornalista tendo trabalhado nos principais jornais do país, sempre na área de Cultura. Também beer sommelière, quando o assunto é cerveja e afins, ela se transforma na Lupulinário.
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De olho no Mondial de là Biere 2024: Zuid

cervejas zuid 1

Dentre as cervejarias que participam do Mondial de là Biere 2024, Lupulinário destaca a cigana carioca Zuid cuja produção é feita na cervejaria Wave, em Saquarema, na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro.

Zuid é o nome de uma estação de Metrô em Bruxelas, a capital belga. Era a única palavra que um grupo de seis brasileiros em visita ao país entendia – por necessidade. A estação ficava em frente ao hotel onde estavam hospedados.

Cinco anos após essa viagem, em 2022, Zuid se tornou nome de marca de cerveja, no Rio de Janeiro. Criada por três dos seis cervejeiros caseiros que participaram da viagem à Bélgica, a novidade chegou ao mercado na “forma” de uma Hoppy Saison (Citra). Com esse cartão de visitas, a Zuid se apresentava como uma marca que produzia cerveja belga, mas com, digamos, licença poética (ou lupulada).

– Na viagem, conhecemos a Brussels Beer Project. Essa cervejaria brinca com a escola belga e americana, ao mesmo tempo. Isso abriu a nossa cabeça. Naquela época, a produção de New England estava no auge. Apostamos na capacidade de biotransformação da levedura belga e levamos isso ao extremo. Foi a forma que percebemos que poderíamos agregar ao mercado, para não ser mais uma marca cigana produzindo Ipa – contou Fabiano Nogueira, responsável pela produção da Zuid.

Um parênteses para explicar essa história de biotransformação: é a capacidade de desenvolvimento de novos aromas e sabores, a partir da atividade da levedura principalmente sob os compostos de lúpulo. O processo intensifica ou cria novas características sensoriais aromáticas e bastante frutadas, em especial, em cervejas Juicy/Hazy Ipas.

– Nem toda levedura belga tem capacidade de biotransformar. Porém, é uma levedura com características sensoriais complexas. É esse mundo que decidimos explorar: tradição com inovação; levedura belga com lúpulos norte-americanos  – afirmou Nogueira que tem como sócios Guilherme Cerqueira e Marcelo Bandeira que cuidam, respectivamente, da parte comercial e financeira da marca. Os três são oriundos da carioca Confraria dos Cervejeiros Caseiros da Barra e Recreio (CCBR).

Até o momento, a Zuid tem três rótulos fixos: a Hoppy Saison, uma Farmhouse IPA e uma Grisette – uma receita de Witbier sem especiarias, que ganha notas de picância e caju graças ao lúpulo Zappa (EUA).

Para o Mondial, a marca criou uma SourIpa (6,5% com 20 IBU), feita com o lúpulo Nelson Sauvin (Nova Zelândia). A cerveja não tem adição de fruta, mas, graças ao lúpulo, ganhou características sensoriais que lembram vinho branco, com um frutado que remete à uva.

Também para o festival, em parceria com a Indigo, a Zuid criou uma Double New England (8,5%) com lúpulos Nectaron (Nova Zelândia, características de frutas tropicais de abacaxi e maracujá)  e Eldorado (EUA, aromas de manga e abacaxi com um residual resinoso), devidamente batizada como El Nectaron. Essa cerveja foi produzida na fábrica do Brewteco, no Rio – marca que também estará no Mondial.

Zuid e Indigo dividirão um estande no festival, cada marca, com quatro torneiras – a colab vai circular dos dois “lados”.

– Fizemos uma colab fora do nosso perfil justamente para não ficarmos o tempo todo ‘amarrados’. Para outros eventos, já criamos uma Belgian Pale Ale e uma Munich Helles. Essa talvez vá para a lata também – disse Nogueira formado em produção cervejeira pela Unisesumar e em tecnologia cervejeira pelo Instituto da Cerveja Brasil (ICB).

Prêmios

Na última edição do Concurso Brasileiro de Cervejas , em março, em Blumenau (SC), a Zuid faturou suas primeiras medalhas:  levou ouro com a Farmhouse IPA (American Belgo Style Ale) e, no mesmo estilo, prata para a Hoppy Saison. Na internacional Copa Guarani, em agosto, a Hoppy Saison ficou em terceiro lugar e a Grisette recebeu uma menção honrosa.

– Não fazemos cerveja pensando em concurso. Também não participamos de qualquer concurso porque, por exemplo, se a base do julgamento for o BJCP, esse guia ‘prende’ o estilo; já no BA a gente consegue se encaixar. Ter o feedback de um juiz é muito importante para corrigir sempre e melhorar a nossa cerveja. O que motiva a gente é justamente a liberdade de produzir. Gosto de não ter regras – disse Nogueira.

Os próximos passos da Zuid indicam que as produções vão ganhar complexidade. Para 2025, a marca pretende iniciar um projeto com uso de barril de madeira.

Rótulos

Uma curiosidade: as latas das cervejas de linha da marca homenageiam bares belgas que os cervejeiros adoram e o número que o rótulo mostra, é uma referência ao endereço do estabelecimento. São eles:

Delirium, 4, Bruxelas – Farmhouse IPA

De Garre, 1, Bruges – Grisette

2be, 53, Bruges – Hoppy Saison

O lendário Kulminator, na Antuérpia, está na mira. “Lá, parece que você está em um museu. É muito bar maravilhoso na Bélgica. Temos que voltar lá”, disse Nogueira.

 

O Mondial de là Biere será realizada de 10 a 13 de outubro, no Pier Mauá, zona portuária carioca.

 

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