22 de novembro

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Talíria Petrone: ‘Abrir mil vagas na escola é no primeiro dia porque é com uma caneta na mão que a gente faz’

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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Eleições 2024: A Seguir fará entrevistas com todos os candidatos à prefeitura de Niterói. Abre a série, Talíria Petrone (PSOL)
talíria ponte ao fundo
Na opinião de Talíria Petrone, Niterói vive um momento de estagnação. Foto: Divulgação

A Seguir fará entrevistas com todos os candidatos à prefeitura de Niterói. Abre a série, Talíria Petrone (PSOL), que lidera a coligação “Niterói da Esperança”.

Leia mais: Será que seu local de votação mudou?

A entrevista para o A Seguir foi a primeira agenda de campanha na manhã da sexta-feira passada (6) da candidata do PSOL à prefeitura de Niterói, Talíria Petrone.

No seu escritório, no Centro, ela chegou depois de passar na padaria da esquina e comprar pão, manteiga, queijo, presunto. Enquanto tomava seu café da manhã, contava para sua equipe sobre a noite mal dormida, porque um dos seus dois filhos choramingou o tempo todo. Mesmo assim, foi dia de colégio e foi ela mesma quem deixou todos na porta da escola.

Nada muito diferente do que acontece com muitas mulheres – exceto pelo fato de que, da entrevista, ela sairia pela cidade com o firme propósito de convencer niteroienses a fazê-la a primeira prefeita dessa cidade quatrocentona, que guarda na “caixinha” cerca de R$ 5 bilhões – um orçamento municipal que se destoa de várias cidades, muito por conta do recebimento de royalties do petróleo.

Talíria Petrone pretende criar a Secretaria Especial do Cuidado que tem as mulheres como um dos focos de atenção.

 

Que mulher não se sente uma malabarista exausta tentando equilibrar vida profissional com maternidade? Talvez essa tenha sido uma inspiração para uma das suas principais propostas como candidata: a criação da Secretaria Especial do Cuidado.

– A Secretaria do Cuidado vai articular diferentes políticas de cuidados para os setores mais vulnerabilizados: mulheres, pessoas com deficiência, crianças, idosos. É entender o cuidado como política estruturante – explicou ela que é moradora de Santa Rosa e frequentadora de rodas de samba pela cidade.

Aos 39 anos, Talíria chega à disputa pela prefeitura de Niterói tendo no currículo já ter sido a vereadora mais votada da cidade (2017-2019). Em 2022, grávida do segundo filho, foi reeleita deputada federal tendo sida a mais votada em Niterói e a terceira mais votada no estado.

A candidata ao lado do vice na sua chapa, Fernando Rodovalho (PSB).

Agora, ela encabeça uma chapa que tem como vice Fernando Rodovalho (PSB) na coligação “Niterói da Esperança”, formada pela Federação PSOL REDE (PSOL/REDE) / PSB. Por conta dele, a candidata fica com um olho em Niterói e outro na vizinha Maricá. Ele já foi secretário do ex-prefeito e atual candidato a prefeito Whashignton Quaquá, que é vice-presidente do PT. Quaquá levou o Partido dos Trabalhadores a apoiar Talíria, apesar de o partido, em Niterói, estar apoiando outro candidato.

Nessa saia justa, porém, Talíria parece não se apertar. Na verdade, ela prefere embarcar em uma das mais festejadas iniciativas de Maricá  para estacionar em Niterói como uma espécie de carro-chefe da sua campanha: a implantação do ônibus tarifa zero nas terras de Arariboia.

 Professora por formação, é na educação que ela pretende dar a primeira “canetada”, se eleita for:

– Minha primeira ação será fazer o plano emergencial para que todas as crianças estejam na escola, que é o possível de se fazer de imediato. Abrir mil vagas será no primeiro dia porque é com uma caneta na mão que a gente faz isso.

 Confira a entrevista

A Seguir entrevista: registro feito pela equipe da candidata Talíria Petrole

Vereadora, deputada federal sendo reeleita como a mais votada em Niterói. A disputa pela prefeitura era o “caminho natural” ?

