COMPARTILHE
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio da Procuradoria-Geral de Justiça, denunciou a deputada estadual Lucia Helena Pinto de Barros, a Lucinha, e sua ex-assessora parlamentar, Ariane Afonso Lima, por integrarem a milícia conhecida como “Bonde do Zinho”, “Tropa do Z” ou “Família Braga”, chefiada por Luis Antonio da Silva Braga, o Zinho. De acordo com as investigações, Lucinha e a assessora faziam parte do núcleo político da organização criminosa.
Elas vão responder pelo crime de constituição de milícia privada cuja pena pode variar de 5 a 10 anos de prisão e multa, além da perda do mandato da parlamentar.
Leia mais: Procuradoria quer novo julgamento para governador Claudio Castro por crime eleitoral
A denúncia, subscrita pelo Procurador-Geral de Justiça, Luciano Mattos, através da Assessoria de Atribuição Originária Criminal (AAOCRIM/MPRJ), foi oferecida no último dia 5 de junho, ao Órgão Especial do Tribunal de Justiça (TJRJ) e relata que, com base nas informações coletadas durante a operação “Dinastia I”, a milícia era formada por um núcleo operacional, composto por três subgrupos: as lideranças principais, as lideranças locais, com atuação específica nas áreas de domínio do grupo, e os assessores, também conhecidos como soldados ou informantes, ligados à liderança principal e responsáveis pelo contato com integrantes das forças de segurança, execução do patrulhamento e segurança, entre outras funções.
Com o avanço das investigações e no curso do inquérito policial que originou a operação “Dinastia II”, identificou-se a existência de outros dois núcleos, o núcleo financeiro, destinado à lavagem de capitais obtidos com as práticas criminosas, e o núcleo político, integrado por Lucinha e Ariane e cuja função era a defesa dos interesses dos criminosos junto ao Poder Público.
“Em múltiplos episódios, constata-se a clara interferência das denunciadas na esfera política, junto a autoridades policiais e políticas, ora para favorecer os interesses da organização criminosa, ora para blindá-la das iniciativas estatais de combate ao grupo e ora para livrá-los de ações policiais, garantindo a impunidade dos seus integrantes”, relata um dos trechos da denúncia.
Entre os episódios em que as denunciadas interferiram politicamente em favor dos criminosos, a denúncia descreve que, em julho de 2021, as duas forneceram ao grupo informações privilegiadas relacionadas à agenda de visitas do prefeito do Rio, Eduardo Paes, à Zona Oeste, permitindo que os milicianos retirassem seus integrantes das ruas das localidades dominadas pela organização criminosa. Houve, também, tentativa de interferência junto ao prefeito e demais autoridades municipais para que fosse mantida a chamada “Brecha da P5” no transporte público alternativo municipal, maior fonte de obtenção direta de recursos da milícia. Desta forma, o grupo poderia explorar o serviço fora do itinerário determinado, aumentando a arrecadação das vans.
Além disso, as denunciadas receberam do grupo criminoso informações privilegiadas sobre a prática de crimes cujas investigações se encontravam em curso para, em última instância, interferir no curso destas e determinar a linha investigativa a ser seguida pelos investigadores. A denúncia também aponta que, em novembro de 2021, a deputada prestou auxílio a membros do “Bonde do Zinho” presos em flagrante, para liberá-los da captura. No mesmo período, ainda segundo a ação penal, a deputada tentou interferir junto ao Comando da Polícia Militar e ao alto escalão político da Assembleia Legislativa (Alerj) para remover dos cargos os comandantes da 8ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar e do 27º Batalhão de Polícia Militar, em razão do combate dos agentes à organização criminosa.
As investigações também demonstraram que, entre junho de 2021 e março de 2022, as denunciadas mantiveram encontros frequentes com as principais lideranças do grupo miliciano, entre eles Zinho, em média duas vezes por mês, para estabelecer as linhas da interferência que seriam exercidas junto à Alerj. Além disso, a denúncia também relata que Lucinha nomeou como assessores em seu gabinete, entre 2021 e 2023, integrantes e parentes de integrantes da organização criminosa.
Em março passado, a Polícia Federal prendeu os acusados de serem os mandantes da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL), em 2018: o deputado Federal, Chiquinho Brazão, seu irmão Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Constas do Estado do Rio, e o delegado e ex-secretário de Polícia Civil Rivaldo Barbosa. De acordo com as investigações, o crime estaria ligado à ação da vereadora contra a expansão territorial da milícia no Rio.
Em dezembro de 2023, Luis Antonio da Silva Braga, o Zinho, era considerado o líder da maior milícia do Rio. Com 12 mandados de prisão contra si e procurado desde 2018, se entregou à Polícia Federal, após negociação com a corporação e a Secretaria de Segurança Pública. Ele foi levado preso para o presídio José Frederico Marques, em Benfica, na Zona Norte do Rio.
Na época de sua prisão, os informes do governo do Estado definiam Zinho como sendo o “inimigo número 1 do Rio”. Ele assumiu a frente da milícia de Campo Grande, Santa Cruz e Paciência, na Zona Oeste do Rio, em 2021, dois meses após a morte do antigo líder, seu irmão, Wellington da Silva Braga, o Ecko.
Antes de se tornar o líder da milícia, Zinho estava ligado às atividades de lavagem de dinheiro do grupo, principalmente na Baixada Fluminense, e cuidava da contabilidade do grupo. De acordo com reportagem do G1, ele era sócio da empresa Macla Comércio e Extração de Saibro que, segundo a polícia, faturou R$ 42 milhões entre 2012 e 2017. Outras empresas da organização criminosa eram utilizadas para movimentação deste dinheiro.
Em janeiro de 2019, o Núcleo de Combate ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro da Polícia Civil efetuou o sequestro da mansão de Zinho na Barra da Tijuca, avaliada em R$ 1,7 milhão. Ele não estava em casa no momento da chegada da polícia. Foram apreendidos também outras três propriedades do miliciano, duas delas registradas em nomes de “laranjas”:
Zinho esteve para ser capturado várias vezes, principalmente em ações da Polícia Civil, mas sempre conseguiu escapar. Em uma delas os policiais mataram um sobrinho dele, o Faustão. Como retaliação, 35 ônibus foram queimados na Zona Oeste do Rio. Ele se entregou para a polícia 6 dias após a deputada estadual Lucinha (PSD-RJ) ter sido afastada do cargo pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e tornar-se alvo de investigações da Polícia Federal (PF) e Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ).
À época em que Zinho se entregou, a polícia afirmara que o miliciano não tinha “oficialmente” um sucessor. Porém, Antônio Carlos dos Santos Pinto, o Pit, então responsáveis pelas finanças do grupo, foi morto, na comunidade Três Pontes, em Paciência, na Zona Oeste do Rio, quatro dias após a prisão do chefe.
Em março passado, Zinho foi transferido do Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na zona oeste do Rio, para a Penitenciária Federal de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul.
Fonte MPRJ com G1
COMPARTILHE