25 de dezembro

Niterói por niterói

Pesquisar
Close this search box.

Lupulinário

Por Sônia Apolinário

Sônia Apolinário é jornalista tendo trabalhado nos principais jornais do país, sempre na área de Cultura. Também beer sommelière, quando o assunto é cerveja e afins, ela se transforma na Lupulinário.
Publicado

Casal de Niterói é papa-medalhas de concursos cervejeiros

ACERVA 11 Anos (283)
Amanda e Gabriel na premiação do 11 º concurso da AcervA Niterói. Foto: Marcel Lopes

No auge da pandemia do Coronavírus, em 2020, virou moda fazer pão. Foi uma forma que as pessoas encontraram para suportar o confinamento, até então, sem prazo para terminar. O casal Amanda Gaburo e Gabriel Ribeiro, pelo mesmo motivo, também foi para a cozinha. Porém, ao invés de pão, eles passaram a produzir cerveja.

Naquela época, nem de longe eles poderiam imaginar que se tornariam papa-medalhas em concursos voltados para cervejeiros caseiros, em Niterói. Nos últimos dois anos, eles simplesmente, ganharam tudo.

Em 2022, eles inscreveram duas cervejas no 10 º concurso da Associação dos Cervejeiros Artesanais (AcervA) de Niterói e São Gonçalo, da qual fazem parte, e levaram Ouro para a Hazy IPA e Prata para a Dunkless Bock. A Hazy IPA também foi eleita, pelo voto popular, a melhor cerveja da festa de aniversário da Associação. Dois meses depois, a Hazy IPA levou outro Ouro, na categoria Regional (Niterói), do 7 º Festival Carioca de Cerveja Caseira. A Hazy IPA chegou a ganhar um concurso anterior ao da AcervA Niterói, no mesmo ano.

Em 2023, eles repetiram a proeza com direito a um upgrade. No 11 º concurso da AcervA Niterói, eles conquistaram medalha de Ouro para a New Zealand Pilsener e Bronze para uma Doppelbock. E no voto popular, a Doppelbock foi eleita a melhor da festa da Associação. Já no 8 º Festival Carioca de Cerveja Caseira, a NZ Pilsener levou Ouro na categoria Estilo Livre e foi escolhida a melhor cerveja do evento, a chamada Best of Show.

– Repetir as premiações foi uma surpresa agradável, mas foi direcionado. Quando vencemos, no ano passado, eu falava para a Amanda que tínhamos que manter o título. Rolou uma cobrança minha mesma. Foi uma sensação de alívio quando vencemos outra vez. Até porque tem muita gente boa na AcervA Niterói – afirmou Gabriel, de 29 anos.

O início

Quando decidiram se distrair da pandemia produzindo cerveja, ele e Amanda estavam começando a experimentar as cervejas artesanais. Um “luxo” que começou a pesar no bolso. Fazer a bebida em casa poderia ser, também, uma forma de economizar.

Eles admitiram que, naquele momento, tinham pouca informação sobre tudo relacionado com cerveja artesanal.

– Começamos a estudar os estilos, a querer conhecer mais. Nem sabíamos que existiam tantos estilos diferentes de cerveja. O encontro com o amargor, com o lúpulo, foi o que me causou mais impacto. Eu posso dizer que sou a garota do lúpulo – disse Amanda, de 27 anos.

Já para Gabriel, experimentar as Sours, as cervejas azedas, foi o mais impactante, naquele momento.

Como as pessoas que resolvem fazer uma receita na cozinha, eles também correram para o Youtube em busca de ajuda. E encontraram no canal Cerveja Fácil. Compraram um kit para produção de 10 litros de cerveja e colocaram a mão na massa. No fogão de casa.

A primeira produção, em agosto de 2022, levou quase 9 horas. No final, a cozinha estava um caos. Agora, já de posse de um equipamento melhor, com capacidade de 50 litros, e mais experiência, a produção passou a ser “normal” – em média, uma brassagem dura 6 horas.