Talíria Petrone – Acho que sim. Não acordei um dia, olhei para o espelho e falei, “ah, hoje quero ser prefeita”. A gente foi construindo isso. Como vereadora, fui a mais votada da cidade. Agora é um retorno de onde nunca saí. A experiência que eu construí seja na máquina pública, seja como deputada federal, no centro da política brasileira eu quero entregar para a minha cidade.

Por que quer ser prefeita de Niterói neste momento?

TP: A gente vive um momento em Niterói que existe uma estagnação muito grande. Nossa cidade é muito linda, com gente trabalhadora, uma potência cultural imensa, orçamento gigante, mas está estagnada. E a gente olha a cidade andando para trás. Essa candidatura vem porque é a única capaz de tirar Niterói da estagnação. Se Niterói estivesse indo bem, não estaríamos aqui propondo um caminho de renovação para a cidade. E também porque é o momento de derrotar o retrocesso, o atraso e fazer a cidade andar para frente. 

Quais os problemas cruciais da cidade e como pretende resolvê-los, caso seja eleita?

TP: Se tem uma coisa que mostra que Niterói está andando para trás é a saúde. Aqui nasceu o Programa Médico de Família, hoje Estratégia Saúde da Família, mas infelizmente, Niterói agora amarga um dos piores índices relacionados com atenção básica. Falta tudo: remédio no postinho, médico porque o profissional de saúde não fica no município porque o salário é baixo, os contratos são precarizados. Tem uma cobertura baixíssima do Médico de Família hoje, menos de 40% das pessoas são atendidas pelo programa. É inadmissível uma cidade que tem o 14º maior orçamento do Brasil ter essa desorganização do sistema de saúde. Se avança para as policlínicas, que é de atendimento mais complexo, nada muda: tem parque tecnológico defasado, faltam especialistas, tem 2 mil pessoas na fila para um neurologista. Quanto tempo uma mulher demora para conseguir uma mamografia? Se avança mais, tem a rede hospitalar também totalmente ineficiente. Faltam leitos pediátricos; o centro cirúrgico do hospital Carlos Tortelly está fechado. A regulação não funciona. Ninguém sabe em que lugar está na fila.

Por onde se começa a resolver a saúde de Niterói?

TP: Organizando a atenção básica porque prevenção é o que salva vidas. A gente vai universalizar o acesso ao Programa Médico de Família, no primeiro ano. Vamos criar uma espécie de Super Médico de Família nas cinco regiões para desafogar exames como raio X e ultrassonografia. A gente vai também renovar todo o parque tecnológicos das policlínicas, ampliar os leitos, resolvendo alguns gargalos.

Quais seriam?

TP: Niterói envelhece muito e uma das grandes causas de morte entre os idosos são doenças cardiovasculares. Nós vamos criar o Centro Especializado de AVC Infarto, possivelmente, no Carlos Tortelly. E, com certeza no Carlos Tortelly, vamos ampliar a rede de traumatologia. São quatro coisas que precisamos fazer nessa rede: trauma, câncer, AVC e infarto. Também vamos ter um Centro de Idoso em cada região que é para garantir atividades de lazer, esporte e convivência para a população idosa. Niterói vai ser referência em atenção e cuidado com a pessoa idosa e pessoa com deficiência. E você me pergunta: como vou fazer tudo isso?

Pergunto: como vai fazer tudo isso?

TP: Sobre o que não fazer, essa gestão já entende. Tiveram 12 anos para fazer e não fizeram, ficam olhando no retrovisor, só falando da pandemia do Coronavírus, aquele momento de exceção, que Niterói conseguiu dar respostas efetivas – mas nem o secretário de governo daquela época está mais no governo…  A gestão da saúde está desorganizada, há baixo investimento. Saúde para nós é carro-chefe, para fazer de Niterói o futuro do Brasil.

Logo no início do seu programa, a senhora propõe a Secretaria Especial do Cuidado. Do que se trata?

TP: Vamos fazer uma reestruturação administrativa, reduzindo em pelo menos 30% o número de secretarias. No nosso entendimento, Niterói tem uma gestão atrasada. Os 14 mil cargos da prefeitura, mais da metade é indicação política, em quase 70 secretarias. No meio dessa reestruturação vamos criar a Secretaria Municipal de Cuidados. Porque todo mundo precisa de cuidado, ao longo da vida. Niterói tem uma população idosa maior do que a média nacional e não tem estrutura para essa população.

Tem a Secretaria do Idoso…

TP: A Secretaria de Cuidados vai articular diferentes políticas de cuidados para os setores mais vulnerabilizados: mulheres, pessoas com deficiência, crianças, idosos. É entender o cuidado como política estruturante. Existem políticas de cuidado que ficam soltas em várias secretarias e não há articulação entre elas. No primeiro ano, a secretaria vai instituir um Plano Municipal de Cuidados, articulando as diferentes secretarias em políticas de cuidado que são: lavanderia pública, restaurante popular, cozinhas solidárias, serviço de assistência domiciliar, o espaço Coruja, que estamos propondo que é um espaço noturno de cuidado e acolhimento para crianças de famílias que precisam trabalhar ou estudar. E, por fim, cuidar de quem cuida. Hoje, são as mulheres que estão sobrecarregadas: cuidam dos filhos, dos pais, levam pessoas no hospital. A falência do serviço público impacta nos cuidadores. Vamos criar o programa Cuidar de quem Cuida, que é um serviço de assistência para quem cuida. Vai ter o Auxílio Cuidar, como já tem em Maricá,  sendo aqui via Moeda Arariboia, para famílias atípicas.

Já que citou Maricá, a senhora tem falado muito da implantação do ônibus tarifa zero, como tem no município vizinho. Com é a implantação desse projeto, na prática?

TP: Sem dúvida, não é de um dia para o outro que se implanta tarifa zero. Esse é um caminho a ser construído. Porém, no meu governo, a tarifa zero será uma decisão política. A atual gestão não fez porque não quis, porque tem uma relação, no mínimo, permissiva, com as empresas de ônibus. Custa menos de 3% do orçamento implantar a tarifa zero. Atualmente, 117 municípios no país têm tarifa zero e nenhum gasta mais do que 5% do orçamento com isso. Niterói tem hoje uma das passagens mais caras do Brasil e isso é inadmissível.

Como faz?

TP: Tem vários caminhos. O que a gente pretende seguir, inicialmente, é sentar com os empresários de ônibus, informar que vamos rever os contratos –  que foi o que Maricá fez e foram brigas na Justiça por conta disso. Para os empresários, em Maricá, a tarifa zero é bom porque eles têm uma previsibilidade orçamentária porque o pagamento é por quilômetro rodado. Aqui, quem não quiser negociar, vamos verificar quais linhas são insuficientes, quais não existem e começar com essas que estão fora dos contratos da concessão das empresas de ônibus. A tarifa zero vai acontecer, querendo as empresas de ônibus negociar ou não. Ela é viável, é um direito social e movimenta a economia da cidade. Porque quem usa ônibus gasta pelo menos 20% da sua renda e esse dinheiro poderá ir para o mercadinho do bairro ou grande supermercado; o empresário economiza na passagem do seu funcionário  e é bom para o trânsito porque ônibus no lugar e horário certos ajuda na redução do uso de carro, o que também é bom para o meio ambiente e, quem sabe, caminhar para uma frota elétrica.

Como ainda estamos com o pé em Maricá, a senhora recebeu apoio do ex-prefeito e atual candidato a prefeito Whashignton Quaquá,  que é  vice-presidente do PT. Porém, em Niterói, o PT apóia outro candidato. Como encara essa saia justa partidária?

TP: Acho que a saia justa é para o Rodrigo Neves, que antes tinha o PT inteiro como ele, tinha o PSB com ele e hoje, ainda bem, o PSB rompeu com a gestão, entregou os cargos, coligou conosco. Grande parte do PT na cidade está comigo. O campo progressista entende que a nossa candidatura é que vai tirar a extrema direita do segundo turno e ajudar Niterói a andar para a frente. Então, nenhuma saia justa para mim. Me permita dizer uma coisa sobre isso: quem esteve ao lado do Partido dos Trabalhadores, nos últimos anos, fomos nós. Quando Dilma (Rousseff) sofreu um golpe, que abriu caminho para o retrocesso democrático que vivemos, a gente esteve com Dilma; Rodrigo sai do PT e vai para o PV, partido que apoiou o golpe, e nem se pronuncia sobre o golpe na Dilma. Agora, nas eleições mais importantes das nossas vidas, que foi em 2022, ele estava com Ciro (Gomes) e não com Lula (presidente Luiz Inácio Lula da Silva). A gente esteve com Lula desde o primeiro turno, ajudando Lula a vencer em Niterói, única cidade da Região Metropolitana onde o Lula venceu. Então, vejo como natural, inclusive, esse movimento de parte dos petistas caminharem conosco.