– Aprender a mexer nas coisas da cozinha ajuda muito. É um avanço grande quando a gente tem o entendimento do que fazer no balcão, no fogo – disse Gabriel, no que Amanda complementa – Passar a ter intimidade com os equipamentos faz diferença e ajuda na dinâmica de produção. Hoje, já não fazemos mais tanta bagunça na cozinha e a organização do espaço é importante para facilitar os processos.

Depois de tantos prêmios, o casal, agora, recebe muitas solicitações de amigos e familiares para abastecer com cerveja própria as festas em que são convidados. Eles atendem na medida do possível – lembrando que é proibida a comercialização de cerveja caseira, mas não o seu consumo em ambientes domésticos.

Brincar separados

A dupla já estuda os estilos que irão produzir para inscrever em concursos, em 2024. No próximo ano, eles pretendem dar mais um passo e participar também da competição da AcervA Nacional e de concursos de outros estados, além do Rio de Janeiro. Se ganharem outra vez, já está decidido: nos próximos concursos, cada um fará sua cerveja separadamente e que vença o (a) melhor.

Segundo Gabriel, atualmente, os dois fazem tudo junto ao longo da brassagem. Por uma questão de logística, uma vez que os fermentadores ficam na casa dele, a parte final do processo, justamente relacionada com a fermentação, tem ficado mais por sua conta.

– Ambos temos o domínio da condução do processo e o que cada um faz acaba sendo em função da dinâmica do momento – explicou.

O que também eles dividem igualmente é o jogo de empurra na hora de lavar o equipamento, admitiram.

Faz parte dos planos para o próximo ano estudar ainda mais. Os dois pretendem fazer curso de  beer sommelier. E, sim, tem passado pela cabeça como poderia ser uma eventual profissionalização no segmento cervejeiro.

De acordo com Gabriel, uma das premiações previa a produção da receita em uma fábrica, em escala maior, porém, isso ainda não aconteceu. Ele acredita que, primeiro, o melhor é cada um consolidar suas carreiras nas respectivas profissões (ele é advogado, ela psicóloga) antes de investir no universo cervejeiro. O que não os impedem de estudar as diferentes opções de modelos de negócios do segmento.

Dicas

Para quem quiser começar a produzir cerveja em casa, Amanda e Gabriel dão dicas valiosas: estudar a teoria; experimentar cervejas diversas (para se ter referência dos estilos); começar pequeno e botar a mão na massa

– Não é preciso esperar para ter o conhecimento perfeito, o equipamento perfeito, o ambiente perfeito. É fazer e ir melhorando a cada vez – disse Gabriel.

Na sua opinião, o principal conselho é: dominar a parte da fermentação e ter cuidado com a sanitização ao longo de todo o processo para evitar contaminação:

– Dominar a fermentação acima de tudo é fundamental. É o que vai fazer a diferença entre uma boa cerveja e uma intragável. Percebo que o pessoal investe pouco nessa etapa, geralmente, se preocupam mais com os ingredientes. Penso que uma cerveja bem fermentada é meio caminho andado para a bebida ficar boa – afirmou ele que gosta, particularmente, de criar as receitas.

Pão

Agora que muitos começam a deixar de lado o hobby de fazer pão, eis que o alimento se tornou alvo de interesse do casal.

– Estamos começando agora a fazer pão. É difícil. Tô apanhando bem mais do que apanhei quando comecei a produzir cerveja. Já matei muito fermento – contou Gabriel.

 

NR: A fermentação é o início do trabalho da levedura. Momento em que o álcool surge “milagrosamente” quando o açúcar serve de alimento para as leveduras. Antecede a fase de maturação que é o período de descanso da cerveja, antes de ser envasada.

 

Leia também: Visitar uma cervejaria e dormir por lá mesmo? Claro que sim!

 

 

 

 

 

 

COMPARTILHE