Falando em caminhar, como você está percebendo a rua, no corpo a corpo. Essa eleição está mais calma, a democracia voltou para as ruas?

TP: Tá tudo mais calmo, ainda bem. Ninguém aguenta mais essa divisão. Infelizmente, a gente tem um grupo político, representado aqui pelo candidato bolsonarista Carlos Jordy, que provocou a divisão do país, ao atacar a democracia, inventar mentiras. Acho que ninguém quer saber mais disso. De fato, o que as pessoas estão interessadas é na sua vida concreta. Mas é preciso entender que, para garantir uma cidade de direitos, tem que lembrar, por um lado, dos falsos profetas; do lobo em pele de cordeiro, que é a representação do Carlos Jordy, que tem tentado se moderar no discurso, mas a gente não pode esquecer o que ele representa: contra a vacina, contra o bolsa família, contra as pessoas, e, por outro lado, a estagnação que também é passado.  As pessoas não querem mais saber de briga e a gente quer unir a cidade  em torno do que todo mundo deseja que é criança na escola, saúde pra todo mundo, moradia digna, direito a ir e vir sem pagar uma fortuna de passagem. Então, isso está aparecendo nas ruas.

Uma provocação agora. Em caso de um segundo turno sem a sua participação, pretende apoiar algum candidato?

TP: Eu vou para o segundo turno (gargalhada).  Mas estarei sempre ao lado da democracia porque é impossível a gente aceitar qualquer avanço de representante da extrema direita em Niterói.

Na eleição de 2020, o PSOL ficou em segundo lugar (Flávio Serafini, 23.846 votos), porém, a distância para o candidato eleito, Axel Grael (151.846 votos), foi muito grande. Como avalia o PSOL da eleição passada para o de agora?

TP: Primeiro, o PSOL não está mais sozinho. Estamos com o PSB que é o partido do vice-presidente da República. Eu sou a única deputada federal do presidente Lula na cidade de Niterói. Há um entendimento amplo que a nossa é uma candidatura que precisa ir para o segundo turno. Não é só o PSOL que acha isso, mas outros partidos, outros setores também. E o povo também acha isso. A gente tem percebido uma aceitação muito grande nas ruas, tem visto um crescimento de aceitação na zona norte que é uma região tradicionalmente de Rodrigo Neves. Não tenho dúvidas que essa ampliação da nossa inserção nas favelas, na zona norte, junto com campo mais amplo democrático que caminha conosco, vai levar a gente para o segundo turno e vamos levar essa eleição.

Sua campanha recebeu apoio de celebridades como Chico Buarque, Camila Pitanga, Letícia Colin e Elisa Lucinda. Qual a importância disso para o eleitor que está passando ali na esquina e vai receber ou não seu material de campanha?

TP: Tenho muita honra de ter apoio do Chico Buarque que é um grande defensor da democracia. Ter o apoio dele é um reforço do nosso compromisso com a democracia e com os mais pobres.

Mas isso vira voto?

TP: Com certeza.

E 46 segundos (tempo da coligação no horário eleitoral gratuito) fazem diferença?

TP: É uma pena que Niterói não tenha uma grande rede de TV que possibilite a gente apresentar nossas propostas. Estamos concentrando menos energia no programa de TV porque é um canal que tem audiência menor e nosso tempo é menor. Então, estamos concentrando energia nas redes sociais e nas ruas. Mas estamos mandando material, porque tela azul não dá.

Apesar da pouca audiência da emissora, acha que o pouco tempo para a coligação representa uma desvantagem para a campanha?

TP: Sim. Rodrigo tem mais de 5 minutos, Jordy tem mais de 2 minutos e a gente 46 segundos. Só dá para “Meu nome é Talíria” (risos). O que estou fazendo é andando muito, o dia todo. Tô gastando muita sola de sapato para compensar essa desvantagem.

Vamos falar sobre educação. Niterói tirou notas ruins no Ideb. Quais suas propostas para reverter esse quadro?

TP: Não tem cidade que aponte caminho para o futuro que não cuide da educação. (Leonel) Brizola (ex-governador) já falava isso. Uma cidade que não cuida das crianças está andando para trás. E são 3 mil crianças fora da escola pública em Niterói, que tem uma das menores redes públicas municipais do estado e essa avaliação pífia. O que fazer? Primeiro, dizer que é um absurdo que a cidade que é o terceiro PIB do estado, 14º orçamento do Brasil, estar em uma situação tão dramática nas escolas.

O que pretende fazer para mudar esse quadro?

TP: No primeiro dia do ano letivo, todas as crianças estarão na escola. Tomando algumas medidas, entre elas, abrir mil vagas, de cara, nos Cieps já municipalizados no Fonseca e no Cantagalo. Lá funcionam OSs com projetos sociais para a comunidade, que são bons projetos, mas não funcionam como escola. É possível, inclusive, conviver o projeto social com vagas escolares. Vamos identificar imóveis vazios para desapropriar ou municipalizar e transformar em escola e, nos dois primeiros anos, criar dez escolas. Se faltar vaga ainda, aí sim, usar o programa Escola Parceira, que é um programa transitório. Não pode ser programa estruturante como a prefeitura está fazendo e, com isso, transferindo dinheiro para a escola privada. O que é muito importante é que a gente vai universalizar o acesso à creche e educação infantil integral e vamos dobrar , em quatro anos de governo, o número de vagas  do Ensino Fundamental em tempo integral. Dobrar também o número de vagas de educação de jovens e adultos, que perdeu vagas, a pesar de Niterói ter mais de sete mil pessoas não alfabetizadas. Um programa que eu acho muito legal para adotar é a escola aberta, que permite o uso dos equipamentos das escolas pelas comunidades. Por exemplo, não tem equipamento cultural na Região Oceânica, mas a escola Portugal Pequeno tem um teatro; não tem equipamento cultural no Barreto, mas é possível criar um convênio com o Pedro II, que é uma escola federal, que tem um teatro profissional, no bairro. Inclusive, ajudamos a finalizar esse teatro via investimento por emenda parlamentar.

Sobre as emendas, como deputada federal, como contribuiu com Niterói?

TP: Foram mais de R$ 46 milhões em emendas em investimentos na cidade. Não é mais do que obrigação: é dinheiro do povo voltando para o povo. Foram recursos que chegaram, por exemplo, para obra da maternidade Alzira Reis; garantimos o primeiro PET scan (exame de imagem indicado para investigar alguns tipos de câncer) para o hospital Antonio Pedro – foram R$ 12 milhões só para esse equipamento. Garantimos dinheiro para cultura e esporte. Investi bastante na cidade como deputada. Como prefeita, posso e vou fazer muito mais.

Quais seus planos em relação à segurança de Niterói?

TP: Segurança, é sim, papel do município. Vamos transformar a secretaria de Ordem Pública, que hoje acaba sendo específica para cuidar da Guarda Municipal, em uma secretaria de Segurança Cidadã, com objetivo de prevenção. E uma forte e cotidiana relação entre os diferentes entes da polícia. A Guarda Municipal estará a serviço do seu papel. Não é para brigar com camelô. É para guardar os patrimônios, auxiliar no enfrentamento da violência doméstica, ter parceria com o policiamento comunitário. Vai ser uma guarda valorizada, com seu planos de cargos e salários.

Guarda municipal armada?

TP: De jeito nenhum. Guarda armada é risco para os agentes porque você muda o papel da guarda. Os agentes armados que aqui estiverem vamos trabalhar para que tenham critérios. Uma coisa importante é garantir o policiamento descentralizado pela cidade.

Mas esse é um policiamento que o município não tem gerência.

TP: Sim, por isso atuar em parceria com o governo do estado e a secretaria de Segurança Cidadã vai ter como uma das principais funções as articulações cotidianas. Tem também a questão do ordenamento urbano. Mudar as lâmpadas para led garante mais iluminação e segurança, por exemplo. Praças ocupadas, uma cidade viva, isso é mais segurança. A praça São João, no Centro, à noite, é um horror, tá largada. E cresce o número de pessoas em situação de rua.

Há uma animosidade, de uma maneira geral, dos niteroienses, em relação à população em situação de rua. Como vai tratar essa questão?

TP: Temos um crescimento exponencial da população em situação de rua, em especial no último ano, que reflete uma cidade muito desigual. 25% das pessoas que vivem em Niterói ou são pobres ou estão na extrema pobreza. As pessoas olham para as ruas e falam “cracudo”. Porém, segundo estudo da própria prefeitura, só 17% das pessoas em situação de rua estão nessa situação por uso abusivo de drogas. Os outros estão na rua por alguma questão social.

O que fazer?

TP: Vamos ter uma política robusta a partir do projeto Acolher, coordenado pela Secretaria Especial de Cuidados. A prefeitura vai pagar metade do salário para empresas que contratarem pessoas que estão na rua. Além de política de moradia popular, ampliação das unidades de acolhimento e a tarifa zero. É preciso também organizar nossa assistência. Para ter uma ideia, o município recebeu um recurso do governo federal (cerca de R$ 325 mil) para organizar o Cadúnico que ficou desorganizado com a pandemia, mas o município nunca usou porque tem uma gestão inoperante. Essa questão passa pela ampliação dos Cras (Centro de Referência da Assistência Social), de abrir o restaurante popular nos fins de semana porque a fome não tem folga. Ter pontos de apoio na rua, que é um programa do governo federal que a gente vai trazer para cá que é ter pontos de banho, bebedouro, para a pessoa ter dignidade. Mas lembrando que o objetivo final do projeto Acolher é tirar as pessoas das ruas porque rua não é lugar para ninguém viver. E quem usa droga? É olhar para a rede psicossocial da cidade: falta Caps (Centros de Atenção Psicossocial), consultório de rua mais robusto (hoje só tem uma equipe) e falta cuidado com esses profissionais que têm contrato precarizado. É assim que vamos cuidar das pessoas porque, no caso do usuário de drogas, é problema de saúde pública. Isso vai fazer Niterói ser uma cidade mais cuidada e mais segura.

Faz parte do seu programa fazer uma revisão da Lei Urbanística. O que será isso exatamente?

TP: Para essa revisão vamos ter que negociar com a Câmara dos Vereadores. Mas nós vamos mudar esse modelo de cidade cada vez mais verticalizada e com concreto. Isso não é bom para ninguém. Não adianta ter uma secretaria de Clima e ter uma política urbana que permite construir prédio em cima de sambaqui, de lagoa. Essa Lei Urbanística é um atentado à natureza e ao bem viver das pessoas. Vamos trabalhar para revogar os principais pontos dessa lei. Hoje, na cidade, temos 27 mil imóveis vazios. O Centro está abandonado. Tem que ter uma política para esses imóveis vazios. Construir prédio para quem? Para a especulação imobiliária? A gente não vai fazer isso.

Como está sendo sua recepção junto às mulheres de Niterói, sabendo que elas são 55,37% do eleitorado?

TP: Está excelente. Estou muito animada para ser a primeira mulher prefeita dessa cidade. Só 12% dos municípios brasileiros têm mulheres á frente, que representam 9% da população. Niterói é uma cidade linda, potente, que veio de governos relativamente ditos progressistas, como pode nunca ter tido uma mulher como prefeita? Tem muita mulher somando para que a gente tenha pela primeira vez uma mulher cuidando de Niterói.

O que mais gosta de curtir em Niterói?

TP: Um peixinho em Itaipu, uma cervejinha em qualquer boteco da cidade e uma roda de samba. E Niterói tem muito sambista bom. Quero nossos sambistas aqui, na cidade.

Eleita, sentou na cadeira da prefeita, caneta na mão. Qual sua primeira canetada?

TP: – Minha primeira ação será fazer o plano emergencial para que todas as crianças estejam na escola, que é o possível de se fazer de imediato. Abrir mil vagas será no primeiro dia porque é com uma caneta na mão que a gente faz isso.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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